Humberto Gessinger – Ao Vivo Pra Caramba [2018]
Por Davi Pascale
Líder do Engenheiros do Hawaii resgata álbum clássico de sua ex-banda, ao mesmo tempo em que demonstra pé no presente. Fãs do cantor ficarão satisfeitos com seu segundo DVD ao vivo.
Uma das características de Humberto Gessinger é sempre inovar. Não é todo mundo que curte a ideia, mas o rapaz não é daqueles que passa o tempo todo tocando a mesma coisa do mesmo jeito. Há sempre uma novidade. Nem que seja uma nova formação ou novos arranjos.
Aqui, temos as duas realidades. Humberto sobe ao palco acompanhado do baterista Rafael Bisogno e do guitarrista Felipe Rotta. Ainda que resgate seus tempos de power trio, isso não significa que esteja recorrendo aos velhos arranjos. Não se trata de reviver um tempo que ficou para trás, mas de mostrar à uma nova geração um material que venceu a barreira do tempo.
A Revolta dos Dândis trouxe várias mudanças na carreira do Engenheiros. Consagrou o formato power trio, colocou Gessinger na posição de baixista, apresentou o cultuado Augusto Licks, além de contar com algumas de suas músicas mais famosas. Quem viveu a época de ouro irá se lembrar de canções como “Infinita Highway” ou “Refrão de Bolero” sendo tocadas à exaustão nas rádios Brasil afora.
Os lançamentos do Engenheiros ficaram marcados, nessa primeira fase, por quase sempre ter uma cor predominante na capa. Em Várias Variáveis era o verde, em Gessinger, Licks &Maltz era o azul, em Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém, o vermelho, já nesse álbum era o amarelo. E isso foi predominante para a criação do cenário, do merchandising e até pela escolha dos instrumentos. Tudo predominando a cor amarela.
A turnê fez sucesso. No primeiro momento do show, o músico resgata o álbum na íntegra. Traz novas leituras para velhas ideias. Algumas músicas foram casadas com outras. Caso dos hits “Refrão de Bolero” e “Terra de Gigantes”. Embora tenha recorrido ao power trio, Humberto não deixou de dar seguimento ao formato de show que vem realizando nos últimos anos. Com uma pegada, muitas vezes, mais acústica e passando por uma infinidade de instrumentos. Se há algo que remeta aos velhos tempos é sua voz que segue intacta.
Interessante notar que não apenas clássicos como “Infinita Highway” ou “Revolta Dos Dândis” levantaram o público, mas também alguns lados B. Por algumas vezes, lado Z, caso de “Guardas da Fronteira”. Interessante ver uma nova geração cantando os versos ‘além do mito que limita o infinito’. Quem diria?
A segunda parte do show é quando Humberto resgata canções de seus outros álbuns. Essa parte mudava a cada apresentação. Quando foi anunciado o DVD, fiquei bem curioso para saber o que escolheria para a gravação, mas o músico fez diferente. Essa parte praticamente caiu fora do vídeo. Foi criada uma segunda parte, predominando a sonoridade acústica, com os músicos tocando ao vivo em estúdio. Só nos minutos finais é que volta ao show.
Algo interessante para os antigos fãs é a participação especial do antigo baterista, Carlos Maltz. Infelizmente, não atrás de uma bateria como gostaria de ver, mas dividindo os vocais com seu velho amigo em “Filmes de Guerra, Canções de Amor”. Legal ter participado do projeto. Lembro que assisti as gravações do álbum 10.000 Destinos e Maltz também participou do show, mas por alguma razão sua performance foi eliminada do vídeo. Lembro que fiquei triste na época…
A banda está bem entrosada. Humberto é um bom músico. Seguro e carismático. Quem é fã do Engenheiros, certamente irá gostar do novo vídeo. Quem nunca se ligou muito, recomendo assistir antes ao Acústico MTV e o Filmes de Guerra, Canções de Amor, além de dar uma escutada nos álbuns clássicos (ou seja, de Longe Demais das Capitais à Simples de Coração). Eu sempre fui fã e fiquei bem satisfeito com o resultado final. DVD legal pra caramba…
Track list
1. A Revolta Dos Dândis I
2. Infinita Highway + Até O Fim
3. Quem Tem Pressa Não Se Interessa
4. Vozes + Terra de Gigantes
5. Desde Aquele Dia
6. Além Dos Outdoors
7. Guardas da Fronteira
8. Refrão de Bolero + Piano Bar
9. Filmes de Guerra, Canções de Amor
10. A Revolta dos Dândis II
11. Das Tripas Coração
12. Pra Caramba
13. Saudade Zero
14. Cadê
15. Pose
16. Faz Parte + Vida Real
17. Alexandria
Nunca fui muito fã das letras escritas por análise combinatória do Gessinger, mas o instrumental é legal.
kkkk. Tem muita gente que não gosta, mas eu gosto bastante das letras dele.
Estive presente na noite em que o show foi gravado. O resultado final do DVD acabou me decepcionando um pouco, pelo fato de que, como citado, a parte pós-“Revolta” foi praticamente excluída… e muita coisa boa rolou nessa parte, pode acreditar! Além disso, praticamente metade do álbum homenageado acabou repetido ao final da apresentação (inclusive a participação de Maltz), por causa de “problemas técnicos”, segundo Humberto!
Acho interessante a quase obsessão do músico em não se ater aos arranjos “tradicionais” das canções, mas certas vezes soam estranhas aos ouvidos as diversas mudanças que ele constantemente faz…
A segunda parte não foi, até onde sei, gravada em estúdio, mas sim no mesmo palco do Pepsi On Stage (tradicional local de espetáculos em Porto Alegre), mas sem público e na parte da tarde do show principal!
Vale pelo resgate de um disco clássico (embora as mudanças de arranjos e as uniões desnecessárias de certas músicas), mas o show da gravação, pode acreditar, foi bem melhor do que o resultado final!
Tive a mesma sensação no 10.000 Destinos. Assisti a gravação e achei o show muito melhor do que foi para o registro principal. Até onde eu me lembro, poucas músicas foram repetidas e muuuuuuitas ficaram de fora. Ah, uma curiosidade daquela noite foi que eles tocaram Rádio Pirata 3 vezes, por conta da gravação do clipe. Mas o show, no dia, foi bem legal. Mais de 3 horas de show. Carlos Maltz tocou bateria numa música. Humberto atendeu inumeros pedidos dos fãs… Gosto do 10.000 Destinos, mas poderia ter sido ainda melhor…
Costumava não ser muito fã das letras do Humberto e ver gente fazendo comentários jocosos a respeito delas, mas felizmente mudei de ideia há um bom tempo. Em um meio no qual letras legitimamente boas são poucas, Humberto consegue imprimir personalidade em seu texto, foge de clichês e apresenta uma métrica geralmente menos convencional (afinal de contas, ao menos pra mim, uma boa letra não apenas é boa no papel, mas em meio às melodias).
Bacana, Diogo. Sempre gostei muito das letras que ele escreve. Para mim, ele está entre os melhores letristas dessa cena brasileira dos anos 80. Acho que ele só perde pro Renato Russo e pro Arnaldo Antunes. Mesmo o Cazuza, acho que ele dá pau.