Entrevista Exclusiva: Mário Testoni (Casa Das Máquinas)
Por Mairon Machado e Ronaldo Rodrigues
* Fotos do Facebook do artista
O grupo Casa das Máquinas está na ativa novamente. Recentemente, lançou nas plataformas digitais o single “A Rua”. Batemos um papo com o tecladista, vocalista e compositor Mário Testoni, o qual nos conta como está o processo de gravação do novo álbum, bem como volta no tempo para contar algumas curiosidades do Casa nos anos 70. Confira!
Olá Testoni, obrigado por essa entrevista para a Consultoria do Rock. Após 44 anos, temos novamente o Casa das Máquinas em ação para lançar novo disco. Como estão as gravações para o novo álbum, e quando o mesmo será lançado?
É um prazer estar com vocês da Consultoria do Rock. Bem vamos lá, as gravações foram feitas em duas fases, ou deveriam, a primeira fase já completa conta com 5 faixas inéditas, já masterizadas e aos poucos sendo lançadas em todas as plataformas digitais, a primeira faixa foi “A Rua”. Por esses dias estará sendo lançada a segunda faixa que é a “Brilho nos Olhos”. Por causa do Covid 19, essa PANDEMIA, vamos atrasar o lançamento físico do trabalho, pois o que deveria estar em mixagem, ainda não gravamos, pois tivemos, como todos, que parar…… principalmente gravações, imagina ficarmos 8, 12, 16 horas fechados em um estúdio de gravação, é um risco muito grande, mas acho que assim que formos liberados gravamos essas cinco faixas restantes e lançaremos ainda este ano, se Deus permitir, estamos gravando no estúdio ORRA MEU em São Paulo.
O novo single, “A Rua” está em todas as plataformas digitais. Sem dúvida uma das grandes mudanças da Casa das Máquinas da década de 70 para atual é a forma de divulgação da música. Se naquele tempo shows e discos eram a principal casa de moeda, hoje a internet tornou-se um meio de divulgação essencial para os artistas. Como o Casa vê a essa nova geração e a nova forma de divulgar seu som?
Realmente as mudanças foram muito grandes nesses anos, mas essa é a realidade, e atualmente a Casa das Moedas como você diz, ainda são e sempre serão os Shows, alguns anos atrás poderia se contar com as vendagens de LPs ou até os CDs, mas hoje, tanto os LPs, CDs, K7 e Plataformas, servem para divulgação, a realidade é outra, quem consegue vender 50.000 cópias já se considera uma vendagem espetacular, e antes se vendia 1.500.000 cópias, aí sim era uma vendagem expressiva, mas como disse, os tempos são outros……. Mas mesmo assim estou muito contente com a divulgação, hoje os caminhos são outros , web rádios, sites de entrevistas, até as imagens hoje são divulgadas pelas web rádios, o que eu acho bem legal, assim pelo menos, acabam os famosos JABAS, cobrados por programas de emissoras conhecida por todos, porém não assistidas e nem ouvidas por todos………… assim espero.
A canção “A Rua” faz uma crítica social política muito pertinente para o atual momento mundial. Como surgiu a canção, já que ela não é recente, mas parece que previu o futuro?
Verdade, é a primeira vez que a Casa grava uma letra “crítica” aos moldes políticos e sociais, mas apesar de ter sido composta há vinte e muitos anos, não é nenhuma previsão……… essa realidade já é conhecida pelo menos uns 40 anos ou mais ………… infelizmente, e não é nosso privilégio, isso se encontra no mundo todo, pelo menos nas grandes cidades com certeza. O Aroldo Binda foi quem compôs essa música e letra, ele foi o primeiro guitarrista, junto com o Pisca, da Casa das Máquinas, eu entrei em contato com ele e assim que me autorizou a gravar, escrevei o arranjo e gravamos……. e já lançamos.
Há a participação de um coro infantil na canção. Quantas crianças estão participando do coro e como foi trabalhar com elas?
Então, tratando se de uma música que fala das crianças que vivem na rua, tem no refrão um apelo delas ……. HEI, HEI, HEI……. aí tive a ideia de chamar algumas crianças e fazer esse coro com elas, uma das crianças é filha do Ivan Gonçalves, cantor da banda, fizemos umas três ou mais dobras e resolvemos o problema, o que acabou sendo uma solução. Foi muito legal por essas crianças dentro do estúdio para gravar, foi tranquilo.
Em cima do fato da pandemia, como o Casa das Máquinas está sobrevivendo nesse período tão conturbado?
