Discografias Comentadas: Bon Jovi (Parte II)
Após o término da turnê que promoveu These Days (1995), em 1996, o Bon Jovi entrou em mais um hiato. Dessa vez, ao contrário do tempo que a banda deu entre New Jersey (1988) e Keep the Faith (1992), a questão foi tranquila e bem planejada, permitindo que os integrantes pudessem se dedicar a trabalhos individuais. Jon Bon Jovi lançou Destination Anywhere (1997), bastante diferente de seu primeiro álbum solo, Blaze of Glory (1990), e investiu fortemente em sua carreira como ator. Richie Sambora também editou mais um disco, o ótimo Undiscovered Soul (1998). O hiato foi interrompido no início de 1999, quando o grupo, sem contar com o tecladista David Bryan, que havia lesionado um dedo, compôs a música “Real Life” para a trilha sonora do filme “EDtv” e gravou um videoclipe para a faixa. Em seguida, foi a vez de retomar a carreira de vez e preparar um novo álbum, que reservaria mais uma adaptação aos novos tempos.
Crush [2000]
Os anos 90 ficaram marcados pela conquista de um público mais adulto e pela aquisição de uma boa dose de respeito proveniente da crítica, que enxergou em Keep the Faith e These Days álbuns de conteúdo mais maduro e uma banda consciente das mudanças do mercado fonográfico, mas que não se deixou levar por tendências momentâneas. Em Crush, o grupo demonstrou que continuava antenado com o que se passava ao redor e operou mais uma importante ruptura em sua carreira. Ao invés de apenas satisfazer seus fãs conquistados nos anos 80 e 90, que estavam envelhecendo, o Bon Jovi também mirou a juventude, buscando renovar sua base de admiradores e conquistar pessoas que nunca haviam ouvido falar na banda.
O resultado foi aquele que é possivelmente o mais variado disco de sua carreira, mas mesmo assim coeso, demonstrando que o tino para boas composições continuava intacto. O sucesso foi imediato, puxado pelo hit mundial e primeiro single “It’s My Life”, que, guardadas as devidas proporções, pode ser encarada como a “Livin’ on a Prayer” do ano 2000, incluindo o uso do talk box por Richie e uma citação ao casal Tommy e Gina, protagonistas do sucesso de Slippery When Wet (1986). No geral, Crush trouxe um Bon Jovi cada vez menos hard e mais pop rock, mas isso não representou uma verdadeira surpresa, afinal, a formação sempre foi guiada primordialmente por boas melodias, e não essencialmente por riffs de guitarra. Prova disso são diversas músicas que permeiam o track list, a começar pela canção mais “beatles” da carreira do grupo, a divertida “Say It Isn’t So”.
Outras faixas repletas de melodias agradáveis são “Captain Crash and the Beauty Queen From Mars”, com um pé na década de 70, incluindo citações ao personagem Ziggy Stardust, criado por David Bowie; a balada “Save the World”, remetendo a momentos mais ingenuamente passionais de épocas anteriores; e uma de minhas favoritas, a suave “Mystery Train”, dona de um ótimo refrão e de uma letra inspirada. Também estão entre minhas favoritas “Two Story Town”, outra a trilhar um caminho mais voltado ao pop rock, e “Next 100 Years”, mais próxima ao estilo adotado em These Days, e que também conta com um solo à moda antiga de Sambora, executado sobre uma base carregada por sopros, bastante diferente do restante da faixa. Ainda melhor do que essas é uma música que não apenas é o grande destaque de Crush e um clássico instantâneo, mas sintomática da consciência do grupo para com sua própria situação e do conforto em ser quem são: “Just Older”.
Sequência natural do trabalho realizado nos anos 90, a faixa demonstra maturidade e empolga do início ao fim, não à toa tornando-se uma das preferidas para serem executadas ao vivo. O track list ainda apresenta a bem sucedida balada “Thank You For Loving Me”, boa, mas não tão recomendada para aqueles que não gostam muito do Bon Jovi apresentando-se nesse formato; “She’s a Mistery”, que, apesar de mais reflexiva, representa um ponto baixo no disco; “I Got the Girl”, também sem tantos atrativos; e finaliza com “One Wild Night”, a mais hard e festeira do álbum, fechando um disco marcante, que pode não ser tão bom quanto seu predecessor, mas foi tão bem sucedido quanto (ou mais, dependendo do mercado) e obteve êxito em apresentar o Bon Jovi a uma nova geração de fãs, mantendo as apresentações lotadas e marcando mais uma turnê bem sucedida.
