Discografias Comentadas: Tristania [Parte I]

Discografias Comentadas: Tristania [Parte I]

Por André Kaminski

Confira aqui a Parte II

O Tristania surgiu em 1995 na cidade de Stavanger, na sempre gélida Noruega. Fundada por Morten Veland (guitarra e vocais guturais), Einar Moen (teclado) e Kenneth Olsson (bateria e backig vocals), a ideia era juntar o peso do heavy metal à influência da temática gótica das bandas britânicas oitentistas. Junto com o The Gathering e o Theatre of Tragedy, foi uma das pioneiras do gothic metal ao estilo “beauty and the beast” que contava com vocais femininos e guturais masculinos. Pouco tempo depois, completou-se o primeiro lineup com Anders Hidle (guitarra) e Rune Østerhus (baixo). A princípio, a eterna vocalista Vibeke Stene seria apenas uma convidada para gravar a primeira demo e o primeiro álbum. Algumas gravadoras demonstraram interesse no material da banda e eles assinaram com a austríaca Napalm Records para lançarem a primeira demo/EP Tristania [1997].

No ano seguinte, já saiu o primeiro full lenght Widow’s Weeds [1998] que falarei logo a seguir.


Widow’s Weeds [1998]

Este primeiro disco ainda é um dos melhores da carreira da banda. Após uma curta intro chamada “Preludium”, a banda já chuta a porta com uma música que se tornou um clássico da banda que é “Evenfall”. Enérgica, com os guturais de Morten liderando e Vibeke intervindo com líricos sensacionais, a música consegue logo de cara transparecer peso e beleza naquela atmosfera soturna e melancólica que a banda se propõe a tocar. Os teclados de Einar Moen e o violino do convidado Pete Johansen dão aquele tempero sinfônico que sempre se ajusta perfeitamente ao estilo gótico. O uso de um coro vocal (feito por alguns membros da banda e alguns convidados) também incrementam a qualidade não só dessa faixa mas como do disco todo. Ainda destaco a linda “December Elegy”, com uma mistura da leveza da guitarra desplugada com o peso do heavy metal e uma interpretação doce de Vibeke que possui um vocal bonito demais de se ouvir. “My Lost Lenore” é a música que resume esta primeira fase do Tristania, com referência direta a “The Raven”, o excelente poema do famoso autor americano Edgar Allan Poe, e se tornou obrigatória no repertório da banda. Também adoro “Wasteland’s Caress” mais veloz e com um “quê” mais de symphonic metal e um baixo que lidera boa parte do instrumental excelente dessa canção. Um disco fantástico, uma estreia que trouxe milhares de fãs instantâneos na primeira ouvida e um trabalho que ainda é referência dentro do estilo.


Curiosamente, logo após o lançamento de Widow’s Weeds, Vibeke Stene ficou sabendo através de uma entrevista da banda para promover o disco que ela foi efetivada. Os caras nem se preocuparam em falar isso pessoalmente a ela!

Não teve jeito, na Noruega eles se tornaram famosos com shows lotados, as resenhas elogiosas vieram e a banda foi para sua primeira tour europeia junto da duplinha do Lacrimosa. Óbvio que aproveitando o hype, logo no ano seguinte eles lançariam seu segundo disco. Como eles também queriam um vocalista masculino que cantasse limpo, eles chamaram Østen Bergøy como convidado.


Beyond the Veil [1999]

Seria complicado apenas em um ano conseguir chegar no mesmo patamar do disco de estreia? Pois sim, o Tristania conseguiu e simplesmente superou o anterior em praticamente todos os aspectos. Um pouco mais pesado e com uma produção ainda mais refinada do que o anterior, Beyond the Veil não só é uma grande sequência ao estilo do anterior como conseguiu ainda incrementar a qualidade de suas canções. Morten Veland continua como principal compositor e letrista, mas o tecladista Einar Moen e o guitarrista Anders Hidle também contribuíram mais com letras e músicas. Outra pérola do symphonic/gothic metal, o disco inicia com a auto-intitulada “Beyond the Veil”, também mais rápida, cheia daqueles coros de vozes e muitas quebras de ritmos, além da estreia de Østen nos vocais limpos contando com uma voz grave que lembra Johan Edlund do Tiamat. “Aphelion” é, até hoje, uma das músicas mais pesadas da banda, com um instrumental agressivo mas ao mesmo tempo agoniante. O vocal de Vibeke e o coro de vozes contribuem para gerar aquela sensação de angústia. Há também “A Sequel of Decay”, uma música de destaque também poderia estar no disco anterior devido a sua sonoridade épica e marcante. Outra que também destacaria é “Heretique”, também muito pesada, com riffs muito marcantes e os dois vocalistas (Morten e Østen) mandando ver com cantos marcantes. É mais um petardo excelente dessa banda que só se fez aumentar seus números de fãs comprando seus discos e indo aos shows.


