Melhores de Todos os Tempos: Brasil – Anos 2010

Melhores de Todos os Tempos: Brasil – Anos 2010

Por Mairon Machado

Com participação de: Alisson Caetano, André Kaminskin, Bernardo Brum, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno, Micael Machado e Ronaldo Rodrigues

Há algum tempo, nosso carro chefe aqui na Consultoira eram as listas de Melhores de Todos os Tempos. Fazíamos as listas dos 10 Melhores discos de cada ano, e em especial, sobre os brasileiros, fazíamos a eleição dos dez melhores discos nacionais de cada década. Para os que não acompanharam essa série, já rolaram por aqui Tropicália ou Panis Et Circensis (década de 60), Secos & Molhados (década de 70), Cabeça Dinossauro (década de 80), Chaos A. D. (década de 90) e Bloco do Eu Sozinho (anos 2000).

Para começar o ano de 2020, nada melhor que relembrar os velhos tempos, e eleger os melhores discos nacionais dos anos 2010, considerando lançamentos entre 2010 e 2019. Rolou de tudo nas indicações (como verão abaixo), e no compto geral, uma grande surpresa na primeira posição: Elza Soares. A rainha do samba nacional voltou com tudo na década passada e emplacou o primeiro lugar no nosso pódio, ao lado dos veteranos do Titãs e dos surpreendentes e novatos (nem tanto assim) Metá Metá. Complementa a lista rock progressivo, heavy metal e diversos outras novidades do cenário musical brasileiro da última década.

Lembrando que os votos seguiram a pontuação oficial do Campeonato Mundial de Fórmula 1, e que os comentários estão abertos para você concordar, discordar e adicionar novos nomes a nossa lista.


Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo [2015] (58 pontos)

Alisson: O pesO da volta de Elza em um projeto relevante após tanto tempo longe dos holofotes elevou até mais o material do que ele realmente merecesse, confesso. Apesar disso, A Mulher do Fim do Mundo continua sendo uma bela junção de dois mundos: o talento vocal singular e a figura de Elza e a criatividade musical do novo pessoal da vanguarda paulista, com destaque claro para Kiko Dinucci e Douglas Germano, responsáveis diretos pelo maior mérito do registro, que foi mostrar a novos ouvintes uma figura clássica da música brasileira de forma renovada e genuína.

André: Com surpresa que vejo este disco em primeiro. Até imaginaria que poderia entrar, mas em primeiro? Enfim, tenho consideração pelo que Elza fez até ali pela metade dos anos 70 quando fazia sambas de respeito. Mas dali em diante, ela passou a sobreviver muito mais do personagem que desenvolveu nesses programas de TV popularescos do que realmente se dedicar à fazer discos de qualidade. Felizmente, Elza viu que é com música que ela deve se empenhar e que polêmicas e essas Fátimas Bernardes da vida não trarão nada de positivo à sua imagem e mesmo sua carreira. Demorou, mas esses últimos discos pelo menos deixarão uma marca de final de carreira melhor para ela. Todavia, quanto a sonoridade, confesso que praticamente nada me agrada aqui. Uma espécie de música vanguardista/modernista/experimental misturada com elementos de MPB, rock e as vezes, um pouco de samba simplesmente não me vai. Sem contar escolhas de repertório um tanto constrangedoras como a canção “Pra Fuder”. Preferia que ela retornasse aos seus velhos sambas de raiz lá dos anos 60 e início dos anos 70. Ouça como exemplo “Rosa Morena” do disco Sambossa [1963] e sinta a diferença. Isso sim era uma cantora de se aplaudir de pé.

Bernardo: A veterana Elza, ao lançar seu 32º álbum, arranjou alguns aliados valiosos: Kiko Dinucci, nas composições e cordas, Thiago França no sax tenor e Romulo Froés na direção artística. Essa segunda onda da vanguarda paulistana (após a primeira clássica dos anos 80 de Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé) resultou em um samba-bossa-rock distorcido, orgulhosamente marginal, onde a voz rascante de Elza expressa uma vida de conquistas, sofrimentos e experiências; assim, momentos belíssimos como “Coração do Mar” e “Mulher do Fim do Mundo” repartem momentos com verdadeiras pauleiras como “Pra Fuder” e “Maria da Vila Matilde (Porque Se a da Penha é Brava, Imagine a da Vila Matilde)”. Um disco que é um “suco de Brasil”, pauleira negra dos terreiros amplificada por guitarras, do tamanho do que Elza representa para a nossa música.

Daniel: Nas pesquisas para fazer minha lista pessoal, havia a presença constante deste disco o qual, confesso, não o conhecia. Ao ouvi-lo, descobri um álbum totalmente surpreendente e, em uma competição sem um claro favorito na minha concepção, escolhi este critério como referencial para a primeira posição. O samba, porto seguro de Elza, é transformado ao se encontrar com metais e com guitarras, como em “Luz Vermelha” e “Pra Fuder”, por exemplo, em uma sonoridade contemporânea. A interpretação marcante que a cantora dá às letras, com o tom exato para revelar uma sociedade completamente falida, é o seu ponto mais forte, em um disco sensível e, de novo, surpreendente.

Davi: A Elza Soares atravessa hoje o que chamo de momentocaetanodeser. Não importa o que grave, fale, ou a qualidade do show que apresente, que sempre a crítica tratará como genial. Portanto, estava com muito receio do que iria ouvir. E, para a minha surpresa, o álbum é bem feito e tem bons momentos. Os arranjos que misturam samba, MPB e até rock possuem um tom de vanguarda. Há boas faixas como “Maria da Vila Matilde”, “Luz Vermelha” e “O Canal”. Contudo, devo dizer que achei a segunda metade do disco bem menos inspirada do que a primeira e sua voz bem detonadinha. Portanto, lógico que o título de álbum da década é um exagero sem tamanho. De todo modo, vale dar uma escutada no disco. Até em respeito à ousadia da artista…

Fernando: Quem me conhece sabe que gosto de um monte de coisas, mas aí já é demais! E em respeito à uma senhorinha de 80 anos eu não vou dizer o que achei.

Mairon: Nunca fui com a cara de Elza Soares, até que em 2007, fui ver uma apresentação em homenagem aos Sem-Terra do Rio Grande do Sul, que era para ser do Alceu Valença, mas como os ingressos já tinham se esgotado, tive que ficar com o último lugar do show da Elza. No Anfiteatro da UFRGS, em Porto Alegre, fiquei na última cadeira da última fileira do teatro, no mezanino, a parte mais alta do local. A vontade de NÃO ESTAR LÁ era enorme, mas fui pelos companheiros sem-terra e pela curiosidade de ao menos poder dizer “eu vi a mulher cantando, e é horrível”. Elza subiu ao palco acompanhada de um quinteto, e logo na segunda música, “Tango para Teresa”, ela simplesmente me mandou tomar no cú. Afinal, ela deve ter visto minha cara de abobado vendo ela cantar, e daí só para humilhar mais ainda, foi pra frente do palco, se ajoelhou, e enquanto a banda continuava mandando ver em “Tango Para Teresa”, ela largou o microfone, e continuou cantando em plenos pulmões no mesmo nível da banda! SE FUDER! Dali em diante, Elza penetrou em minha alma de tão forma que mesmo esse disco cheio de experimentações (jamais imaginaria Elza cantando coisas tão vanguarda como “Maria da Vila Matilde”) pode me fazer criticá-la. Pelo contrário, ainda vou defender com unhas e dentes pelo surpreendente arranjo de “Mulher Do Fim Do Mundo” e “Solto”, essa uma das faixas mais sombrias que já ouvi. Lindíssima. Primeiro lugar é exagero, com certeza, mas olha, Elza merecia uma homenagem dessas aqui na Consultoria há anos.

Micael: Tenho por Elza Soares todo o respeito que sua história, carreira e trajetória como cantora e pessoa o merecem. Mas este disco, definitivamente, não é para os meus ouvidos. Algo de samba (mais pronunciado na faixa título e em “Pra Fuder”), muitas passagens eletrônicas (que tomam conta de “Maria Da Vila Matilde” e estragam o arranjo de “Dança”, que se usasse instrumentos tradicionais tinha potencial para ser um belo samba-canção), passagens quase silenciosas querendo causar sei lá qual impacto, uma salada sonora insossa e quase insalubre, que tornaram a audição de seus quarenta minutos em uma missão longa e torturante para este que vos escreve. E tem a própria voz da cantora, que, se nas vinhetas a capella que servem como abertura e encerramento soa forte e agradável, em outros momentos chega a ser irritante, especialmente quando ela força uma espécie de “drive” (não sou cantor, mas acho que é este o termo técnico para vocalizações como as do “lalaraiá” final da faixa título, ou o esticar dos “erres” em certas palavras ao longo do disco) que dá vontade de gritar “PARE!” imediatamente… Alguém dirá “ah, mas as letras…”, “ah, mas os arranjos”, “ah, mas a ousadia de colocar palavrões”… não, não vai ser isto o suficiente para me conquistar. Quando ouço um disco, ouço as músicas, os arranjos, as sensações que as composições me provocam… e, neste álbum, estes quesitos só me faziam querer pular as faixas, isto a cada passagem, a cada mudança de andamento, a cada barulhinho eletrônico chato e irritante que teimava em aparecer… Fiz força e aguentei a audição até o fim (e até consegui gostar de algumas partes de “Canal”, que seria melhor se não fosse tão repetitiva), apenas para poder afirmar, categoricamente, que foi um grande sofrimento terminar a “apreciação” desta obra. De todos os discos desta lista, na minha opinião, este disparadamente é o menos agradável (para não chamá-lo de pior, o que poderia ofender os responsáveis por colocá-lo no topo desta lista). Teríamos todos nós, os “consultores”, sidos “trollados” por nossos colegas? É a única explicação que encontro para esta primeira posição, e, neste caso, digo que foi uma “trollagem” muito da sem graça…

