Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Rick Wakeman – G’Olé! (The Official Film Of The 1982 World Cup)[1983]
Por Mairon Machado
A carreira do tecladista britânico Rick Wakeman é recheada de altos e baixos. Com mais de uma centena de discos lançados, é impossível que um artista tenha todos eles agradando aos seus fãs, mesmo alguém como Wacko. Porém, há um álbum em especial que nunca ouvi um fã dizer: “Bah, eu gosto muito desse disco!“, pelo contrário. Quando se trata de G’Olé! – The Official Film Of The 1982 World Cup, a trilha sonora oficial da Copa de 1982, sempre ouço dos fãs que é um dos piores discos já lançados na história do progressivo. Mas eu não consigo concordar.
Lançado em 1983, G’olé! possui as participações especiais de Jackie McAuley e Mitch Dalton nos violões, e da bateria precisa do sempre fiel companheiro de Wacko Tony Fernandez. Vale aqui lembrar um pouco da carreira de Wacko até chegar em G’olé!. Com sua formação clássica, o músico destacou-se no Strawbs, indo parar no Yes onde conquistou sua fama com o aclamado Close to the Edge (1972). No ano seguinte, lançou-se em carreira solo, e o álbum Six Wives of Henry VIII praticamente colocou o nome Rick Wakeman no mesmo patamar do que o de sua então banda Yes. Journey to the Centre of the Earth (1974) e The Myths and Legends of King Arthur and the Knight of the Round Table (1975) fizera tanto sucesso que a estrela de Wakeman foi elevada ao ápice, e com apenas 26 anos, era um dos mais famosos músicos do mundo.
Com isso, convites para fazer trilhas apareceram à Wacko, e assim vieram Lisztomania (1975), trilha do filme homônimo que narra a história do músico e compositor húngaro Franz Liszt, e White Rock (1977), trilha para os Jogos Olímpicos de Inverno de Innsbruck, Áustria, no mesmo ano. Com essas trilhas, Wakeman pode explorar um lado mais comercial em sua carreira, totalmente em paralelo com os contemporâneos lançamentos da época, No Earthly Connection (1976) e Criminal Record (1977), álbuns conceituais onde as explorações progressivas e instrumentais são levadas a extremos.
Ao mesmo tempo, a vida pessoal de Wakeman estava muito turbulada no final dos anos 70. Problemas financeiros levaram o músico a vender seu Rolls Royce para ajudar a pagar uma dívida de quase 350 mil libras, uma imensa fortuna para época. Isso é uma das razões para que Wakeman tenha aceitado fazer a trilha de White Rock, mas ele acabou gostando desse tipo de som, o que culminou em Rhapsodies (1979), esse sim, um álbum difícil de se ouvir gostando por completo e último com a gravadora A & M, que acompanhou a trajetória do loiro desde o início.
Em paralelo, ele havia voltado ao Yes, lançando o excelente Going for the One (1977) e Tormato (1978), partindo para uma extensa turnê que acabou registrada em Yesshows (1980). Brigas internas fizeram com que Wacko e o vocalista Jon Anderson pedissem demissão do Yes, e assim, o tecladista entra nos anos 80 completamente no limbo.
Após assinar com a Charisma, sai o conceitual 1984 (1981) e mais uma trilha, agora para o filme de terror The Burning (1981) e Rock ‘n’ Roll Prophet (1982) que pouco agregaram na discografia, e principalmente, nas finanças do músico, ao ponto de ele se declarar “sem gerente, sem dinheiro e sem casa“. Assim nasce G’olé!, com Wakeman tentando se reestruturar financeiramente, independente do que gravar. Acho esse um disco bem interessante de se ouvir, com climas diversificados, sem firulas magníficas ou marcantes mas tão pouco sem ser pobre o suficiente para ficar pegando pó nas prateleiras.
