The Doobie Brothers – The Doobie Brothers [1971]
![The Doobie Brothers – The Doobie Brothers [1971]](https://arquivos.consultoriadorock.com/content/2019/06/Doobie-Brothers.jpg)
Por Daniel Benedetti
Em um momento ainda incerto, o baterista John Hartman partiu em direção à Califórnia com o intuito de conhecer o guitarrista Skip Spence, da banda Moby Grape, e participar de uma reunião do grupo (que não aconteceria). Mas a viagem de Hartman não foi totalmente infrutífera, como se verá. Spence apresentou o baterista ao cantor, compositor e guitarrista Tom Johnston e ambos formaram o núcleo de um novo conjunto, o qual foi batizado de ‘Pud’.
O Pud experimentou diversos ‘line ups’ (eventualmente com a participação de Spence), variando estilos musicais e sonoridades, trabalhando por algum tempo com uma seção de metais. Entretanto, Johnston e Hartman acabaram, na maior parte desta época, apresentando-se com o formato ‘Power Trio’, junto com o baixista Greg Murphy, especialmente na cidade e nos arredores de San Jose, na Califórnia.
Por volta de 1970, Johnston e Hartman se uniriam ao cantor, guitarrista e compositor Patrick Simmons e ao baixista Dave Shogren. Simmons era um talentoso músico, especialmente na técnica conhecida como fingerstyle, cuja abordagem ao instrumento complementava perfeitamente o dedilhado rítmico de Johnston. Além disso, Patrick pertenceu a vários grupos da área e também atuou como artista solo. Enquanto ainda tocava localmente, em San Jose, o grupo adotou o nome ‘Doobie Brothers’. O músico Keith ‘Dyno’ Rosen, amigo da banda, surgiu com o nome depois que o conjunto mostrou dificuldade em se batizar por conta própria.

De acordo com Tom Johnston, Rosen disse: “Por que vocês não se chamam de Doobie Brothers porque estão sempre fumando maconha?” (Tom Johnston, ao jornal Minnesota Daily, em 04/04/2013). Hartman afirmou que não estava envolvido com a escolha do nome e não sabia que ‘doobie’ era referência a um baseado de maconha até que Rosen contasse a ele. Todos na banda concordaram que “Doobie Brothers” era um nome ‘idiota’ e que pretendiam usá-lo apenas para algumas apresentações, até que tivessem algo melhor, o que nunca aconteceu.
Aos poucos, a The Doobie Brothers melhorou sua performance, ao se apresentar por todo o norte da Califórnia, em 1970. Ela atraiu um público particularmente forte entre os Hells Angels locais e fazia um show recorrente, em um dos locais favoritos dos motociclistas, o Chateau Liberté, em Santa Cruz mountains, tocando até o verão norte-americano de 1975, mesmo depois da fama. Foi através de um conjunto energético de ‘demos’ que o grupo ganhou um contrato com a gravadora Warner Bros. Records.

Entre novembro e dezembro de 1970, no Pacific Recording Studios, em San Mateo, na Califórnia, o The Doobie Brothers se reuniu para gravar sua autointitulada estreia. A produção ficou a cargo de Lenny Waronker e do famoso Ted Templeman. A banda, então, era formada Tom Johnston (guitarra, gaita, piano e vocais), Patrick Simmons (guitarra e vocais), Dave Shogren (baixo) e John Hartman (bateria). O álbum foi lançado em 30 de abril de 1971.
“Nobody” abre o disco com uma musicalidade repleta de swing e balanço, contando com ótimos vocais de Johnston e uma áurea sessentista muito bem-vinda. O refrão é ótimo, mostrando belas harmonias vocais. “Slippery St. Paul” já possui uma pegada Country substancial e, novamente, cativantes harmonias vocais, em um clima festivo. “Greenwood Creek” mantém a pegada Country/Boogie do álbum, com ótimos vocais e uma sonoridade suave e melodiosa, com a gaita de Johnston como protagonista. “It Won’t Be Right” mantém o ritmo Country e quase acústico do disco, desta feita com vocais mais ‘agressivos’ de Johnston. “Travelin’ Man” fecha o lado A com uma proposta mais bluesy e o baixo de Shogren mais proeminente.

“Feelin’ Down Farther” abre o lado B com uma sonoridade que é um prenúncio do tipo de som que traria o sucesso comercial ao The Doobie Brothers, sendo uma faixa deliciosa. “The Master” possui um clima acústico e consideravelmente mais contido, com a bateria de Hartman mais presente. “Growin’ a Little Each Day” conta com um aspecto Boogie sessentista muito divertido. A versão para “Beehive State”, de Randy Newman, é a faixa mais pesada até o momento no álbum, com as guitarras em estado efervescente e um ótimo solo. “Closer Every Day” possui um clima mais contido e denso, em um claro contraste com o resto do disco. A pequenina “Chicago” é um Boogie Rock que encerra o trabalho.

Três singles foram lançados para promoverem o álbum: “Beehive State”, “Travelin’ Man” e “Nobody”, sendo que apenas este acabou conquistando a modestíssima 58ª posição da parada norte-americana desta natureza (e apenas em 1974, após ser relançada com o estouro do grupo nos Estados Unidos).
O disco de estreia The Doobie Brothers não emplacou e vendeu pouco. É verdade que o álbum sofre com uma produção ruim e abafada, não permitindo que boas canções como “Nobody” e “Greenwood Creek”, algumas das joias de Tom Johnston, pudessem brilhar. No entanto, deve-se ressaltar que o trabalho apresenta uma banda talentosa e em busca de sua identidade musical. Lampejos do auge do The Doobie Brothers são ouvidos em “Feelin’ Down Farther”, mas o sucesso seria encontrado já em seu segundo álbum, Toulouse Street, de 1972, que contaria com o ‘hit’ “Listen to the Music”.

Tracklist
1. Nobody
2. Slippery St. Paul
3. Greenwood Creek
4. It Won’t Be Right
5. Travelin’ Man
6. Feelin’ Down Farther
7. The Master
8. Growin’ a Little Each Day
9. Beehive State
10. Closer Every Day
11. Chicago
Discão e ótimo texto! gosto muito…pra mim foi uma delícia estar na Califórnia e ouvir o som desses caras…passei por Santa Cruz rapidinho e não sabia que eles tocavam tão frequentemente por lá…nesse texto falei um pouco sobre isso:
https://www.consultoriadorock.com/2018/12/14/artigos-especiais-uma-aventura-musical-pela-california/
Muito obrigado pela generosidade, Ronaldo. Seu texto é incrível e inspirador, fiquei com aquela vontade de fazer uma viagem assim. Abraço!