Ronaldo: A misturança desse álbum é bastante bizarra – uma ex-cantora de samba junto com uma banda que enfia na mesma salada post-rock, hip-hop, eletrônico e ecos de fuzz tropicalista. Chega a ser irritante o quanto certas bases se repetem e transformam faixas de 4 minutos em intermináveis suítes que parecem ter 20 minutos. A produção do álbum está no estado da arte e conseguiu deixar a voz, já sem tanta firmeza de uma senhora octagenária, em algo apreciável. Tudo o que no álbum soa um pouco mais próximo da brasilidade que Elza realmente domina é nitidamente superior (“Pra Fuder”, “Firmeza” e alguns poucos momentos de outras faixas). O restante é forçação de barra e nada me tira da cabeça que os músicos envolvidos na empreitada colocaram Elza na linha de frente aproveitando seu nome e colocando bandeiras progressistas na mão dela para se promover.


Titãs – Nheengatu [2014] (56 pontos)

Alisson: Eu cheguei a elogiar o disco na época, mas revisando-o, dá pra ver que o oportunismo comeu solto aqui. A “volta às raízes” é uma tentativa apática de ser politizado atirando para todos os lados sem concluir coisa alguma, algo tipo “tem que mudar tudo, as coisas não podem ficar do jeito que estão”, típico discurso panfletário para impressionar as pessoas em momentos mais delicados, ou “Política discutida por tiozões do zap”. Discos assim mostram como o rock ainda tem muito a aprender com o rap na esfera política.

André: Depois de um período cheio de pisadas na bola, o Titãs volta com um disco que é digno de fazer parte de sua discografia. Nheengatu traz novamente um Titãs fazendo rock, após mais de uma década apostando naquele pop rock que gerou até alguns hits, mas que nessa última década miaram as oportunidades de se tocar em um Faustão da vida. Essa é a época da Anitta e do sertanejo universitário, sem espaço para os velhotes dos anos 80. A banda parece ter se dado conta nisso e procurou suas velhas origens como uma maneira de agradar os seus velhos fãs. Daqui, gosto principalmente da ótima abertura com “Fardado” demonstrando um peso que há tempos não se via em um disco deles, “Flores pra Ela” também pesada sobre hipocrisia masculina e “Baião de Dois” quase um heavy metal que aliás conta com um riff que me lembra muito um do Dream Theater. Não sei se ainda lançarão algum disco novo na carreira (visto que agora são praticamente um trio com músicos contratados), mas se este for o último encerrarão de maneira decente.

Bernardo: Titãs enxugado e enxuto; apenas Paulo Miklos, Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto; um disco direto e agressivo, para os fãs de Cabeça Dinossauro e Titanomaquia; “Fardado” é uma pauleira para entrar na roda punk, e mesmo em levadas mais melódicas em “Cadáver Sobre Cadáver” a banda não abandona a intensidade sonora; que o diga em outros momentos com nomes sugestivos como “República das Bananas”, “Mensageiro da Desgraça”, “Canalha” e “Pedofilia”, onde temos vocais esquisitos, guitarras graves quase doom e disparadas pulsantes. Mais uma prova que quando a banda quer, sai de baixo.

Daniel: Após anos e anos gravando e lançando álbuns medíocres, repletos de baladas constrangedoras como “Epitáfio”, o Titãs finalmente ressurgiu com um álbum de Rock em Nheengatu. É até estranho, depois de tanto tempo, ouvir o grupo com um trabalho tão pesado e bem intenso, em faixas como “Fardado” e “Mensageiro da Desgraça”. Forçado? Não saberia dizer, mas e daí? O resultado final me agradou.

Davi: Gosto muito da turma dos anos 80 e os Titãs sempre estiveram entre meus grupos favoritos. A fase mágica, para mim, é a que vai do Cabeça Dinossauro ao Domingo. Depois, altos e baixos. Nheengatu trouxe aquilo que seus fãs pediam há muito tempo: um resgate da sua sonoridade clássica. Mario Fabre emulava as levadas de Charles Gavin, Tony Belotto trazia riffs com sua pegada característica, as letras voltaram a vir com força na pegada de crítica político-social e o repertório é bom. Às vezes, a melhor coisa é não inventar moda e se manter fiel às suas raízes. Aqui está a prova disso.

Fernando: Comecei a ouvir rock com os Titãs da época do Arnaldo Antunes ainda estava na banda. Adora o Blesq Blom e acho o Nheengatu na linha desse disco. Gosto das letras, das sacadas e principalmente do clima. Depois da banda ter se perdido numa tentativa de abraçar o mundo é legal que eles tenham feito um disco com a sua essência.

Mairon: O Titãs já acabou há muitos anos. Se venderam para a mídia como uma certa feita nosso nobre comentarista Anônimo falou, e é verdade. Aqui os caras mais uma vez deram uma de oportunistas, aproveitaram um momento de divisão política e fizeram letras legais, músicas legais, um disco legal, que chamou bastante atenção do seu lançamento pelo retorno as críticas políticas e sociais, além de caprichar no peso e lembrar os velhos tempos de Cabeça Dinossauro ou Titanomaquia. Porém, falta um Arnaldo Antunes para trazer o contrapeso disso, ou um Nando Reis para gerenciar o meio campo, falta algo. É um disco nostálgico, que chega até a dar um certo “orgulho” por ver que o trio remanescente ainda tem capacidade de criar algo para curtirmos. Era o disco mais óbvio dessa lista, certamente iria entrar, mas fico chateado que o Titãs não tenha conseguido se manter com um status de banda relevante nas últimas décadas, vivendo de um oportunismo barato e decadente. Ah, e não curti o que fizeram com “Canalha”, uma das joias de Walter Franco. Sei lá, deve ser efeito Acústico MTV 4ever.

Micael: Apesar do disco ser de 2014, posso dizer que o conheci ainda em 2013, quando, durante a turnê “Titãs Inédito”, o grupo paulista apresentou várias das canções que depois seriam gravadas em estúdio para formar este álbum, em um show a que assisti no auditório Araújo Vianna e que cheguei a resenhar aqui para o site, em mais um dos muitos “textos perdidos” por nosso antigo provedor de internet. Naquela ocasião, escrevi que “caso o disco seja mesmo composto por elas (as canções inéditas apresentadas naquela noite), diria que seria um álbum mediano na carreira dos Titãs, apesar de ser, possivelmente, o melhor lançamento do grupo desde Domingo, de 1995”. E assim ocorreu, com a diferença de que ele é bem mais que mediano, e ainda me traria algumas músicas extras não tocadas naquela noite, como a versão para “Canalha”, de Walter Franco, a “forte” “Pedofilia” (com uma letra muito marcante) e o hit “Fardado”, que sempre me remeteu um pouco à clássica “Polícia”, talvez pela temática! Ficou em segundo lugar na minha lista pessoal, então, acho que não preciso dizer mais muita coisa sobre ele, a não ser “escutem”.

Ronaldo: Gostaria de deixar claro que minha contribuição no resultado final dessa lista foi ínfimo. Logo, não esperem misericórdia com discos horrorosos como esse. Uma reedição daquele Titãs que criava um mísero riff de guitarra mezzo punk/mezzo new-wave e saia cuspindo um monte de bobagem. Ao menos um erro foi corrigido dos anos 80 para cá – naquela ocasião eram necessárias 8 cabeças para produzir um resultado musical ridículo; atualmente eles conseguem a mesma coisa com metade (ou até menos) dos membros. Me admira que camaradas bem instruídos, mesmo após os 50 anos, ainda não sejam capazes de fazerem letras críticas minimamente inteligentes e maduras.


Metá Metá – MetaL MetaL [2011] (50 pontos)

Alisson: A década de 2010’s foi marcada pela efervescência de vários movimentos musicais por aqui no Brasil. Se o mainstream presenciou a popularização do funk carioca e o desenvolvimento do funk paulista, o underground viu a explosão do movimento da vanguarda paulista. Ainda que ela existisse desde meados dos anos 80, nunca esteve em tamanha evidência, revelando artistas talentosos como Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, sendo a ponta de lança de tudo isso certamente o Metá Metá. Deixando a criatividade fluir ao unir candomblé, samba, rock torto e dissonâncias, não é ousado dizer que MetaL MetaL fez escola e tornou-se uma das obras mais influentes do cenário underground nacional.

André: Também não sou do estilo samba-jazz/afrobeat que este grupo faz, mas pelo menos este disco é audível e demonstra qualidades naquilo que se propõe a fazer. A voz da veterana Juçara Marçal é muito gostosa de se ouvir e a banda tem um jeitão bonito e classudo que me agrada. Sem exageros na modernice (até aquele sax desafinado em “Man Feriman” não me incomodou tanto) e experimentalismo, o álbum é leve e as músicas descem macio nos ouvidos. Para quem curte esse estilo, fica a minha recomendação. “Cobra Rasteira” é a canção que mais gostei.

