Discografias Comentadas: Secos & Molhados
Por Mairon Machado
* Fotos do site oficial do Secos & Molhados
Fundado em 1970 pelo músico português João Ricardo, ao lado de Antonio Carlos Pitoco (voz, violão) e Fred (percussão), o grupo Secos & Molhados virou símbolo do que o Brasil representa em termos da relação fãs / bandas, já que é um grupo que teve um álbum vendendo absurdamente, mas totalmente desprezado em termos da carreira oficial após o tal álbum, algo que os brasileiros em geral costumam fazer, que é consumir rapidamente a novidade, e, depois, jogar a mesma no lixo como algo fútil. A segunda formação do grupo, com Ney Matogrosso (vocais), João Ricardo (vocais, violões, harmônica), Gérson Conrad (vocais) e Marcelo Frias (bateria) acabou engatinhando para o que veio a se tornar o inesquecível e aclamado trio Ney, João e Gérson, com dois álbuns singulares na Discografia do rock nacional.
Porém, apesar da consagrada fase com os vocais de Ney Matogrosso, a Discografia do grupo está muito acima disso, e, portanto, merecem ser resgatados os oito álbuns lançados nos mais de 40 anos de carreira do grupo, começando pelo aclamadíssimo Secos & Molhados (1973).
A estreia do Secos & Molhados é uma aula de criatividade e inovadora musicalidade. Misturando elementos do rock com o folk e a MPB, e ainda musicando poemas de autores brasileiros e portugueses, Secos & Molhados tornou-se o disco mais vendido na indústria fonográfica brasileira até a data de seu lançamento, com nada mais do que 300 mil cópias em apenas dois meses, graças aos clássicos “Sangue Latino” (Paulinho Mendonça), “O Vira” (Luli) e “Rosa de Hiroshima“, com certeza a principal contribuição de Gérson ao grupo, ao musicar esse belíssimo poema de Vinícius de Moraes. A andrógina performance do quarteto, misturada com a excelência musical de Zé Rodrix (piano, ocarina, teclados), Willi Verdaguer (baixo), Emilio Carreira (piano), John Flavin (guitarras) e Sérgio Rosadas (flautas), surpreendeu com composições épicas e a revelação do maior intérprete brasileiro de todos os tempos, Ney Matogrosso, nas emocionantes “Fala“, inspirada em “Isn’t it a Pity”, de George Harrison, com o maravilhoso solo de sintetizador por Zé Rodrix, e “O Patrão Nosso de Cada Dia”, com suas pitadas flower-power levadas por baixo, violão e intervenções de flauta. O que choca positivamente é a mescla de faixas essencialmente acústicas com outras puramente rock ‘n’ roll. Na parte acústica, temos o folk “Prece Cósmica”, de Cassiano Ricardo, apresentando uma bonita passagem apenas com baixo e violino, agregando-se às tímidas vinhetas “El Rey” e “Rondó do Capitão”, esta um poema de Manuel Bandeira, além da experimental “As Andorinhas”. No rock, sacolejamos o esqueleto com “Assim Assado”, trazendo a guitarra lisérgica de John acompanhada por uma marcação nordestina, “Amor”, influenciada por “Sweet Judy Blue Eyes”, de Crosby, Stills & Nash, e “Mulher Barriguda”, forte crítica as guerras e a ditadura no país. A primazia bluesy de “Primavera nos Dentes“, com o trio entoando o poema do pai de João Ricardo, João Apolinário, é a melhor faixa do LP, apresentando uma longa introdução instrumental e uma arrepiante performance vocal. O álbum acabou superando a marca de um milhão de cópias meses depois de seu lançamento, tornando-se representante fiel nas listas de principais discos do rock nacional, eleito como o melhor da década de 70 dentre os álbuns lançados em nosso país aqui no Consultoria do Rock.
