Evita – The Complete Motion Pìcture Music Soundtrack [1996]
Por Mairon Machado
Madonna sempre foi uma campeã de vendas em toda sua carreira. Com uma obra que abrange diversos estilos, mas calcada essencialmente no Pop, Madonna conquistou o mundo nos anos 80, tornando-se a maior artista feminina de todos os tempos, e a partir dos anos 90, apenas soube administrar – com muito talento e sabedoria – sua glória. Até hoje nenhuma mulher conseguiu superar o impacto que Madonna trouxe ao mundo com álbuns como Like a Virgin (1984), True Blue (1986), Like a Prayer (1990) ou Ray of Light (1998).
Praticamente todos os seus discos bateram recordes de vendas. Um deles fez um sucesso enorme na época de seu lançamento, mas hoje é pouquíssimo comentado, apesar de grandes qualidades. Falo da trilha sonora para o filme Evita, de 1996. O álbum que irei comentar é a versão dupla, oficialmente lançada em 1996, mas também vale lembrar que foi lançada uma versão simples, chamada Evita – Music from the Motion Picture, que contém apenas as principais canções do filme, e que igualmente com a versão dupla, fez muito sucesso. Como toda trilha sonora, há altos e baixos em Evita – The Complete Motion Picture Music Soundtrack (nome original do CD), mas no geral, é um disco que para mim surpreende, não só pelas canções, mas pelas participações de Antonio Banderas e Jonathan Pryce, que destacam-se como exímios cantores.
Apenas relembrando de onde surge o disco, o filme Evita é baseado no musical de mesmo nome, que fez muito sucesso nos anos 70. Lançado em 1976, Evita é mais uma obra da dupla Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, os mesmos criadores do musical de sucesso Jesus Christ Superstar (com Ian Gillan, Yvonne Elliman, entre outros). Inspirada no filme Queen of Hearts (1972), que conta a vida de Eva Perón (1919-1952) e sua influência na história argentina a partir da ascensão ao poder de seu marido Juan Perón, como presidente do país, originalmente Evita é um álbum conceitual duplo, que acabou tornando-se uma produção de Teatro em 1978, em Londres, parando como um musical de extremo sucesso na Broadway em 1979.
Em 1996 foi refeita a ópera-rock no Cinema por Alan Parker, agora com Madonna como Evita, Antonio Banderas como Che, e Jonathan Pryce como Juan Perón, além de diversos outros atores / cantores fazendo a recriação da obra de 1976. É a sua trilha que narro agora, lançada no mesmo ano. A sequência musical é a mesma do álbum de 1976, começando com “A Cinema In Buenos Aires, 26 July 1952”, quando uma seção de cinema é interrompida para anunciar o falecimento de Eva, levando a “Requiem For Evita”, que apresenta um belo tema central na guitarra, repetido por trompas sobre um andamento marcial, e a forte presença do coral, explodindo nas cordas que repetem o tema central.
Então, surgem os violões milongueiros de “Oh What a Circus”, uma milonga bonita cantada por Antonio Banderas, que enaltece a história de Evita, com a melodia similar a da clássica “Don’t Cry For Me Argentina”, com uma seção central bastante rock ‘n’ roll, bem diferente da milonga inicial, com guitarra, bateria e piano fazendo a base para os vocais de Banderas. A canção para repentinamente, e um coral surge, trazendo a orquestra para repetir a melodia clássica citada antes, e Madonna abrilhantar o CD entoando o clássico refrão de “Don’t Cry For Me Argentina”.
“On This Night Of A Thousand Stars” é um tango tipicamente portenho, narrando sobre a noite de milhares de estrelas, com os vocais de Jimmy Nail. Sintetizadores e um ritmo latino apresentam “Eva and Magaldi / Eva Beware of the City”, uma canção complexa, repleta de alternâncias, moderna e interpretada por Madonna, Nail, Banderas e Littman, e que é uma representação bem forte dos musicais da Broadway. Muita latinidade surge nas percussões de “Buenos Aires”, mais uma faixa interpretada por Madonna, e que é um ponto mais baixo no álbum até então, até por que sabemos que a capital argentina não possui tanta latinidade rítmica assim.
Os violões de “Another Suitcase In Another Hall” mostram uma Madonna mais calma, em bastante contraste com o ritmo anterior, em uma bonita faixa onde exatamente os vocais de Madonna se destacam positivamente, lembrando aqueles de “Oh Father” ou “Live to Tell”, além do solo de saxofone. “Goodnight And Thank You” é uma canção dançante, como uma espécie de baile, interpretada por Madonna e Banderas, que também agrega pouco à obra, apesar de ser impossível não destacar o bom trabalho vocal da dupla. Então, somos surpreendidos pelo rockzão de “The Lady’s Got Potentital”, onde as guitarras e o ritmo boogie balançam o esqueleto junto a uma performance vocal soberba de Banderas. Grande faixa!
