Discografias Comentadas: In Flames (Parte III)
Por Anderson Godinho
Encerro hoje a Discografia Comentada dos suecos do In Flames, abrangendo os quatro últimos discos lançados pela banda até a data de hoje.
Siren Charms [2014]
Para quem acompanha a banda desde os primórdios e achava difícil estabelecer relações entre os primeiros álbuns e os últimos até então, ficou perplexo com Siren Charms. Este disco apresenta uma proposta totalmente diferente que foge inclusive do grande ‘guarda chuva’ de gêneros de metal. A receita desta vez é simples: voz limpa, rosnados de Fridén, um ou outro grito aqui e ali, bateria, guitarra, baixo, teclado simples. Um Rock/Pop sem tirar nem por. O disco marca, ainda, a despedida de Daniel Svensson. Este que contribuiu com o In Flames desde a turnê do distante Whoracle quando Engelin saiu da banda e Gelotte assumia a guitarra. Daniel trouxe inúmeras melhorias no desenvolvimento das músicas e na estrutura da bateria da banda. Foi uma fonte criativa tanto na fase clássica como posteriormente. Dentre as músicas, momentos mais próximos de algo pesado aparecem em “Rusted Nail”, “Monsters in the Ballroom” ambas pesadas, bateria utilizando sua ‘cota’ metal no disco e ‘até’ solos de guitarra. “When the World Explodes” é outra que chama a atenção com uma agressividade rara, nos dias atuais, por parte de Fridén e a participação de Emilia Feldt, soprano, cantora de ópera na Suécia, como contra peso. A crítica de modo geral se divide entre estranheza e elogios, pois, por um lado novamente a banda se renova, se atualizando frente ao mercado e buscando novidades que os traga motivação para continuar. Por outro lado, mais uma vez, a banda se distancia do que fazia em nos primórdios e, agora, também de um passado não tão distante. Trata-se de mais uma ruptura.
Comercialmente a banda se destaca entre os países nórdicos, Alemanha, Reino Unido e mesmo nos EUA chegando em 1º posto no Top Hard Rock da Billboard. No dia 23 de setembro de 2016 foi lançado o segundo ao vivo da banda, Sounds From The Heart Of Gothenburg, CD duplo que registra uma apresentação da banda em Gotenburgo, no dia 8 de novembro de 2014, para mais de dez mil fãs, ainda com Daniel Svensson na bateria.
Battles [2016]
Confirmando as tendências, chega em 11 novembro de 2016 Battles, o 12° álbum do In Flames. Com Fridén e Gelotte no comando a única mudança é a já citada saída de Daniel Svensson, substituído por Joe Rickard. Na produção Howard Benson (Creed, Halestorm, Papa Roach, etc) foi o escolhido fazendo com que a banda ficasse alguns meses em L.A. para gravar, e segundo o próprio Fridén perdesse propositadamente um pouco de autonomia, mas contando com novos aprendizados provenientes do ‘modus operandi’ de Benson. Battles começa mostrando essa nova cara ‘soft’ da banda: as tradicionais linhas melódicas exploradas a fundo agora estão acompanhadas de corais (pasmem os senhores: com vozes de jovens), teclados e sintetizadores fazem parte do cerne das músicas, as distorções e o timbre escolhidos para as guitarras às colocam em segundo plano, para quem viveu os anos noventa talvez lembre da banda P.O.D., pois então, esse novo In Flames remete, com estranheza, aos sete palmos da memória para desenterrar o P.O.D.. O ponto alto talvez seja a presença mais marcante das linhas de baixo que tiveram um protagonismo ofuscado ao longo da trajetória da banda. Ironicamente é o último algum do baixista Peter Iwers que havia entrado na banda em 1997. Curiosamente Iwers é sócio de outro ex-In Flames, Svensson, em uma cervejaria de Gotemburgo. O álbum se configura como um dos mais fracos da banda, e os destaques positivos aparecem justamente quando tentam resgatar alguma coisa já antiga na trajetória do In Flames, como em “Through my Eyes” (olha só: um solo de guitarra perdido aqui!) ou em “Underneath my Skin”, ambas remetendo à Come Clarity. Agora, com sonoridade nova, a balada “Here Until Forever” é apresentada com um arranjo muito bonito, muito melódico em que o destaque fica pelo vocal assertivo de Fridén, possui ainda um belo videoclipe de divulgação. Porém, como explicado anteriormente configura-se como um rock/pop acima de qualquer coisa.
