Discografias Comentadas: U2 (Parte II)
Por Mairon Machado
Depois de conquistar o mundo com a trilogia clássica formada por The Unforgettable Fire, The Joshua Tree e Rattle and Hum, o U2 entrou os anos 90 surpreendendo. Uma nova trilogia começou a ser formada, e poucos imaginavam que o grupo iria atirar-se tão de cabeça em uma empreitada quase suicida. O eletrônico era a bola da vez, e Bono Vox (vocais), Adam Clayton (baixo), The Edge (guitarra, vocais) e Larry Mullen Jr. (bateria, vocais), adaptaram seu estilo a uma sonoridade que quase levou a dissolução do grupo.
Se para os antigos fãs era uma verdadeira m*, para os novos era o ápice de um nível orgasmático inalcançável. Criticada, a fama do grupo caiu muito durante o período que durou essa trilogia (aproximadamente dez anos). Porém, para esse que vos escreve, é um período fértil, de extrema criatividade, no qual o quarteto (e principalmente The Edge) colocou suas mangas para fora e gerou seus melhores e revolucionários trabalhos. Voltamos ao ano de 1991, e o mundo inteiro tentando entender o que os irlandeses queriam…
Adam Clayton nu na contra-capa do álbum; Bono carregado de maquiagem e usando roupas estranhas; The Edge com uma echarpe vermelha muito chamativa ilustrando o encarte. Essas cenas estranhas aterrorizaram os fãs do grupo ao verem a capa de Achtung Baby, e o que eles encontraram nos sulcos do vinil (ou na gravação digital da mídia) certamente fez com que 80% ou mais da geração acostumada a clássicos como “Where the Streets Have No Name”, “Bad” ou “Sunday Bloody Sunday” apedrejam-se esse disco. Por outro lado, a imprensa mundial dividiu-se em elogios e críticas. Na verdade, o U2 começava uma nova fase, “vendendo-se” aos apelos dos críticos e criando um mundo adaptado ao eletrônico dos anos 90. Criticado pela imprensa pela sua postura social nos álbuns anteriores, Bono e seus companheiros resolveram re-inventar-se, mostrando que podiam criar canções interessantes sem serem apelativos ou sensacionalistas (como muitos jornais e revistas especializados costumaram chamar o grupo desde The Joshua Tree). O resultado é um disco controverso, mas muito bom. Com a colaboração de Brian Eno e Daniel Lanois, Achtung Baby abre com o começo perturbado da guitarra e a bateria eletrônica introduzindo, “Zoo Station”, bem como os efeitos na voz de Bono, indicando um caminho que nos lembra o techno de bandas como New Order e Orchestral Manoeuvres in the Dark, continuando em “Even Better than the Real Thing”, destacando os vocais dobrados de Bono, em “Love is Blindness”, bonita balada destacando o baixo, e a ótima “Until the End of the World“. “One” tornou-se um clássico, e é uma das poucas a possuir traços do que o U2 havia apresentado nos anos 80, mas destoa bastante das demais canções do álbum. Momentos descontraídos aparecem em “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses” – outra que lembra os anos 80, mas com muitos efeitos eletrônicos – na dançante “Misterious Ways” – outro clássico do álbum – e na pegada bluesy de “The Fly”, com destaque para a voz em falsete de Bono, alavancando a popularidade dos irlandeses para uma nova geração. Porém, são nas desconhecidas “Acrobat”, “So Cruel”, “Tryin’ to Throw Your Arms Around the World“, apresentando uma mescla do pop proposto para essa nova fase com as linhas rock dos anos 80, mescla esta explicitada na melhor faixa do álbum, a fantástica “UltraViolet (Light My Way)“, que encontramos os melhores momentos deste álbum que, apesar de todas as críticas, tanto dos fãs quanto da imprensa, conquistou a primeira posição em seis países (entre eles Brasil e Estados Unidos, país aonde atingiu oito discos de platina),vendendo mais de vinte milhões de cópias em todo o mundo e tornando-se um dos álbuns mais vendidos da carreira do grupo. Era o começo de uma nova e conturbada era.
Após o lançamento, o grupo saiu na famosa Zoo TV Tour, a primeira grande turnê mundial que o grupo fez, com um palco gigantesco, mostrando imagens de televisão, um potente telão ao fundo e diversas performances em cima do palco, destacando Bono, auto-apelidado de “Homem-Mosca”, utilizando óculos escuros, guampas reluzentes e outros artefatos durante as apresentações.
