Discografias Comentadas: Accept (Parte I)
Por André Kaminski
Para a alegria do Igor Maxwel, tá aí a discografia comentada do Accept. Só não me venha reclamar “mas não é um Do Pior ao Melhor”. Pelo menos isso está relativamente feito.
Deixando o disclaimer de lado, vamos ao que interessa que é falar de uma das mais importantes bandas alemãs do metal e do hard rock que é o Accept. Os primórdios do que viria a ser a banda começaram bem antes da banda lançar o primeiro disco, lá em 1968. O vocalista Udo Dirkschneider se juntou a Michael Wagener (que viria a se tornar um famoso produtor) e outros caras e fundaram uma banda chamada Band X. Nunca consegui encontrar exatamente o estilo que eles tocavam, embora imagino que no início deveria ser algo mais influenciado por Jimi Hendrix e depois na década de 70 por Judas Priest, Sabbath e Zeppelin. Devido as várias mudanças de formação, o Band X demorou para estabilizar uma formação. Somente quando Udo juntou os guitaristas Wolf Hoffman e Gerhard Wahl, o baixista Peter Baltes e o baterista Frank Friedrich é que eles se rebatizaram como Accept e, enfim, conseguiram a profissionalização. Após serem convidados a tocar em um festival alemão, eles chamaram a atenção da pequena gravadora Metronome Music que topou em lançar seu primeiro disco. Antes mesmo de começarem a gravar, Gerhard Wahl os deixa e Jörg Fischer entra como guitarrista. E assim, começa a história da discografia do Accept.
Accept [1979]
Olha, se fosse julgar todo o potencial da banda em si considerando este primeiro disco, dava para se dizer que ela não teria muito futuro. O disco auto-intitulado do Accept é a união de várias músicas compostas na época em que eles ainda eram amadores e são as canções autorais da época ainda do Band X. Bebendo muito da fonte dos contemporâneos e já lambuzados no dinheiro que eram o Scorpions, a banda aqui tenta meio que soar com um primo pobre deles, e por isso falha bastante. Mais hard do que heavy, a banda até que começa bem com “Lady Lou” que até soa legalzinha. Ainda gosto também da boa “Street Fighter”, mas para por aí. “Tired of Me”, “Seawinds” (o baixista Peter Baltes comanda os vocais aqui) e “Helldriver” são músicas simplórias e amadoras, sem aquela ousadia que caracterizaria a banda futuramente. O disco é curto, mas básico demais. Há também uns backing vocals tremendamente bregas em algumas canções que… de lascar. O próprio Udo disse que não gosta do disco. E as vendas foram decepcionantes.
I’m a Rebel [1980]
Melhor que o debut mas ainda aquém do que a banda produziria logo depois. Frank Friedrich (que escolheu não seguir uma carreira profissional na música, embora mais tarde tentasse novamente com o Bad Steve) deixou a banda e Stefan Kaufmann assumiu as baquetas. Pelo menos aqui, o Accept já demonstra um potencial que não existia no primeiro disco. Algumas das características que definiram a banda depois já começam a ser notadas aqui. “I’m a Rebel” foi composta por Alex Young, segundo irmão mais velho da duplinha conhecida do AC/DC. Há uma versão demo cantada pelo próprio Alex no youtube e que não foi lançada no catálogo do AC/DC na época. Esta música foi oferecida a eles com a ideia de soar mais comercial e estourar nas rádios, o que não aconteceu. O disco em si é bem mediano, ainda bastante hard rock, onde destaco como melhores as boas duas últimas canções “King” uma boa baladinha açucarada apesar da letra piegas e “Do It” com um riff hard rock e um refrão muito ganchudo, além da ótima heavy “Thunder and Lightning” que para mim é o grande destaque do álbum. Segundo Udo, ele também se decepcionou com o disco pelo fato de que houve muita interferência interna da gravadora e dos produtores o que novamente afetou na qualidade das composições. Somente no terceiro disco a banda em si iria se satisfazer e obter bons resultados tanto na qualidade das músicas como nas vendas.
