Cinco Discos Para Conhecer: Funk Carioca
Por André Kaminski
Esperava algo diferente?
Venho aqui apresentar cinco discos do mais legítimo funk produzido lá no maravilhoso estado do Rio de Janeiro. Apesar do estilo ser norte-americano, o funk chegou ao Brasil até bem cedo e por aqui influenciou bandas e artistas em fazer uma sonoridade divertida e balançante.
A maioria dos discos aqui presentes vieram de um curto movimento musical que atingiu o Brasil entre 1976 e 1978 que foi o movimento Black Rio. Bandas que tocavam uma mistura do funk, soul e jazz norte-americanos misturados com o samba brasileiro começaram a atrair muita gente principalmente no Rio de Janeiro, onde surgiu o movimento. Porém, infelizmente, ao final dos anos 70, a disco music começou a tomar o lugar antes destinado as bandas funk brasileiras e elas começaram a perder contratos e não atrair mais o interesse das gravadoras, com a imensa maioria delas simplesmente acabando. Algumas retornaram algumas décadas depois para fazer shows e mesmo lançar alguns trabalhos.
Eu sei que podem sentir falta de Tim Maia por aqui. Mas é que eu quis dar espaço a outras bandas e artistas com tamanha qualidade que Tim não precisa de nossa ajuda para ser o grande nome do estilo que ele ainda é até hoje, mais de vinte anos após sua morte.
Ouça estes discos e curta o que há de melhor em termos de funk carioca de verdade.
Toni Tornado – Toni Tornado [1972]
Apesar de ser paulista, o também ator Toni Tornado fez toda a sua carreira artística no Rio de Janeiro, então, ele é parte da cena local. Em relação a funk no Brasil, ele é um pioneiro. E este é seu segundo disco, que considero melhor que o primeiro. Isso que o primeiro foi o que obteve mais sucesso ao cantor. Com aquele vozeirão e um requinte instrumental incrível, Toni brilha em canções como “Não Grile a Minha Cuca”, a animada “Aposta” e um piano dando um toque classudo na balada “Uma Ideia”. Tanto esse quanto o primeiro são excelentes. Como o disco não conseguiu a mesma repercussão do anterior, e Toni começou em paralelo a sua carreira de ator, este acabou sendo o último álbum da carreira dele. Porém, Toni volta e meia vem fazendo shows cantando seus antigos sucessos.
Tracklist
- Mané Beleza
- Não Grile a Minha Cuca
- Torniente
- Eu Duvido Muito
- Sinceridade
- Podes Crer, Amizade
- Aposta
- Bochechuda
- Uma Ideia
- Eu Tenho um Som Novo
- Tornado
Banda Black Rio – Maria Fumaça [1977]
Tendo como principal líder o falecido saxofonista Oberdan Magalhães, o disco foi gravado contando com membros da banda carioca Senzala e mais dois músicos de estúdio (entre eles, o guitarrista Claudio Stevenson), e lançaram este maravilhoso disco instrumental contando vários, funks e souls misturados a uma influência brasileira do samba que gerou este trabalho que é simplesmente impossível não sair sacudindo o esqueleto. As melhores músicas presentes aqui são “Maria Fumaça” com um destaque incrível a bateria e ao naipe de metais, uma versão funkeada de “Baião”, o clássico do eterno Rei do Baião Luiz Gonzaga e muito wah-wah de guitarra e metais na estonteante “Leblon Via Vaz Lôbo” também contando com um sabor brasileiro de um tradicional samba em meio a canção. A banda existe até hoje contando com o filho de Oberdan Magalhães, William, que inclusive acabou de lançar disco novo chamado Som das Américas. Tanto o antigo quanto o atual valem a atenção dos seus ouvidos.
Tracklist
- Maria Fumaça
- Na Baixa do Sapateiro
- Mr. Funky Samba
- Caminho da Roça
- Metalúrgica
- Baião
- Casa Forte
- Leblon Via Vaz Lôbo
- Urubu Malandro
- Junia
União Black – União Black [1977]
Frutos do mesmo movimento que gerou a Banda Black Rio, o Union Black a princípio serviu como banda de apoio a Gerson King Combo, mas com o interesse do público aumentando, estes lançaram um disco próprio no mesmo ano do auge do sucesso do estilo. Daqui destaco a bela balada “Só Você” contando com aquelas letras lindas que costumeiramente aparecem nas canções soul, já “Melô do Bobo” é aquelas típicas canções do conhecido estereótipo do “malandro carioca” tão propagado naquelas décadas anteriores mas que, confesso, tem uma letra engraçada demais. Para finalizar recomendo também “Abelha Africana”, uma instrumental que segue o lema funk de sacudir o esqueleto que deveria ser muito divertido naquele período dos anos 70. Fica a dica de mais um belo disco para você curtir o estilo.
