Tralhas do Porão: Toad
Por Ronaldo Rodrigues
O Toad foi uma das bandas mais importantes em seu país de origem, a Suíça. A Suíça, como bem sabido, é um país formado por cantões no qual quatro línguas distintas são faladas – alemão, francês, italiano e romanche – o que traz uma diversidade bastante grande para um país tão pequeno. A história do Toad começa na Itália, com o jovem Vittorio Vergeat, nascido em Domodossola, norte da Itália, região dos Alpes. Vergeat ficou na cidade até 15 anos, quando sua família se mudou para Ticino, parte italiana da Suíça. Nessa época, ele aprendeu a tocar guitarra e logo já ingressou em uma banda chamada Blackbirds, com a qual participou de gravações profissionais e shows pelo país.
Em 1969, Vergeat decidiu tentar a sorte em Londres. Lá ele chegou a tocar brevemente com o nascente Hawkwind, mas apesar de seus méritos como guitarrista, o relacionamento com a moçada era difícil. A falta de perspectiva em Londres o levou a retornar para a Suíça, onde se estabeleceu em Basel. Em Basel, havia uma banda de rock psicodélico chamada Brainticket, que sacudia os clubes locais com uma experimentação alinhada ao que os roqueiros alemães faziam, batizada infamemente como krautrock pelos críticos ingleses. A proximidade de Vergeat com o Brainticket fez com que Cosimo Lampis (baterista) e Werner Frohlic (baixista) se juntassem a ele para formar uma nova banda, na qual as válvulas fritassem para valer. Como nenhum deles se considerava exatamente um bom vocalista, o time inicial se completou com Benjamim Jaeger.
Um dos primeiros shows da nova formação ocorreu em um clube em Ticino. O dono do local havia convidado os garotos para tocar, mas eles ainda não tinham um nome. Vergeat foi dar uma volta em um jardim e viu um sapo – dali surgiu a inspiração para Toad. Ainda que o grupo não tivesse um conjunto específico de influências, era nítido no som dos garotos a vontade de seguir a trilha dos power-trios e grupos de rock pesado da época – Jimi Hendrix Experience, Cream, Blue Cheer, Mountain, Led Zeppelin, Jeff Beck Group. Em pouco tempo nos palcos, a banda já era uma sensação local – shows frequentes e muito animados, no qual o repertório do grupo era testado e aprimorado. Essa repercussão fez com que a banda conseguisse um contrato com a estampa local Hallelujah Records (a mesma que lançou os discos do Brainticket).
O vocalista Benjamin Jaeger durou pouco na banda e os vocais foram assumidos por Vic Vergeat, que era o líder natural do Toad. Jaeger chegou a participar das sessões de gravação do primeiro disco da banda, que havia conseguido uma rápida sessão de gravação em Londres custeada pela Hallelujah. Contudo, ele abandonou o grupo no meio do processo de gravação. Nos consoles estava ninguém menos que Martin Birch, lendário produtor que ficaria famoso com os trabalhos junto ao Deep Purple e ao Iron Maiden (dentre muitos outros) nos anos seguintes. Birch já tinha renome na ocasião, por ter trabalhado com o Fleetwood Mac e o Wishbone Ash (além do próprio Deep Purple). Apesar disso, o disco do Toad soa um tanto “sujo” para os padrões mais elevados da época, fruto talvez de alguma economia em fitas de rolo de boa qualidade. Isso acaba trazendo um charme a mais para os apreciadores do autêntico hard rock do início dos anos 70, já que o disco autointitulado é uma profusão de riffs pesados executados com firmeza por um power-trio. Vic Vergeat não economiza – sua guitarra grita com solos frenéticos e distorcidos. Do disco foi extraído um compacto com as faixas “Stray” e “Animal’s World”, lançado em abril de 1971, que alcançou uma boa marca nos charts suíços, avessos ao rock no geral. O feito veio na esteira dos concorridos shows da banda por toda a Suíça (foram cerca de 200 shows entre 71 e 72), rendendo a eles participações em programas de TV (veja aqui), no festival de Palermo (Itália), em frente a 60.000 espectadores, e no tradicional Festival de Mountreux entre grandes nomes do blues e do jazz. O show todo foi filmado, mas até hoje não se conhece o paradeiro desse material.
Com todo esse pique, a banda novamente foi para Londres para gravar o novo álbum pela Hallelujah Records, sob a batuta de Birch. Tomorrow Blue, o novo álbum, é mais bem produzido e mostra o amadurecimento do instrumental da banda, contando também com uma capa gatefold caprichada. O nível de sucesso e reconhecimento do Toad mantinha-se, mas restrito a Suíça. Não se tem relatos de que a banda tenha excursionado pelos países vizinhos, ainda que os dois discos tenham sido promovidos pela gravadora na Alemanha e na Itália. Uma ideia do poder de fogo do Toad ao vivo ficou para posteridade com o registro de um show em Basel, ninho da banda, em abril de 72. Vic Vergeat era frequentemente comparado com Jimi Hendrix, por sua técnica e performance explosiva. Não à toa, o setlist da banda sempre continha algum cover de Hendrix. Nesse show, temos boas versões da banda para “Red House” e “Who Knows”.
Depois do lançamento de Tomorrow Blue e os shows que se seguiram, há pouca informação sobre o que aconteceu com a banda. Um hiato na carreira do Toad fez com que apenas no final de 1974 um novo disco começasse a ser preparado. Esse disco, gravado na Itália e chamado Dreams, já mostra um Toad diferente, indo mais para a direção do funk, com teclados e suavizando o som. O álbum foi lançado apenas na Itália, pela pequena estampa Frog. O nível de atividade da banda diminuiu bastante, ainda que ela continuasse bastante reverenciada até o fim dos anos 70. Dessa época, foi registrado um show da banda em Genebra, que mostra o grupo ainda com muito gás ao vivo. Vergeat foi tentar a sorte nos EUA, onde lançou um disco (Down to the Bone) no início dos anos 80, que saiu pela Capitol. Na tour de promoção, chegou a excursionar junto com o Nazareth e o Aerosmith.
A formação clássica do Toad se reuniu em meados dos anos 80, mas sem lançar novos discos, até que Vic Vergeat reformou a banda com um novo baixista e contando ainda com Cosimo Lampis na bateria. Dois novos discos foram lançados – Hate to Hate (1993) e Stop this Crime (2001), além de uma série de discos com materiais de arquivo que mantém e ampliam o legado do Toad para o público contemporâneo.
MINHA BANDA PREFERIDA DAQUELAS DO DITO HARDÃO OBSCURO 70
É uma sonzeira violenta mesmo! muito bom. Abs!