Apesar de não ter sido muito comemorado pelos fãs o álbum gerou uma turnê que após rodar os EUA, como habitual, e alguns importantes festivais, veio parar aqui na América do Sul com shows em Buenos Aires, Santiago, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Bogotá e Lima para alegria dos (esquecidos/abandonados) fãs que o In Flames possui por aqui, destaque para os relatos de que a banda foi especialmente simpática em todos os shows.
I, the Mask [2019]
O 13° álbum do In Flames chegou às lojas em primeiro de março de 2019. Conforme promessa de Fridén e Gelotte, trouxe as guitarras novamente para a banda. Em relação a formação, Bryce Paul Newman assume o baixo e logo após a gravação, Joe Rickard sai devido a problemas nas costas para a entrada de Tanner Wayne na bateria. O disco é bem aceito em suas bases mais sólidas (Suécia, Alemanha, Áustria) mas não é muito lembrado nos EUA ou na Inglaterra. De fato é melhor que os dois últimos, possui momentos bem agradáveis para quem curte a banda e consegue pescar ao longo das 12 músicas elementos que remetem ao Colony ou ao Sounds of Playground Fading, ou mesmo pelos diversos momentos originados no Soundtrack to your Scape e Battles. Dentre os momentos mais pesados e rápidos temos a faixa título, tal qual “Call my Name” e “Burn”, que pecam por passar do ponto na melodia, mas agrada muito no baixo e vocal. Em outros momentos como “I am Above, Follow Me” e principalmente” Stay With Me” temos muito potencial, são músicas que no momento chave poderiam entrar para o ótimo Clayman ou para o fraco Battles, e os responsáveis escolheram a segunda opção. Ainda, muitas músicas totalmente dispensáveis pois não trazem nada do que a banda foi no passado, é hoje, ou demonstra que poderia vir a ser, como “We Will Remember” e “In This Life”. I, the Mask é uma versão melhorada do Battles, com guitarras firmes e ressuscitando solos baseados nos clássicos, bem como as belas passagens acústicas mas não consegue retomar os grandes momentos criativos pelos quais a banda passou mesmo ao se reinventar diversas vezes ao longo de sua história.
Infelizmente com a pandemia de Covid-19 a banda parou a tour de divulgação do material em março de 2020 e só pretende retomar a partir de agosto deste ano. Nesse meio tempo o clássico álbum Clayman fez seu vigésimo aniversário e ganhou uma boa versão remasterizada com uma capa inspiradíssima, mas que em seus extras cometeu ‘O Pecado Mortal’: novas versões para clássicos. Regravaram “Only for the Week”, “Bullet Ride”, “Pinball Map” e “Clayman”, com uma roupagem que remete ao presente da banda. Tais versões regurgitaram o pior dos fãs nos comentários das mídias lançadas na internet. Belo presentinho de grego aos fãs antigos. O fato é que o In Flames está ativo, na estrada, não vão parar tão cedo e não se importam em conquistar novos fãs fazendo o que realmente gostam e acreditam! Doa a quem doer.
Acho mais correto que bandas que mudam tanto assim seu estilo também mudassem seus nomes, pois afinal de contas você está apresentando um produto novo aos fãs, não faz sentido manter o nome do produto antigo. Guardadas as proporções, seria como se a Coca-Cola mudasse de sabor e continuasse a se chamar Coca-Cola.
E aí Alex, esse é um debate interessante. Cheguei a tocar no assunto ao longo das resenhas, mas eu mesmo não sei se concordo plenamente. No caso do In Flames concordo, já no caso do Sepultura (por ex.) acho que não é o caso. Tantas bandas que podemos questionar… Metallica, EdGuy, Helloween, Pantera (td bem que a primeira fase é a mais fraca, mass…). Concordo com vc quando fala do produto em si, eu conheci o In Flames quando eles tinham recém lançado o Soundtrack to your scape, mas conheci com o Whoracle e só meses depois me deparei com o Sound (tempos da internet discada e lojas de discos) lembro perfeitamente da minha decepção… frustração total… insisti e hoje já estou na fase da aceitação kkkk. É a Fanta de guaraná… no fim até da pra tomar. Valeu pelos comentários!