Sob aplausos, Nail retoma o tema de “On This Night Of A Thousand Stars” em “Charity Concert”, seguida por “The Art of the Possible”, uma sequência de conversas entre Madonna, Banderas e Pryce, em uma peça bastante operística. As conversas continuam em “I’d Be Surprisingly Good For You”, uma faixa que remete ao pampa argentino junto ao bolero, com Pryce e Madonna revezando-se nos vocais e um interessante solo de saxofone. “Hello And Goodbye” tem um certo ritmo de bossa nova, e apresenta os vocais de Madonna e Pryce. Madonna, em particular, carrega sua voz de sensualidade, e o solo de flauta é uma bela passagem de bálsamo aos ouvidos.
Muita orquestração surge na marcial “Peron’s Latest Flame”, interpretada por Madonna, Banderas e o coral, e que é repleta de variações ao longo de seus quase 6 minutos de duração. O primeiro CD encerra-se com a soturna e comovente “A New Argentina”, um épico de 8 minutos onde Pryce, Madonna e Banderas revivem momentos musicais apresentados até então, com algumas novidades musicais, arrepiantes solos de guitarra mesclados com vocalizações poderosas e orquestrações igualmente arrepiantes, em uma das melhores faixas do CD de 57 minutos.
O segundo CD surge operístico, com Péron na sacada da Casa Rosada através de Pryce convocando o povo argentino em “On The Balcony of the Casa Rosada 1”, e então chegamos no sucesso “Don’t Cry For Me Argentina”, uma das canções mais belas da história da música, e que na voz de Madonna, conquistou o mundo! Impossível não se arrepiar com uma interpretação tão tocante e comovente, o que só demonstra todo o talento de Madonna! Mais ópera retorna em “On The Balcony of the Casa Rosada 2”, com a população (coral) chamando por Evita, e Madonna na sacada da Casa Rosada. “High Flying, Adored” é uma balada bem mela-cueca, cantada por Banderas, uma breve participação de Madonna, que começa a colocar a casa nos eixos após a pancada de “Don’t Cry for Me Argentina”.
“Rainbow High” possui um ritmo dançante, classicamente musical de Broadway, na linha de canções de Cats ou Hair, com uma pegada mais vibrante da guitarra próximo ao final, levando a “Rainbow Tour”, uma faixa que começa com a ópera de Pryce, mas transforma-se em um belo rock cantado por Bandeiras, Pryce, Gary Brooker, Peter Polycarpou, John Gower, e claro, Madonna, e lembra trechos de Tommy ou Quadrophenia. “The Actress Hasn’t Learned The Lines (You’d Like To Hear)” retorna à ópera, com o coral entoando as primeiras frases, e depois Madonna deliciando os ouvidos sobre um andamento orquestral muito sutil, encerrando com Banderas falando em um clima de tensão. Banderas novamente revela-se um grande intérprete no rock + ópera “And The Money Kept Rolling In (And Out)”.
Evita volta a falar ao povo argentino em “Partido Feminista”, que possui a mesma harmonia das “On The Balcony of the Casa Rosada”, com o coral fazendo a parte da população, e em “She Is A Diamond”, Pryce faz sua interpretação mais importante no CD, acompanhado de um lindo dedilhado de piano e violão, e um coral de crianças entoa a santidade de Evita em “Santa Evita”, mãe de todos os filhos, tiranizados, descamisados e trabalhadores da Argentina, que remete-nos a melodia de “Don’t Cry For Me Argentina”. O ritmo marcial leva para “Waltz for Eva and Che”, uma valsa canastrona cantada por Banderas e Madonna, mas com um bonito encerramento graças ao vocal de Madonna, e entramos na reta final do CD.
A breve balada “Your Little Body’s Slowly Breaking Down” apresenta Eva e Carlos se despedindo através das vozes de Madonna e Pryce, e chegamos então a mais um grande clássico de Evita, “You Must Love Me”, uma balada tocante, carregada de dramaticidade na voz de Madonna, acompanhada apenas por piano, e que ganhou Oscar de Melhor Canção Original. “Eva’s Final Broadcast” é Evita se despedindo dos argentinos, através da voz de Madonna sobre uma orquestração profunda e dramática, que ganham ainda mais dramaticidade com o coral entoando “Evita” enquanto a melodia vocal nos remete novamente a “Don’t Cry For Me Argentina”. O coral também é forte na tensa “Latin Chant”, uma faixa de bastante tensão, e o encerramento da ópera se dá com “Lament”, começando com um triste lamento de Madonna acompanhada por um dedilhado de violão, explodindo em uma forte orquestração (idêntica a de “Requiem for Evita”). Banderas também canta sobre o dedilhado de violões, e voltamos para o coral, para a faixa encerrar-se com um sombrio acorde de piano.