“International Flag” abre os trabalhos com um belo tema dos sintetizadores e do piano, e com a presente marcação da bateria de Hernandez. Esse tema é repetido por diversas vezes, e certamente foi usado em muitas formaturas mundo à fora.”The Dove (Opening Ceremony)” mostra Wakeman usando com delicadeza do moog e de sintetizadores, em uma bonita faixa que realmente nos dá a sensação de ver as equipes adentrando o estádio de futebol. O piano é o instrumento central da linda “Wayward Spirit”. A introdução parece uma sequência para “Awaken”, com um dedilhado feroz e agitado. A entrada do riff central modifica a canção, apresentando uma linda faixa onde Wakeman chega a solar com o moog, mas é o piano que permanece sempre como o instrumento chefe da canção, em solos muito tocantes.
“Latin Reel (Theme From G’olé)” é uma faixa que confesso desnecessária. O ritmo alegre e popular lembra as piores canções do ABBA, o que seria algo muito bom de se ouvir se aparecesse, em algum momento, as vozes de Agnetha e Anne-Frida, mas aturar os teclados faceiros de Wakeman, e uma percussão sem-vergonhamente sem-vergonha realmente é difícil. Pule a faixa e vá para “Red Island”, uma faixa sensacional, onde sobre uma marcação precisa de baixo e bateria, teclados e coral comandam as variações musicais de uma música bastante climática, até a bateria conduzir o coral para nos remeter aos melhores momentos de Journey To The Centre of The Earth. O Lado A encerra-se com “Spanish Holiday”, um espetáculo sonoro bastante intenso por parte das diversas variações de instrumentos de solo por Wakeman, e contando com uma importante participação do dedilhado veloz do violão de Jackie McAuley e Mitch Dalton, além da bateria sempre competente de Tony Fernandez.
“No Possibla”, onde Wakeman abusa dos sintetizadores, e junto com a bateria e o baixo, faz um ritmo bem dançante para nos conduzir à segunda metade do LP, ainda mais com as inspirações flamencas nos acordes do moog. “Shadows” é outra bela canção, comandada pelo piano elétrico, o ritmo de baixo e bateria, moog, e depois de uma diversa sequências de solos, e uma incrível virada no final da canção, torna-a forte candidata a melhor disco.
Sintetizadores apresentam “Black Pearls”, bonita faixa com Wakeman brilhando ao piano e moog. “Frustration” traz todo o clima de frustração após uma eliminação, em uma faixa sombria, somente com sintetizadores, que parece surgida das melhores viagens da brilhante mente de Vangelis. “Spanish Montage” é um belo duelo de clavinete e violão clássico / flamenco. A participação do violão é muito similar à Steve Howe, e é impossível não abrir um sorriso enquanto a canção vai passando por nossa mente. “G’olé”, assim como “Latin Reel”, é outra faixa alegre e desnecessária, com grande excesso de sintetizadores, que conclui o álbum de forma um pouco abaixo de sua média geral, mas ainda assim, bastante aceitável perto de outras trilhas sonoras que surgiram nos anos 80, inclusive do próprio Wakeman …
Track list
1. International Flag
2. The Dove (Opening Ceremony)
3. Wayward Spirit
4. Latin Reel (Theme From G’olé)
5. Red Island
6. Spanish Holiday
7. No Possibla
8. Shadows
9. Black Pearls
10. Frustration
11. Spanish Montage
12. G’olé
Só vim aqui para dizer que o Rick Wakeman só tem UM disco solo que presta para EU ouvir, que é o das seis esposas do Henrique Oitavo (1972). Só isso.
Ta doidão hein Igor???
Não estou não, chefe… Ouvi boa parte da discografia do mago Wakeman e achei muito interessante. Gostei de alguns discos e não gostei de outros (como o disco do rei Arthur e o da viagem ao centro da terra). No entanto o disco das seis esposas de Henrique Oitavo ainda parece ser o preferido da maioria dos fãs do lendário tecladista do Yes. Para mim Wakeman nunca mais fez um disco instrumental tão conciso quanto este. Daí a minha opinião citada acima.
Boa lembrança, fazia muito tempo que não ouvia e fui procurar. O resto dos anos 80 foi ruim para o Wakeman (como para quase todo mundo), mas esse disco ainda faz parte dos trabalhos interessantes que ele lançou.
Valeu Marcello. Realmente, os anos 80 foram terríveis para muita gente. O C’ost of Living tb é aceitável!