Melhores de 2020: Por André Kaminski

Melhores de 2020: Por André Kaminski

Por André Kaminski

Mais um daqueles anos complicados. Mesmo com todos os problemas que passamos em relação a este ano horrendo e com lançamentos em bem menor número em relação a anos anteriores, ainda gostei mais dos discos que ouvi desta lista do que a do ano passado. Tentei procurar bandas novas e velhas dentro dos estilos que mais gosto e esta lista surgiu, com alguns nomes que já vi em várias outras e alguns que percebi que passaram batido (mas não por mim) pelas principais publicações e sites que envolvem o rock. Vejam aí o que pode interessá-los.


Slift – Ummon [space rock/stoner rock]

Uma mistura de space rock com stoner foi o que eu achei mais interessante nesse ano. Como manda o stoner, há muito fuzz e wah wah na guitarra e no baixo e distorção levada ao extremo. A parte “space” é feita toda através dos pedais da guitarra e sem teclados em conjunto com o baixo e bateria. Apesar do estilo stoner geralmente trazer um ar mais melancólico e lento, esses franceses optam por adicionar mais velocidade e energia fazendo você viajar na sonoridade. É um trio só de baixo, guitarra e bateria, mas a quantidade de pedais que usam dando os mais diferentes efeitos fazem o som dos caras muito rico. Foram ignorados na maioria das listas, mas para mim, foram os melhores do ano.


Nina – Synthian [synthwave]

Um movimento que poucos tem notado mas que vem acontecendo dentro do underground europeu e que vem gerando lançamentos muito bons nos últimos cinco anos: o synthwave. Este estilo é fortemente influenciado pelas trilhas sonoras oitentistas e a new wave, fazendo uma sonoridade que remete àqueles sintetizadores bem datados, bateria eletrônica e um visual meio futurista e cheio de referências à noite, as metrópoles e ao neon. A cantora alemã Nina Boldt não é nenhuma jovenzinha, mas uma mulher de 38 anos que só nos últimos 3 anos conseguiu lançar seus dois primeiros discos. Este segundo trabalho Synthian é um disco belíssimo. Vejo aqui fortes influências de Madonna e Berlin em suas músicas. A voz de Nina também é lindíssima, desde aquele sussurrado extremamente sexy até agudos marcantes. Quem ama synthpop, new wave, trilhas sonoras oitentistas, bateria eletrônica e cabelos cheios de permanente deve ir atrás agora mesmo desde álbum.


Light Field Reverie – Another World [gothic/doom metal]

O Light Field Reverie é um projeto totalmente novo que une dois membros da banda sueca Sojourner (o guitarrista e tecladista Mike Lamb e o baixista Scotty Lodge) junto a vocalista Heike Langhans que integra o Draconian. Lançaram seu primeiro disco agora no final de novembro, Another World, do qual já me impressionou logo de cara com o bom gosto pelos teclados e guitarras e pela cozinha de baixo e bateria dando aquela pegada “gothic/doom” que tanto aprecio. Os temas não são a costumeira melancolia e sentimentalismo, mas sim por mundos fantasiosos presentes em filmes, livros e videogames. A voz de Heike é encantadora e os outros dois membros não deixam por menos, criando um instrumental que consegue unir perfeitamente o peso do metal e uma certa beleza e elegância em termos de arranjos com aquele clima etéreo muito comum em praticamente todas as bandas e composições que a vocalista participa. Fazia um tempo que um disco nesse estilo não me agradava tanto quanto ao que eu ouvi aqui. Espero que este projeto não se resuma a apenas este álbum.


Tenderlonius – Quarantena [jazz-funk/synth-funk]

Também fazendo uso extensivo de sintetizadores, o britânico Tenderlonious – preso na quarentena britânica – se fecha no estúdio para gravar e lançar este álbum. É uma mistura de jazz e funk em uma roupagem moderna e em um estilo lo-fi com uma criatividade impressionante na hora de escolher os sons dos teclados acrescentando uma bateria eletrônica que emula muito bem alguns ritmos negros. Um disco instrumental muito agradável e de um estilo ainda pouco explorado e que me impressiona como poucas pessoas o divulgaram. É aquela coisa… “não sejam presos ao passado, vão atrás de bandas novas” mas muitos quando liberam suas listas são apenas as “bandas novas que algumas gravadoras divulgam por aí”. Pessoal precisa olhar com mais carinho para o underground do underground.


Abel Ganz – The Life of Honey Bee and Other Moments of Clarity [progressive rock]

Um disco progressivo bem ao estilo noventista, embora os veteranos escoceses do Abel Ganz estejam por aí desde os anos oitenta. Sendo contemporâneos de Marillion, IQ e Pendragon, a banda lança este álbum sem muitas novidades em termos de arranjos, mas tudo muito bem feito e bem reproduzido por esses veteranos que sabem bem o que faz. Muitas quebras de ritmos, teclados, vários solos e instrumentos diferentes tudo isso compactado em músicas que preferem a parte mais enérgica do prog ao invés do etéreo ou do contemplativo. Um grande disco prog do estilo mais noventista; se aprecia este período não tem erro.