Acredito que não esteja fácil para ninguém estar vivenciando esse problema, afinal não pensei que iria passar por uma loucura dessa, já passei por enchentes, tufão até dois terremotos, mas uma PANDEMIA nunca, espero passar e sobreviver a isso, então …… eu, particularmente, dou aulas na cidade de Cosmópolis, sou funcionário público da educação, então continuamos as aulas via NET, ah…… sou professor de música, e moro numa cidade vizinha, Artur Nogueira, apesar de amar minha cidade São Paulo, não é mais possível morar e viver nela………… também tenho alguns alunos particulares, mesmo tendo perdido alguns, ainda assim consigo me sustentar, pois recebo meu salário todo mês da prefeitura e algumas aulas particulares. Mas o rendimento da Casa das Máquinas parou, fizemos uma mini Live aqui em casa há umas duas ou três semanas atrás, só eu o Cadu, guitarrista que também mora em Artur, e o Ivan que estava voltando de Tatuí e aí conseguimos com que ele desse uma passada aqui em casa e fizemos um trio, mas fora isso estamos parados como a grande maioria, acho que os governos deveriam tentar ajudar todos nós, e não só alguns, como está fazendo essa COISA chamado de governador…………
Alguns especialistas acreditam que eventos como shows e peças de teatro em locais fechados, ou com grandes aglomerações, talvez nunca mais aconteçam. O que vocês pensam sobre isso?
Não é verdade, vão acontecer sim, talvez não nos moldes que vinham acontecendo. Na minha opinião os internacionais descobriram que é fácil vir buscar um dinheirão aqui no País das bananeiras, e entupiram de Shows, tínhamos mais Shows do que nos USA, proporcionalmente. Acho que teremos menos Shows internacionais e os nacionais de acordo com a realidade do País, não dá para aceitar um Show custar R$ 800.000,00 ou mais, e outros nem chegar a R$ 2.000,00, qual o critério para se avaliar…… sucesso? Qualidade? Produção? Equipamento? Aceitação de um ou outro? Acho que teremos que repensar tudo isso ……………..A mesma coisa com “supostos” Atletas, POLITIQUEIROS e afins, ou seja, nada será como era, mas tudo vai acontecer sim………….. esperamos.
Voltando no tempo, o Casa é reconhecido como uma vertente forte do progressivo nacional, principalmente com a entrada de você, Testoni, nos teclados (o excelente Lar de Maravilhas). Que bandas eram as principais influências do grupo naquela época, e como era o processo de criação da banda para petardos como “Astralização”, “Vale Verde” ou a dupla “O Sol / Reflexo Ativo” ?
Então, nos anos 70 tivemos o período mais criativo artístico, não só musical, mas através da música até novas peças teatrais com um novo conceito foram criadas, tudo mudou, a música trouxe novas atitudes, maneira de se vestir, apresentar, gírias, liberdade, etc……Além de influências, tipo: Yes, Genesis, Focus, PFM (Premiata Forneria Marconi), Supertramp, Led, Deep Purple, Triumvirat e outros, a maioria dos tecladistas tinham formação ERUDITA e com a liberdade nos dada, fazia com que o Rock virasse músicas eruditas, erradamente clássicas como chamam por aí, a diferença eram as letras e os instrumentos usados, mas se passar o arranjo para uma formação de uma Orquestra Sinfônica vai soar como erudito, por exemplo Vale Verde, Astralização e outras.
Entre 74 e 76 parece ter havido no Brasil um interesse das gravadoras pelo rock, com o lançamento de álbuns e também um certo burburinho na mídia. Depois disso, parece que houve um arrefecimento da coisa toda. Como vocês veem o período?
Como disse anteriormente, na década de 70, 80 e início de 90 o Rock, de uma forma geral ………….. mais Popzinho ainda circulava pelas mídias, com o “Evento” Sertanojo (hoje), Pagode e essa coisa que batizaram de “Funk” (erroneamente descrito)…. PS: gosto de música Raiz, Caipira…….Essa coisa de sertanejo universitário nunca vai se formar? Quem sabe subiria de universitário para outra categoria……… desabafo. Vamos voltar, o que eu acho que aconteceu, foi uma mudança comportamental e de instrução cultural, e aí chegamos no que estamos, a culpa disso??????? Acho que as gravadoras querendo tudo imediatista, as mídias com produtos descartáveis, mas que geraram audiência, etc……. Mas acho que o Rock apesar de não estar nas mídias, tem estado bem presente, digo isso mundialmente, não no País das Bananeiras, aqui é isso que estamos vendo, se acham que acabou, nada disso, ainda vai piorar e só acabará quando conseguirmos bater os pés no fundo do poço para podermos voltar e recomeçar……….
Quais os motivos que levaram a banda para mudar seu som na época de Casa do Rock?
