A relação UDO x Accept
Por Fernando Bueno
A primeira separação de Udo Dirkschneider ocorreu logo após o lançamento de Russian Roullete (1986), sétimo registro do Accept e um álbum que não conseguiu o mesmo sucesso de Balls to the Wall (1983), principalmente em solo americano. Metal Heart (1985) já tinha sido uma tentativa de continuar o sucesso nos Estados Unidos, mas apesar de ser um álbum fantástico e, hoje, um clássico da banda e do estilo, não trazia hits tão fortes – ao gosto americano – como foi a faixa título do álbum anterior.
Sempre achei essa separação curiosa, pois a primeira coisa que as duas partes fizeram quando estavam separadas foi justamente compor juntos um disco inteiro para uma das partes. Fica parecendo que a separação não tinha sido um processo doloroso, como sempre é quando uma formação clássica perde algum componente importante, ainda mais quando se trata do seu frontman. Tanto que a sonoridade do álbum Animal House (1987) é nada mais do que uma continuação do que o Accept estava fazendo. Pode parecer tudo um pouco estranho, não é? Então, vamos contextualizar um pouco toda essa situação.
Como disse, Balls to the Wall tinha conseguido um bom desempenho pela sua faixa título ganhar muita veiculação nos EUA. Apesar da aspereza tão característica do som dos alemães do Accept, eles sempre foram feras em criar melodias e refrãos fortes e isso agrada o mercado americano. Sabemos que o tipo de som que estava se tornando popular nos EUA vinha daquelas bandas de hard rock californiana, que cultuava as festas e a diversão. O Accept não era exatamente uma banda que fazia isso, então com dois discos sem que o mercado americano tivesse a mesma receptividade do que Balls to the Wall eles decidiram que algo precisava mudar. O motivo principal para que o sucesso não estivesse vindo acabou caindo nas costas do baixinho que comandava os microfones. Sua voz é puro heavy metal, não deve existir um único headbanger qua não gosta dela, ela se encaixa perfeitamente ao som quase marcial do Accept, mas temos que admitir que há peculiaridades nela que não agradam um público mais geral, que era exatamente aquele que estava se interessando pelo som que estava sendo produzido na época. Além do mais, o visual das bandas era um fator bastante importante e mais uma vez isso prejudicou a posição de Udo Dirkschneider pois ele não era necessariamente um galã.
Porém, no meio de toda essa tomada de decisão muito material já havida sido produzido para um próximo disco do Accept, aquele que iria suceder Russian Roullete. Se tivessem que mudar de vocalista mesmo, talvez o material produzido também não fosse adequado para esse processo de mudança. Assim tudo o que foi composto durante o período foi oferecido ao próprio Udo para que ele iniciasse uma carreira solo, longe da banda. Então, esse material pode significar até mesmo um prêmio de consolação para o baixinho. Animal House foi todo creditado ao Accept e a Deaffy, pseudônimo como compositora da empresária da banda, Gaby Hoffmann, que é casada com o guitarrista Wolf Hoffmann. No fim das contas fica parecendo que a separação ocorreu de forma muito amistosa, mas fico me perguntando se lá no fundo Udo não se sentiu mal e até mesmo humilhado por tudo isso. Para a nova jornada ele reuniu músicos oriundo do Sinner, Warlock e Stallion e seguiu seu rumo.
Difícil prever o que aconteceria se eles tivessem mantido a banda e continuado. Mas na minha opinião quem se deu bem nesse processo todo foi o próprio Udo, pois após a sua saída ele teve Animal House (1987) – com uma pitada maior de hard rock acrescentado ao heavy metal comum no Accept -, Mean Machine (1989) – em que o metal na linha do Accept voltou mais à tona -, Faceless World (1990) e Timebomb (1991). Todos gravados durante o período em que esteve fora do Accept até a sua volta em 1993 em Objetion Overruled. Esses quatro disco também são considerados pelos fãs como a grande sequencia de discos gravados pela carreira solo de Udo. Já o Accept conseguiu soltar somente o fraco, ou pelo menos controverso, Eat the Heat (1989) com o vocalista David Reece, que sequer foi a primeira opção para a substituição de Udo – eles tinham colocado Rob Armitage logo após a separação. Assim, não é difícil defender que, no fim das contas, a separação foi muito mais benéfica para o Udo que conseguiu se estabelecer como um artista solo, além de ter uma volta triunfal e com muita moral para a sua antiga banda.
Entretanto a volta não produziu bem. Apesar de Objetion Overruled ter lá suas qualidades, Death Row (1994) e Predator (1996) são produções que nem de longe lembram o Accept em sua boa forma. Essa baixa qualidade acabou gerando uma nova separação e dessa vez definitiva. Udo continuou sua carreira solo e engatou oito álbuns em sequência durante 1997 até 2009, enquanto o Accept ficou todo esse tempo sendo somente uma boa lembrança dos fãs.