Bernardo: O Metá Metá sempre foi uma banda única no que se propôs – o encontro de várias musicalidades, uma banda de jazz que descia o sarrafo como uma banda de rock e uma banda de rock dada a experimentar como uma banda de jazz. E se no primeiro disco de 2011 músicas como “Oba Iná” já demonstravam que essa mistura dava muito bem nos momentos pauleiras, a banda ouviu esse apelo e lançou MetaL MetaL, um disco intimamente acenando ao rock pesado, como aponta o título, mas também sem esquecer das raízes africanas que dão uma identidade única (e intensa) ao som do grupo. Dessa forma, o brilhantismo das composições de Kiko Dinucci, a voz performática de Juçara Marçal e o sax tão melódico quanto agressivo de Thiago França deram a luz a um dos melhores discos da história da música brasileira. Basta ouvir pérolas como “São Jorge”, “Oyá” e “Rainha das Cabeças”, e mesmo momentos mais melódicos e calmos como Cobra Rasteira guardam em sua delicadeza uma vibração pulsante e única. Um núcleo de artistas que, seja na banda principal ou nos projetos paralelos, faz meu queixo cair há alguns anos.

Daniel: Socorro deste álbum! Cheguei a ouvir este disco nas audições para minha lista particular, mas ele jamais foi um postulante à vaga, pois nunca consegui terminar sua audição por completo de uma única vez. As boas ideias que estão presentes em algumas passagens de certas canções são encerradas abruptamente por muitos momentos totalmente desconexos dentro das mesmas faixas, que, ao contrário de representarem uma ruptura interessante, revelam-se incrivelmente disfuncionais e prejudicam sua fluidez. Um bom exemplo disso é a tenebrosa “Man Feriman”, cuja audição (7 minutos) se revelou uma tortura tão angustiante que nem o mais sádico dos carrascos seria capaz de a executar. Em suma: nunca mais.

Davi: Uma das piores coisas que ouvi nos últimos anos. Quer saber como a Margareth Menezes soaria caso gravasse um álbum meio experimental? O resultado está aqui. Um virtuosismo de araque, com arranjos sem direção. As músicas trazem influência de samba, com uma linguagem meio candomblé, e um pouquinho de rock costurando em volta, só que tudo muuuito chato.

Fernando: À exemplo de outros discos dessa mesma lista a mistureba musical é a tônica. Interessante é que a formação não é tão habitual e chamou a atenção e foi o que me levou até o final. Mas também não é para mim.

Mairon: Do centro da vanguarda paulistana surgiu um dos maiores nomes da música nacional deste século, o Metá Metá. O som experimental pode chocar ouvidos mais sensíveis, mas prestando-se atenção, há muito o que ser extraído de positivo dessa obra. MetaL MetaL é aclamado por mídia e fãs como um dos melhores álbuns da música nacional em muito tempo, muito pelo trabalho de primeira do saxofonista Thiago França (que também deu as caras em A Mulher do Fim do Mundo). O som é para se envolver, dançar, curtir na boa. Assim, “Man Feriman” (que introdução), “Oya”, “Rainha das Cabeças” (que pressão, e que ritmo), “Logun” (baita ginga), enfim, quase todas as canções do disco, vão te conquistando mais e mais a cada audição. Daí de-lhe Candomblé, jazz, samba, psicodelia, rock ‘n’ roll, chorinho, tudo em um caldeirão enfeitiçado que impacta. A voz de Juçara Marçal é envolvente em todo o disco, e o clima de experimentação é muito imponente e satisfatório. Acho Sambanzo: Etiópia, um disco mais completo, mas ele é da carreira solo de Thiago. Sendo assim, nada mais justo que sua presença aqui.

Micael: Nunca tinha ouvido falar do Metá Metá antes, e a sonoridade da banda foi uma surpresa para mim. Embora eu reconheça o talento e a singularidade da banda, que conseguiu desenvolver um estilo bem diferente daquilo que estou acostumado a ouvir em outros grupos (pelo menos neste disco), não foi capaz de me conquistar maiores emoções. Gostei bastante da voz de Juçara Marçal (suave e expressiva), das passagens de sax, e de algumas poucas faixas como a longa e suingada “Logun”, a veloz “Rainha das cabeças”, a viajante “Man Feriman”, … Não é algo que carregarei na minha “bagagem musical” daqui para a frente, mas foi uma grata descoberta!

Ronaldo: O Metá-Metá uma banda que busca tornar mais cosmopolita diversas facetas do folclore brasileiro. Mas o faz sem nenhuma reverência. Isso torna o resultado instigante, contudo, o excesso de repetições das mesmas frases, dos mesmos riffs, das mesmas batidas, torna a experiência enfadonha para um ouvinte mais isento. “São Jorge” e “Logun” são brasileiras, latinas, modernas e cheias de “groove”, assim como o são várias outras passagens do disco. Já “Man Feriman” é repetitiva e chata de doer, assim como várias outras partes do álbum que cansam.


Quaterna Réquiem – O Arquiteto [2012] (36 pontos)

Alisson: Além de ruim, completamente deslocado no tempo.

André: Disco incrível de uma banda que merecia muito mais reconhecimento. Esse é o estilo prog que eu mais gosto: sinfônico, tecladeiro e com lindos solos instrumentais. Elisa Wiermann tem os dedos abençoados. Que teclados incríveis. Os outros integrantes também brilham demais em seus instrumentos (exceto o baixista Jorge Matias que parece um tanto apagado na produção). A suíte “O Arquiteto” é a melhor faixa do álbum sendo a parte “Desconstrução” o seu clímax para mim. Mais de uma hora de disco instrumental é coisa chata né? Aqui não vi o tempo passar e ouviria mais uma hora de Quaterna Réquiem tranquilamente.

Bernardo: Uma banda com uma identidade única, é verdade, mas também recai em uma experiência bastante homogênea, apesar dos momentos diferenciados em “Fantasia Urbana” e “Pedra”. As inúmeras paisagens sonoras são realmente um tesouro para quem gosta de explorar texturas, com tudo cercado de uma aura etérea/onírica. Mas, sinceramente, não sei se se ouviria de novo.

Daniel: Álbum em homenagem ao falecido arquiteto Oscar Niemeyer. Rock Progressivo dos bons e que me trouxe à mente nomes como Genesis, Rick Wakeman e Kansas (esta, muito por conta do violino). “Fantasia Urbana” e a suíte “O Arquiteto” são um verdadeiro deleite para fãs de Prog. Apesar de não ter votado nele, sua inclusão neste Top 10 não me parece um equívoco.

Davi: Esse álbum marcava o retorno do Quaterna Réquiem aos estúdios depois de um hiato de 18 anos. Ganharam do Guns n Roses, hein?! Brincadeiras à parte, o que temos aqui é um álbum de rock progressivo instrumental com as características que os fãs do grupo esperam. Ou seja: musicas extremamente longas e complexas. O trabalho é muito bem feito, os músicos são excelentes, mas esse não é o tipo de prog que eu curto.

Fernando: Ouvi bastante o Quaterna Réquiem quando estava descobrindo o rock progressivo no final da década de 90. Porém para mim a banda era sinônimo do Velha Gravura, que eu considerava seu único disco. Quando publicamos quase no início da Consultoria do Rock a discografia comentada da banda eu cheguei a ouvir o segundo disco, mas não sei se não gostei ou não me interessou na época. O que eu ouvi aqui é um excelente disco de progressivo com um jeitão de Tangerine Dream aqui, um After Crying ali e algumas coisas de Jean-Luc Ponty acolá.  Mas o ponto alto mesmo é a faixa título em que homenageia sete arquitetos de diferentes épocas e diferentes estilos com variação musical acompanhando as evoluções e tentando representar de forma musical o que eles expressaram de forma arquitetônica. Muito bom!

Mairon: Quando ninguém esperava, eis que em 2012 os cariocas do Quaterna Réquiem voltam a ativa para lançar seu terceiro álbum de estúdio. E QUE disco. Elisa Wiermann é uma das melhores tecladistas que já ouvi tocar (ainda vou ver o Quaterna ao vivo para comprovar isso), e o que ela faz não só na arte de tocar, mas na arte de criar, é de comer o chapéu. São quatro faixas, sendo três suítes e uma breve “vinheta” de quatro minutos, singela e belíssima, chamada “Mosaicos”, onde piano, teclados e violão são os únicos hipnotizantes instrumentos. Das suítes, “Preludium” é uma intrincada canção onde a guitarra e os sintetizadores se sobressaem em um magnífico duelo junto ao violino elétrico de Kleber Vogel, outro nome fantástico na música brasileira. “Fantasia Urbana“ tem o órgão de igreja de Elisa imponente, enquanto a guitarra de Roberto Crivano e o violino de Vogel travam batalhas medievais com seus instrumentos. O encerramento é soberano, com a gigante faixa-título. Dividida em cinco partes, cada uma representando uma época e um autor dessa época, saindo desde a Itália Renascentista (“Bramante“) até o Modernismo/Contemporâneo do brasileiro Oscar Niemeyer. Uma suíte incrível, merecedora de atenção em cada minuto. O Arquiteto foi meu primeiro lugar na lista de Melhores de 2012, e ainda hoje, acho um dos melhores lançamentos da música brasileira dos últimos 30 anos. Discaço, e valeu colegas por colocarem ele aqui.

