Shows Inesquecíveis: Ace Frehley (Huntington, EUA, 20 de novembro de 2014)

Shows Inesquecíveis: Ace Frehley (Huntington, EUA, 20 de novembro de 2014)

 

Por Leonardo Castro

Quinta-feira, 20 de novembro de 2014. Em uma noite com temperatura abaixo de zero, deixei a cidade de Nova York, onde passava férias, rumo a Huntington, em Long Island, para assistir a apresentação do guitarrista solo original do Kiss, o lendário Spaceman, Ace Frehley. Promovendo seu disco (a época) recém-lançado, Space Invader, o guitarrista reuniu o baterista Scot Coogan, o baixista Chris Wyse e o guitarrista e vocalista Ritchie Scarlet, seu parceiro desde os anos 1980, para uma série de shows nos Estados Unidos.

Após a viagem de uma hora de trem de NYC a Huntington, cheguei ao Paramount Theater no meio da apresentação da banda de abertura, o Charm City Devils. O grupo de Baltimore, Maryland, que foi apadrinhado por Nikki Sixx no início de sua carreira, promovia Beetles. O som é um hard rock moderno e enérgico, que em muitos momentos lembra o Buckcherry. A banda se apresentou para um público bem pequeno, por volta de 400 pessoas, e tocou um set de aproximadamente 30 minutos, mas em nenhum momento chegou a entusiasmar a plateia.

O Paramount Theater é uma casa com capacidade para aproximadamente 1.500 pessoas, com um palco grande e telões de alta definição em cada lado do mesmo. Após um intervalo de 40 minutos, as luzes da casa se apagaram e um pano de fundo com a capa de Space Invader foi erguido. A essa altura, o público já era superior a 1 mil pessoas, mas o lugar estava longe de estar lotado.

Scot Coogan e Ace Frehley
Scot Coogan e Ace Frehley

Com as luzes apagadas, a instrumental “Fractured Mirror”, do disco solo do guitarrista de 1978, começou a tocar no som mecânico, aumentando a expectativa da plateia. E ao fim desta, a banda surgiu no palco com “Rip It Out”, clássico também presente no álbum de 1978. O som era cristalino, e a performance da banda enérgica e precisa. O grupo segue com duas canções do disco novo, “Gimme a Feelin’”, que foi divulgada como música de trabalho do álbum, e “Toys”, ambas muito bem recebidas. Mas a recepção era muito mais calorosa nas canções do Kiss, como “Parasite”, que veio na sequência, para a felicidade dos fãs.

Após saudar a plateia, Frehley perguntou se alguém ali usava cocaína. Com o silêncio do público, ele disse que há anos também não usa, mas que nos anos 1970 as coisas eram diferentes, e que ele não conhecia ninguém que não usasse… Indireta para Paul e Gene? Então, a banda iniciou a música sobre o tema, “Snowblind”, do disco de 1978, também muito bem recebida pela plateia.

Então tivemos a primeira surpresa da noite, “Love Gun”, cantada muitíssimo bem pelo baterista Scot Coogan, que cantaria todas as músicas gravadas originalmente por Paul Stanley no show. Ainda que seja uma composição de Stanley, a inclusão do clássico do Kiss no show de Ace faz sentido, visto que seu solo é um dos mais marcantes da carreira do guitarrista. E se o Kiss toca “Cold Gin” e “Shock Me” em seus shows, por que Ace não poderia incluir músicas de sua antiga banda, ainda que não sejam de sua autoria, em seu repertório?

Chrys Wise, Ace, Scot Coogan e Richie Scarlet
Chris Wyse, Ace, Scot Coogan e Ritchie Scarlet

E se o baterista teve seu momento de destaque em “Love Gun”, a música seguinte foi a primeira oportunidade de Ritchie Scarlet assumir o centro do palco, cantar e brilhar. Parceiro de Ace Frehley desde meados dos anos 1980, o guitarrista participou da primeira formação do Frehley’s Comet e depois gravou o disco Trouble Walking, de 1989, com o Spaceman. “Breakout”, composta por Frehley, Scarlet e o saudoso Eric Carr, foi executada com perfeição e dedicada ao falecido ex-baterista do Kiss. Também é impossível não mencionar a postura de Scarlet no palco, digna de um rockstar, correndo, pulando e agitando a plateia.

A faixa-título “Space Invader” antecedeu uma sequência arrebatadora com “King of the Night Time World” e “Strutter”, ambas do Kiss e cantadas por Scot Coogan, que levantaram a plateia. Mais uma vez, o baterista roubou a cena, atingindo notas altíssimas com perfeição, sem perder o tempo ou o ritmo. Os solos dessas canções também foram executados com bastante precisão por Frehley, que, apesar de não ser um músico virtuoso, sempre foi capaz de compor solos memoráveis. E Ace continua sendo extremamente carismático, interagindo bastante com o público.

