Cinco Músicas Para Conhecer: Aguente Firme!
Por Mairon Machado
Em tempos tão difíceis de pandemia, milhares de mortos e um presidente que está mais preocupado com acabar com o que não existe do que ter um projeto para nosso país, o que fica na cabeça é a frase “Aguenta firme”, “Força”, “Se Segure”. Por incrível que pareça, muitos artistas cantaram isso através de suas músicas. Em inglês, uma tradução possível é Hold On. Diversas são as canções que possuem essa expressão em seu nome, seja a expressão pura e diretamente dita ou derivados como Holding On, Hold On My … Esse segure firme varia desde se apegar ao amor até os sonhos. A frase é tão emblemática que o programa Médico Sem Fronteiras fez uma campanha publicitária há dois anos utilizando a canção “Everybody Hurts”, aquela que quem nunca chorou ouvindo não tem coração, e que tem na expressão “Hold On” seu momento mais emocionante.
Aqui no Brasil, agora durante a pandemia, o Bradesco lançou uma campanha com a frase “Aguente Firme” em destaque. Fiz um levantamento rápido na minha catalogação de discos e encontrei mais de duas dezenas ligadas com esse tema. Assim, selecionei dentre elas aquelas que tinha apenas a expressão Hold On, e então, depois de muito pensar, escolhi as cinco músicas para conhecer de hoje, deixando mais cinco indicações após, e com certeza, havendo muitas outras que vocês podem citar nos comentários. As escolhas levaram em conta apenas critérios de gosto pessoal.
Deep Purple – “Hold On” [1974]
Primeira despedida de Blackmore do Purple, Stormbringer é daqueles álbuns ame ou odeie, muito por conta da mistura de estilos. Se por um lado há pauladas como a faixa-título ou “Lady Double Dealer”, por outro o funk e o soul tomavam conta, como é o caso da sensacional “Hold On”, faixa que mostra na sua letra a já característica marca erótica de David Coverdale (vocais) em parceria com Glenn Hughes (baixo, vocais), pedindo para a mulher segurar firme e aguentar o tranco de sua paixão (eita porra). Musicalmente, além dos duetos vocais, destaques disparados para o solo de piano elétrico de Jon Lord e o ritmo cavalgante extremamente sedutor empunhado por baixo e bateria (Ian Paice). E quanto a Blackmore, o seu solo é tão desnecessário e faceirinho, vulgo sem graça, como quase tudo que ele fez no Purple depois desse álbum. Está somente em Stormbringer, e em algumas das infinitas coletâneas dos ingleses no mercado.
Trapeze – “Hold On ” [1978]
Comandado por Mel Galley, o Trapeze tentou sobreviver pós-saída de Glenn Hughes, e lançou três álbuns bastante regulares. Apagando a porta e fechando a luz, com Peter Goalby nos vocais, veio a faixa “Hold On”. A letra trata de agarrar-se a amizade fiel, que irá com você até o fim, pois isso é melhor do que estar sozinho, e agarrar-se a vida, mesmo ela não sendo um paraíso. O ritmo é uma espécie de rock leve, que o Trapeze de Hughes até já tinha feito de alguma forma anteriormente, com aquela guitarra southern de Galley serpenteando ao longo das batidas precisas de Dave Holland, em um instrumental bastante gostoso de se ouvir, principalmente no solo. Além do nome, cito essa canção para mostrar que existem determinadas faixas que é importante conhecer para saber por que algumas coisas não dão certo, como foi a carreira de Goalby pós-Trapeze, principalmente à frente do Uriah Heep. Está no último disco de estúdio da banda Running, o álbum que originalmente foi lançado somente na Alemanha em 1978 (capa do post), mas que ganhou uma versão internacional no ano seguinte, batizada justamente com o nome da faixa, presente também no ao vivo Live In Texas – Dead Armadillos (1981).