Breaker [1981]
Finalmente um disco que faz jus a fama que eles obteriam no decorrer da década. Aqui dá para se dizer que começa o Accept de verdade que tanto gostamos. Segundo os caras, aqui eles eliminaram os intrometidos e se focaram em fazer um álbum do jeito que eles queriam. Já se percebe logo na abertura com “Starlight” que o que eles sempre quiseram fazer era diferente dos álbuns anteriores. Eles queriam fazer um heavy metal tradicional matador, mais veloz e com as guitarras destilando riffs cortantes e ganchudos. O disco todo é muito bom e músicas como “Can’t Stand the Night” é uma balada de belas melodias de guitarra, “Feelings” se destaca com uma das primeiras canções toda focada nos famosos agudos de Udo, “Midnight Highway” que é um hardão mais ao estilo do AC/DC e “Down and Out” mais cadenciada e com mais um refrão pegajoso. “Son of a Bitch” chegou a ser censurada pelas distribuidoras internacionais e eles tiveram que refazer a letra para o disco ser lançado em alguns países, pelo menos nas primeiras prensagens. Finalizando, um grande álbum do Accept e isso que nem é o melhor deles.
Neste ano eles fizeram sua mais importante tour até então, servindo como banda de abertura do Judas Priest pela Europa. De acordo com Hoffmann, foi uma tour complicada porque eles não tinham apoio nenhum da gravadora e estavam se financiando sozinhos, tendo até mesmo que invadir os camarins do Priest para roubar comida. Para piorar, roubaram o baixo de Peter Baltes. Um dos guitarristas do Judas (que Hoffmann não lembra se foi K.K. Downing ou Glenn Tipton) viajou com Peter até a Inglaterra e o emprestou um baixo Fender zero quilômetro para ele finalizar a tour.
Jörg Fischer deixa a banda em 1982 e Herman Frank é chamado para ser o segundo guitarrista. Apesar de Frank ter sido creditado na arte do próximo disco, Wolf Hoffmann gravou todas as guitarras sozinho.
Restless and Wild [1982]
Aqui entramos na fase de ouro da banda. Um excelente disco daquele heavy/speed mais ligado ao Judas Priest e ao Saxon. Udo se esgoela mais do que nunca e entrega vocais viscerais durante todo o disco com uma paulada atrás da outra. Aqui é feita a parceria entre a banda e Gaby Hauke, esposa de Wolf Hoffmann que passa a assinar todas as letras da discografia da banda até poucos anos atrás, além de se tornar a empresária deles. Quase todo o disco todo é empolgante, mas o lado B é melhor. Minhas preferidas são “Ahead of the Pack” um pouco mais cadenciada que as demais porém contando com uma grande cozinha de baixo e bateria e um riff grudento, além de um solo excelente de Hoffmann. “Neon Nights” começa com Wolf brincando com a distorção e os efeitos de sua guitarra antes de cair em um ritmo em que guitarra de um lado e baixo e bateria se alternam na cadência melódica da canção enquanto Udo canta por cima. “Flash Rockin’ Man” tem uma intro que me lembrou os riffs iniciais de “Burn” do Deep Purple só que mais acelerada, mas destaco mesmo é a bateria desta canção na qual Kaufmann se destaca em levantar o astral da música lá no alto. Se sente falta de algo mais hard rock como nos discos anteriores “Don’t Go Stealing my Soul Away” está aí para satisfazer suas necessidades melódicas. “Princess of Dawn” fecha o disco com chave de ouro junto a uns teclados diferentes, principalmente em sua parte final. que deu um sabor especial ao encerramento do disco. Única canção mais fraca mesmo é “Demon Night” que é aquele metalzinho tradicional com cara de filler. Quanto ao restante, ouça esta pérola no talo que não irá se arrepender.
Restless and Wild conseguiu emplacar em três charts europeus (o sueco, o holandês e o britânico) embora não tenha conseguido grande coisa nos Estados Unidos. Mas eis que a banda já no ano seguinte arregaça as mangas e lança aquele que seria o disco definitivo quando se fala em Accept.
