Cinco Discos Para Conhecer: As Várias Faces de Michael Vescera
Por João Renato Alves (Publicado originalmente no site Van do Halen)
O norte-americano Michael Vescera não é aquele típico yankee, que olha apenas para o próprio umbigo. Prova disso é essa lista, que traz álbuns gravados com artistas de diferentes continentes. Em comum, a qualidade, especialmente na interpretação desse que é um dos grandes vocalistas de sua época, com um timbre bem particular.
Obsession – Methods Of Madness [1987]
Representantes da primeira onda do Power Metal norte-americano – que possui diferenças substanciais em relação à versão europeia – o Obsession mostrou toda a qualidade em sua primeira fase. Methods Of Madness foi o disco que encerrou essa era, mostrando claras influências da NWOBHM, com um instrumental feroz e o então novato Michael Vescera mostrando um timbre totalmente de acordo com a proposta sonora. Fãs de Judas Priest, Iron Maiden dos primeiros álbuns e congêneres não terão do que reclamar após apertar o play. Destaques para a pedrada que abre o álbum, “Four Play/Hard To The Core”, com sua intro climática e progressão furiosa. A excelente “For The Love Of Money”, o Speed Metal alucinado da faixa-título e a balada Heavy “Desperate To Survive”. Em tempos recentes, o Obsession se reuniu e segue lançando discos e fazendo shows quando os integrantes contam com uma folguinha na agenda. Saudosistas de plantão não podem deixar de conferir!
Michael Vescera (vocais), Bruce Vitale (guitarras), Art Maco (guitarras), Matt Karagus (baixo), Jay Mezias (bateria)
1. Four Play/Hard To The Core
2. High Treason
3. For the Love of Money
4. Killer Elite
5. Desperate to Survive
6. Methods of Madness
7. Too Wild to Tame
8. Always on the Run
9. Panic in the Streets
Loudness – Soldier Of Fortune [1989]
O Loudness passava por uma fase esquisita em sua carreira. O grupo japonês havia conquistado sucesso considerável em terras norte-americanas e a cada disco lançado nos anos oitenta, cada vez mais “americanizado” o som ficava. Isso culminou na demissão do vocalista Minoru Niihara, simplesmente porque o empresário Max Norman acreditava que um vocalista que tivesse o inglês como língua materna ajudasse num estouro comercial naquelas terras. Com essa proposta em mente, Michael Vescera foi efetivado e começou sua participação no ótimo Soldier Of Fortune. Com um Akira Takasaki inspirado nos riffs e solos, a banda busca uma sonoridade bem pesada e direta, refletida muito bem na faixa-título e no single “You Shook Me”. Vescera se adaptou facilmente ao estilo do grupo à época, imprimindo um registro forte e melódico. Apesar de não ter alcançado o sucesso imaginado pelos executivos e empresários, o disco é até hoje considerado um dos melhores por boa parte dos fãs. Pena que a parceria não iria muito longe.
Michael Vescera (vocais), Akira Takasaki (guitarras), Masayoshi Yamashita (baixo), Munetaka Higuchi (bateria)
1. Soldier Of Fortune
2. You Shook Me
3. Danger Of Love
4. Twenty-Five Days
5. Red Light Shooter
6. Running For Cover
7. Lost Without Your Love
8. Faces In The Fire
9. Long After Midnight
10. Demon Disease
Yngwie Malmsteen – The Seventh Sign [1994]
Após alguns trabalhos mais voltados ao Hard Rock, Yngwie Malmsteen se reequilibrou em The Seventh Sign. Contando com os reforços de Vescera e o fenomenal baterista Mike Terrana, o sueco voador resgatou seu lado mais agressivo sem perder a mão na criação dos hits, como na baladinha “Forever One” – que ganhou até versão forró aqui no Brasil. Esse foi um caminho conscientemente buscado, tanto que o próprio guitarrista não cansa de afirmar em entrevistas que gostaria que os álbuns entre esse e os primeiros sumissem de sua discografia. No tracklist, pedradas certeiras como “Never Die”, “I Don’t Know” e a faixa-título se destacam, com uma grande performance não apenas do dono da bola, como de todos os envolvidos. O nível não seria mantido nos lançamentos posteriores e despencou vertiginosamente nos mais recentes, com ênfase negativo para o último, o ridículo Relentless. Mas The Seventh Sign merece ser conferido, pois é uma pedrada digna da história de um dos instrumentistas mais influentes das últimas gerações.