Em fevereiro de 1974 o grupo faz uma inesquecível apresentação para 30 mil pessoas no Ginásio Maracanãzinho, que foi lançada – de forma não oficial – em 1980, no álbum Ao Vivo no Maracanãzinho, onde podemos novamente comprovar a excelência musical da banda que acompanhava o também excelente trio vocal nas enlouquecedoras viagens instrumentais de “Mulher Barriguda”, “Assim Assado” e “Primavera nos Dentes”. Esse LP gerou muita polêmica, já que o mesmo foi feito por Gérson Conrad sem a autorização de João Ricardo, dando início a uma guerra de cobras e lagartos entre os dois, complementada por Ney, e que permanece até hoje. Seguiu-se uma extensa turnê pelo Brasil e pelo exterior, mas brigas internas e discussões sobre a liderança do grupo, fortemente associada ao nome de João Ricardo, fizeram com que o trio se separasse pouco antes do lançamento do segundo LP, também batizado Secos & Molhados.
Lançado após o desmanche geral, em agosto de 1974, o segundo álbum do trio, para mim, é muito superior ao primeiro. Musicalmente, a banda de apoio, formada por Willie Verdaguer (baixo), Jorge Omar (violões), John Flavin (guitarras, violões), Emilio Carreira (piano, órgão), Norival (bateria) e Sérgio Rosadas (flauta) está afiadíssima, como atesta a alucinante “Vôo“, uma potência sonora exalada do baixão de Willie, que repete-se no hard-bluesy (mas com temperos brasileiros) “Angústia”, com a guitarra de John exalando psicodelia, e no blues experimental “Toada & Rock & Mambo & Tango & etc.”, repetindo por diversas vezes a mesma frase. Além disso, Ney está interpretando soberanamente. As curtas faixas do primeiro álbum repetem-se em “O Doce E O Amargo”, “Não: Não Digas Nada” e “Oh! Mulher Infiel”, ambas apenas com Ney acompanhado por Omar (e Rosadas junto na primeira), ou ainda “Caixinha De Música de João”, essa fazendo lindas vocalizações acompanhado pelo piano, e a acústica “Preto Velho”, tendo João na voz principal. O grande sucesso do LP ficou por conta do rock “Flores Astrais”, alegre e típica canção dos Secos & Molhados, levada por piano e vocalizações e destacando o slide de John, desta faixa que foi posteriormente coverizada pelo RPM. Outro grandioso rock acabou quase completamente esquecido pelos xiitas, no caso a veloz “O Hierofante“, lembrando “Mulher Barriguda”, e com Ney e João dividindo os vocais principais. Complementando essas belezas musicais, o bluesão “Delírio”, da qual Cazuza certamente bebeu na fonte para criar algumas de suas obras, a angustiante “Medo Mulato”, com um show de Emilio ao piano, e a escancarada influência flamenca na arrepiante “Tercer Mundo“, tendo a participação de Triana Romero (castanholas), forte candidata a melhor do álbum, que infelizmente, pela baixa divulgação, acabou vendendo pouco e ganhando status de cult, apesar das qualidades sobressalientes de suas canções.
Após o desmanche, João Ricardo decidiu partir para uma carreira solo, lançando dois álbuns que não fizeram muito sucesso, João Ricardo (1975), e Da Boca Pra Fora(1976). Ney seguiu em carreira solo, lançando o psicodélico Água do Céu-Pássaro(1975) e consolidando-se como o principal intérprete da MPB no decorrer dos anos, com mais de 30 discos em sua Discografia, enquanto Gérson também lançou seu primeiro disco solo em 1975, ao lado de Zezé Motta, complementada por apenas mais um álbum, Rosto Marcado (1981).
Em 1977, fracassado financeiramente, João ganha os direitos sobre o nome Secos & Molhados, e resolve reviver o grupo. Para isso, convoca o guitarrista e vocalista Wander Tosh (que fez sucesso em carreira solo e também como fundador do Rádio Taxi, além de ser integrante da clássica formação do Made in Brazil e fundador posteriormente do grupo Taffo, já como Wander Taffo), o baixista João Ascensão e o vocalista Lili Rodrigues. Com a participação de Gel Fernandes (bateria), Lazy (teclados) e Rubão (percussão), em maio de 1978, quatro anos após o fim prematuro da primeira formação do Secos & Molhados, a chama voltava a ser acesa.