Após este disco, a banda passou a ser headliner das tours que fazia. Tocaram muito por toda a Europa no ano de 1999 e 2000. Porém, como de costume, problemas internos começaram a surgir. Morten Veland se desentendeu com o restante da banda. Os remanescentes citaram as tradicionais “diferenças musicais irreconciliáveis”. Já Morten sempre diz que foi chutado para fora da banda. Pouca coisa foi dita desde então. A impressão que tenho é que Morten queria continuar no mesmo estilo mais sinfônico enquanto a banda, já sem ele, dá uma mudada e começa a se utilizar mais de elementos eletrônicos. O ex-guitarrista então fundou o Sirenia e continuou sua carreira lançando até o momento vários discos.

Sem Veland para fazer os guturais, a banda chama Ronny Thorsen do Trail of Tears para fazê-los.


World of Glass [2001]

O melhor da banda para mim, sem discussão. Sem contar essa capa linda da face de Vibeke com esses efeitos em azul. Soturno, denso, atmosférico, reflexivo, gélido e tantas outras diferentes sensações que é até difícil que eu consiga descrever. Ao mesmo tempo em que ele transparece uma certa raiva nas letras (e algumas, aparentemente, parecem ter sido compostas tendo Morten Veland como inspiração), o álbum sabe transparecer uma certa beleza artística em seus momentos de delicadeza que muito me impressiona. Sem Veland compondo, Einar e Anders se tornam os principais compositores com Østen (que, supreendentemente, ainda não havia sido efetivado na época) também contribuindo com letras. Vibeke amplia suas participações nos vocais. Aliás, sim, tem quatro vocalistas diferentes no disco. O guitarrista Anders Hidle também fez guturais no disco junto ao convidado Ronny Thorsen e a Vibeke e Østen. “The Shining Path” inicia o disco como de costume em um trabalho do Tristania: uma música mais densa e com pegada, com as tradicionais mudanças repentinas de ritmo. Adoro também “Hatred Grows” com o coro de vozes e um violino solando lindamente na intro, em mais uma canção que a variação vocal de Vibeke junto ao instrumental surpreende. Ela é uma grande cantora, sem dúvida nenhuma. “World of Glass” tem uma letra que difere um pouco das demais do Tristania até então: uma espécie de amor e tensão sexual entre um casal que seria rejeitado por Deus. Isso unido a um instrumental que muda constantemente. Por fim, a minha música preferida de toda a carreira desses noruegueses: “Crushed Dreams” é simplesmente excepcional! Uma canção em que Vibeke soa como se estivesse em uma real tensão sexual, parecendo brincar de seduzir o ouvinte com sua voz marcante. Eu achei essa jogada com a voz genial por parte dela, além do instrumental contrapor com uma atmosfera de insanidade. Há até uma parte meio com um vibe house que eu achei muito legal. É uma das músicas mais diferentes que o Tristania já compôs e não a toa, minha favorita. Mesmo que não curte o estilo, você deveria ouvir o disco devido apenas as qualidades contidas nele.


Finalizo aqui esta primeira parte com esses três primeiros discos. Retorno em abril com a segunda e última parte contendo os quatro discos restantes. Até lá!

4 comentários sobre “Discografias Comentadas: Tristania [Parte I]

  1. Engraçado saber o fato de que o fundador do Sirenia foi chutado do Tristania por não querer som eletrônico nas músicas, sendo que há pouco tempo o Sirenia lançou uma música (Dim Days of Dolor) muito similar a Burn it Down do Linkin Park

    1. Pois é L, mas é aquela coisa, pode ter mudado o gosto com o tempo (ou querer soar um tanto mais comercial, sei lá). Quanto a ser chutado da própria banda que formou, isso é raro mas não é novidade. Nem sempre aquele que formou tem o direito exclusivo ao nome e ao material da banda. As vezes se divide com os outros membros fundadores, as vezes há alguma cláusula no contrato em que haja uma “votação” para a permanência ou saída de membros. Várias possibilidades.

      Até aconteceu algo similar recentemente: o Leave’s Eyes chutou a Liv Kristine que é a fundadora da banda. Sabe-se lá como isso aconteceu, mas em se tratando de contratos de bandas tudo é possível.

  2. Particularmente acho essa fase inicial muito boa. Depois acabei me perdendo do Tristania… vamos ver se a segunda parte me convence! =p

    1. Anderson, essa fase é a melhor mesmo, mas ainda gosto de alguns bons discos entre os últimos lançados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.