Sepultura – Quadra [thrash/groove metal]

Se tem uma coisa que nunca ninguém pode reclamar em relação ao Sepultura é dizer que eles são acomodados. Eles estão sempre buscando novas influências, adicionando instrumentação ou elementos novos e um disco nunca foi igual ao outro. Aqui vejo que colocaram umas orquestrações, usaram uns pedais de sintetizador e mesmo um coro de vozes em alguns momentos dando um ar mais “classudo” para o thrash/groove que a banda faz. Este disco tem sido muito elogiado e vem entrando em diversas listas mundo afora e com merecimento. O Sepultura já há um bom tempo tem nos trazido lançamentos instigantes e sempre buscando inovar e aqui não foi diferente.


Fairport Convention – Shuffle and Go [folk rock]

Aqui a impressão é que o Fairport Convention não saiu dos anos 60 e isso não é um demérito. Pelo contrário, é um disco muito gostoso e animado de se ouvir que parece ter saído diretamente de um período mágico da música. A banda que conta já com impressionantes 53 anos de carreira sempre lançou discos ao longo dos anos sendo este o seu trigésimo segundo álbum de estúdio. Sempre fiel ao seu rock misturado ao folk inglês, ao celta e algumas pequenas influências progressivas, temos aqui um disco para você curtir perfeitamente deitado em uma rede na sua casa de campo enquanto a carne assa na churrasqueira.


Lunatic Soul – Through Shaded Woods [progressive folk rock]

Projeto de Mariusz Duda, vocalista e baixista do Riverside, neste disco ele prefere tomar mais como base a música folclórica polonesa com mais uma grande dose de progressivo para sair com um som que em certos momentos é atmosférico, em outros medieval e com aquele climão meio ritualístico pagão. Sem usar guitarras e usando baixos que as vezes simulam um violão ou mesmo uma guitarra elétrica, Mariusz faz meio que um apanhado de canções com temáticas envolvendo florestas, paganismo, druidismo e espiritualismo com um foco maior no instrumental e letras curtas, mas diretas. Solos, muitos licks de diferentes instrumentos e uma sonoridade rica é o que se ouve por aqui, tudo composto e tocado pelo próprio músico. O disco é muito diferente do Riverside, por isso, tirando o vocal do polonês autor da obra, não espere muita similaridade com a banda principal.


StarBenders – Love Potions [glam rock]

É até curioso isso, mas se lembrarmos bem, não haviam muitas mulheres que faziam o típico vocal sleaze das bandas glam oitentistas. As que eu me lembro de mais destaque são Maxine Petrucci do Madam X, Lita Ford em sua carreira solo do período, Joan Jett (nem sempre, mais nos singles) e Janet Gardner do Vixen. Doro, Lee Aaron, Suzi Quatro e outras vocalistas preferiam mais o limpo e os drives. Pois o StarBenders é uma banda de 2014 com dois discos lançados (sendo este o segundo) em que eles resgatam o glam e o sleaze dos anos 70 e 80 com direito a vocais enjoados, visual colorido, cabelos cheios e todas as frescuras que a galera do glam adora. E como sempre, os temas líricos contém amor, tiradas sexuais de duplo sentido, malícia, festas e tudo mais. Bem, eu gosto dessas bandas e Love Potions traz um pouco desse período com novas composições divertidas e vibrantes.


Allen/Olzon – Worlds Apart [symphonic/power metal]

A gravadora italiana Frontiers Records volta e meia solta uns projetos envolvendo integrantes de diferentes bandas. Alguns saem muito bons, outros nem tanto. Eu gostei desse aqui com um instrumental power metal bem agradável e envolvendo dois cantores que gosto bastante. Os temas das letras são uma espécie de romance entre um casal com personalidades opostas, bem representada pela capa. Não há novidades ou inovações quanto ao projeto, mas sim um ótimo e velho power metal bem feito e bem executado com dois vocalistas conhecidos e que caem bem em meu gosto.


Outros discos que recomendo:

Ayreon – Transitus [progressive metal]

Lovebites – Electric Pentagram [power metal]

Passion – Passion [hard rock]

Thanatos – Violent Death Rituals [death/thrash metal]

The Spacelords – Spaceflowers [space rock]

Undeath – Lesions of a Different Kind [death metal]

5 comentários sobre “Melhores de 2020: Por André Kaminski

    1. A situação não ajudou muito os lançamentos e eu também ouvi menos do que gostaria. Espero que nesse ano seja melhor.

  1. Da sua lista ouvi o Slift e o Lunatic Soul – gostei de ambos, são bons discos. E me interessei em conhecer vários outros da lista.
    Abraço!

  2. Aqui estou eu, diretamente de 2024, lendo os melhores desta lista e descobrindo que somente o Sepultura eu tinha ouvido… Ah, as listas, como gosto de listas… Parabéns, André, não só por essa seleção maravilhosa de 2020 (gostei de todos!), como pelos seus textos.

    1. Muito obrigado pela consideração, Marcelo. E eu te agradeço por estar sempre participando conosco aqui em nosso humilde site. Aqui sempre será bem vindo! Abraços!

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