O Quiet Riot de Randy Rhoads
Por Fernando Bueno
Todas as vezes em que lemos ou ouvimos alguma matéria referente à Randy Rhoads o Quiet Riot é citado por ter sido ex-banda. De fato Randy participou dos seus dois primeiros discos, Quiet Riot (1978) e Quiet Riot II (1979), mas esses discos fazem parte de um período que estamos perto de poder dizer que praticamente não existiu para a banda. O enorme sucesso de Metal Health de 1983, que emplacou o mega hit “Cum On Fell the Noize”, uma regravação de autoria do Slade, quase sugeriria que essa era uma banda recém formada e não uma que já estava em seu terceiro disco e já tinha, até então, oito anos de trabalho.
Claro que muito desse desconhecimento se deve ao fato de que os dois primeiros discos foram lançados apenas no Japão, país sede da gravadora Sony que foi quem os contratou, e nunca nos Estados Unidos da América. Nessa época o Quiet Riot frequentemente fazia shows de abertura para o Van Halen e o contato entre Randy e Eddie deve ter influenciado bastante o garoto.
O fato é que mesmo sempre sendo lembrado como um ex-integrante da banda pouca gente realmente parou para ouvir os discos de Randy Rhoads com o Quiet Riot. O guitarrista é sempre citado com um dos melhores de todos os tempos – é um dos preferidos desde que vos escreve –, e ficou na posição 36 em uma das inúmeras listas da revista Rolling Stone dos cem maiores guitarristas de todos os tempos, mesmo tendo uma carreira relativamente pequena. Sua produção se resume à esses dois discos com o Quiet Riot e mais dois discos, aí sim, clássicos indiscutíveis, com Mr. Ozzy Osbourne. Ou seja, para quem quer avaliar bem a carreira do músico é essencial que essa fase tratada nesse texto seja conhecida.
Assim, o propósito principal desse texto é o de tentar incentivar os leitores a corrigirem uma falha em sua trajetória musical. Após a experiência teremos diversas opiniões que se resumirão em gostar ou não gostar dos discos, mas depois dela já poderemos olhar para Randy Rhoads com um embasamento melhor.
Logo com o primeiros acordes já percebe-se as influências da banda na época. Na verdade isso é possível só de olhar para as capas. O glam rock do início dos anos 70 é a tônica dos dois álbuns e bastaria ver o figurino dos rapazes nas capas dos discos para perceber isso, mas musicalmente isso já é bem evidente. Alice Cooper, T. Rex, Kiss, Slade e um pouquinho de Queen, compõem a mistura do Quiet Riot desses dois primeiros discos.
A formação da banda mudou apenas em um instrumento de um disco para o outro. No debut Kelly Garni era o dono da posição de baixista, enquanto o veteraníssimo Rudy Sarzo foi creditado em Quiet Riot II, porém quem realmente gravou o disco foi Garni, que saiu da banda logo depois de terminado os trabalhos em estúdio. O restante era Kevin DuBrow no vocal, Drew Forsyth na bateria e, claro, Randy Rhoads na guitarra.
A maioria das pessoas que lerem esse texto e forem atrás dos discos obviamente prestará atenção em suas guitarras, mas não dá para não notar a voz de Kevin DuBrow. Sua voz aguda, e que em alguns momentos lembra a de Vince Neil nos primeiros discos do Motley Crüe (ouça “Slick Black Cadillac”), estava em desenvolvimento e se mostra mediana. Às vezes temos grandes variações de uma música para outra dentro de um mesmo álbum como na sequência de “It’s Not So Funny” e “Mama Little Angels”. Na segunda a voz já é bem superior à que foi gravada na primeira, o que demonstra que ele estava em desenvolvimento enquanto cantor. No geral, quem conhece o Quiet Riot de Metal Health em que Kevin canta com mais drive na voz, vai achar estranha a grande diferença. Lembrem-se que passaram-se quatro anos de Quiet Riot II para Metal Health e que os músicos tinham cerca de 21-22 anos de idade na época do primeiro disco.
Falando de Rhoads, nas vinte e uma músicas dos dois discos ele compôs ou participou da composição de quinze delas, o que mostra que o músico era um das forças criativas do grupo. Quem conhece Rhoads dos discos do Ozzy pode esperar virtuosismo, solos inspirados e riffs marcantes, entretanto nos discos do Quiet Riot ele ainda estava um pouco comedido. Mesmo assim as guitarras são certamente estão em evidência.
O maior destaque de ambos os álbuns é a já citada “Slick Black Cadillac”. Tanto que em Metal Health há uma regravação dessa faixa o que faz aumentar aquela sensação que citei no início do texto de que para muitos essa fase da banda quase não existiu. “It’s Not So Funny” tem talvez o melhor solo de todas essas músicas. Outro bom solo está na cadenciada “Look in Any Window”. Outros destaques, principlmente por conta da atuação de Randy são “Eye for An Eye”, “Trouble”, com sua introdução à la “Good Times Bad Times”, e “Killer Girls”, que tem um riff muito parecido com o de “Lucifer Sam” do Pink Floyd. De um modo geral o segundo lançamento é superior ao debut.
Uma curiosidade sobre a banda é que eles estouraram com “Cum On Feel the Noize” e depois, em menor escala, com “Mama Weer All Crazee Now”, ambas regravações do Slade. Nos dois primeiros discos foi o Small Faces quem emprestou duas faixas para compor o track list dos álbuns. Em Quiet Riot foi “Tin Soldier” do álbum There Are But Four Small Faces (1967) e em Quiet Riot II foi a vez de “Afterglow”, que foi batizada de “Afterglow (of Your Love)”, do álbum Ogden’s Nut Golden Flake (1968), em uma ótima versão.
Para quem quiser se aprofundar, ou até mesmo para os que não querem adquirir os dois discos, uma ótima sugestão é o The Randy Rhoads Years (1993). Uma coletânea de dez faixas sendo três do primeiro álbum, três do segundo e ainda quatro faixas inéditas. Mesmo as músicas que já existem nos outros dois discos são diferentes das originais. Alguns vocais foram regravados, ficando bem melhor que as gravações originais, e até algumas letras modificadas. O mais interessante fica por conta de “Laughing Gas (Randy Rhoads Guitar Solo)” que contem trechos que no futuro se tornariam algumas das músicas mais famosas de Randy e Ozzy como “Dee”, “Goodbye to Romance” e “Crazy Train”.
Quem ouvir os álbuns não terá a sensação de ter encontrado algo que deveria ter tido contato há muito tempo. Os discos não indispensáveis, mas vale a pena ouvi-los por conta de Randy Rhoads, um gênio que se foi tão prematuramente.
Os dois discos estão disponíveis no YouTube. Mas se você espera escutar aquele Quiet Riot de Metal Health ou o Randy Rhoads dos discos do Ozzy , esqueça. É um material bem mediano e até esquecivel em vários momentos. Só valem como registro histórico e nada mais.
Quiet Riot de Metal Health já é fraco, a banda tem três músicas boas, duas delas cover de Slade (que já não é grande coisa). Quiet Riot com Randy Rhiads é horrível. Se você for guitarrista, vale como curiosidade e só. Do contrário, nem vale a pena perder tempo, é muito ruim. Em tempo, e a Ata da UFRJ? Alfredo Rubinato e Elzira Cerqueira