Resenha de livro: Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal
Por Fernando Bueno
Os planos de Andre Matos (sem acento no ‘e’ como bem explica sua mãe) de fazer sua autobiografia foi enterrado junto à ele lá naquele trágico 09 de junho de 2019. Ele já havia externado que estava pensado e planejando escrever um livro e infelizmente esse projeto não foi concluído. Porém, para preencher esse espaço, recentemente foi lançado a biografia do músico pela editora Estética Torta e tendo como autores Eliel Vieira e Luis Aizcorbe.
Por se tratar de um biografado que era bastante avesso que sua vida particular fosse divulgada, o livro cobre e se aprofunda mesmo em sua carreira como artista. As poucas passagens que conhecemos de sua vida íntima é muito ligado à sua atividade intelectual como leitor voraz, ou como estudioso de vários temas que o interessaram ao longo de sua vida. Muito influenciado pelo seu avô, com quem vivia de fato, e seu pai, Andre devorava livros desde criança e se tornou um pequeno nerd. Aprendeu diversas línguas e isso se tornou o principal motivo de orgulho para sua mãe, maior até que o dom musical. Das poucas coisa mais pessoais o fato que ele foi garoto propaganda até da Disney aqui no Brasil, por conta do trabalho de seu pai como fotógrafo.
Mas é claro que para a maioria dos leitores é sua carreira musical que interessa mesmo e o livro cobre todos os detalhes que a grande maioria já conhecia, mas vai muito mais a fundo nos temas. Pela familiaridade com os temas é natural que o leitor consiga engatar horas seguidas de leitura sem que isso parece um esforço muito grande. Há muito tempo não lia um livro com tantas páginas em tão pouco tempo. Particularmente tive muito prazer de rever material de entrevistas que eu havia lido lá nos anos 90 nas diversas revistas que existiam no mercado.
As partes mais interessantes e que os fãs acabam por esperar são mesmo os motivos das várias separações e dissoluções que André passou ao longo da sua carreira e uma coisa que fica claro é o quanto ele tinha segurança de si e começava tudo praticamente do zero sem nenhum medo e com o menor esforço. Um verdadeiro exemplo de disposição, confiança e força de vontade que deve ser usado de exemplo para todos.
Na minha opinião a parte mais nebulosa foi mesmo a separação do Angra com diversas denúncias de pirataria dos discos sendo a prática possivelmente encoberta por seu próprio empresário da época. Uma coisa até inimaginável, mas que não é desmentida nem mesmo pelos componentes remanescentes da banda. Mas isso consegue explicar um fato tão incomum, que é o racha que fez com que 60% da banda tenha se separado e montado outra.
Uma das melhores sacadas do livro foram os QR Codes espalhados ao longo da leitura para que o fã possa ouvir os discos no momento em que estes eram o assunto daquele trecho, ou mesmo muitos vídeos com imagens raras de shows ou até mesmo as inúmeras participações especiais que o músico fez durante toda carreira. Emocionante também ver o quanto os músicos consagrados de fora do país respeitavam aquele brasileiro, míope, com traços indígenas (só aparentes, claro), corintiano e de imenso e variados talentos. Também tenho que destacar o projeto gráfico com fotos coloridas – muitas raras -, capas de discos, fac símile de imagens de publicações do mundo todo que engrandecem a leitura.
É de doer o coração saber que uma pessoa tão talentosa foi-se tão cedo e com a leitura do livro, saber que diversos projetos acabaram não sendo levados em diante por conta disso. Uma segunda colaboração no Virgo, uma turnê com o material daquele disco ou até mesmo a tão sonhada reunião com a formação original do Angra, exigência número um do Andre para que isso acontecesse.
Já no final do livro ficamos sabendo que sua curiosidade absurda pelos diversos temas que ele se aprofundava também o levou a conhecer e tomar muitos remédios. Segundo familiares ele tinha um remédio para tudo e quem sabe isso não afetou sua saúde de alguma forma.
No final até somos apresentados à um conto escrito pelo então Andre de apenas 9 anos usando a máquina de escrever de seu pai e descobrir que seu texto, seu vocabulário e estrutura de escrita nessa idade é superior ao que vocês estão lendo no momento. Gênios são assim mesmo.
Leitura recomendada não só para todos os fãs do músico, mas também para aqueles que talvez nem se interessem tanto pela música do Viper, Angra, Shaman, Virgo ou de sua carreira solo. Vale a pena pois muitas etapas da sua vida podem servir de exemplo e inspiração para todos.
Na sequencia, para complementar a resenha, o texto que escrevi na emoção no dia da sua morte para uma homenagem que fizemos aqui na Consultoria do Rock.
– Texto publicado no dia 09/06/2019
O Andre Matos foi meu primeiro ídolo musical. Os artistas estrangeiros eram tão inacessíveis que ter alguém aqui do Brasil que podia ser comparado com qualquer outro lá de fora era uma inspiração. Além de que, de certa forma conheci os clássicos de Iron Maiden, Metallica, Guns and Roses e outros praticamente na mesma época que os dois primeiros discos do Viper.
Ouvi esses discos tantas vezes quanto ouvi um Powerslave ou um Ride de Lightining. Lembro muito bem da época que estávamos esperando a então nova banda do Andre Matos, antes de sair Angel’s Cry. Fazia parte do fã clube de uma banda que ainda nem tinha um primeiro disco. E quando esses dois primeiros discos do Angra saíram foi um choque. Além de terem uma qualidade muito acima da média, levaram o metal para um nível de qualidade muito além do que muita banda internacional não chegava perto.
De certa forma esse meu ídolo foi o responsável até por eu ter desistido do sonho juvenil de ter uma banda. A comparação era muito cruel. Afinal ele gravou seu primeiro disco com apenas 15 anos e eu, um garoto com seus 12-13 anos me via com apenas alguns meses para conseguir fazer alguma coisa. Além do mais sua qualidade técnica era praticamente inatingível. Quando cheguei aos meus 20 anos e não tinha conseguido fazer ou participar de nada achei que tinha passado da hora de ter minha chance. Uma bobagem!!! Claro! Mas lembro de ter esses pensamentos na época.
Enfim, 08/06 foi um dia triste. Quando soube da notícia, torci muito para ser apenas uma brincadeira de mal gosto. Fiquei um tempão buscando a informação correta e, infelizmente era verdade. Falei com vários amigos que compartilhavam da mesma relação que tinha com o Andre Matos lá no começo dos anos 90. Coloquei Soldiers of Sunrise pra ouvir e, confesso, foi difícil segurar as lágrimas. Foi-se a pessoa e fica a obra que é imortal. Descanse em paz maestro! Os anjos choram.
Comprarei! E comprarei o do Luís Mariutti tbm. heheh