Triumph – “Hold On” [1979]
Essa bonita canção do grupo canadense surge com teclados e um dedilhado de violão. O vocalista, guitarrista e monstruoso Rik Emmett entoa a letra, que fala sobre agarrar-se aos sonhos, em deixar o tempo correr e esperar que os sonhos aconteçam, em uma faixa bastante motivadora e emotiva. O ritmo do violão vai ganhando força, trazendo o nome da canção entoado para arenas cantarem em plenos pulmões, e então, surgir o trio mais fantástico do Canadá (joguem as pedras) para mandar um AOR gostoso, com grandes pitadas progressivas, graças a performance impecável de Gil Moore na bateria. Uma letra de 1979 mas que serve muito para os dias de hoje, afinal, só de sonhos podemos pensar em viver pós-pandemia e nesse caos político que o Brasil vive nos últimos anos. Está no obrigatório Just A Game (1979), no ao vivo Stages (1986), além das bolachinhas com “Just A Game” no lado B, lançadas em diversos países.
Wishbone Ash – “Hold On” [1982]
Vivendo sua fase mais conturbada, o Wishbone Ash lançou discos pouco marcantes nos anos 80. Porém, há materiais que se escapam, como essa grande e grudenta faixa que narra sobre o drama de um homem distante mais de cinco mil milhas de sua amante, e que tenta angustiadamente, sem sucesso, ligar para ela, enquanto o operador no telefone lhe diz “Aguente firme, estou tentando fazer a ligação”, algo que os jovens de hoje não devem nem ter ideia do que isso significa … O baixo marcante de Trevor Bolder, os dedilhados das guitarras, uma interpretação vocal fascinante e uma sensualidade jazzística entregue aos fãs, além de um refrão que fica por horas na cabeça, fazem dessa uma das melhores faixas da banda naquela década. Além da bela letra, as guitarras gêmeas de Andy Powell e Laurie Wisefield, marca sagrada dos ingleses, estão saindo das caixas de som para emocionar os fãs em solos magistrais. Fecha a conta a bateria sempre competente de Steve Upton. Está presente em Twin Barrels Burning (1982) e no lado B de um raro compacto espanhol, que ilustra o post.
Beardfish – “Hold On” [2015]
Imagine-se um velho roqueiro que entra em um dilema: o de sentir-se um prisioneiro em sua cidade natal, sendo forçado à mediocridade pelas pessoas ao seu redor e não sendo capaz de se libertar disso Esse é o conceito de +4626-Comfort Zone, lançado pela trupe sueca de Rikard Sjöblom (vocais, guitarras, teclados e faz tudo) no Beardfish. “Hold On” é a faixa que apresenta ao ouvinte o choque da realidade do velho roqueiro que descobre que o mundo está passando, e ele já não pertence mais ao nível que outrora pertenceu. O “Hold On” aqui clama para o personagem aguentar firme sua atual posição, mesmo com tudo o que possa lhe acontecer. A indignação do personagem central, tentando entender como o tempo passou sem ele perceber, não reconhecendo os olhos que costumavam trazer a chama que existia quando jovem, é apresentada através de 8 incessantes minutos, onde o ritmo da bateria de Magnus Östgren e o baixo marcante de Robert Hansen fundem a mente para fazer ela entregar aos seus pés e cabeça um balanço filho da puta. Rikard traz todas suas influências de Yes e Genesis para essa faixa, principalmente nas linhas de guitarra, ao lado de David Zackrisson, e nas linhas vocais. Wah-wah comendo solto, riffs grudentos, pulos pela casa cantando os diversos momentos onde a letra nos possibilita isso, e assim como o conceito de “Hold On” nos conta, quando a faixa é concluída você nem percebeu o tempo passar. Uma das melhores obras desse século.
Mais cinco outras “Hold On”:
– The Sons of Champlin (A Circle Filled With Love, 1976);
– Kansas (Audio Visions, 1980);
– Santana (Shangó, 1982);
– Yes (90125, 1983);
– Rush (Snakes & Arrows, 2007);
Fica o post tb como uma homenagem para Trevor Bolder, que estaria completando hj 70 anos!
Que surpresa legal e que decepção! Surpresa porque eu pensei que só eu gostava dessa música, a melhor coisa do claudicante Stormbringer. Decepção pela maneira como Mairon pisoteia no solo de Blackmore – o melhor solo do disco. Pô, você gosta do solo do Lord, uma escalinha ascendente banal, e acha o solo do Blackmore sem graça? Não dá pra entender. O que ocorre nesse solo é que Blackmore abre mão do virtuosismo e da velocidade pra brincar com frases suaves em pentatônica, de fato com uma aparente displicência, que é intencional. O resultado é um solo melódico, que lembra os discos da Mk I. Não é o único exemplo da longa carreira do bruxo. “No time to lose”, do Rainbow, tem coisa parecida, bem curtinha, assim como a maior parte do solo de “Mitzidupree”, pra ficar em apenas dois exemplos. De qualquer modo, foi legal ver essa música ser lembrada. Abraços.