Songs Of Innocence [2014]
Depois de cinco anos, eis que o início da aguardada quinta trilogia dos irlandeses chega ao mercado, e de forma inovadora. Afinal, quando de seu lançamento, Songs Of Innocence foi disponibilizado gratuitamente para download quando durante a conferência da Apple para apresentação do iPhone 6 na cidade de Cupertino, Califórnia, o grupo anunciou uma parceria com a Apple, permitindo aos fãs conhecerem o álbum antes mesmo de seu lançamento físico oficial. Inclusive na época, resenhamos o álbum, mas o Uol Incident retirou do ar aquela reportagem. Songs of Innocence mantém a linha do que o grupo fez nos anos 2000, com refrões fortes e tendo talvez como principal diferença em relação aos anteriores uma presença mais constante dos teclados. É um disco bastante pessoal de Bono, com homenagens aos ídolos punk Joey Ramone (“The Miracle (of Joey Ramone)”) e Joe Strummer (“This is Where You Can Reach Me Now”), falando sobre como ambos impactaram a formação musical do vocalista. Outro grupo bem homenageado é o Beach Boys, com vocalizações apresentando a oitentista “California (There Is No End To Love)”, que poderia estar em algum dos álbuns clássicos da segunda trilogia, assim como a baladaça “Every Breaking Wave” parece uma sequência de “With Or Without You”, e mata a saudade dos nostálgicos com sua atmosfera oitentista. Bono também faz homenagens à pessoas próximas, no caso sua esposa Ali na bela “Song for Someone”, o amigo Guggi Rowan na pesadíssima “Cedarwood Road”, que narra a história de quando um carro bomba explodiu próximo a casa de Bono quando ele era adolescente, durante as brigas entre protestantes e católicos na Irlanda. Essas brigas também estão em “Raised By Wolves”, forte candidata a melhor do disco. Outra homenagem importante vai para a mãe de Bono, Íris, na emocionante “Iris (Hold Me Close)”, com o baixão de Clayton se sobressaindo nas caixas de som. O baixo sem sombra de dúvidas também é o principal instrumento de “Volcano”, faixa que ao lado de “Raised By Wolves” disputa o primeiro lugar, com um ritmo dançante e um refrão pronto para gritar no estádio. Outra boa de dançar é “This Is Where You Can Reach Me Now“, que lembra uma faixa disco, ainda mais com a maciça presença dos teclados. “Sleep Like a Baby Tonight” exagera nos teclados, e é a faixa mais fraca do disco, enquanto a suave “The Troubles” novamente carrega de teclados, além de vocalizações femininas durante o refrão da mesma, méritos da cantora Likke Li, mas é uma ótima faixa. A versão DELUXE contém como bônus “Lucifer’s Hands”, “The Crystal Ballroom”, “The Troubles (Alternative version)” e “Sleep Like a Baby Tonight (Alternative Perspective Mix by Tchad Blake)”, bem como versões para “Something For Someone” e “Every Breaking Wave” (apenas voz e piano), “The Miracle (Of Joey Ramone)” e “Cedarwood Road” (apenas voz e violão), “California (There Is No End To Love)” e “Raised By Wolves” (ambas apresentando metais), e saiu também em vinil duplo, com a cor branca trazendo como bônus uma versão remix de “The Crystal Ballroom”. É um bom disco, mas na minha opinião, aquém de seus dois anteriores, mas que vem amadurecendo bem com o tempo.
A Innocence Tour começou em maio de 2015, e foi marcada por um palco interativo gigantesco, bem como os atentados da noite de 13 de novembro em Paris. Os shows do U2 foram cancelados após o atentado com o grupo Eagles of Death Metal, que vitimou 87 fãs dos americanos. O U2 voltou aos palcos franceses ao lado do Eagles, registrado no belíssimo DVD iNNOCENCE + eXPERIENCE (Live In Paris) (2016). A versão DELUXE desse box acompanha uma lâmpada de abajur. Ao longo do ano de 2017, o quarteto promoveu a The Joshua Tree Tour, que passou pelo Brasil com quatro shows lotados em São Paulo, um deles narrado por mim aqui. Na sequência, veio o décimo quarto disco.