De todos os discos lançados após Crush, Bounce talvez seja o que mais remete ao passado do Bon Jovi. Apesar de não fugir tanto assim à linha mais pop rock de seu antecessor, é notável a presença de guitarras mais pesadas, algo que fica evidente tão logo é dado o play na primeira faixa, “Undivided”. Com um peso inicial que chega a assustar os desavisados, a música é ganchuda e baseia-se fortemente nas guitarras musculosas de Sambora.
Muito desse tom mais agressivo deve-se ao fato de grande parte de Bounce ter sido composto logo em seguida aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, fato ilustrado nas letras de algumas canções, mas que não chega a transformar o registro em um álbum conceitual.“Everyday”, outra que traz a guitarra em destaque, soa como uma sequência natural de “It’s My Life” e também faz parte do grupo de músicas relacionadas à tragédia norte-americana.
Além disso, evidencia o forte uso de efeitos eletrônicos ao longo do disco, mas que não se sobressaem em excesso, apenas emprestando um lustro de modernidade a faixas escritas em moldes mais tradicionais. Uma delas é a ótima e subestimada “The Distance”, que facilmente encontraria lugar em Keep the Faith eThese Days. Outra criminosamente ignorada (inclusive pela banda) é a balada “Joey”, que é lindamente conduzida pelo piano de David Bryan. Longe de ser uma canção de sentimentalismo exacerbado, é cheia de potencial para ter se transformado em single, fato que infelizmente não ocorreu. Editada nesse formato e especialmente bem sucedida no Brasil foi “Misunderstood”, que fez parte da trilha sonora da novela “Mulheres Apaixonadas”.
Particularmente, não tenho grande apreço pela faixa, que até é boa, mas come poeira em relação a tantas outras que seguem uma linha mais pop rock, tanto em Bounce quanto em Crush. Uma dessas músicas é “Love Me Back to Life”, que traz arranjos de cordas ao lado da guitarra classuda de Sambora, e outra é a balada “Right Side of Wrong” que retoma o tom épico urbano estilo classe trabalhadora, destacando-se em relação às outras baladas restantes no track list, caso da suave “You Had Me From Hello”, de “All About Lovin’ You”, dona de um ótimo refrão, e daquela que fecha o disco, “Open All Night”, cuja letra relaciona-se ao personagem interpretado por Jon na série norte-americana de televisão “Ally McBeal”.
O track list ainda é completo pela moderna “Hook Me Up”, carregada de distorção e provavelmente a mais hard do disco, e pela faixa-título, mais uma a trazer uma boa dose de peso e refletir os ataques de 11 de setembro. Bounce pode não trazer um clássico da estirpe de “Just Older”, mas é, em geral, um álbum tão bem resolvido quanto seu antecessor, e tem mais chances de agradar tanto aqueles que preferem o Bon Jovi mais hardeiro dos anos 80 quanto o caminho mais adulto que o grupo traçou durante os anos 90. Pouco após o término da turnê promocional, o grupo lançou a coletânea This Left Feels Right (2003). Inicialmente projetado como um disco de versões acústicas, o registro acabou tornando-se um álbum que, sim, trouxe novos e antigos clássicos com instrumentos desplugados, mas também incluiu uma série de overdubs e arranjos que descaracterizaram totalmente as versões originais, emprestando às faixas uma certa pecha alternativa, algo que nunca combinou bem com o Bon Jovi. Em geral, o disco é um erro, mas felizmente esse deslize seria compensado com o ótimo registro seguinte.
Crush e Bounce abriram a nova década com classe, mostrando que, mesmo sem a relevância do passado, o Bon Jovi ainda era capaz de satisfazer a maior parte de seus antigos admiradores, angariar novos fãs e manter seu sucesso nos palcos ao redor do mundo.
Apesar dos bons resultados obtidos com esses lançamentos, o equilíbrio entre referências do passado com a modernidade foi ainda melhor sucedido, na opinião deste fã, em Have a Nice Day. Apesar de algumas inconsistências, o álbum tem como trunfo uma sequência inicial de tirar o fôlego, que só não é perfeita por poucos detalhes, empolgando os fãs como havia muito tempo o grupo não empolgava. Se em Crush tivemos “It’s My Life” e emBounce há “Everyday”, em Have a Nice Day a faixa-título deu sequência à saga com qualidade ainda maior, abrindo o disco com os ânimos em alta e apresentando um Bon Jovi ainda com muito fôlego, soando tão hard quanto no predecessor e sem esquecer de carimbar mais um refrão pronto para angariar o público nos estádios e arenas.