Após a execução de “Change”, a última música de Space Invader incluída no show, foi a vez do baixista Chris Wyse ter o seu momento de brilho. O músico, que já gravou com Ozzy Osbourne e Mick Jagger, e desde 2006 é o dono das quatro cordas no The Cult, assumiu o centro do palco para um curto solo de baixo com bastante distorção, e foi seguido pela banda quando iniciou o riff principal de “Strange Ways”, também do Kiss. A música, gravada originalmente por Peter Criss no disco Hotter Than Hell (1974), foi cantada com maestria pelo baixista, que tem um timbre de voz bem parecido com o do baterista original do Kiss, e levou os fãs mais dedicados do grupo ao delírio.

Ace e Ritchie Scarlet
Ace e Ritchie Scarlet

O dono da festa reassumiu o controle do show com “Rock Soldiers”, provavelmente o maior hit do guitarrista depois de sua primeira saída do Kiss, em 1982. Presente no primeiro e autointitulado disco do Frehley’s Comet, a música foi muito bem recebida pelo público, e teve seu refrão cantado por todos os presentes, assim como “New York Groove”, grande sucesso do disco solo de 1978, e até hoje utilizada em diversos lugares de Nova York, como jogos de basquete do New York Knicks ou no elevador turístico do Empire State Building.

O show continuou com “Shock Me”, provavelmente a música mais associada ao guitarrista de todo o catálogo do Kiss. Assim como no disco ao vivo Alive II (1977), a canção foi seguida de um solo do guitarrista, no qual seu instrumento solta fumaça ao fim da apresentação. Mas ao contrário de suas apresentações maquiado com o Kiss, não houve a guitarra lança-foguete. Ainda assim, tanto a música quanto o solo foram bastante celebrados pelos fãs.

Ritchie Scarlet assume o microfone mais uma vez, e lembrou o disco que gravou com Frehley em 1989, Trouble Walkin’, que é, em minha opinião, o melhor registro solo do guitarrista. A banda então tocou “2 Young 2 Die”, com Scarlet nos vocais, e “Shot Full of Rock”, com Ace cantando, ambas deste álbum. Vale a pena lembrar que o disco em questão foi relançado em CD pela gravadora Rock Candy, e é um item indispensável para os fãs de Frehley e do Kiss.

Scot Coogan, responsável por "incorporar" Paul Stanley no show
Scot Coogan, responsável por “incorporar” Paul Stanley no show

Encerrando a apresentação, Frehley anunciou que todos ali iam dar um passeio de foguete, e “Rocket Ride” foi executada. A música espetacular, uma das quatro inéditas lançadas em Alive II, foi tocada com uma garra de iniciantes, e mais uma vez levantou o público. Ao final, Ace se despediu e deixou o palco.

Contudo, passados alguns minutos, ele retornou, agradeceu a presença do público, se disse feliz por tocar tão perto de casa e anunciou que ainda tinha algumas músicas para aquela noite. Disse ainda que ama Nova York, mas que também ama outras cidades, como Detroit. Foi a deixa para que a banda iniciasse “Detroit Rock City”, com Coogan nos vocais. Quase sem intervalo, o grupo seguiu com “Cold Gin”, e finalizou a apresentação com “Deuce”, deixando os presentes estonteados com a sequência de clássicos. A banda foi à frente do palco, agradeceu, e distribuiu palhetas e baquetas, indicando que a apresentação, de fato, chegava ao fim.

Ainda que jamais tenha sido um grande cantor ou músico virtuoso, Ace Frehley mostrou que ainda era capaz de fazer um belo show de rock ‘n’ roll, ainda mais se acompanhado de músicos do calibre de Scot Coogan, Chris Wyse e Ritchie Scarlet. O repertório bem escolhido, alternando hits do Kiss, clássicos de sua carreira solo e músicas de Space Invaders, também colaborou para o sucesso da apresentação, que deixou praticamente todos os presentes satisfeitos, em um show realmente inesquecível!

Ace
Ace

Setlist:

1. Rip It Out
2. Gimme a Feelin’
3. Toys
4. Parasite
5. Snowblind
6. Love Gun
7. Breakout
8. Space Invader
9. King of the Night Time World
10. Strutter
11. Change
12. Strange Ways
13. Rock Soldier
14. New York Groove
15. Shock Me
16. 2 Young 2 Die
17. Shot Full of Rock
18. Rocket Ride

Bis:

19. Detroit Rock City
20. Cold Gin
21. Deuce

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