Balls to the Wall [1983]
O clássico álbum da perna cabeluda. Maioria dos fãs acha este disco o melhor do Accept. E eu estou entre eles. Os caras refinaram ainda mais suas composições utilizando uma produção de mais qualidade e, querendo ou não, buscando um “quê” mais de comercial. Mas isso não atrapalhou em nada em relação aos méritos que o álbum demonstra. O disco abre com aquela que iria se tornar o maior clássico da banda que é “Balls to the Wall” e seu refrão feito para cantar a plenos pulmões nos shows. Nada é mais Accept do que este lendário hino. Mas o disco ainda tem muita coisa para oferecer como as também excelentes “London Leatherboys” (e uma pegada mais hair metal), “Head Over Hills” (hard rock tradicional), “Love Child” (mais um heavy metal de grandes solos de guitarra) e “Turn Me On” (cadenciada e de um riff bastante grudento). O disco me envelheceu muito bem, é aquele heavy metal que continua a cativar mesmo após décadas e no meu caso, alguns anos sem escutá-lo. Como resultado, o disco obteve boas posições no chart sueco, canadense, no cobiçado americano e pela primeira vez no alemão. É o melhor disco deles para apresentá-los a alguém que esteja iniciando no heavy metal e a banda toda voava nesse período.
Finalizo a primeira parte de outras três que teremos. Retorno em 15 dias com a segunda parte.
Para fãs de Metal, o Accept é uma banda essencial. Esta primeira fase deles é a de que mais gosto. Ótimo texto e análise muito boa. Parabéns, André!
Agradeço a consideração, Daniel. Essa primeira fase do Accept tem pelo menos três discos muito bons. Felizmente a banda também tem outros trabalhos de grande qualidade nas fases seguintes (e alguns não tão bons assim), mas que fazem a banda atingir um alto patamar no meio.
Ótimo demais ver Accept por aqui.
Quando a banda toma controle do seu som as coisas funcionam com o real espírito.
O primeiro álbum que comprei e ouvi foi o “I’m a Rebel”… Gostei muito na época! Mas quando ouvi o “Clássico álbum da perna cabeluda” nunca mais meus ouvidos foram os mesmos.
Parabéns, André! Ótima matéria! Aguardando as próximas partes.
Balls to the Wall realmente é um grande álbum, mesmo que seja menos pesado que o anterior. É onde eles conseguiram o seu auge criativo, embora ainda haja muitos ótimos discos nas partes seguintes.
Agradeço a consideração, Libia!
Tenho como preferido o Metal Heart e quando achei que eu iria ler sobre ele o texto parou…. Expectativa….rs
Agora sim, uma discografia comentada do Accept aqui na Consultoria… Depois de tanto falar sobre a banda alemã por aqui, os caras finalmente aparecem. Afinal, considero o Accept a melhor banda daquele país (e que me perdoem os Scorpions). Mas eu achei que essa primeira parte iria se basear nos sete primeiros álbuns – do debut de 1979 ao Russian Roulette (1986), e que a segunda parte iria focar nos sete últimos discos – de Objection Overruled (1993) até o último que saiu em 2017, o (na minha opinião) fraquíssimo The Rise of Chaos (PS: tirando aquela mancha negra chamada “Eat the Heat”, de 1989). Mas enfim, o que vale mesmo é a intenção da homenagem. Destaque para os álbuns Restless and Wild (a versão que eu tenho traz uma capa diferente da original, que mostra o grupo tocando ao vivo) e Balls to the Wall (a capa da perna cabeluda é talvez a mais tosca do mundo, mas o disco no geral é bom demais!), que são grandes clássicos do heavy metal oitentista.
Ótima matéria! Eu só tenho o “Balls To The Wall” na minha coleção, mas estes três textos me instigaram a ir mais a fundo na discografia do Accept. Parabéns pelo conteúdo. Abraços!
Agradeço a consideração, Gabriel. É uma grande banda e muito amada pela grande maioria de nós aqui do site.
Os três primeiros álbuns do Accept apesar de terem ótimas ideias, eles são bem fraquinhos. Breaker, apesar de ser uma grande melhora em relação aos dois primeiros, ainda é fraco se comparado com o heavy metal poderoso que eles fizeram depois. O mais interessante desses primeiros discos são as baladas cantadas por Peter Baltes. “No Time to Lose” é uma pérola por exemplo. Agora os clássicos Restless and Wild, Balls to the Wall e Metal Heart são obrigatórios para qualquer fã de Hard/Heavy Metal. As vezes penso que Balls to the Wall é o melhor álbum de heavy metal dos anos 80 (que bateria é aquela?). Track-list perfeito! Lembro de quando comprei o cd e meus colegas perguntaram que capa estranha era aquela com aquela coxona. rsrs
Vale destacar também o Staying a Life, um dos melhores discos ao vivo que uma banda de heavy metal já lançou. Parabéns pela matéria!