Michael Vescera (vocais), Yngwie Malmsteen (guitarras, baixo), Mike Terrana (bateria), Mats Olausson (teclados)
1. Never Die
2. I Don’t Know
3. Meant To Be
4. Forever One
5. Hairtrigger
6. Brothers
7. Seventh Sign
8. Bad Blood
9. Prisoner Of Your Love
10. Pyramid Of Cheops
11. Crash And Burn
12. Sorrow
Roland Grapow – Kaleidoscope [1999]
Por muitos anos, Roland Grapow foi criticado por alguns devido ao excesso de influências de Yngwie Malmsteen em seu estilo de tocar. As referências se manifestavam até no modelo de guitarra preferida. Mas o alemão conseguia contornar isso com o seu habitual bom humor. Basta lembrar o b-side do Helloween, chamado “Grapowski’s Malmsuite 1001 (In D-Doll)”, lançado na época do álbum Master of the Rings. Portanto, se a idéia era se distanciar do rótulo, não foi lá uma ideia louvável chamar praticamente toda a banda que acompanhava o egocêntrico sueco voador até pouco tempo antes da gravação desse disco. Mas Kaleidoscope não soa como um mero pastiche, ao contrário do que se podia esperar. O primeiro acerto foi chamar o experiente Michael Vescera para assumir os vocais. Em seu primeiro álbum solo, The Four Seasons of Life, Grapow já tinha mostrado não possuir muita aptidão para comandar o microfone e não repetiu o equívoco. Para melhorar, o cantor ainda trouxe a tiracolo o encara-todas Mike Terrana, sem dúvida um dos melhores bateristas de sua geração, e ainda colaborou em três composições. Completam o line-up o ótimo baixista Barry Sparks (Dokken, MSG, Ted Nugent) e o tecladista Ferdy Doernberg (Rough Silk, Axel Rudi Pell).
Roland Grapow (guitarras), Michael Vescera (vocais), Barry Sparks (baixo), Mike Terrana (bateria), Ferdy Doernberg (teclados)
1. Walk on Fire
2. Under the Same Sun
3. The Hunger
4. A Heartbeat Away
5. Hidden Answer
6. Till the End
7. Kaleidoscope
8. Angel Face
9. Listen to the Lyrics
10. Reaching Higher
11. Lord, I’m Dying
Dr. Sin – Dr. Sin II [2000]
(por Igor Miranda)
Dr. Sin II é o único play em que o Dr. Sin não se apresentou como um trio e sim como um quarteto – não contando ocasiões com músicos adicionais. Michael Vescera, que havia trabalhado com os brasileiros como produtor e só contribuído em uma faixa do disco “Insinity”, assumiu os vocais com Andria Busic. Duas participações especiais merecem ser citadas: Roland Grapow, que viria a sair do Helloween pouco depois, guitarreou lindamente em “Time After Time”, e Sérgio Buss, guitarrista que já foi da banda de apoio de Steve Vai, mandou ver em “Same Old Story”. A essência continuou a mesma, mas a efetivação de Vescera contribuiu numa maior “descambada” para o Heavy Metal, deixando alguns elementos Hard pra trás – até porque os tempos mudam – e mantendo outros. A musicalidade, infinitamente superior quando se compara com a maioria dos conjuntos praticantes de Hard/Heavy, espanta até o mais entendido em seu instrumento. E a técnica é bem refletida nas composições, que são repletas de bom uso do instrumental, ótimos refrães e excelentes melodias num âmbito geral.
Michael Vescera (vocais), Edu Ardanuy (guitarras), Andria Busic (baixo, vocais), Ivan Busic (bateria)
1. Time After Time
2. Danger
3. Gates Of Madness
4. Eternity
5. Fly Away
6. Miracles
7. Same Old Story
8. What Now
9. Pain
10. Devil Inside
11. Suffocation