Kiss – Off The Soundboard: Tokyo 2001 [2021]
Por Davi Pascale
Grupo norte-americano inicia série de arquivos. Registro resgata formação que durou pouco e apresenta músicos em ótima forma, apesar dos conflitos internos.
Em 2000, o Kiss veio à público anunciar sua turnê de despedida. Na ocasião, Paul Stanley dizia que queria sair enquanto ainda estava no topo. A verdade, no entanto, era outra e, com o tempo, os fatos começaram a aparecer. A realidade é que os músicos não estavam se dando bem. Mais especificamente, Peter e Ace batiam de frente com Paul e Gene todo o tempo. O clima era de tensão, quase sempre.
“Era tudo tão enfadonho, tão difícil e tão infeliz que me pareceu como ‘vamos nos retirar de cena’. Parecia-me apropriado. Depois que a turnê acabou, não demorou muito para perceber que eu não queria dizer adeus à banda. Eu queria dizer adeus à dois integrantes”, declarou Paul Stanley em um podcast da revista Rolling Stone.
Engana-se quem acredita que a tour ocorreu às mil maravilhas, independente dos problemas. Durante a fase norte-americana da gira, Peter Criss descobriu que estava recebendo 10.000 dólares a menos do que Ace Frehley (por apresentação) e havia sido prometido que ambos receberiam o mesmo montante. Gene Simmons já havia comentado o caso em sua autobiografia Kiss And Make-Up.
“Ace e Peter voaram até Los Angeles e vieram à minha casa para um encontro com a banda. Eu disse o quão feliz estava em fazer isso, como estava maravilhado em saber que tínhamos um acordo. Então, Ace voltou atrás: ‘Não me importa o quanto você deu ao Peter. Eu quero mais”. Ace Frehley fez uma segunda abordagem, dizendo que queria uma divisão igual à deles, recebendo uma negativa de imediato. Quando viu que não ia rolar, declarou que ele era muito mais importante do que o Peter e, portanto, queria um pouco mais do que ele.
Sim, o caso vinha ocorrendo desde a turnê de reunião, mas Peter não sabia. Assim que descobriu o ocorrido, Peter Criss pediu para sair da banda. Paul e Gene pediram para que ficasse até o fim da gira e prometeram igualar seu pagamento ao de Ace nos shows restantes. Para demonstrar ao público que se sentia magoado, Criss começou a desenhar uma lágrima em sua maquiagem. Quando chegou ao último show da fase norte-americana, o catman decidiu que já havia tido o bastante. Ao final da apresentação de North Charleston, em 7 de Outubro de 2000, enquanto Paul Stanley fazia o seu número de quebrar a guitarra, o músico destruiu sua bateria. A mensagem era clara: “Para mim, é o fim”.
Tendo ainda datas a cumprir, a banda entrou em contato com Eric Singer (que já havia feito parte do grupo na década de 90) e pediu para que ajudasse a cumprir os shows que já haviam sido vendidos. E essa é a formação que está nesse registro: Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Eric Singer. Não existia nenhum registro oficial desse lineup… Até agora!
A série Off The Soundboard segue a mesma ideia de From The Vault (Rolling Stones). Ou seja, resgatar apresentações, de diferentes períodos, e colocar no mercado com a melhor qualidade possível com a lógica dos official bootlegs. Ou seja, sem as famosas correções de estúdio, com o áudio exato do show. O Kiss já havia lançado alguns discos assim, em parceira com a LiveNation, porém nunca de registros históricos. Era sempre da turnê que estava rolando naquele momento. Eu, particularmente, gostaria muito que lançassem um registro da fase Kulick/Carr. Vamos ver o que o futuro nos aguarda, mas vamos retornar ao álbum…
Em uma audição atenta é possível pegar alguns deslizes. Por exemplo, quando vai improvisar um trecho de “I Still Love You”, dentro da intro de “Black Diamond”, Paul Stanley acaba errando algumas notas na guitarra. Ace também dá algumas engasgadas em alguns solos. Está tudo aqui, sem maquiagem.
O disco chegou ao mercado em três formatos físicos: CD duplo, vinil triplo na cor preta e vinil triplo transparente. A arte gráfica é bem simples. Sem encartes, sem fotos dos músicos. Apenas o nome da banda, das músicas, do show e os dados técnicos. Bem similar aos official bootlegs lançados pelo Pearl Jam lá atrás. A qualidade de som está muito boa. No equipamento que tenho em casa, deu para ouvir com bastante clareza as linhas de baixo do Gene Simmons, inclusive.
O setlist traz poucas novidades. O maior destaque acaba sendo o resgate de “Talk To Me”, faixa do álbum Unmasked, que foi apresentada poucas vezes. Fora isso, para quem não é fã de carteirinha e acompanha a banda um pouco mais de longe, vai achar interessante ouvir Ace Frehley tocando músicas como “Heaven´s On Fire”, “Lick it Up” e “I Love It Loud”, ou então ouvi-lo dividir os vocais de “Cold Gin” com Gene Simmons.
No restante, é o set usual com performances enérgicas de clássicos como “Detroit Rock City”, “Let Me Go, Rock n Roll”, “Deuce”, “Love Gun”, e tantas outras. Paul Stanley ainda estava com a voz em dia e os músicos não deixavam transparecer no palco, as tretas de bastidores. Então, a audição acaba sendo empolgante. A série, definitivamente, começou bem. Agora é esperar pelo próximo lançamento.
Faixas:
CD 1)
01) Detroit Rock City
02) Deuce
03) Shout It Out Loud
04) Talk To Me
05) I Love It Loud
06) Firehouse
07) Do You Love Me
08) Calling Dr. Love
09) Heaven´s on Fire
10) Let Me Go, Rock ´n´ Roll
11) Shock Me / Guitar Solo
12) Psycho Circus
CD 2:
01) Lick It Up/ Bass Solo
02) God of Thunder / Drum Solo
03) Cold Gin
04) 100.000 Years
05) Love Gun
06) I Still Love You
07) Black Diamond
08) I Was Made For Lovin´ You
09) Rock And Roll All Nite