Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Rush – Fly By Night [1975]

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Rush – Fly By Night [1975]

Em homenagem a um dos maiores bateristas da história, que infelizmente nos deixou no último dia 07 de janeiro, trazemos essa matéria sobre a estreia de Neil Peart no Rush, através do clássico Fly By Night.

Por Bruno Marise 

Quando falamos em “disco subestimado do Rush”, provavelmente o primeiro nome que vem à cabeça é Caress Of Steel (1975), terceiro lançamento da banda, que foi um fracasso de vendas e quase pôs fim ao trio canadense. Hoje, o álbum é bastante apreciado e considerado pelos fãs como um ensaio do que a banda faria em sua obra definitiva, 2112 (1976). Você deve estar se perguntando por que então não escolhiCaress of Steel para esta seção. É simples: Fly By Night, é sem sombra de dúvida o disco mais injustiçado e esquecido de toda a carreira do Rush. Não é lembrado nem para o bem nem para o mal, e é até menos falado que a estreia do grupo (1974), que, apesar de mostrar certa qualidade, era um pastiche um pouco mais elaborado do hard rock/blues rock que era feito na época. Em conversas com apreciadores do trio, e conhecedores de sua carreira, Fly By Night nunca é citado, e trata-se do meu segundo disco favorito do Rush, por isso resolvi fazer justiça.

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Geddy Lee, Neil Peart e Alex Lifeson

No final de 1974, o Rush era uma banda pouco popular, com um disco de estreia que vendeu pouco e reconhecimento restrito ao Canadá, e mesmo em sua terra natal o grupo ainda era pequeno. O sucesso demoraria mais alguns anos para chegar, mas uma mudança que parecia pequena, a princípio, mudaria todo o rumo da carreira da banda, atribuindo a identidade pela qual ela é reconhecida hoje: a entrada de Neil Peart.

Com a demissão de John Rutsey por problemas de saúde, um tal de Neil Peart assumiu as baquetas. O novato não se mostrou apenas um baterista monstruoso, mas também um letrista de talento, trazendo referências de ficção científica, literatura e ideais da filosofia libertária de Ayn Rand. Apesar de manter a base hard rock do disco de estréia, a evolução nas composições e na parte instrumental é enorme, onde nota-se um flerte com o progressivo. A cozinha formada por Geddy Lee e Peart é sem dúvida uma das mais potentes da história do rock, e, com a adição dos riffs, licks e solos de Alex Lifeson, que o tornam um guitarrista único e influente, com técnica e timbre bem peculiares.

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Rush ao vivo

Fly By Night abre com a pesada “Anthem”, que já mostra toda a habilidade de Peart e um entrosamento inacreditável entre o trio. O solo é um dos pontos altos da carreira de Lifeson. Uma virada de bateria dá início a “Best I Can”, escrita por Lee, talvez a mais fraca do álbum, que nem por isso peca na falta de qualidade. Um riff bem característico de Lifeson puxa a introdução de “Beneath, Between & Behind”, com um andamento jazzístico na bateria e  letra  inspirada em contos de ficção. Foi a primeira composição de Peart no Rush.

Última música do lado A, “By-Tor & the Snow Dog” é o primeiro épico do trio, um estilo de composição que caracterizaria toda a fase progressiva da banda. Uma faixa longa, dividida em várias partes e com mudanças de andamentos que mostram toda a qualidade dos três músicos. Geddy Lee consegue atingir notas altíssimas de maneira absurda e Peart une com maestria groove e técnica, enquanto Lifeson derrama frases de guitarra pesadas e complexas. Em determinado momento, os instrumentos começam a duelar entre si, simulando uma verdadeira batalha.

O lado B inicia com a clássica faixa-título, uma quase balada que é um das canções mais famosas da banda. A letra de Peart narra a história de sua primeira viagem de avião, à Inglaterra, em 1971, quando ele tinha 18 anos. “Making Memories” é bastante zeppeliana, toda acústica com um belo solo de slide guitar. “Rivendell” acalma ainda mais os ânimos, com um bonito dedilhado de violão e passagens de flauta, que criam um clima quase pastoral, que remete ao tema central da composição. A faixa é mais uma das inspirações literárias de Peart, e faz referência à cidade (Rivendell, ou Valfenda, na tradução) dos elfos na obra “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien. A reflexiva “In the End”, de Lee e Lifeson, encerra o disco.

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Neil Peart (RIP) com Peter Criss, durante a turnê americana de Fly By Night, em conjunto com o Kiss

Track list:

1. Anthem
2. Best I Can
3. Beneath, Between & Behind
4. By-Tor & the Snow Dog
5. Fly By Night
6. Making Memories
7. Rivendell
8. In the End

8 comentários sobre “Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Rush – Fly By Night [1975]

  1. Pra mim o melhor trabalho de bateria de Peart no Rush esta registrado nesse disco, acho que muitos ainda não perceberam o trabalho de bateria desse álbum, sempre falo isso, o cara deu tudo de si nele, simplesmente fantástico.

  2. Eu ainda acho o melhor trabalho dele o Hemispheres. O que ele ele faz em “La Villa Strangiatto” é sobre-humano. Engraçado que no livro dele, Longe e Distante, ele se considera melhor baterista a partir dos anos 2000. Discordo totalmente. Vai fazer muita falta …

  3. Tenho 38 anos, e lembro que com 12 o ex-namorado da minha irmã tinha esse disco no quarto, como não tinha nada para fazer, fui lá peguei o disco e coloquei para tocar, deitei na cama dele e fiquei escutando. É de longe o disco que mais identifico a banda.

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