Secos & Molhados [1978]
Apesar de seguir uma linha similar aos primeiros discos, e de Lili ter uma voz tão aguda quanto a de Ney, João decidiu parar com a androginia, e, de cara limpa, lançou o excelente álbum Secos & Molhados (também conhecido comoA Volta dos Secos & Molhados). O disco abre com um clássico, através da gaita de João que dá espaço para as vozes entoarem o nome da canção de “Que Fim Levaram Todas as Flores?“, a qual foi um sucesso nacional, levando o grupo a participar de inúmeros programas de televisão. A semelhança com faixas como “Flores Astrais” e “Assim Assado” não pode ser evitada, e Lili mostra que estava na banda para substituir, e bem, Ney. Outra canção muito similar aos dois primeiro álbuns é “Última Lágrima”, na linha de “Sangue Latino”, destacando o baixo de Ascensão. Nas demais canções, temos uma divisão entre faixas elétricas e outras predominantemente acústicas, fazendo um duelo perfeito de incrível audição. Na parte elétrica, o grupo inova com um funk Motowniano de sacudir o esqueleto, batizado “De Mim Pra Você“, com o baixo de Ascensão sendo o grande momento, a alegre “Insatisfação”, com um hard pesado no solo de Wander, e brinda-nos com a voz carregada de sotaque de João Ricardo na arrepiante “Anônimo Brasileiro”. A voz de João também brilha na parte acústica, sendo impossível não se arrepiar com a emocionante “Como Eu, Como Tu“, forte candidata a melhor do LP e da carreira do grupo, e também na animada “Quadro Negro”, digna de grandes luais entre amigos. Contrabalançando os momentos acústicos com os momentos elétricos estão as belas “Minha Namorada”, com Taffo arrepiando em seu solo de guitarra, “Lindeza”, com os vocais de Lili levados por um complicado dedilhado de violão, mas recheada por um fantástico e inédito – ao som do Secos & Molhados – arranjo de cordas e um tímido solo de guitarra, “Cobra Coral Indiana”, cantada por João e apresentando mais um majestoso arranjo de cordas, assim como “Oh! Canção Vulgar”, destacando a voz de Lili. Pena que essa formação não durou muito, mas mesmo assim, fez com que o nome Secos & Molhados voltasse a cena, fazendo shows pelo país e com uma venda razoável, deste que para mim é o melhor álbum da carreira da banda.
As flores já não cheiravam tão bem, e João acabou tendo diversos problemas com os integrantes dessa formação, encerrando mais uma vez a carreira do grupo e lançando seu terceiro trabalho solo, Musicar, em 1979. Em meados de 1980, por conta de ainda haver o contrato com a Polygram, João mais uma vez resgata o Secos & Molhados, contando agora com os irmãos Roberto Lampé (violão), César Lampé (voz) e Carlos Amantor (percussão), e lançando mais um álbum homônimo, o quarto na Discografia da banda.
