Paul McCartney – Egypt Station [2018]
Por Rafael Bonatto
Prontos para embarcar? Um ano após seu lançamento, trazemos uma análise de um dos discos mais aguardados do ex-Beatle: Egypt Station. Completamente conceitual, o álbum permite que cada canção seja interpretada por uma estação por onde o personagem passa e isso é indicado principalmente na capa, que reúne algumas pinturas feitas por McCartney, em forma de mapa.
Mas, o que um músico de sucesso e renome ainda precisa provar? Simplesmente o mais difícil: se manter atualizado. Por isso Egypt Station é menos óbvio que o antecessor New de 2013 e mais provocativo e experimental. Por este motivo, ele gravou em vários lugares e testou novos sons para que de fato cada música tivesse uma energia diferente.
O disco recebeu avaliações em sua maioria positivas, mas o público fiel ao som “Beatles” criticou a modernidade presente nas canções.
Apesar disso, o álbum abre com “I Don’t Know”, uma balada tradicional com arranjos belos ao piano que demonstra o porquê de Paul ser tão relevante para música hoje em dia. Precisamos de mais canções deste jeito: simples, orgânica e profunda. Ela é como todo início de uma viagem tranquila e com boa expectativa. Porém, toda viagem precisa de energia para continuar e a encontramos em “Come On to Me”, um rock clássico que faz você ter vontade cair na estrada com ela. Os arranjos espertos com direito a metais e o refrão chiclete podem parecer mais do mesmo, mas com certeza não irá esquecer dela tão cedo, positivamente. Algo incrível, vindo da mente um senhor de 77 anos até então.
Desde a era dos Beatles, Paul sempre soube fazer canções inteligentes ao violão. “Happy with You” é um exemplo de uma boa mistura acústica, acordes simples e um vocal refinado. Bem como em “Hand in Hand”, uma das mais belas do álbum e possuí um solo de flauta magnífico.Em “Who Cares”, Paul aciona seu lado paizão (ou vozão, rs) que dá conselhos aos mais jovens, em forma de pop/rock enérgico para não se importarem com o que dizem ou pensam sobre eles, principalmente para quem sofre bullying na escola. Vale a pena conhecer o vídeo-clipe desta canção.
Retirem as crianças da sala (ou não) ao ouvirem “Fuh You”. Totalmente criada em duplo sentido, o personagem diz que apenas quer se “divertir” com uma pessoa e isso abre várias possibilidades de interpretação. Pode parecer simples, mas é muito bem construída, inteligente e tem o arranjo mais moderno e jovem do disco. Paul se arrisca no country com “Confidante”. Algo que os Beatles já fizeram no inicio da carreira. É engraçado quando artistas de outros países tentam emular o som brasileiro. “Back in Brazil” possuí a essência do nosso país e é uma homenagem justa, gravada inclusive aqui.
Demonstra um Paul tentando se encaixar em qualquer lugar. Ela funciona como um todo, mas mesmo assim não deixa de soar estranha e confusa em alguns momentos. Está bem longe de ser um clássico como “Back in the U.S.S.R.” do White Album dos Beatles de 1968, que segue os mesmos caminhos. Ainda sim, vale a pena ouvir. Isso demonstra que o álbum não possui uma identidade definida, na qual pode ser tomada como ponto negativo, para aqueles que procuram um som mais coeso.
Os músicos que acompanham Paul na estrada se esforçaram para manter a qualidade e em grande parte, conseguiram. Apesar de parecer perdido, Paul na verdade sabia muito bem onde estava indo ao criar “Egypt Station” e o resultado foi o primeiro lugar nas paradas, algo que não conseguiu por mais de 30 anos. Em suma, o álbum precisa ser ouvido sem maiores pretensões e de mente aberta, da mesma forma quando vai conhecer outros países e culturas. Afinal é uma viagem e você precisa estar de malas prontas!
Tracklist
- Opening Station
- I Don’t Know
- Come On To Me
- Happy With You
- Who Cares
- Fuh You
- Confidante
- People Want Peace
- Hand In Hand
- Dominoes
- Back In Brazil
- Do It Now
- Caesar Rock
- Despite Repeated Warnings
- Station II
- Hunt You Down/ Naked/ C-Link