Lembra dos poucos detalhes que fazem com que a sequência inicial de faixas não seja perfeita? Pois bem, esses detalhes referem-se a “I Want to Be Loved”, que certamente é uma boa canção (melhor do que grande parte do material que a banda apresentaria no futuro), mas não faz jus à anterior e às quatro seguintes. A primeira delas é “Welcome to Wherever You Are”, que, apesar de fazer o Bon Jovi parecer uma banda de rock cristão, é uma das mais empolgantes músicas criadas pelo grupo em muito tempo, mas que vergonhosamente não se tornou um hit mundial, apesar de ter desempenhado um bom papel em alguns países europeus.
Melhor sucedida foi “Who Says You Can’t Go Home”, um pop rock agradável que versa sobre as raízes do grupo em New Jersey, mas que obteve ainda mais êxito quando lançada como single em sua versão country, contando com os vocais divididos com a cantora Jennifer Nettles (da dupla Sugarland) e atingindo a primeira posição na parada da Billboard voltada ao mercado country. “Last Man Standing” honra com dignidade o lado mais hard rock e voltado a riffs de guitarra da banda, além de refletir a opinião de Jon a respeito do mercado fonográfico atual e contar com Richie em ótima performance, solando com brilho e segurança.
A ótima sequência inicial é fechada com a fantástica e ambiciosa “Bells of Freedom”, demonstrando que o Bon Jovi ainda tinha segurança para compor e executar canções de caráter mais épico. “Wildflower” e “Last Cigarette” dão uma esfriada nos ânimos, apesar da bela letra da primeira e de algumas guitarras mais empolgantes da segunda. O nível mais elevado é retomado com “I Am”, dotada de um refrão de tirar o fôlego e certamente digna de fazer parte da citada sequência inicial. O mesmo não pode ser dito da explicitamente pop “Complicated”, que parece tentar soar moderna mas acaba sendo frustrante.
O nível se eleva um pouco com “Novocaine”, mas que ainda assim fica deslocada em um disco que conta com músicas tão boas quanto “Welcome to Wherever You Are”, “Bells of Freedom” e a faixa-título. Em seu track list original, o álbum encerra-se com a pop rock “Story of My Life”, que, apesar de ser superior às duas antecessoras, não difere muito de tantas outras bandas de rock que passeavam pelo mainstream nos idos de 2005. Apesar de uma nítida queda de qualidade em sua segunda metade, Have a Nice Day compensa os ouvintes através das faixas aqui efusivamente elogiadas, e, para mim, constitui o melhor álbum abordado nesta segunda parte da discografia comentada do grupo. Não posso deixar de citar também que, desde 2005, a banda é acompanhada ao vivo pelo guitarrista Bobby Bandiera, que já havia tocado com Jon em Destination Anywhere e também é conhecido por integrar o Southside Johnny and The Asbury Jukes, banda do Estado de New Jersey.
O êxito obtido com a versão country de “Who Says You Can’t Go Home” pareceu ter provocado uma reação em especial no quarteto. O passo seguinte foi capitalizar nesse sucesso e criar um álbum inteiro que supostamente apontaria nessa direção, adotando a música country como inspiração. Disse “supostamente” pois, na verdade, Lost Highway não se diferencia tanto assim do que o Bon Jovi vinha apresentando em seus últimos lançamentos.
É claro que o uso de instrumentos e a criação de arranjos mais evidentemente ligados ao estilo tradicional norte-americano dá as caras em diversas faixas, assim como a veia mais hard do grupo foi atenuada, mas o material não chega a destoar a ponto de desagradar os fãs conquistados ao longo do tempo. Prova disso foi o sucesso mundial do disco, que estreou na primeira posição na parada de álbuns da Billboard e de diversos outros países.
Apesar desse lado positivo, o direcionamento estilístico proposital seguido no registro acabou desagradando algumas pessoas, entre as quais me incluo. Mais do que isso, a força das composições, em geral, não se mostrou tão poderosa quanto nos discos antecessores. Em geral, as músicas não chegam a agredir, apenas não são tão cativantes quanto se esperava do Bon Jovi. A faixa-título inicia o track list com um bom momento e representa bem o que explanei a respeito de Lost Highway: os arranjos até podem ter sido influenciados pela música country, mas, essencialmente, trata-se de uma canção com a marca registrada da banda.