No meio das gravações, Madonna engravidou de Lourdes Leon, e assim, fez uma moribunda Eva Perón um tanto quanto roliça. Pior foram suas falas sobre o povo argentino em entrevista à revista Vanity Fair, classificando-os como não civilizados, além de trazer diversas indiretas ao ex-presidente Carlos Menem. Peronistas, fanáticos do casal Perón, picharam muros com “Fora Madonna! Viva Evita!” e realizaram protestos durante as filmagens no país. O próprio Menem criticou o filme, mesmo tendo a diplomacia de liberar o balcão da Casa Rosada, a sede do governo nacional, para uma das filmagens mais emblemáticas de Evita. Para piorar, quando de seu lançamento na Argentina, o vice-presidente da nação, Carlos Ruckauf, propôs um boicote, levando a verdadeiros piquetes na porta dos cinemas que o exibiam. Muitas confusões aconteceram em cinemas de Buenos Aires e cidades vizinhas, como La Plata e Santa Fé.
No resto do mundo, o filme foi um verdadeiro sucesso, arrecadando uma grana preta para a época (mais de 140 milhões de dólares) assim como sua trilha. Confesso que nunca ouvi a trilha original, de 1976, e é um dos meus objetivos musicais poder comparar as obras. De qualquer forma, relativa ao que tratei aqui, para quem acha que o disco é todo igual a “Don’t Cry for Me Argentina”, engana-se fortemente. O que ouvimos são vários gêneros musicais que representam muito bem os grandes musicais da Broadway, sendo altamente recomendável para quem curte algo do estilo. Evita atingiu a incrível segunda posição na Billboard, sendo um sucesso nos Estados Unidos, onde recebeu platina quíntupla, e até o momento, já vendeu mais de 12 milhões de cópias ao redor do mundo.
Track list
- A Cinema In Buenos Aires, 26 July 1952
- Requiem For Evita
- Oh What A Circus
- On This Night Of A Thousand Stars
- Eva And Magaldi / Eva Beware Of The City
- Buenos Aires
- Another Suitcase In Another Hall
- Goodnight And Thank You
- The Lady’s Got Potential
- Charity Concert / The Art Of The Possible
- I’d Be Surprisingly Good For You
- Hello And Goodbye
- Peron’s Latest Flame
- A New Argentina
- On The Balcony Of The Casa Rosada 1
- Don’t Cry For Me Argentina
- On The Balcony Of The Casa Rosada 2
- High Flying, Adored
- Rainbow High
- Rainbow Tour
- The Actress Hasn’t Learned The Lines (You’d Like To Hear)
- And The Money Kept Rolling In (And Out)
- Partido Feminista
- She Is A Diamond
- Santa Evita
- Waltz For Eva And Che
- Your Little Body’s Slowly Breaking Down
- You Must Love Me
- Eva’s Final Broadcast
- Latin Chant
- Lament
Não conhecia esse filme. Vou dar uma olhada na Amazon. Valeu.
“Até hoje nenhuma mulher conseguiu superar o impacto que Madonna trouxe ao mundo com álbuns como Like a Virgin (1984), True Blue (1986), Like a Prayer (1990) ou Ray of Light (1998).”
Kate Bush mandou um abraço
Sério? Kate Bush falou sobre aborto, sobre fazer sexo como se estivesse perdendo a virgindade novamente, sobre a falta de apoio do pai, falou isso?
Se esse é o seu melhor argumento, nem vale a pena continuar. É inegável que Madonna é gigante, mas é fãzismo demais achar que ela é a única no mundo. Kate Bush é tão referência quanto por razões óbvias, mas fique aí no seu mundinho negacionista 😉
Esse é apenas um dos argumentos. Mostre-me alguns dos seus para Kate Bush estar no mesmo patamar de Madonna
E quando que eu falei que ela é a única no mundo? Só por que eu afirmo (e afirmo de novo) que o impacto que ela causou ainda não teve nenhuma mulher que tenha feito igual (e home, só Michael Jackson), isso não significa que não há outras tão relevantes. E nesse contexto, de Celine Dion a Lady Gaga, todas estão na barca
Que moça simpática! Já que você tem o contato, diz que retribuímos o abraço e que estamos esperando a tour brasileira com 3 noites no Estádio do Morumbi.
Já que a resenha é sobre a trilha sonora da versão para o cinema de “Evita” com a Madonna no papel principal, pergunto novamente: “aonde entra nessa história o Richard Clayderman com seu disco em tributo a Andrew Lloyd Webber?”
Aguardando uma resenha sua
Em breve vai ter uma, patrão…
No meio do seu cu KKKKKKKKKKKKK
Caro Denis, por gentileza, vamos fazer o favor de pegar leve nos comentários? Quero mais respeito com o meu ídolo Clayderman!
Isso! Aqui a gente só fala ÂNUS. Cu não! Cú Jamais! Nem pensar em cú!
Respeito aos ídolos dos outros querido!
Beijos!
Pode postar um link com o cd para fazer download, por favor? Obrigado!
Ola Arthur, infelizmente não tenho esse link. Desculpe. Abraços