Tralhas do Porão: The Rugbys

Tralhas do Porão: The Rugbys

Por Marco Gaspari

Louisville, para nós tupiniquins, parece nome de vilarejo de seriado animado do Fox Channel, mas trata-se da maior cidade do estado do Kentucky, no interior dos Estados Unidos. Talvez o maior herói dessa região seja um tal de Jim Bean, concorrente direto de seu vizinho ainda mais famoso, o Jack Daniel do Tenessee.

Pois nada, a não ser terem sido amamentados por sossegadas donas-de-casa com seus seios fartos de bourbon produzido em destilarias marginais, explica o fogo que os rapazes da banda The Rugbys ateavam nas plateias de Louisville que ousavam presenciar sua sonoridade selvagem lá pela segunda metade dos anos 60.

Tudo começou com uma banda muito popular na cidade chamada The Oxfords. Um belo dia houve divergências entre os membros e todos trataram de cair fora, menos o baterista que seguiu em frente com o nome do grupo e todos os membros de uma banda rival chamada The Spectres. Quem dançou nessa história foi o baterista do Spectres que foi então absorvido pela dissidência do The Oxfords.  Juntos, Steve McNicol na guitarra solo, seu irmão Jim McNicol no baixo, Chris Hubbs na guitarra base, Doug Black no sax e o tal baterista, Glenn Howerton, formaram The Rugbys. O nome surgiu porque na época os rapazes adotavam camisetas de rugby como uniforme.

De toda forma, existem muitas informações controversas a respeito da origem da banda. Tem até aqueles que afirmam que não houve dissidência alguma e que The Oxfords simplesmente mudou seu nome para The Rugbys e que seu baterista original, Jim Guest, cedeu seu lugar mais tarde para Glenn Howerton. Como não vou inventar uma terceira versão, prefiro fixar 1965 como seu ano de nascimento, época em que tocavam apenas covers como a maioria dos grupos que pipocavam nessa imensa terra de Tio Sam.

Um par de anos depois a banda já tinha percebido que não iria a lugar nenhum tocando música dos outros e tratou de começar a compor temas originais, até como uma forma de vencer a competição que havia entre as várias bandas da cidade. Com material próprio e novas versões no repertório, The Rugbys conseguiu gravar dois singles pela gravadora local Top Dog em 1968. O primeiro deles trazia no lado A uma versão da música “Walking the Streets Tonight”, escrita por Doug Sahm do Sir Douglas Quintet, e o segundo com a música “Stay with Me”, de autoria do guitarrista Steve McNicol. Essas músicas até que tiveram uma boa difusão nas rádios locais, mas a coisa explodiu mesmo quando passaram a tocar o lado B do segundo single, “You, I”, também composta por McNicol. Essa pérola alcançou o primeiro lugar na preferência dos ouvintes e chamou a atenção de Shelby Singleton , o notório produtor, dono de gravadoras e descobridor de talentos, que tratou de contratá-los para seu selo Amazon Records, do Tenessee.  Ao relançar a bolachinha no começo de 1969, Singleton viu The Rugbys alcançar o 21º lugar na Cash Box e o 24º na Billboard, conquistando fama mundial. Para terem uma idéia, a música chegou a ser gravada na Bélgica pela banda Climax e ganhou também um cover inflamado do combo peruano The (St Thomas) Pepper Smelter. Nessas gravações a banda já tinha uma formação diferente, com Steve McNicol na guitarra, Mike Hoerni no baixo, Eddy Vernon nos teclados e Glen Howerton na bateria.

Front Cover copy

Com o sucesso, The Rugbys passou o resto de 69 e boa parte de 70 excursionando pelas duas costas dos EUA, dividindo bilheterias com Bob Seeger, Grand Funk Railroad, The James Gang e por aí vai. No finalzinho de 69 aparece no mercado seu único álbum, Hot Cargo, com material novo e as duas músicas do segundo single. O disco é de gente grande, uma acachapante mistura de psicodelia heavy e hard rock, lotado de guitarras fuzz e anabolizantes sonoros. Os críticos logo trataram de colocá-los no mesmo saco de onde saíram lendas da psicodelia garagera, como The Litter, Sonics e até mesmo o peso-pesado Blue Cheers.

Infelizmente, Shelby Singleton não gastou um tostão na promoção do LP e também não acreditava na força da incipiente rádio FM para dissolver a cera dos ouvidos hippies. Hot Cargo não foi a lugar algum e mesmo o single tirado do LP, com as músicas “Wendegahl the Warlock” e “The Light”, foi um fiasco, decretando o enterro da banda na obscuridade.  Só voltaria a ver alguma luz quando o selo Akarma décadas depois relançou o disco em LP e CD numa tiragem limitada que também já é raridade. Outras duas versões em CD podem ser encontradas: uma que The Rugbys divide com outra banda chamada Lazarus (The Rugbys meet Lazarus) e uma compilação de material inédito original (The Rugbys, The Lost Tapes).

Mas como moramos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!, o selo Musidisco lançou The Rugbys por aqui em 1970. As poucas cópias que sobreviveram devem estar mofando na prateleira de alguns sebos distraídos e acredite: valem cada grama de poeira acumulada.

Brinde:

Juditha Gina

King and Queen of the World

Rockin’ All Over Again

For Love Gone

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