“Summertime” confirma ainda mais minha tese e evidentemente teria lugar nos álbuns anteriores, assim como “(You Want to) Make a Memory”, tentativa frustrada de fazer jus às boas baladas de caráter mais suave gravadas pelo grupo. “Whole Lot of Leavin’” segue mantendo a mistura de country pop contemporâneo com o pop rock que o Bon Jovi já vinha fazendo com competência nos lançamentos anteriores e agrada, tal qual “We Got It Going On”, que conta com a participação da dupla country Big & Rich tanto na gravação quanto na composição, resultando em uma das músicas mais sacolejantes do disco. Apesar de nenhuma das músicas já citadas chegarem a incomodar os fãs mais compreensivos, a primeira verdadeira dose de empolgação aparece apenas na sexta faixa, a fantástica “Any Other Day”, certamente uma das melhores canções criadas pelo Bon Jovi desde o retorno com Crush, e, para mim, único verdadeiro clássico cunhado em Lost Highway, mostrando um Richie Sambora em ótima forma.
É uma pena que não seja executada ao vivo com muita frequência, pois funciona muito bem nesse formato. A seguinte, “Seat Next to You”, é mais uma balada sem a marca registrada das grandes músicas dessa estirpe cunhadas pela banda no passado, e, apesar de passar longe de ser ruim, não empolga. É possível citar, ao menos, os bons backing vocals de Hillary Lindsay, que também é coescritora da faixa. Outra que conta com uma participação especial é “Till We Ain’t Strangers Anymore”, balada que traz a cantora country pop LeAnn Rimes e certamente é a melhor canção desse gênero no disco. Mais duas do ramo das que nem fedem nem cheiram são “Everybody’s Broken”, melhorzinha, e “One Step Closer”. Boas músicas, mas pouco comparado ao que se espera do Bon Jovi. O panorama é bem melhor nas duas faixas que ainda não citei, “The Last Night” e “I Love This Town”.
A primeira lembra um tanto “I Am”, de Have a Nice Day, e, como ela, destaca-se entre o restante do track list, ficando abaixo apenas de “Any Other Day”. “I Love This Town” parece ter sido cunhada para finalizar apresentações ao vivo, dada sua possibilidade de interação com o público e até mesmo sua letra. Se em Lost Highwayo Bon Jovi teve a intenção de criar um álbum com sua marca registrada, mas salientando uma veia country contemporânea, é em “I Love This Town” que o resultado foi mais exitoso. No geral, o disco ainda agrada, mas, apesar da boa recepção comercial, pode ser citado como um deslize no âmbito musical.
Apesar de Lost Highway ter sido bem recebido, em The Circle o Bon Jovi deixou de lado quaisquer inspirações country e registrou um álbum em uma veia mais tradicional. Para aqueles que não haviam gostado muito do disco anterior, isso pareceu uma boa notícia, mas, na verdade, não é bem assim que as coisas ocorreram.
Apesar do bom início com “We Weren’t Born to Follow”, mais roqueira do que praticamente tudo o que está presente em Lost Highway, a situação degringola logo na segunda faixa, “When We Were Beautiful”, revelando o grande problema que permeia quase todo o track list de The Circle: a impressão de que o quarteto não quis ser o Bon Jovi em diversos momentos, cunhando faixas de evolução lenta e mal resolvidas, sem o impacto esperado do grupo, fator que inclui refrões grudentos, guitarras bem sacadas e, especialmente, a segurança em não ter vergonha alguma de fazer o que gosta, colocando o público sempre à frente da crítica. ‘When We Were Beautiful” não diz onde quer chegar e soa mais preocupada em agradar fãs de Coldplay (!) do que qualquer outra coisa.
“Work For the Working Man”, cuja linha de baixo remete a “Livin’ on a Prayer”, melhora um pouco a situação e deixa bem explícito o tom mais político do álbum, no qual diversas letras abordam a situação da economia norte-americana na época de sua concepção. “Superman Tonight”, apesar de ter um bom refrão, sofre do mesmo mal de “When We Were Beautiful”: dá a impressão de nunca chegar onde deseja, carecendo daquele momento que faz com que a intenção de balançar os punhos no ar seja inevitável. “Bullet” soa na mesma linha das canções mais modernas cunhadas desde Bounce, mas, apesar de um bom solo de Sambora, não consegue muito destaque, assim como “Thorn in My Side”, que não chama a atenção, apesar de também não desagradar.