Pois é Fernando, eu curto o solo do Lord, e acho o Blackmore bem sem afim de tocar, mas vou ouvir de novo para perceber o q vc comentou. Em tempo, para mim o melhor solo do disco é o de Stormbringer. Abraços
Beleza. Quanto ao piano do Lord, para além do solo, faz um contraponto perfeito, jazzístico, para a cozinha de Paice e Hughes. Valeu o post, abraços.
Abração!! E obrigado pela parceria!!
Tem uma bonita Hold On no disco Kossoff Kirke Tetsu Rabbit, lançado em 1972 quando o Free se separou pela primeira vez. Foi composta por Simon Kirke e Paul Kossoff e traz Simon no vocal principal.
Opa Marcello, valeu. Vou procurar. Abraços
Gosto do tema, da busca por diferentes canções que compartilham o mesmo título. Entre as citadas pelo Mairon, minha preferida está nas menções honrosas, que é aquela registrada pelo Kansas no bom, porém escanteado, “Audio-Visions”. O tema de violino que a introduz é especialmente marcante, e a letra carrega uma temática cristã sem cara de pregação descarada.
Partindo para minha contribuição, pesquisei meu material e aquela que achei mais digna de menção é a que foi gravada pelo Saxon para “Dogs of War”, destacando um lado bem explicitamente hard, com direito a muito vocal de apoio. Facinho uma das minhas músicas preferidas do Saxon na década de 1990.
Essa do Kansas não entrou pelo detalhe citado pelo próprio Diogo no comentário dele. Mas é uma baita faixa. E eu curto o disco tb!
foi a primeira faixa que me veio na cabeça com esse tema!
Parabéns pelo texto e pela seleção, Mairon!
Valeu Ronaldo
Minhas contribuições:
Primeira faixa do disco homônimo do Steve Winwood de 1977: uma faixa que é um soul/pop muito bonito.
Quarta faixa do disco Valley of Tears dos britânicos do Tank (versão da banda com Mick Tucker e Cliff Evans): heavy metal para bater cabeça.
Oitava faixa do primeiro disco auto-intitulado do Great White: hard rock pesado com uma bateria bem proeminente na mixagem.
A carreira solo do Steve Winwood eu não consigo gostar. Pior que tive esse LP de 1977 e passei adiante. Não dá. É muito Sandra de Sá!!
Obrigado pelos comentários gurizada. E legal saber que vocês também conhecem várias “Hold On”. Massa mesmo!
Sei que vou fugir do tema, pois em vez de HOLD ON, vou citar uma música belíssima do FLEETWOOD MAC chamada HOLD ME…Pois na verdade tanto um tema quanto outro tem tudo a ver com essa pandemia e esses tempos bicudos.
Sim Cleibsom. É bem por essas aí
Achei uma grande sacada o tema da coluna. Vivemos tempos difíceis, onde nosso psicológico também é muito abalado pelas circunstâncias, além de obviamente a saúde de quem for contaminado pelo vírus. Em tempos assim, a música é realmente uma das grandes formas de “segurar” a sanidade e não se deixar vencer pelo desespero, a ansiedade e pela falta de esperança… Segurem-se todos firmes… mais cedo ou mais tarde, vai passar!
Das canções citadas, minha favorita é a do Deep Purple, mas as únicas que conheço além dela são as do Yes e a do Rush. Vou ter de correr atrás das demais!
Bela ideia, Mairon! Abre as portas para outros “cinco músicas” ou “cinco discos” temáticos..
Isso aí mano. Fica a vontade para construir essas matérias. Bora lá!!! Valeu o comentário!!!
Gostei da ideia…pensei em outras músicas de diferentes artistas com nome igual e a primeira que me veio à cabeça foi Time: Pink Floyd, Mercyful Fate, Angra, Alan Parson, Helloween….e por aí vai
Faz aí!!!
Faltou “Hold On” do Yes. Musicão!
Ta nas lembranças ali embaixo!!