Micael: Em pelo menos metade dos discos escolhidos na lista final, eu nunca havia feito uma audição mais aprofundada, e alguns nunca tinha ouvido mesmo. O Arquiteto já havia sido me apresentado em outra ocasião pelo Mairon, mas eu não dei muita bola para o disco na época. Parece que cometi um engano. Excelentes músicos, lindas composições (destaques para a abertura com “Preludium”, para o trabalho do violino em “Fantasia Urbana”, e, claro, para a suíte que dá nome ao registro – um pouco cansativa em alguns de seus longos 40 minutos, mas perto do sublime em outros, especialmente na parte inicial), em um álbum de rock progressivo que não deixa nada a dever aos gigantes do gênero (e que é totalmente instrumental, ainda por cima, coisa que poucos outros grupos se arriscaram a fazer na história). Dos “desconhecidos” para mim nesta lista, o que mais me agradou. Bela escolha!

Ronaldo: Um dos principais representantes do rock progressivo sinfônico brasileiro a partir da década de 90 demorou 12 anos para lançar um álbum novo, que obviamente não decepciona os fãs do estilo. Com um álbum que busca retratar musicalmente a personalidade e a obra de importantes arquitetos de diferentes período, o disco tem passagens reflexivas e dramáticas, nas quais a influência erudita é mais do que evidente. Uma pena constatar que a banda não conte com uma produção e uma sonoridade mais apurada, alinhada com as possibilidades da década corrente – o disco soa como se tivesse gravado na década de 90, mostrando clara defasagem com lançamentos internacionais congêneres e irritação aos ouvidos mais exigentes. Eventualmente isso pode soar até como desleixo por parte de seus músicos, que apesar de muito técnicos, parecem que ligam seus instrumentos e os executam sem uma regulagem cuidadosa.


Capa - Frente

El Efecto – Pedras e Sonhos [2012] (33 pontos)

Alisson: Nos momentos onde a banda foca menos elementos para compor uma música, o resultado é ótimo. Mas muitas vezes parece que a banda queria mais atirar pra todo lado, e o resultado parece uma salada com muita coisa pra digerir em muito pouco tempo. A metade final começa a se tornar menos imprevisível e as catarses tão bem criadas no começo do disco começam a fazer menos efeito. Se não me encantou aqui, me fez ficar curioso para conferir mais coisas da banda, pois isso aqui é muito longe de ser algo medíocre.

André: Já tinha ouvido falar do El Efecto, mas nunca ouvi absolutamente nada deles. Fui pesquisar, é uma banda que mistura progressivo com outros estilos nacionais. Até aí tudo bem, me interessei. Começa e achei a proposta um tanto quanto boba. A gota d’água foi ouvir o estilo de cantar de um dos vocalistas (não sei quem, os créditos colocam que três integrantes fazem os vocais) naquele estilo “hardcore quase emo” meloso que meu interesse murchou completamente. Aquela música ‘Cantiga de Ninar”, nossa, achei muito fraca. O passar do disco só aumenta uma salada de gêneros musicais que tem vezes que surge até riffs ao nível Sepultura com um monte de outras coisas que tenta fazer um estilo “meio cabeça-meio irônico-meio engraçadinho” que o até bom instrumental não compensa. Há momentos que chegou a me soar inaudível. Devolvam minha carteirinha de metaleiro acéfalo.

Bernardo: Logo na primeira música, “O Encontro de Lampião com Eike Batista”, a banda El Efecto exibe uma espécie de repente movido a guitarras, com momentos de xaxado, psicodelia e heavy metal; o carro-chefe do disco de um grupo que mescla gêneros com uma facilidade espantosa, como dá para ver também em “Adeus Adeus” e “A Caça Que Se Apaixonou Pelo Caçador”. Até ritmos africanos são abordados, como “Prelúdio em HD” e “N’aghadê”. Um disco orgulhosamente século 20, capaz de falar com Caju e Castanha, Sepultura, Raimundos e Los Hermanos – às vezes na mesma música

Daniel: Ainda bem que este Pedras e Sonhos está aqui. Um disco extremamente criativo e muito inteligente, com melodias cativantes. “Adeus Adeus” é uma música que representa muito bem sua musicalidade, a qual vai navegando por diferentes estilos e influências. Aliás, diversidade seria a palavra que usaria para descrevê-lo.

Davi: Outra banda que trabalha com mistura de ritmos. É possível pegarmos referências de artistas como Alceu Valença, Paralamas do Sucesso e até rock alternativo. Os músicos são bons, as músicas não. Esses caras precisam aprender a compor com urgência. Tanto arranjo, quanto letra. Não compraria, nem recomendaria.

Fernando: Eu acho que tocar nesse tipo de banda deve ser muito divertido. A mistureba musical com a mudança de estilo a todo momento deve ser desafiador, não no sentido técnico, mas no sentido de ter que transmitir cada nuance que cada estilo pede. Porém não é um som para mim.

Mairon: Lembro até hoje da primeira vez que ouvi a canção “Pedras E Sonhos”, durante um evento de rock aqui em São Borja, onde um dos membros da banca mostrou o clipe da mesma. Fiquei encantado com a melodia musical, e principalmente, com a letra. O cidadão que apresentou o clipe me passou o site da banda, e ali baixei todos os discos (o El Efecto disponibiliza tudo de graça). Em uma viagem para minha cidade Natal, ouvia Discografia inteira (quatro álbuns até então) e tive que parar o carro para ouvir duas vezes (e entender) a fascinante letra de “O Encontro De Lampião Com Eike Batista). Foi depois de ouvir as duas vezes, e perceber a genialidade da letra, que me dei conta que essa epopeia de quase 8 minutos é uma obra prima musical, atemporal e genial. Daí veio novamente “Pedras e Sonhos”, que eu já conhecia, e segui com o carro andando, minha esposa dançando a melodia da música dentro do carro, e eu cantando em alto e bom som. Quando “Adeus Adeus” começou, e passou, tive novamente que parar o carro, e gritar “puta que pariu, não pode ser”. Voltei a música, e prestei atenção à letra. QUE LETRA! E que música. O solo de guitarra no final no mínimo é de chorar. Vieram as demais canções e o vírus El Efectiano já havia nos contaminado. Éramos dois novos fãs da banda, apreciando as mais variadas melodias e criações que esses geniais cariocas construíram aqui e em todos os seus outros discos. As letras são fantásticas, a mistura de estilos é enigmática e no mínimo aterradora, e o conjunto da obra merece e muito estar aqui entre os 10 mais da década passada. Depois de Los Hermanos, é a banda nacional que mais admiro nos últimos 20 anos. Não há nada igual na música nacional, quiçá mundial, ao que os caras do El Efecto fazem. Críticas a TV (N’aghadê”), as igrejas evangélicas (“Adeus Adeus”), aos bancos (“Os Assaltimbancos”) e muito mais saem das caixas de som, e passam rápido na audição de 50 minutos. E pior, os loucos são gente boa pra caralho. Coxinhas irão torcer o nariz, petralhas talvez se vangloriem sem necessidade, mas a questão é que politicamente correta, a música do El Efecto é um tapa na cara de quem hoje em dia acha que Pablo Vittar, Anitta, e sertanojo universitário, é o que há de bom para ser ouvido. A El Efecto é a representação de que música de qualidade há e muito, basta ter capacidade para criar ela. Parabéns aos caras, e busquem as demais obras deles.

Micael: Assim como aconteceu com o disco d’O Terno, presente nesta lista (e também com o do Quaterna Réquiem, sejamos justos), também foi o Mairon quem me apresentou a esta banda. Ele é superfã do grupo, já os assistiu ao vivo, trocou ideia com o pessoal e coisa e tal. Comigo, ao contrário do que aconteceu com o trio paulista, a coisa não “bateu” tão bem assim nos meus ouvidos. A “mistureba” sonora do El Efecto sempre foi um pouco além daquilo que eu consigo absorver. Reconheço a liricidade, a importância e a sagacidade das letras do grupo (seguramente, dentre as melhores dos membros de sua geração), mas, para mim, música é também mais que isto, e a junção de ritmos nordestinos com heavy metal e bossa nova, junto a um toque de rock gótico, uma passagem de guitarra que chega a lembrar o Dream Theater (é sério!), outra que lembra Pepeu Gomes, e certa parte percussiva pesadíssima, tudo isto apenas nos pouco mais de oito minutos da faixa de abertura (de letra, volto a repetir, genial, mas, a meu ver, insuficiente para segurar o “desandamento” da “maionese sonora” executada), para mim, soa muito, mas muito esquisita. E assim segue adiante o disco, por quase uma hora de uma alternância de ritmos e estilos tal que, se fossem as variações de direções de uma montanha russa, certamente não causariam o resultado mais agradável aos passageiros da mesma… Talvez eu seja muito radical, ou esteja com os ouvidos “entupidos” das mesmices sonoras que escuto há anos e anos, mas a salada sonora do El Efecto, com certeza, não é para mim…

Ronaldo: Mais um saladão musical desarmonizado. Dessa vez ao menos temos bons músicos envolvidos, o que garante alguns bons segundos de apreciação em cada faixa. A tentativa da banda de ir de A a Z em única faixa chega a ser constrangedora, especialmente por embalar tudo com aquela carinha post-rock-indie-tupiniquim. A faixa “Adeus Adeus” é um exemplo de como é querer abraçar o mundo com os braços e soar apenas idiota. O objetivo parece que é deixar o ouvinte perdido. Se a lista for sobre música disfuncional, eis aqui o disco campeão de audiência. Representa bem a geração spotify, rica em informação musical, mas rasa como uma colher.