Porém tudo mudou quando encontraram um americano disposto a tentar trazer a banda para seus tempos gloriosos novamente e os alemães foram muito feliz na escolha. Curioso é que a retomada do sucesso do Accept acabou sendo ao mesmo tempo da fase mais fraca da carreira solo de Udo. Depois da volta o Accpet teve seu auge no já clássico Blood of the Nation (2010) e seu último lançamento The Rise of Chaos (2017) é o que teve menos impacto, além do mais a banda começou a perder a unidade como banda com constantes saídas de músicos sendo que até Peter Baltes pulou fora do barco. Por outro lado Steelfactory (2018) parece que resgatou a carreira do Udo. Parece que os deuses do metal estão dispostos a agraciar somente um dos lados de cada vez.
Me lembro de ler uma entrevista do UDO, não lembro se na roadie crew ou rock brigade (sim, faz tempo) em que ele comentava que o motivo da saída dele era que as músicas que eles planejavam para o Eat eram simplesmente horríveis. E queuito dessa mudança veio de pressão externa.
“The Rise of Chaos (2017) é o que teve menos impacto, além do mais a banda começou a perder a unidade como banda com constantes saídas de músicos sendo que até Peter Baltes pulou fora do barco. Parece que os deuses do metal estão dispostos a agraciar somente um dos lados de cada vez.”
Ou será que os deuses do metal estão preparando território para mais um retorno triunfal do Udo?
Também não gostei muito de The Rise of Chaos quando saiu em 2017, pelas mudanças na sonoridade do Accept e também na formação da banda em sua fase recente. Disco muito fraco se comparado com os três anteriores, não parece ser a mesma coisa…
Eu gostei. Até coloquei na minha lista de melhores, mas essas coisas começam assim, né? Popularidade cai um pouco, sai um cara, sai outro, a galera começa olhar com desconfiança e quando vai ver, rolou o retorno… hehehe
O disco é longe de ser ruim, mas é abaixo dos outros três e principalmente do Blood of the Nations.
Blood of the Nations, Stalingrad e Blind Rage formam a trinca de ouro do Accept em sua nova fase. E The Rise of Chaos é, de fato, outra coisa…
Excelente texto, Fernandão! Amo as duas bandas, tanto o Accept em suas duas fases “clássicas” quanto a carreira solo do Udo. A relação do baixinho com a trupe do Sr. Wolf Hoffmann sempre se mostrou problemática desde Russian Roulette, em 1986. Com isso as rupturas sempre são constantes em diversas bandas, mas a verdade é que em ambos os lados os dois saem ganhando mesmo separadamente.
Meu álbum preferido do Accept durante muito tempo sempre foi Metal Heart (1985) da fase clássica com Udo, mas assim que descobri o Blind Rage (2014), um dos álbuns da fase atual deles, passei a gostar e respeitar o trabalho do norte-americano Mark Tornillo (nesse tempo sempre dizia que Udo era insubstituível) e compreender que a banda realmente voltou para ficar mesmo sem a presença do baixinho. Com isso passei a correr atrás dos dois álbuns que vieram antes do Blind Rage, todos muito bons de verdades. A melhor formação do Accept para mim hoje é com Tornillo nos vocais, Hoffmann e Herman Frank nas guitarras (seria um trio se o grupo ainda contasse com Jörg Fischer), Peter Baltes no baixo (uma pena ele ter saído), o batera Stefan Schwarzmann e o produtor Andy Sneap (que produziu todos os discos da fase recente da banda desde seu triunfal retorno com Blood of the Nations, em 2010).
E quanto a carreira solo de Udo, afirmo que o último disco realmente bom dele foi Steelhammer, de 2013. Não que os dois últimos que o sucederam sejam ruins – incluindo Steelfactory, de 2018 – mas não se comparam com o que o Udo e sua banda própria (U.D.O.) nos entregaram em 2013, uma resposta á altura dos álbuns novos de seus então ex-companheiros e uma verdadeira renovação em sua sonoridade.
Enfim, vida longa ao Udo e ao Accept, que sigam firmes e fortes!
Obrigado Igor!!!
Valeu!!!
De nada, Fernandão… De nada!
Correção: “todos muito bons de verdade” (sem o S no final). Desculpe-me o erro!
O Accept é tipo um Judas Priest com anabolizantes. Já curti bem mais em tempos de adolescência e hoje raramente coloco pra ouvir, mas esses caras compuseram alguns clássicos que sempre revisito, como Fast as a Shark e Metal Heart.
muito bom o texto, Parabéns muitas curiosidades que não sabia..o baixinho é fera e q continue a nos brindar com muito heavy metal.
Peter Baltes e Herman Frank bem que podiam dar um pulinho na banda do Udo pra agitar as coisas um pouquinho…
A carreira do UDO é bem melhor que o atual cenário do Accept, sem dúvidas.