O disco segue a mesma linha do anterior, como demonstram “Muitas Pessoas” e “Quantas Canções é Preciso Cantar“, ambas com aquela levada a la “Que Fim Levaram Todas as Flores”, destacando a voz aguda de César, e também a balada “Roído de Amor”, muito similar as baladas do álbum de 1978. Porém, apresenta duas canções em que os quatro músicos participam da composição, no caso “Sem As Plumas, Numas”, trazendo a harmônica e o baixo como destaques, e a sombria “Contudo”, apresentando um belo trabalho de vocalizações e piano, o que acabou dando uma nova cara para a banda. As demais são canções que João havia criado mas não registrado anteriormente, e nelas temos os rocks genuinamente Secos & Molhados de “Pelos Dois Cantos da Boca”, “Meu Coração Não Pode Parar” e “Pão João”, sempre com muito baixo, guitarras e vocalizações ao melhor estilo Secos & Molhados, a pequena vinheta-protesto “Aja”, relembrando “El Rey” e “As Andorinhas”, o jazz anos 30 de “Você Faz Amor Engraçado” e a densa “Homenzarrão“, com os vocais de João e uma letra bem agressiva, mostrando que nem só de doces e agrados vivia a cabeça do português. O álbum encerra-se com “Vira Safado”, uma regravação para a mesma canção gravada por João em seu primeiro álbum solo, porém com um arranjo reggae. Um detalhe interessante vai para a capa do álbum: originalmente, ela seria uma imagem de João Ricardo tirando a máscara, mostrando que agora vinha um novo Secos & Molhados. Porém, a gravadora exigiu que a capa fosse feita com uma imagem dos quatro músicos, mas com um detalhe adicional, na capa da frente, o grupo aparece como um trio, para remeter ao trio de ouro Ney / Gérson / João, além da própria imagem ser em preto e branco para seguir a linha estética de grupos da New Wave que surgiam na época, principalmente Joy Division. Além disso, a versão que saiu na época está com uma rotação alterada em relação ao que foi gravado, e até hoje nunca foi corrigida em um lançamento em CD, mas é possível ouvir a versão original no site da banda.
O quarteto fez uma única apresentação ao vivo, que foi uma participação no programa Globo de Ouro, e João partiu para o exterior, tentando esquecer de vez a banda que o havia revelado e fugir das gravadoras, as quais ele passou a detestar.
Em 1986, João voltou ao Brasil, e começou uma temporada de shows no teatro João Caetano, em São Paulo, com a turnê “Em Conserto”, tendo a participação especial do artista plástico Marco Antonio Lima. Pouco depois, volta aos estúdios e começa a gravar diversas canções. Em uma das noites de gravação, conhece Carlos Zapparolli Jr., apelidado Totô Braxil, e começa assim a renascer o Secos & Molhados. Com a participação de Edinho França (guitarra), Fernando (baixo) e Gilberto Ninho (bateria), voltam a fazer shows, com o espetáculo De Volta Para o Futuro, e assim, nasce o quinto álbum do grupo.
Com uma pequena reformulação, o Secos & Molhados volta com João e Braxil, além de Edinho, Ninho, Jean Eduardo (baixo) e Wilson (teclados), e, com o apoio da Rede Bandeirantes, lançam, em 1988, o oitentista A Volta do Gato Preto, o qual possui poucos momentos de inspiração. Passam tranquilamente o rock “Aquém-Mar“, lembrando Rita Lee com Tutti Frutti, “Sem Rei Nem Rock”, apresentando a voz grave de Totô, e a acústica “Habitante da Guiné“. Por outro lado, apesar de musicalmente interessante, é complicado aceitar a voz de Totô e João durante “Eu Estou Fugindo de Casa”, “Sangue de Barata” e “Estrábico Democrático”. Entre o bom e ruim, ficam “Sonho de Valsa: Dancei”, destacando a presença da harmônica tradicional nas canções do grupo, “Aventurar”, levada pelo agito do violão de João, e “Final Jam”, uma mescla de três sucessos da fase Ney (“Assim Assado”, “Flores Astrasis” e “O Vira”), sem muito a acrescentar perante as originais. Consideravelmente boas são a rápida “Armadilhas Com Vodu” e a bonita declaração de amor “Eu Amo Dizer Te Amo“, apenas com João cantando acompanhado de seu violão. É um disco que demorei a aceitar, e ainda hoje algumas canções não passam bem, mas perto de outras bandas da época, não é de todo desprezível. A capa faz uma alusão ao álbum de estreia, com João e Totô entre Secos & Molhados, assim como a estátua com a face de Ney derrubada sobre a mesa.