Tracklist
- Geração Black
- A Vida
- Só Eu e Você
- União Black
- Black Rio
- Voulez Vous
- Melô do Bobo
- Abelha Africana
- Sou Só
- Quando Alguém está Dormindo
- A Família Black
- Laço Negro
Gerson King Combo – Gerson King Combo [1977]
O já citado Gerson King Combo também merece sua participação nesta lista. Pegando a onda do sucesso das outras duas bandas anteriores, Gerson se une à banda Union Black e lança este disco, que na época, foi criticado por ser apenas uma cópia do funk americano sem acrescentar nada de novo. O público foi menos injusto e o disco vendeu bem, gerando inclusive mais um álbum posterior a este. “Mandamentos Black” obteve um bom sucesso nas rádios e junto ao público e de fato, é a melhor música do disco com sua mensagem positiva e instrumental swingado. “Just for You” é mais uma daquelas grandes baladas soul com uma veia romântica e de despedaçar corações. Também adoro “Foi Um Sonho Só” é mais uma lindíssima balada romântica tão boa quanto a anterior citada por mim em que Gerson se entrega às emoções da canção. Disco variado, bonito, recheado de mensagens positivas e elegante. Este cara é um ícone do funk e do soul brasileiro.
Tracklist
- Mandamentos Black
- Just For You
- Andando nos Trilhos
- Esse é o Nosso Black Brother
- Swing do Rei
- Hereditariedade
- Foi um Sonho Só
- Uma Chance
- God Save the King
- Blows
Painel de Controle – Desliga o Mundo [1978]
Difícil encontrar informações desta banda pela internet, exceto alguns comentários de ex-integrantes e filhos de alguns dos integrantes (alguns dos que tocaram neste disco infelizmente já faleceram). O que sei é que a banda surgiu no final dos anos 60 fundada por Vavau Calixto (baterista) e Sergio Maia (baixista) de acordo com Paulo Rebello, que fez parte da banda de 1969 até 1975. Infelizmente, Vavau Calixto, o tecladista José Carlos Couto, a vocalista Katiemary Couto e o vocalista paraguaio Papi já faleceram. Mas deixaram este belo disco funk. “Black Coco” fez até um relativo sucesso naquele período. É curioso que o sotaque estrangeiro de Papi dá um sabor especial a este disco. “Cada um na Sua” já demonstra alguma influência de que a disco music viria com tudo pouco tempo depois. Se os caras vivos que fizeram parte da banda (Sergio e Paulo) verem esta postagem, ou mesmo seus filhos, por favor, inclua mais informações sobre o Painel de Controle nos comentários visto que o pouco que há na internet não me parece suficiente para falar mais e melhor dessa ótima banda.
Tracklist
- Black Coco
- Malandrinha
- Meu Destino Mudou
- Coisas Bobas
- Desliga o Mundo
- Chegue, Chegue, Chegue (Mais Perto)
- Cada um na Sua
- Sombras na Parede
- Quero Mais um Rock ‘n’ Roll
- Vem
- Amantes
“Black Coco” da banda Painel de Controle fez um relativo sucesso? Amigo, na época das discotecas, era uma música obrigatória. Adolescente, dancei muito essa pérola…
Cara, que bom que eu estou errado, porque pelo que fui atrás, deu a impressão que foi algo mais local nas discotecas apenas do Rio. Ainda assim, uma pena que achei pouquíssima coisa a respeito do Painel de Controle e que eu adoraria saber mais.
A carreira do Tony Tornado acabou depois do famoso mosh(talvez o primeiro da história de shows no Brasil) em um show que fez e caiu com tudo em cima de uma mulher. E levando em consideração seu peso bruto, ele deixou a mulher aleijada para o resto da sua vida. Depois disso o Tony se afastou dos palcos se dedicando a carreira de ator, e nunca custa nada lembrar que ele era o capataz da viúva Porcina na novela Roque Santeiro.
Excelente! Discos literalmente de ouro!