Songs of Experience [2017]
Experimental como o nome sugere, esse trabalho para mim é bem melhor que seu anterior. Um pouco disso se deve aos diversos produtores que participaram do álbum (Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Andy Barlow, Jolyon Thomas, Brent Kutzle, Paul Epworth, Danger Mouse e Declan Gaffney), bem como convidados especiais (citados ao longo do texto), dando uma cara bastante diversa ao mesmo. A tecladeira viajante logo de cara na linda “Love is All We Have Left” já é uma mostra de que os irlandeses estão percorrendo um novo caminho aqui, e o mesmo acontece no encerramento, com a mágica “13 (There Is A Light)”, de fazer até paredes chorarem. Muitos teclados estão também na introdução de “Get Out Of Your Own Way”, ou na bela “Love Is Bigger Than Anything In Its Way”. Kendrick Lamar faz vozes no encerramento da primeira, e também na abertura de “American Soul” faixa sensacional com um baita refrão para pular nos shows. O surpreendente no geral é a variações de ritmos, como a pancada “Lights of Home”, melhor faixa do U2 nessa década, com os backing vocals do grupo pop Haim, a lembrança de The Wonders e os rocks anos 50 na ótima “The Showman (Little More Better)”, o peso quase frenético do baixo em “The Blackout”, ou a grudenta “Red Flag Day”. Gosto da leveza de “Landlady”, com vocalizações ótimas e encantadoras, do clima luau de “Summer Of Love“, com participação de Lady Gaga nas vocalizações, e da estonteante viagem de “The Little Things That Give You Away”, que me remete direto a The Joshua Tree. Esse álbum cresceu muito a cada audição, e para mim está no Top 6 do grupo. Cada audição traz mais novidades, e foi muito bom re-ouvir o mesmo para essa DC. O único deslize é a declaração de amor “You’re The Best Thing About Me”, com um ritmo bem confuso. A versão em LP, DELUXE e SUPER DELUXE conta com as bônus “Ordinary Love (Extraordinary Mix)”, “Book Of Your Heart”, faixa que podia tranquilamente entrar no track list original, de tão boa que é, e “Lights Of Home (St. Peter’s String Version)”.
A Experience Tour trouxe a inovação tecnológica da “realidade aumentada”, na qual através de um aplicativo móvel, ocorre a sobreposição de imagens geradas por computador captadas pela câmera de um telefone celular. O mesmo pode ser aplicado para a capa do CD, sendo que fiz dois vídeos para capturar essa dimensão inovadora aqui e aqui. Existem ainda diversas coletâneas dessa fase do grupo, tanto em CD quanto em DVD, com os clipes oficiais. Singles e álbuns ao vivo então são incontáveis, mas não tem como não destacar Hasta la Vista Baby! U2 Live from Mexico City (2000) e Live from Paris (2008). Para os aficcionados, vale a pena investir na caixa The Complete U2, lançada em 2004 somente para download, trazendo todo o material registrado pelo grupo, inclusive versões single e raridades. A banda segue na ativa, e os fãs aguardando o encerramento da quinta trilogia, com a expectativa de que os boatos do fim da banda não se concretizem.
O All That You Can’ Leave It Behind é um pedido de desculpas para aquela palhaçada chamada Pop(que a única coisa que se salva é Starring at The Sun pq foi a primeira música que eu quis aprender no violão)! Obra prima do mesmo nível do Acthung Baby e The Joshua Tree!(Pop eu uma coisa que só o Maicon gosta mesmo! Tipo Los Hermanos..hahahahha… Falávamos disso muitas vezes lá no IFF)
How to Dismantle an Atomic Bomb foi o primeiro disco que me fez prestar atenção na música! PUTA DISCO! TOP 10 da minha vida!
Acthung Baby é uma obra prima para ouvir repetidas vezes! É o disco que o The Edge mata a pau na criatividade!
No Line on The Horizon teve um problema! Lançaram uma das músicas mais fracas como single principal(Magnificent) mas no resto é um bom disco!
Song of Innocence é muito superior ao No Line on The Horizon! Songs of Experience preciso ouvir com mais atenção
Vim aqui pra dizer que assim como autor, também sou muito fã do POP! Muitas pessoas podem questionar a sonoridade mas um album não so com Staring, mas com Please, If God Will Send His Angels, Last Night on Earth e principalmente Gone (uma das 5 musicas q mais gosto de toda a carreira do U2) jamais pode ser considerado um album ruim. Sobre o HTDAAB eu passei ANOS dizendo q Fast Cars deveria substituir A Man and a Women e fico feliz de que partilhe a mesma opinião. De tudo so discordo de q o Experience é melhor q o Innocence, mas de qualquer forma, otima análise!
Valeu Eduardo, muito obrigado pelo seu comentário. Forte abraço
All That You Can’t Leave Behind é um dos melhores albuns do U2 e ponto final!
Valeu Danilo. Quanto mais ouço ele, cada vez mais ele baixa de nível, mas é isso. Opinião não se discute. Abraços