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O Terno – O Terno [2014] (32 pontos)

Alisson: Tim Bernardes se tornou um bom produtor e arranjador, mas segue fraco como letrista e cantor. Este disco homônimo mostra evolução, até porque a estreia d’O Terno é insuportável, mas ainda carrega o humor irônico pedante. Entrou na lista por nostalgia dos votantes, já que lembra coisas do Brasil anos 60 e 70, mas os dois discos seguintes são bem mais toleráveis.

André: Já dei algumas chances para O Terno, mas a banda não me fisgou. Eles fazem um som psicodélico que tinha tudo para me agradar mas não me desceu até hoje, assim como esse disco deles. Até tem umas coisinhas legais com hammond aqui e acolá e umas rimas legais nas letras, mas depois de 15 minutos de disco já torço para que acabe logo. Não é ruim, mas não consigo gostar.

Bernardo: Meu primeiro contato com O Terno foi quando Tim Bernardes contribuiu como compositor em Tribunal do Feicebuqui, EP de Tom Zé feito para ironizar aqueles que criticaram o veterano por aparecer propaganda de refrigerante. Esse disco é outro na sua linha sentimental, aguda e barulhenta, como uma espécie de filhos espirituais dos Mutantes, ao menos no humor nonsense. Nem todas se destacam aqui, mas difícil não sair cantando depois de ouvir “Ai, Ai, Como Eu Me Iludo” e “Eu Confesso”. Mas acho que a coisa mais curiosa da banda é o cosplay não-premeditado do Choque de Cultura.

Daniel: Não conhecia este disco. Ouvi-o atentamente, mais de uma vez, para perceber o que não havia captado. Realmente, não era nada. Totalmente genérico e insípido, não possuo coisa alguma para destacar aqui.

Davi: Essa é aquela banda que nunca tinha escutado um álbum do início ao fim. Conhecia alguns clipes, tinha assistido algumas apresentações de TV e é isso aí. Como já notaram, não conheço sua discografia, portanto não sei comentar se esse é de fato o melhor álbum deles, mas o disco em si, achei interessante. Bastante influência de anos 60, principalmente Tropicália, um ‘q’ de Jovem Guarda… O instrumental é bom, o cantor poderia ser melhor. Não curti a voz do rapaz. Esperava um pouco menos…

Fernando: Não tem jeito… essas bandas psicodélicas, indie com influência de MPB e outros não é para mim mesmo. Passo.

Mairon: Esse disco me foi na época uma grata surpresa. Influenciado pela Rolling Stone brasileira, que não parava de divulgar o “sucesso” das letras de Tim Bernardes, baixei os dois discos da banda, e fiquei chapado. De cara, curti muito “Bote Ao Conrário”, uma faixa surpreendente, com uma pegada mezzo tropicália, mezzo moderna, mas que fez eu balançar a cabela. Depois de várias audições, e caído de quatro pela banda, fiquei apaixonado por pérola s do porte de “O Cinza”,  “Quando Estamos Todos Dormindo” e “Vanguarda?”, com suas letras irônicas, inteligentes e pensativas. A elas, agregam-se “Eu Confesso” (que letra fantástica), “Eu Vou Ter Saudade” (chorei para caralho ouvindo essa música depois de tudo que me aconteceu no final de 2019), “Brazil” (o crítica massa) e principalmente, aquela que considero a melhor canção da banda”Desaparecido”, música genial para uma letra genial e de final super surpreendente. Uma pena que depois O Terno tenha ficado tão Tim Bernardes, pois até aqui, apesar dele ser o dono da banda, ainda faziam músicas que dava vontade de ouvir. E como foi bom ouvir esse disco de novo, e de novo, e de novo …

Micael: Conheci esta banda através deste disco, graças ao nosso colaborador Mairon Machado, que me apresentou a mesma pouco depois de descobri-la, extremamente empolgado com a sonoridade do trio paulistano. Estranhei bastante no começo aqueles teclados que remetiam à Jovem Guarda, a guitarra por vezes “rascante” demais, aquele sentimento predominante de melancolia e tristeza nas composições, aquele vocal “estranho” de Tim Bernardes, mas não demorou muito para meus ouvidos “superarem” tudo isto e o grupo me conquistar, especialmente depois que presenciei pela primeira vez sua apresentação “ao vivo” em um Bar Opinião quase vazio… De lá para cá, O Terno já lançou mais dois discos, Tim gravou um belo álbum solo, e a banda acumulou fãs (e depreciadores) pelo país e o mundo, se tornando um dos principais nomes do dito “rock alternativo” brasileiro na década recém acabada… e eu continuei acompanhado os rapazes e vendo crescer continuamente a plateia de seus shows, que, em Porto Alegre, saíram do Opinião e se estabeleceram no imponente Theatro São Pedro já há algum tempo, merecidamente! Presente na minha lista pessoal de melhores da década, aponto como destaques deste registro (se é que isto se faz necessário) as faixas “O Cinza” (que ao vivo ganha uma “coda” psicodélica que é um dos melhores momentos da carreira da banda, e ainda não foi registrada oficialmente pelo grupo, sabe-se lá por quê), “Quando Estamos Todos Dormindo”, “Brazil”, “Bote Ao Contrário” e “Ai, Ai, Como Eu Me Iludo” (outra que, com o tempo. ganhou um novo arranjo ao vivo, que a transformou completamente), mas recomendo com entusiasmo a audição da obra completa!

Ronaldo: No exterior um inconsciente movimento de grupos retrô dá nova vida a diversas vertentes do rock clássico. O Terno é/era um involuntário representante brasileiro nessa toada. E o melhor é que fez isso relendo os traços de originalidade presentes no nosso beat (jovem guarda) e na alvorada do tropicalismo. O trio é muito competente musicalmente e tem uma interpretação cativante; estudou a sonoridade da época a fundo e a reproduz de maneira a agradar os nostálgicos mais exigentes. Mesmo reciclando ideias mais que amarrotadas como em “Eu confesso”, eles o fazem de uma forma revigorante. Ainda que Ronnie Von emulasse os Beatles, o Terno emula Ronnie Von quase sem emular os Beatles, entre outras mágicas malucas.


Violeta de Outono – Espectro (26 pontos)

Alisson: Rock psicodélico genérico para quem se recusa a aceitar que já não estamos mais no auge do LSD.

André: Aqui eu tenho a impressão que temos uma banda de Canterbury cantando em outro idioma. O Violeta de Outono é uma banda mais do que clássica do prog nacional e suas misturas com a psicodelia e um tanto de jazz fizeram apaixonar-me pelos seus discos (ouvi quatro, faltam três). E justamente este que é o meu preferido dos que ouvi deles felizmente entrou na lista final. Bonito, de bom gosto, recheado de hammond e com uma composição melhor que a outra, delicio-me com pérolas como “Formas-Pensamento” e os solos de “Ondas Leves” com uma elegância fabulosa.

Bernardo: Mais de 30 anos na ativa não é para qualquer, e o som meio espacial, meio progressivo, meio psicodélico, meio “space” do Violeta de Outono são legítimos heróis da sua cena; nunca chegaram a ocupar um grande destaque do mainstream, mas com tamanho prestígio, precisa? “Montanhas da Mente”, “Claro Escuro” e “Solstício” são belos cartões de visita.

Daniel: Este quase entrou na minha lista e, apesar de tê-lo preterido, acho justa sua presença por aqui. A pujança e a beleza de canções como “Montanhas da Mente”, “Dia Azul”, “Ondas Leves” e “Algum Lugar” me fazem refletir que não tê-lo incluído em minha lista particular foi verdadeiramente uma falha. Sorte que os demais participantes o resgataram.

Davi: Sempre adorei o trabalho do Violeta de Outono. Fiquei muito feliz com a aparição deles por aqui. O primeiro show de rock brasileiro que assisti foi o deles, lançamento do álbum Eclipse lá no Sesc Pompéia. Não lembro o ano. Deve ter sido 1992, 1993… Eles entregam aqui o som típico deles. Rock meio progressivo, meio psicodélico. Fábio Golfetti nunca deixou a peteca cair. Sempre se cercou de ótimos músicos. Mais do que isso, sempre entregou composições belíssimas como podemos constatar em faixas como “Formas-Pensamento”, “Montanhas da Mente”, “Anos-Luz” e “Solstício”. Não lembrei dele na hora de montar a lista, ainda bem que lembraram. Merecidíssimo!

Fernando: Sou um fã daquele disco de 1987 autointitulado. Daí recentemente peguei aquele EP de 1986 em que a banda tem um lado mais pós punk. Fiquei um pouco confuso com qual teria sido o direcionamento da banda ao longo dos anos, já que não ouvi mais nada. Gostei do que ouvi aqui e vi que eles ainda lançaram outro em 2016. Tenho que ir atrás.

