Direto do Forno: A Claque – Singles [2020]

Direto do Forno: A Claque – Singles [2020]

Por André Kaminski

Há uns meses, o baterista André Carvalho entrou em contato conosco sobre a possibilidade de nós resenharmos o trabalho de sua banda, A Claque. Infelizmente a mensagem dele nos passou batido e agora no final do ano quando eu estava revendo as nossas mensagens recebidas é que notei a deles sem resposta. Coincidentemente, eu também estou resenhando para algumas bandas nacionais e então aproveitei a fase para ajudar no que me for possível um pouco que seja sobre o trabalho autoral deles. Comentarei com mais detalhes esta minha ajuda à algumas bandas em um texto que publicarei lá pela metade de fevereiro.

O leitor mais atento vê em nosso site que, no geral, nos focamos um tanto mais em bandas do passado que gostamos e por isso a grande maioria dos nossos textos são elogiando trabalhos que apreciamos. Nunca nos preocupamos (muito) com textos com os lançamentos mais quentinhos do mercado da música. Há outros sites que fazem esse trabalho muito melhor do que nós. Por isso, comentei com o André que quando aceitamos fazer estas resenhas, falamos com sinceridade e sem os tradicionais “tapinhas nas costas” que vemos em muitos textos por aí em relação ao trabalho das bandas nacionais que não ajudam em nada a banda a enxergar suas qualidades e defeitos.

Ele disse que não há problema nenhum quanto a isso. Ou seja, é uma banda que aceita críticas honestas. Isso é um ponto muito favorável a eles, um sinal de que é uma banda que almeja crescer e melhorar. É o tipo de banda com uma postura que respeito, porque há muitas bandas ainda pequenas que já possuem um ego inflado demais e que acham que são a futura revolução do rock.

Com isso em mente vamos ver o que temos por aqui. A Claque é uma banda da capital de São Paulo formada por três integrantes que, como eles mesmo já dizem, estão longe de serem garotos mas que montaram um projeto para fazer uma música autoral. A banda é formada pelo já mencionado André Carvalho (bateria) e Érico Oliveira (baixo) que depois encontraram Júlio Oliveira (guitarra e vocais) para completar o grupo. De acordo com o baterista, eles tentaram encontrar alguém dedicado aos vocais mas como não conseguiram (e de fato, vocalistas são um artigo raro), o próprio Júlio teve que encarar o microfone.

A banda já gravou três músicas que farão parte de um futuro álbum.

A primeira música que ouvi foi “Todo Ouvidos”. A própria imagem que usaram para o single, com referência a capa do London Calling do The Clash, já dá a dica que é uma música com influência do punk. A banda em si toca um rock mais clássico e direto, na linha do Rolling Stones e do The Who, mas possui músicas com influências de outros estilos. E apesar de eu particularmente não ser muito do punk, eu gostei bastante da canção e principalmente da abordagem da banda em relação às letras. Começa com uma intro de bateria (o que é ótimo, parece que as bandas atuais esquecem que outros instrumentos podem iniciar uma canção, ao invés de apenas as guitarras) e logo em seguida aquela progressão simples do punk surge. A letra conta uma historinha mesmo, de um sujeito voltando e ter contato com uma ex e desabafando. As rimas estão muito boas e destacam bem a mensagem passada. Eu gosto muito quando as letras contam algo ao invés de apenas falar frases muitas vezes sem nexo mas que soam “inteligentes”. Porém, agora a curiosidade é: e a resposta da moça? Vai ter uma música terminando essa historinha? Não dá de deixar o “causo” sem solução.

 

A segunda música se chama “Herói de Facebook”. Ela usa de bom humor e tiradas muitos boas em suas rimas para criticar o povo chato que quer mudar o mundo através das redes sociais. O instrumental eles usam uma espécie de “brega rock” com um instrumental de rock unido a melodias ao estilo Reginaldo Rossi. Todavia, aqui vai meu primeiro alerta: a letra na maior parte tece críticas que poderíamos usar aos dois lados das discussões políticas rasas das redes sociais e isso foi feito de forma brilhante, porém, no momento em meio e ao final da canção, a banda toma partido bem claro de um dos lados ideológicos. Querendo ou não, isso soa meio que contraditório a todo o sarcasmo anterior que foi executado tão bem. Se retirassem essas partes para não tomar partido, eu acredito que a música ficaria perfeita para o momento atual. Mas aí vai da escolha da banda em querer fazer parte dessas discussões. Em termos de mercado, você acaba fragmentando o seu público. Porém, se não há qualquer pretensão mercadológica ou não se importam com o momento acalorado que anda o Brasil, aí desconsiderem a minha crítica que a música funciona muito bem.

A terceira e última canção se chama “Caixa Dois”. E de longe, a melhor música das três. Humor ácido, muita ironia, rimas excelentes. Refrão marcante. Críticas políticas fortes e bem feitas. Na parte vocal e instrumental, o Julio canta de uma maneira muito bacana. Esse é um tom que ele interpreta muito bem e soa muito agradável aos ouvidos. Os backing vocals também estão bem encaixados. É um rock com uma tonalidade sessentista, mas com um jeitão hard rocker que poderíamos facilmente chacoalhar os cabelos. Parabéns, grande faixa.

Essa seria A Claque, a princípio. Uma banda que me surpreendeu positivamente. Eu estava olhando os vídeos de vocês e vi que há uma porção de pedais de efeitos ali para guitarra e baixo. Nestas três músicas eles não foram ainda completamente explorados. Eu recomendaria fazer novas composições explorando ainda mais eles e viajando bastante, com o bom humor que possuem. E quando tiverem o disco pronto que se empenhem em boas fotos de divulgação e muito trabalho nas redes sociais para crescerem. E mantenham o tom bem humorado que isso é muito bem vindo. No mais, boa sorte e sucesso à banda!

 

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