The Yardbirds – The Very Best Of The Yardbirds [1991]
Por Mairon Machado
Coletâneas sempre são difíceis, para mim, de poder dar uma descrição. Afinal, a gravadora que resolve investir a mídia para ganhar alguns vinténs em cima de determinado artista geralmente gosta de trazer os grandes sucessos, ou, se o lançamento é focado para um determinado país, com faixas que fizeram sucesso somente lá. Dificilmente irá adentrar em canções mais desconhecidas ou raridades, principalmente se for um Best of ou Greatest Hits. Imagine então um The Very Best Of???
Bom, esse não é o caso no The Very Best Of The Yardbirds (Featuring Eric Clapton, Jeff Beck & Jimmy Page), lançado pelo selo Music Club em 1991 somente na Inglaterra. Como o complemento do nome já diz, o álbum possui a intenção de apresentar aos fãs um apanhado da passagem de três dos maiores guitarristas da história pela banda mais importante da história, só que não é bem assim. O breve encarte, de apenas duas páginas, já traz a rasgação de seda para Clapton e Beck, e trata com certo desprezo a passagem de Page pela banda, criticando fortemente o disco Little Games (1967) e dando uma espécie de “graças a Deus” pelo álbum não se fazer presente no lançamento.
O foco são os discos com Clapton (a saber Five Live Yardbirds e For Your Love) e Beck (Having A Rave Up With The Yardbirds e Yardbirds, também conhecido como Over, Under, Sideways, Down ou Roger the Engineer), e como são poucos álbuns, a coletânea se torna então um belo aperitivo para se mergulhar em uma obra tão importante e relevante.
A fase Clapton é a mais bem representada. Aqui estão “A Certain Girl”, “Boom Boom”, “For Your Love”, “Good Morning Little School Girl”, “Heart Full Of Soul” e “I Wish You Would”. É a fase “adolescente” dos britânicos, voltados para o rhythm ‘n’ blues, e que fez o Deus da Guitarra Clapton pedir o boné devido ao sucesso de “Good Morning Little School Girl”. Ao ouvir essas faixas, o mais legal de tudo, além da jovialidade do quinteto formado por Clapton, Keith Relf (vocais, harmônica), Chris Dreja (guitarra base), Paul Samwell-Smith (baixo) e Jim McCarty (bateria), é que aqueles solos inspirados de Clapton nas épocas de Cream, Derek and the Dominoes, Blind Faith, …, já começavam a ser moldados lá no distante 1965. As letras juvenis de “A Certain Girl”, “Boom Boom”, a citada “Good Morning Little School Girl” e “I Wish You Would” causam uma risada gostosa, e musicalmente, é bom ouvir um rock simples e bem tocado de vez em quando. Destaque maior para “Heart Full Of Soul”, com um riff certeiro e um solo simples mas que levanta defunto.
Já com Beck, começam as explorações musicais que marcaram a segunda fase do grupo, através de canções próprias e praticamente um afastamento do rhythm ‘n’ blues, que está presente apenas no pop “I’m Not Talking”. Dessa fase temosos cantos gregorianos de “Still I’m Sad”, composta por McCarthy e Samwell (dando um aperitivo do que viria a ser o Renaissance três anos depois) e os mega sucessos “You’re A Better Man Than I” e “Shapes Of Things”, essa última regravada posteriormente pelo próprio Beck no seu álbum de estreia em carreira solo, Truth (1968), com uma magistral interpretação vocal de Rod Stewart. Além disso, faz mais um riff e solo marcante em “Evil Hearted You”, e cria sua primeira obra-prima, o boogie “Jeff’s Blues”. Fechando a fase Beck, “New York City Blues” (intitulada apenas “New York City”), a canção mais obscura do lançamento, já que saiu apenas como lado B do compacto de “Shapes of Things”, e a revisitação ao blues de “I’m A Man”.
Temos então um pequeno atrativo, que é essa raridade de “New York City Blues”, mas ainda há mais. A reta final do CD conta com sete faixas registradas ao vivo. O encarte menciona que elas fazem parte originalmente de Five Live Yardbirds, mas não é a realidade. As faixas são: “Pretty Girl”, “Respectable”, “Smokestack Lighting”, “Too Much Monkey Business”, “Let It Rock”, “You Can’t Judge A Book By Its Cover” e “Who Do You Love”. Dessas, as quatro primeiras somente fazem parte de Five Live Yardbirds. As demais só foram aparecer de forma oficial no raro London 1963 – The First Recordings! (1981) e no relançamento desse álbum em 2003. Ou seja, ao levar essa coletânea para casa, além de ter um belo apanhado do melhor dos Yardbirds, irá também levar algumas raridades relativas a banda, principalmente relacionadas a essa apresentação no Craw Daddy, em 1963, que acabou culminando em canções de Five Live e também de Sonny Boy Williamson & The Yardbirds (1965).
Encerrando o track list, uma única canção com Page, batizada de “Stroll On”, na qual é possível perceber também que o gigantes que conquistou ao mundo com o Led Zeppelin já estava bem vitaminado e pronto para fazer sucesso junto aos The Yardbirds. The Very Best Of The Yardbirds é passível de ser interpretado como um belo caça-níqueis, mas vou além. Para quem não conhece a obra da (repito) banda mais importante de todos os tempos, é um disco quase que essencial.
Track list
1 For Your Love
2 Heart Full Of Soul
3 Good Morning Little School Girl
4 Still I’m Sad
5 Evil Hearted You
6 A Certain Girl
7 Jeff’s Blues
8 I Wish You Would
9 New York City
10 I’m Not Talking
11 You’re A Better Man Than I
12 Shapes Of Things
13 I’m A Man
14 Boom Boom
15 Smokestack Lighting (Live)
16 Let It Rock (Live)
17 You Can’t Judge A Book By Its Cover (Live)
18 Who Do You Love (Live)
19 Too Much Monkey Business (Live)
20 Respectable (Live)
21 Pretty Girl (Live)
22 Stroll On
Heart Full of Soul foi o primeiro single da banda com Jeff Beck. A gravação original era para ter uma cítara na introdução, mas como a banda não gostou do resultado, Beck plugou a guitarra num pedal fuzz e produziu aquele som. A música foi gravada em sua versão definitiva em abril de 1965 (Eric Clapton saíra em março), e as duas versões podem ser ouvidas na box set Train Kept A’Rollin – The Complete Giorgio Gomelsky Productions, lançada em 1993 pela Charly Records e relançada pela Snapper Music em 2005 como The Yardbirds Story. A origem da confusão parece residir no fato de que a capa do single nos EUA trazia Eric Clapton na foto.
Outra coisa, Clapton saiu porque não gostou do sucesso pop de For Your Love, não por causa de Good Morning Little Schoolgirl.
Obrigado Marcello. As informações do texto eu retirei do próprio insert, mas agradeço os seus comentários e a indicação desse box. Vou atrás! Abraços