Mairon: Disco muito bom de se ouvir, um progressivo suave, com claras inspirações floydianas, mas com um sotaque nacional que agrega bastante. Adorei ouvir “Ondas Leves”, cuja introdução instrumental deu arrepio até na alma. Baita música. A participação de guitarra e teclados, e o ritmo acelerado de “Claro, Escuro”, também se destacam, com um belo solo de teclados. Solo interessante desse instrumento também está em “News from Heaven”, uma canção um pouco mais aquém das demais, mas cujo solo é empolgante. “Anos-Luz” tem uma baita cara de O Terço, curti bastante também! É um belo disco do prog brazuca, que mesmo não tendo entrado na minha lista particular, acho justa sua participação entre os dez mais da década.

Micael: Se na década anterior dois magníficos registros consolidaram o retorno do Violeta de Outono, iniciado no final do século passado, a década recém encerrada nos trouxe outros dois primores em forma de CDs, sendo o primeiro deles este Espectro tratado aqui. Em texto que escrevi para o Consultoria (infelizmente perdido no polêmico incidente com o antigo provedor do site), coloquei que o álbum podia ser considerado a sequência natural do disco anterior, Volume 7 (lançado em 2007), mantendo a atmosfera progressiva daquele registro ao lado da característica faceta psicodélica da banda, e indiquei como destaques as faixas “Formas-Pensamento”, “Montanhas da Mente”, “Algum Lugar” e “Ondas Leves”. Eu o indiquei dentre os dez melhores discos lançados em 2012 em uma votação aqui no site, e por muito pouco ele não entrou na minha lista pessoal de melhores da década (sendo que seu sucessor, Spaces, também poderia muito bem ter sido um dos escolhidos), portanto não é surpresa para mim que ele tenha ficado na lista final escolhida pelos consultores! Bela indicação!

Ronaldo: Nasceram trio e se tornaram quarteto depois de muitos anos; como o vinho, envelheceram e apuraram o sabor do que oferecem. Abraçando a musicalidade refinada do rock progressivo, mantiveram fechadinhos nas palmas das mãos a psicodelia espacial que semeavam na árida década de 80. Dentre os lançamentos progressivos da lista é o único que tem uma boa produção sonora – a guitarra de Fabio Golfetti é cristalina, o baixo de Gabriel Costa é nítido e os teclados de Fernando Cardoso entregam com plena segurança o que o ouvinte de rock progressivo espera. O disco é reflexivo na maior parte do tempo, mas tem também muito dinamismo rítmico. As composições ficam na cabeça do ouvinte e os mais atentos percebem as referências presentes em “Ondas Leves” (que empresta melodias do Grateful Dead), “Algum Lugar” (Camel) e “Anos-Luz” (O Terço/Som Nosso de Cada Dia).


Soulfly – Enslaved (25 pontos) *

Alisson: De brasileiro, o Soulfly nunca teve muita coisa. Max mora na Florida desde quando ainda fazia parte do Sepultura. Dá para contar nos dedos quantas vezes já veio fazer turnês no Brasil, com qualquer projeto. E mesmo relevando tudo isso, Enslaved não chega perto de todos os louros que recebeu de alguns críticos “além do óbvio” mais entusiasmados na época de lançamento. É apenas a sonoridade básica da banda com clichês de estilos em voga, aqui mais extremos, para tentar soar mais impactante. Caso você tenha medo de guturais e pague pau pra qualquer refrão com ar “grandioso”, pode te impressionar. Mas o próprio Sepultura lançou discos mais honestos na década.

André: Eu lembro que na época em que este álbum foi lançado, só encontrei elogios internet afora. Alguns diziam que era até mesmo o melhor álbum da carreira do Soulfly e a melhor coisa que Max fez após o Sepultura. Fiquei de ouvi-lo, mas daí outras coisas foram surgindo e acabei me esquecendo dele. E realmente, é um excelente disco. Curioso que neste álbum Max deixa um tanto de lado aquelas referências mais tribais que fazia daquele conhecido álbum do índio de 1996 em diante e pega suas influências extremas dos anos 80 para o foco do disco. Um pouco estranho que aparentemente o seu público ainda é de gente saudosista do Sepultura antigo e não o conhecido público do Nu Metal, gênero do qual foi um dos principais influenciadores. Já logo de cara, a segunda faixa “World Scum” é uma porradeira que lembra bastante aquele Pantera noventista que tanta gente ama. Destaco também “Redemption of Man by God” dividindo as vozes com Dez Fafara do DevilDriver e com aqueles riffs de guitarra afiados que só Max consegue compor e principalmente “Plata o Plomo”, da corrupção e do império da droga de Pablo Escobar, com uma surpreendente letra em português e espanhol (cantada pelo baixista da época Tony Campos). De fato, sou mais um a confirmar que este álbum é simplesmente excelente.

Bernardo: Com apenas um brasileiro, o mentor, guitarrista, vocalista e compositor Max Cavalera, ainda dá para chamar o Soulfly de banda brasileira? Enfim, o fato é que me surpreende o artista voltar às suas raízes death/thrash, eu que não sou ouvinte um assíduo da banda. Quase nada de groove, nu, alterna ou world music aqui, só a cacetada cheia de clichês e praticamente sem um “tempero” novo. Não sei se consigo destacar algo aqui, propriamente.

Daniel: Nem sequer cogitei este álbum por não entender se tratar de uma banda ‘nacional’. Porém, uma vez aqui, devo ressaltá-lo que é, para o meu gosto, de longe, o melhor da lista. Thrash/Death Metal, com muito groove, repleto de peso e de agressividade, em verdadeiros petardos como “World Scum”, “Gladiator”, American Steel” e “Treachery”, só para ficar nas minhas prediletas.

Davi: Sou um puta fã do Max Cavalera, mas não sei se consideraria o Soulfly uma banda brasileira. Acredito que a confusão ocorra pelo Max ser o líder do conjunto, mas sigamos… O Soulfly sempre foi uma banda bacana e ultra-competente. Em Enslaved, não seria diferente. Quando lançaram seu debut, muitos diziam que a mente de Max ainda estava em Roots. Aqui, a jogada é outra. Trata-se de um álbum extremamente pesado, com várias passagens agressivas e diretas. Um thrash meio cruzado com death. De modernidade mesmo, só a produção. Os pontos altos ficam por conta de “Legions”, “Intervention” e “American Steel”. Dez Farfara (Coal Chamber, Devildriver) também faz uma participação bem interessante em “Redemption of Man By God”.

Fernando: Nunca tinha me interessado pela banda. Quando houve a separação do Sepultura eu ouvi o primeiro do Soulfly e o que encontrei eu não gostei. Daí eu ouvia uma ou outra coisa quando alguém estava ouvindo, mas a má impressão inicial persistiu até eu pegar esse disco para ouvir e foi uma catarse. Ouvi tanto que pensei “os outros devem ser legais também”, continuo não gostando dos primeiros discos, mas hoje já tenho uma meia dúzia de discos.

Mairon: Esse tipo de som definitivamente não é mais para mim. Eu nunca tinha ouvido um disco do Soulfly, mesmo quando esse disco ficou entre os 10 mais de 2013 pela Consultoria (na época, me neguei a ouvir). Achava que era algo tipo Sepultura. Mero engano. Até tem um que outro trecho que chama a atenção, mas no compto geral, não conseguiu me agradar. No fundo, talvez eu ouvi num dia ruim …

Micael: O Soulfly começou como uma banda de new metal, seguido o caminho aberto pelo Sepultura em Roots, e abrangendo muito do estilo de outras bandas também influenciadas por aquele álbum, como Korn e Deftones. Mas, a partir de Dark Ages, de 2005, a música do grupo foi ficando mais e mais violenta e brutal, se aproximando do thrash e do death/Black metal que Max Cavalera fazia no começo de sua carreira. Enslaved pega o grupo quase no pique desta escalada de agressividade (que continuaria depois com os discos Savages e Archangel). O registro está na minha lista de melhores de 2012, onde indiquei como destaques “Gladiator”, “Plata O Plomo” e a abertura com “Resistance”. Não o considero o melhor disco da banda, mas não vejo problema nenhum dele constar desta lista. Uma boa escolha!

Ronaldo: O representante da ala pesada vem como um tanque de guerra passando por cima de suas caixas de som. Bateria violentíssima, riffs de guitarra socando a orelha do ouvinte e boas transições entre som de liquidificador e algo mais cadenciado; sobra espaço até para passagens mais sinfônicas e hipnóticas. Me soou um disco bastante completo de heavy metal, que não economiza no peso, na voracidade na execução, conservando ainda uma musicalidade que até mesmo alguém de fora deste universo (como eu) consiga degustar. “Legions” tem guitarras ferozes, muita velocidade e transições incríveis, sendo um destaque do álbum, que no geral mantém o nível do início ao fim.


Tésis Ársis – Sinos da Eternidade (25 pontos)

Alisson: Há casos em que podemos, sim, julgar um livro por sua capa. E esta é uma porcaria.

André: Melhor disco brasileiro disparado da década. Há tantos elogios que posso tecer aqui que me farei repetitivo. Mas para quem gosta de um progressivo instrumental recheado de teclados como há neste disco gravado inteiro por Anderson Rodrigues, é um prato cheio. Tenho o seu cd Ilusões (2002) em casa e fiquei fissurado pela sua sonoridade. Aqui há outra pérola progressiva da década que merece sua atenção a cada linda harmonia apresentada neste excelente disco.

Bernardo: Atmosfera é tudo nesse disco aqui, que apreciei mais do que outros representantes da cota progressiva. Disco para ouvir de uma vez só, mesmo em toda a sua extensão; há tantas aspirações épicas, com teclados aéreos, quanto levadas mais jazzísticas de ritmo quanto guitarras pesadas levemente metálicas. Um tipo de projeto quase artesanal, para os iniciados, mas não necessariamente ruim.