“Live Before You Die” e “Fast Cars” são as tentativas mais próximas do Bon Jovi em executar baladas, mas certamente passam longe das ótimas canções registradas nesse formato em épocas anteriores, tanto em qualidade como na acepção clássica de uma power ballad. Apesar disso, “Live Before You Die” é uma boa música, certamente a melhor entre as duas. Os momentos realmente empolgantes presentes em The Circle ocupam as faixas 8 e 9 do track list e resumem-se a “Brokenpromiseland” e “Love’s the Only Rule”, únicas canções que provocam o ímpeto de selecionar o botão repeat dos aparelhos de som e que merecem continuar sendo tocadas em turnês posteriores à que promoveu o álbum. Ao contrário das anteriores, essas canções não cometem o erro de não buscar um clímax, satisfazendo aqueles que esperavam sim, um disco de rock atual, mas com a marca registrada do Bon Jovi.
Infelizmente, as duas músicas restantes não mantêm o nível elevado, apesar de, como o restante, não chegarem a agredir os ouvidos dos fãs tolerantes, que é meu caso. “Happy Now” tem mais cara de U2 do que de Bon Jovi (o que não é necessariamente ruim), e “Learn to Love” fecha The Circle de maneira semiacústica, morna como quase todo o track list. Em 2010, o quarteto lançou mais uma coletânea, simplesmente intitulada Greatest Hits, que, além de trazer os óbvios sucessos, inclui duas novas músicas, a balada “What Do You Got” e a pouco memorável “No Apologies”, que encontraria lugar facilmente em The Circle. Também foi lançada uma versão dupla, que contou com mais algumas favoritas dos fãs e trouxe duas novas canções, “This Is Love This Is Life” e “The More Things Change”, pouco dignas de menção.
Esse álbum foi precedido por mais um disco solo de Richie Sambora, o surpreendente Aftermath of the Lowdown (2012), cujas primeiras audições foram decepcionantes, mas, com o tempo e a compreensão da proposta, transformou-se em um pequeno destaque no ano em que foi lançado, especialmente devido à excelente “Seven Years Gone”.
Quanto a What About Now, a impressão que tive a respeito disco é a de que, em comparação com The Circle, as músicas estão, em geral, melhor resolvidas, não parecendo em eterna busca por um clímax que nunca acontece. A abertura e primeiro single, “Because We Can”, assusta negativamente, trazendo um Bon Jovi muito explicitamente pop e se esforçando demais por soar grudento, mas esquecendo de caprichar melhor na composição e nos arranjos. “I’m With You” desfaz a má impressão e soa em conjunção com o lado mais adulto e socialmente consciente aflorado no álbum anterior, assim como a faixa-título, que não ficaria deslocada em The Circle.
A seguinte, “Pictures of You”, fica devendo em relação às duas predecessoras, assim como a arrastada “Amen”, que soa como uma tentativa (frustrada) de Jon criar sua própria “Hallelujah”, clássico de Leonard Cohen seguidamente executado ao vivo pela banda. O nível se eleva com “That’s What the Water Made Me”, que tem uma introdução de bateria que remete a “Just Older” e soa como uma mistura entre o lado mais otimista de Have a Nice Day e a instrumentação de The Circle, constituindo um destaque no track list. A agradável “What’s Left of Me” tem a cara de Lost Highway e arranjos que caberiam nesse álbum, enquanto “Army of One” comete o mesmo erro de várias músicas presentes no predecessor de What About Now: não chegar a lugar algum, constituindo uma eterna progressão que não empolga em nenhum momento.
“Thick as Thieves” explicita o fato de que o Bon Jovi perdeu a mão para cunhar baladas memoráveis, soando inofensiva apesar dos interessantes arranjos de cordas e do bom solo de Sambora. “Beautiful World” vem em uma linha semelhante a “That’s What the Water Made Me”, mas não mantém o mesmo nível de qualidade, questão que não é auxiliada por “Room at the End of the World”, mais uma fadada a ser pouco lembrada pelos fãs em questão de pouco tempo. O track list original encerra-se com a acústica “The Fighter”, boa canção, mas que evidencia como poucas o desejo latente de Jon Bon Jovi em ser levado a sério como artista, afastando-se um pouco dos hinos perfeitos para serem entoados em estádios e arenas lotados.
Posso afirmar que What About Now está em um patamar semelhante ao de The Circle, fato que é negativo e o coloca em posição pouco privilegiada em relação a lançamentos anteriores, especialmente àqueles registrados entre 1986 e 1995. Além disso, o novo disco soa em busca de identidade própria, remetendo a álbuns anteriores mas não estabelecendo uma linha de trabalho bem definida. Em breve, estaremos publicando a terceira, e última parte, dessa matéria onde comentaremos a saída de Richie Sambora e os trabalhos lançados após sua saída.