Olha a mídia e as gravadoras aí novamente, não que tenha sido uma imposição, mas uma forçada de barra sim, para poder ter uma mudança, acho que o ser humano vem emburrecendo, criando uma certa preguiça de raciocínio, como as músicas e letras mais elaboradas requerem uma audição mais atenta, fica mais fácil algo que não seja tão elaborado, só que com o passar dos anos as coisas vão piorando, haja vista o que acontece hoje com nossa população……… Mesmo com a mudança para o Casa de Rock, a Casa continuou ainda um progressivo, hoje nesse novo trabalho, teremos algumas músicas bem progressivas.
As mudanças de direcionamento sonoro de vocês em um curto espaço de tempo geraram tensão entre os membros da banda? ou todo mundo curtia de tudo?
Gostávamos e curtíamos de tudo que era bom, mas a mudança ocorreu também com a saída do Aroldo e do Carlos Geraldo, mas como digo, mudanças trazem movimentos, e sem movimento as coisas ficam estagnadas.
Quais as lembranças de festivais que o Casa participou nos anos 70?
O Casa não participou dos grandes festivais, até porque éramos uma banda que tinha um diferencial, tinha uma Som Livre por trás, uma estrutura de escritório, estúdio, equipe técnica, condução e condição própria, isso levava o Casa a ter vários Shows e tours pelo Brasil, mas participamos sim de vários festivais, principalmente pelo Sul do Brasil, onde existem até hoje, vários festivais de Rock.
Sempre ouvimos falar das dificuldades técnicas do show business roqueiro da época no Brasil. Poderiam contar um pouco como vocês se viravam para oferecer um som pesado e de qualidade para a moçada?
Dentro do que era possível, como disse antes, tínhamos uma estrutura muito boa, só existia uma banda que tinha mais equipamento que nós, eu acabei integrando entre os anos 77 e 78, se não me engano, a banda era os PHOLHAS. Mas o que conseguíamos era um som bem legal para época.
Vocês consideraram em algum momento adaptar o som da banda e embarcar na onda do rock/pop dos anos 80?
Não em nenhum momento isso passou pela nossa cabeça, jamais, aliás esse foi um dos motivos pela demora de voltarmos para os estúdios, fazer o Casa como era o Casa.
Qual a opinião das lives? Há ideia de uma live da Casa das Máquinas.
Sinceramente, acho que tem certos tipos de som que não são possíveis para Live, vão virar uma audição e visualização de apresentações de estúdios, sem o calor do público, o que é fundamental, mas acho que para o público é legal, deveria ter um incentivo financeiro, como disse antes, para sobrevivência e condições para se fazer uma coisa legal. Temos vistos muitos absurdos nessas Lives, muitos “artistas bêbados” enchendo o saco……………. Fizemos uma mini Live, não sei se faremos outra…………..
O grupo surgiu no meio da ditadura militar. Como você compara os tempos da ditadura com os dias atuais de nosso país?
Primeiro que não foi uma Ditadura, mas sim um Golpe militar, que aconteceu para que não tivéssemos influências e atitudes comunistas………..Só que a coisa acabou durando mais do que devia, talvez………. talvez não, da proposta de LIBERDADE, acabamos tendo a de LIBERTINAGEM, não vou discutir política, pois cada um tem sua opinião, e devemos aceitar todas…………. Tenho 66 anos, me lembro que tinha muita agitação por parte dos militares, mas tinha também mais segurança pública, mais empregos, menos roubalheiras, menos políticos para não fazer absolutamente nada, menos partidos, menos sindicatos, mais cultura, respeito……………… enfim, cada um tem sua própria opinião…………. mas Ditadura, teve no Chile, Argentina………. aqui, ok podemos dizer que sim, mas com o jeitinho brasileiro.
Por favor, deixe uma mensagem para nossos leitores, e desde já, novamente agradecemos por essa entrevista. Forte abraço!
Gostaria de agradecer a vocês da Consultoria do Rock por essa oportunidade, batemos uma bola longa, mas gostosa e acredito que conseguimos esclarecer vários tópicos, um pequeno recado para todos vocês que estão nos acompanhando, fiquem em CASA como CASA, aproveitem e ouçam as músicas novas que o Casa está lançando………..e brevemente estaremos pelos palcos encontrando vocês pessoalmente, um grande beijo no coração de todos, fiquem com Deus.
Ótima entrevista!
Banda muito importante na história do Rock no Brasil.
O single “A rua” ficou excelente.
Vlw Libia. Beijão e obrigado!
O Testoni é foda! Ótimo tecladista e tem muita personalidade no palco. Já tive a alegria de ver ao vivo várias vezes!
Abraços