Daniel: Ouvi este Sinos da Eternidade algumas vezes para escrever estas linhas. Rock sinfônico bem-feito e bem executado, mas não me pegou. Demasiadamente longo e cansativo, por vezes me encontrei no meio da audição já bem disperso e não prestando atenção nas canções. Enfim, não me cativou.

Davi: O Tésis Ársis não é exatamente uma banda. Trata-se do projeto do músico Anderson Rodrigues. Ele é o responsável por gravar todos os instrumentos e também é o responsável por criar todas as composições. O disco do cara é bom. Não é um álbum dedicado a todo tipo de ouvinte, contudo. A jogada do rapaz é um rock sinfônico, progressivo e totalmente instrumental. É um trabalho bem feitinho, mas é mais voltado para quem é músico. Se esse não for o seu caso, soará cansativo.

Fernando: Tá aí algo que eu nunca tinha ouvido falar. Muito interessante, porém a ressalva seria a bateria programada que soou muito como algo eletrônico. Sei que nunca vai parecer orgânico, mas acredito que alguns outros artistas conseguiram melhores timbres. Claro que em álbuns assim, quando tudo é gravado por apenas uma pessoa acontece isso, mas é louvável o trabalho do Anderson Rodrigues. No mais, é curioso o quanto o Rio de Janeiro tem de fãs e músicos de rock progressivo.

Mairon: Não conhecia a banda, até o André vir todo pavoneado fazer propaganda. Pô, baita som, e o mais legal, é um one man band, Anderson Rodrigues, quem faz toda essa obra. Lembrou bastante o som do Quaterna Réquiem, porém sem o violino. Mike Oldfield é uma forte lembrança também ao longo da audição, que é um pouco longa (74 minutos) aos que não são simpatizantes do estilo. Mas, se você curte um sinfônico, irá apreciar muito a delicadeza de “Eu Acredito” e a quebradeira de “Homem Vencedor”. Melhores músicas são o jazz prog de “Lágrimas”, o climão Genesis de “Extremo Sentimento” e as lindas melodias de “Hipocrisia”. Muito bom saber que temos um artista desse calibre aqui em nosso país. Valeu André.

Micael: O talento de Anderson Rodrigues, multi-instrumentista responsável pelo projeto Tésis Ársis (do qual, confesso, nunca havia ouvido falar antes desta lista), é inegável. Excelente guitarrista, o músico ainda cria “camas” de teclados de teores quase celestiais, ideias para “viajar” com a sonoridade progressiva do disco (ou para longos “cochilos” ao longo da audição, se este não for o seu tipo de som). Mas, ao ouvir o CD, fiquei pensando naqueles que acham a música do Yes monótona, cansativa ou repetitiva, e como eles classificariam esta obra, onde consigo, infelizmente, encaixar estas características. Vejam bem, não estou falando que o disco seja ruim (longe disso), mas, se você não tiver MUITA familiaridade com o progressivo sinfônico (especialmente os gigantes do gênero, como o citado Yes, ou grupos como Genesis, Camel, PFM ou Gentle Giant), passe longe deste opus. Por outro lado, se for um fã do estilo, e conseguir tolerar algumas faltas de variações ao longo das melodias (instrumentais e muito longas, como cabe ao estilo, as músicas acabam ficando bastante parecidas entre si, guiadas por longos solos de guitarra e teclados que raramente saem da função de “background” – como ocorre em “Hipocrisia”, onde há trechos em que as teclas se tornam protagonistas, ou no belíssimo encerramento da faixa título), certamente irá encontrar belos momentos de contemplação e inspiração para suas “viagens” sonoras. Gostei de conhecer a banda, mas a mim, me pareceu um típico caso de “música para músicos”, e, lhes confesso, não me entusiasmou muito.

Ronaldo: Musicalmente há várias coisas a se destacar neste álbum progressivo; as músicas são simples mas memoráveis, com boas melodias e arranjos cuidadosos. Contudo, é nítida a defasagem sonoro; o disco soa como se fosse gravado no início dos anos 1990, numa produção com muito poucos recursos. Eu só incluiria este álbum em minha lista particular de lançamentos se esse álbum ganhasse um banho de loja e fosse regravado por uma banda de verdade, já que o músico Anderson Rodrigues tocou todos os instrumentos neste trabalho artesanal (e não exímio instrumentista em nenhum deles). É um esforço valoroso, especialmente considerando as boas ideias presentes. Contudo fica muito aquém do que eu poderia imaginar de melhores discos brasileiros da década.


Wander Wildner – Existe Alguém Aí? (25 pontos)

Alisson: O rótulo de punk brega, comum a Wander, não cabe neste disco. Falta a economia do primeiro, os arranjos coloridos do segundo e, acima disso, a diversão comum aos dois. Todas as músicas seguem fórmula similar, com riffs repetidos além da conta para dar espaço para narrativas clichês. Não há cabimento em elencar isto como destaque da década, exceto se a intenção for tentar negar toda produção minimamente elogiada do país alegando ser uma grande conspiração hipster (mas Wildner é figura cult! E agora?). Recomendado para pessoas pouquíssimas exigentes apenas.

André: O ex-vocalista do Replicantes já tem algum tempo em carreira solo da qual nunca ouvi nada exceto pelo seu “hit” “Bebendo Vinho” (que por sinal, prefiro a versão do Ira!). Eu já não gostava da sonoridade do Replicantes, então, venho para esse álbum com as expectativas bem baixas. Embora no Replicantes o som seja calcado no punk, este disco me soa muito mais próximo de um Capital Inicial. O disco foi passando, fui ouvindo e bem… não é ruim, mas também não é bom. Meia boca, mazomeno, regular, meh, mediano, não fede e não cheira.

Bernardo: Uma espécie de trovador solitário, Wander Wildner saiu dos Replicantes e construiu um som punk-folk, com levadas de guitarra, harmonias de corda, um vocal simples e rouco, síntese do rock alternativo único do Rio Grande do Sul e que Wildner é um representante maior. “Uma Angústia Presa na Garganta” foi de longe meu momento preferido do disco desse artista tão único, apesar de não considerar esse disco seu melhor momento.

Daniel: Não conhecia este disco. Ouvi-o atentamente, mais de uma vez, para perceber o que não havia captado. Realmente, não era nada. Totalmente genérico e insípido, não possuo coisa alguma para destacar aqui.

Davi: Disco bem rock n roll, bem cru, que foge um pouco da “sonoridade punk-brega” que estamos acostumados. Ainda que traga a assinatura pessoal de Wander Wildner (ele tem um estilo bem próprio de composição), não apresenta faixas tão marcantes quanto “Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo”, “Bebendo Vinho” ou “Eu Não Consigo Ser Alegre O Tempo Inteiro”, mas isso não quer dizer que o álbum seja ruim. Pelo contrário, trata-se de um disco bem redondinho. Em resumo: foi um trabalho bacana de ouvir, mas considerá-lo um dos melhores da década acho um pouco de exagero.

Fernando: Algumas das escolhas eu fico pensando se não foi pegadinha do Malandro.

Mairon: Achei que ia vir um punk rock das antigas, mas daí começou um piano e barulhos de chuva. Pensei “ué, Wander Wildner virou prog?”. Mero engano, é rock gaúcho tradicional, por vezes arrastadão, nada lembrando o Replicantes. Com certeza, “Sobrevoando as Ruas da Cidade” é a melhor música, apesar de uma letrinha bem chinfrim (falando honestamente, todas as letras são bem meia boca, hein?). É um disco bom de se ouvir, apesar da voz arrastada do músico, e surpreendente por todo o passado do Wander, mas não sei se merece mesmo estar entre os 10 mais dessa década.

Micael: Tenho certeza de que este disco só entrou na lista por causa do meu voto (para quem não sabe, nós, consultores, não conhecemos com antecedência a posição dos indicados na lista, à exceção do primeiro, nem quem votou em qual, antes da divulgação oficial). Se foi apenas isto, lamento pelos demais que não conheciam ou não gostaram deste clássico! O coloquei como o melhor disco nacional de 2015 em texto escrito aqui para o site, e agora o indiquei de novo, desta vez como melhor da década. Um álbum que me conquistou desde a primeira vez que o escutei na íntegra, sendo interpretado ao vivo em um show visceral no Bar Opinião de Porto Alegre pouco tempo depois de seu lançamento. A “volta às guitarras” do punk brega Wander Wildner após dois discos mais voltados à sonoridades acústicas, as histórias de cada personagem que compõe o conceito criado pelo músico para o disco (e cujos acontecimentos, ainda por cima, se passam quase todos na capital do Rio Grande do Sul, onde resido), a “aura punk” que permeia o disco, e que por vezes remete aos Replicantes (primeira banda do cantor, da qual sou muito fã), a beleza da baladaça “Saudade”, as repetições “guitarrísticas” de “Réquiem Para Uma Cidade” e coisas indescritíveis como a épica “Ela é Uma Phoenix” ainda me arrepiam a cada audição, e, mesmo que outros consultores não venham a exaltá-lo tanto quanto eu (também não vemos os comentários uns dos outros antes da publicação oficial), como sei que ocorrerá, não me arrependo da posição de destaque que lhe dei. Para mim, um clássico do rock brasileiro no século XX, e tenho dito!