O grupo faz uma mini-temporada de quinze dias no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro. Entre 1989 e 1990, começam a ensaiar novas composições, mas Totô acaba descobrindo que está doente, e o projeto é abandonado. Até o final dos anos 90, João Ricardo ficou afastado da música, resolvendo voltar sozinho em 1999, carregando o nome Secos & Molhados e lançando o sexto álbum da banda, Teatro?.
Neste disco, João é o único membro da banda, tocando violões, harmônica, guitarra e percussão. Gravado em apenas uma noite, em comparação ao seu antecessor, Teatro? é um disco muito interessante, apesar de longe dos tempos áureos nos anos 70. Aproveitando-se de canções compostas nos anos 80 e 90, mas não lançadas anteriormente, João Ricardo acaba ousando, fazendo um disco bem diferente do esperado para os fãs, mas na visão de João, a representação de que o Secos & Molhados não precisava ser a mesma coisa o tempo todo.Teatro? traz letras afiadíssimas, sendo “Sida”, “Tom de Dó” e “Puta” as mais expressivas criações líricas desse álbum, com a primeira criticando os garotos que não usam camisinha para fazer sexo, a segunda apresentando diversas citações à canções do passado do grupo e a terceira falando sobre um homem apaixonado por uma “dama da noite”. Os momentos relevantes ficam para quando João solta a distorção na guitarra, empregadas nas faixas “Zanzibar”, que poderia ficar perfeita com a participação de uma bateria e baixo, “Teatro?” e “Rosinha, A Vermelha”, ambas emulando os tempos sagrados do BRock, e na pesada “Bola de Berlim”, a melhor do álbum, fazendo uma alusão ao fato da liberdade dos sonhos que João encontrou no Brasil, ao lado de “Dura Aquilo Que Passar Pelo Tempo Que Durar“, com uma endoidecida participação da flauta e um tímido acompanhamento de baixo e percussão, que servem tranquilamente para mostrar o quanto o álbum poderia ser ainda melhor com a participação de outros instrumentos além da guitarra e/ou do violão. Há espaço para baladas comuns, mas não desprezíveis, através de “Louca de Pedra”, “O Soldado E O Anjo“, “Fios de Tempo”, e rocks feitos para um luau, em “SMGBL” e vinheta “Sacaneou Animal”. No geral são canções curtas, com uma sensação de festa de fim de semana bastante agradável, e que vale a audição mesmo que não constante, e quem sabe um dia, as canções desse álbum ganhem uma versão com grupo completo, pois suas qualidades são inegáveis.
João aproveitou o lançamento de Teatro? e criou o site www.secosemolhados.com, trazendo todas as histórias principais da carreira do Secos & Molhados, sem prender-se apenas nos anos de Ney Matogrosso, fugindo do que ele chama de “sistema” e contando o que para ele é a verdadeira história do grupo.
No ano seguinte, finalmente João consegue registrar oficialmente as canções compostas no período entre 1986 e 1990, no álbum Memória Velha. Mais da metade das canções já são velhas conhecidas dos que seguiram a carreira do Secos & Molhados pós-Ney Matogrosso, no caso “Sangue de Barata”, rearranjada com um belíssimo trabalho de violão, “Sem Rei Nem Rock”, apenas com a voz de João acompanhado por sua guitarra e vocalizações femininas, “Eu Amo Dizer Te Amo” e “Dura Aquilo Que Passar Pelo Tempo Que Durar”, praticamente idênticas as versões originais, “Aventurar”, praticamente uma nova canção, com João Ricardo acompanhado por um andamento alegre de violão, lembrando canções de artistas como Ivan Lins e Guilherme Arantes, “Tom de Dó”, ganhando a inclusão de instrumentos como harmônica e percussão, além de vocalizações, e a bela “Sonho de Valsa: Dancei”, apresentando João Ricardo ao piano, em uma versão melhor que a original. Das novas canções, temos a dançante “Romântico Vício de Mel”, com um solo de saxofone, outro poema do pai de João Ricardo entoado em “Os Portugueses Deixam a Língua nos Trópicos” declamado por João Ricardo acompanhado por densas camadas de teclados, as extremamente anos 80 “Cantilena”, recheada de sintetizadores, e “Foi Só Amor”, esta uma balada totalmente anos 80, levada pela bateria eletrônica e um andamento simples. Outro bom disco, talvez até melhor que seu antecessor, e que também merece uma audição regular pelos fãs menos xiitas.
Em 2003, lança como João Ricardo Ouvido Nu, em comemoração aos 30 anos do primeiro álbum da banda, trazendo regravações para diversas canções da carreira do grupo, como “Sangue Latino”, “Assim Assado”, “Primavera Nos Dentes” e outras até então inéditas. João segue em carreira solo, lançando Puto (2007). Em 2008 sai um novo relançamento para Secos & Molhados (1973), apresentando uma nova capa. Em 2011, surpreendendo fãs e imprensa, João anuncia o retorno do Secos & Molhados, ao lado de Daniel Iasbeck.
Lançado em streaming pelo soundcloud em novembro de 2011, Chato-Boy é um trabalho muito ousado e fora do comum, já que consta de apenas uma única faixa com quase 30 minutos de duração, apresentando diversas passagens instrumentais em sua maioria próximas ao rock anos 70 e ao fusion, interpretadas por Daniel, que toca todos os instrumentos (piano, baixo, guitarra, bateria e teclados) intercaladas por poemas declamados por João Ricardo. Da parte musical, os arranjos são bastante interessantes, mostrando que Daniel é talvez o melhor músico que passou pela banda desde Wander Taffo. Dos dez poemas escritos por João Ricardo, alguns exageram nos palavrões, mas são até que criativos em suas críticas e histórias. Não é um álbum que fica na memória, mas como complemento de uma discografia tão diversificada, vale a pena a aquisição, apesar de que encontrar o CD físico, lançado em 2012, é bastante complicado.
João segue na ativa, e talvez, em breve, um novo lançamento sob o pseudônimo Secos & Molhados apareça por aí. Ney também segue sua carreira solo de bastante sucesso, e Gérson reapareceu nos últimos anos com o lançamento de seu livro Meteórico Fenômeno, onde acaba defendendo-se de diversas acusações e injustiças que João Ricardo acabou falando sobre ele e Ney após o término da segunda formação da banda, mostrando que apesar de muitos quererem a reunião do trio, dificilmente isso ocorrerá novamente, principalmente por conta das guerras de egos entre Ney, João e Gérson.
Sério que voce considerou o de 78 como melhor album da banda?
Sim. Acho esse álbum perfeito!!
Também acho!
Valeu Caio. Abraços!
Acho uma injustiça que os LPs de João Ricardo e Secos e Molhados pós-Ney não tenham sido relançados em CD. Se relançaram do Arnaldo Baptista e dos Mutantes pós-Rita, por que não? Os três primeiros do João teriam sido perfeitos para relançamento na série “Tons”, da Universal.
Certamente Emilio, são ótimos discos. O disco do Gerson com a Zezé ganhou versão em CD? É outro baita disco! Abraços
Sim, o disco do Gérson com a Zezé Motta saiu em CD.
Legal. Vou atrás!!
Walter Franco morreu. Perda irreparável para a música.
Parabéns pela matéria. O Secos & Molhados merece reconhecimento pela sua obra. O BR Rock homenageou a banda, sendo que, além do RPM, o Nenhum de Nós gravou sangue latino e o Capital Inicial escolheu assim, assado
O Ao Vivo no Maracanãzinho,com a formação original (que foi lançado em LP), não faz parte da discografia oficial? Não fez parte da matéria.
Ola Adeilson, é que aqui tratamos apenas dos álbuns de estudio. Mas o Maracanazinho está citado no texto de qqer forma.Abraços
Secos e Molhados, pra mim, a melhor banda que já pintou no Brasil. Sem desmerecer outras grandes bandas. Mas, essa, tinha tudo, letra, som, visual, performance e estilo.
Valeu André. Abraços