Ronaldo: Breguice-cool distorcida. Parece som de bandinha de colegiais rabiscando as primeiras canções. Tudo soa tão primário que não consigo tecer mais comentários.


* Enslaved, Sinos da Eternidade e Existe Alguém Aí? ficaram empatados com 25 pontos. Em uma nova votação, Enslaved recebeu 5 votos, Sinos da Eternidade 3 e Existe Alguém Aí? 1. 


Alisson

1. Metá Metá – MetaL MetaL
2. Ana Frango elétrico – Little Electric Chicken Heart
3. Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
4. Merda – Índio Cocalero
5. Test – O Jogo Humano
6. MC Carol – MC Carol Bandida (2010-2013)
7. MC Bin Laden – MC Bin Laden
8. Facada – Nadir
9. Racionais Mc’s – Cores & Valores
10. Various Artists – Jambú (E Os Míticos Sons Da Amazônia)


André

1. Tésis Ársis – Sinos da Eternidade
2. Quaterna Réquiem – O Arquiteto
3. The Baggios – Vulcão 
4. Humberto Gessinger – Insular
5. Boogarins – Sombrou Dúvida
6. Kiko Loureiro – Sounds of Innocence
7. Carro Bomba – Carcaça
8. Rinoceronte – O Instinto
9. Vitral – Entre as Estrelas
10. Violeta de Outono – Espectro


Bernardo

1. Metá Metá – Metal Metal
2. Elza – A Mulher do Fim do Mundo
3. Racionais MC’s – Cores e Valores
4. Juçara Marçal – Encarnado
5. Caetano Veloso – Abraçaço
6. Mano Brown – Boogie Naipe
7. B Negão e Os Seletores de Frequência – Sintoniza Lá
8. Criolo – Nó na Orelha
9.Titãs – Nheengatu
10. Chico Buarque – Caravanas


Daniel

1. Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
2. Nomade Orquestra – Nomade Orquestra 
3. Lenine – Carbono
4. Trio Curupira – Janela
5. Angra – Omni
6. El Efecto – Pedras e Sonhos
7. Almir Sater & Renato Teixeira – AR
8. Facção Caipira – Homem Bom
9. Caravela Escarlate – Caravela Escarlate
10. Titãs – Nheengatu


Davi

1. Titãs – Nheengatu
2. Vespas Mandarinas – Animal Nacional
3. Céu – Tropix
4. Leela – Música Todo Dia
5. Jonnata Doll e Os Garotos Solventes – Jonnata Doll e Os Garotos Solventes
6. Agridoce – Agridoce
7. Far From Alaska – Modehuman
8. Vanguart – Muito Mais Que o Amor
9. Autoramas – Música Crocante
10. Carro Bomba – Pragas Urbanas


Fernando

1. Soulfly – Enslaved
2. Krisiun – The Great Execution
3. Ratos de Porão – Século Sinistro
4. Fanttasma – Another Sleepless Night
5. Titãs – Nheengatu
6. Malefactor – Sixth Legion
7. Sepultura – Machine Messiah
8. Nervosa – Agony
9. Angra – Omni
10. Frade Negro – Black Souls in the Abyss


Mairon

1. El Efecto – Pedras e Sonhos
2. Quaterna Réquiem – O arquiteto
3. El Efecto – Memórias do Fogo
4. O Terno – O Terno
5. Massahara – Massahara
6. Thiago França – Sambanzo : Ethiópia
7. El Efecto – A Cantiga É Uma Arma
8. Cattarse – Black Water
9. Rinoceronte – O Instinto
10. Caravela Escarlate – Caravela Escarlate


Micael

1. Wander Wildner – Existe Alguém Aí?
2. Titãs – Nheengatu
3. Pitty – Setevidas
4. Raimundos – Cantigas de Roda
5. Banda do Mar – Banda do Mar
6. Sepultura – Machine Messiah
7. Necro – Necro
8. O Terno – Melhor do que Parece
9. O Terno – O Terno
10. Plebe Rude – Nação Daltônica


Ronaldo

1. Violeta de Outono – Espectro
2. O Terno – O Terno
3. Cosmo Drah – Cosmo Drah 
4. Hurtmold & Paulo Moura – Curado
5. Psilocibina – Psilocibina
6. Nomade Orquestra – Nomade Orquestra
7. Boogarins – Manual, ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos
8. Russo Passapusso – Paraíso da Miragem
9. Necro – Adiante
10. Anjo Gabriel – O Culto Secreto do Anjo Gabriel

30 comentários sobre “Melhores de Todos os Tempos: Brasil – Anos 2010

  1. “os músicos envolvidos na empreitada colocaram Elza na linha de frente aproveitando seu nome e colocando bandeiras progressistas na mão dela para se promover”

    TRETA!!!!!!!

      1. Mas bah se foi!!! Eu discordo, até pq muitos dali já tinham um status antes do disco. Mas é uma opinião!!

  2. Bela lista, apesar de eu não ter ouvido quase nada dela, haha.
    Comentando o que conheço nas listas individuais dos consultores, acho que “Insular” do HG é um ótimo disco, mas também não sei se merece estar no top, já “Setevidas” da Pitty já defendo com mais afinco, acho um discaço e o melhor da carreira da cantora.
    Um abraço a todos e vida longa à Consultoria!!!

  3. “Me admira que camaradas bem instruídos, mesmo após os 50 anos, ainda não sejam capazes de fazerem letras críticas minimamente inteligentes e maduras.”

    TRETA 2 – A MISSÃO!!!!!!!

  4. “Nunca tinha ouvido falar do Metá Metá antes, e a sonoridade da banda foi uma surpresa para mim.”

    Micael, a gente ouviu Metá Metá na abertura do show do Los Hermanos em 2012, o primeiro disco deles e o Sambanzo do Thiago França. Tu inclusive gostou na época …

  5. “Quer saber como a Margareth Menezes soaria caso gravasse um álbum meio experimental? O resultado está aqui.”

    JESUS, ESSA FOI PESADA!!!

      1. Ah, é que eu tinha escrito que se a ideia era ouvir musica brasileira com linguagem meio de candomblé, então era preferível ouvir a Daniela Mercury que é mais talentosa…

  6. “o disco soa como se tivesse gravado na década de 90”

    Pior que acho que é isso que me faz gostar mais dele ainda. Essa nostalgia noventista. Mas tu tens razão Ronaldo

  7. Sobre todas as ofensas ao El Efecto = Loucos!!!!! Ou piadistas!!! Portanto, vou levar como brincadeira. Mas eu não sou geração Spotify não (acho que usei Spotify uma vez que outra …)

  8. O Terno infelizmente pra mim já deu o que tinha que dar. Até esse disco foi tudo surpresa e bom. Os outros dois é choradeira de mais até para um fã de Los Hermanos como eu …

    1. Conheço quase nada. O disco selecionado aqui acho ok. Não gostei do trabalho vocal. Não sei se não me acostumei com o cara ou se ele é fraco mesmo. Preciso ouvir mais algumas coisas…

  9. Se contabilizar só os elogios, na média o Violeta de Outono fica com o posto de melhor disco nacional da década passada

  10. Bem, sendo honesto, dos dez discos só conheço o Titãs, devido a algumas músicas que já escutei avulsamente.

    Dentro do meu gosto musical, talvez os progs me agradassem – aliás, devo uma audição mais atenta dos expoentes brazucas do gênero, inclusive os 70’s -, e em outro momento dar uma arriscada no Terno e El Effecto.

  11. Outros álbuns que merecem atenção:

    Sepultura – Kairos
    King Bird – Got News
    Guilherme Arantes – Condição Humana
    Pitty – Sete Vidas
    Humberto Gessinger – Insular
    Emanuelle Araújo – O Problema é a Velocidade
    Angra – Omni
    Nando Reis – Jardim Pomar

  12. Quando tiver uma lista dos 10 melhores discos “internacionais” da década de 2010 aqui na Consultoria, é certo de que o Accept vai aparecer ocupando ao menos três posições com “Blood of the Nations”, “Stalingrad” e “Blind Rage”, três discos que formam a “trinca de ouro” dos alemães com o vocalista Mark Tornillo. O cara é muito melhor do que o Udo Dirkschneider e a Pabllo Vittar juntos (passei da conta, hehehehehehehe). E não vou falar do mediano “The Rise of Chaos” porque este último álbum de estúdio do Accept para mim é bem fraquinho.
    E é certo de que também aparecerá no meio dessa lista o Judas Priest com seu “Firepower” e o último grande disco do Iron Maiden que atende pelo nome de “The Final Frontier”. Vamos aguardar!

  13. Me parece uma lista feita meio sem vontade. O Daniel fez o mesmo comentário pra dois discos, Alisson e Fernando mandaram vários one-liners. Todos concordam que Soulfly não é nacional, mas foi incluso mesmo assim. O décimo colocado foi destruído por quase todos.

    Altos discos dão mais impressão de “álbum engavetado e lançado nos anos 10” do que, propriamente, disco da década passada. Não à toa, os registros mais “contemporâneos” da lista (Elza, Metá, El Efecto) parecem ter causado tilt na cabeça do pessoal.

    Queria saber qual é a fixação do Ronaldo com post-rock, porque ele conseguiu enxergar o gênero (morto há anos) em discos que nada tem a ver com tal.

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