Cinco Discos para Conhecer: Glyn Johns
Por Ronaldo Rodrigues
Um dos caras mais famosos e renomados dos bastidores do rock, Glyn Johns é um engenheiro de som e produtor que é referência em sua área. Nascido em Surrey, na Inglaterra, Johns começou sua carreira em meados dos anos 60 e sempre esteve próximo de grandes artistas. Um pouco antes de partir para os consoles, Johns tentou a sorte como músico solo e chegou a lançar compactos, mas sem sucesso. Entre 1965 e 1967, ele já estava envolvido com gravações dos Rolling Stones, de Chris Farlowe e dos Small Faces, entre vários outros importantes nomes da cena inglesa. Em 1969, ele foi recrutado para tentar salvar o material das polêmicas “Get Back Sessions” dos Beatles, mas foi Phil Spector quem acabou sendo escolhido para tal, gerando o álbum Let it Be. Mas isso não fez diferença para Johns, já que na virada da década ele lidava com os emergentes Led Zeppelin, Faces e Humble Pie, além dos Rolling Stones, com quem manteve frutuosa parceria em seu período áureo. Além da variedade de nomes do rock e do pop com o qual lidou, Johns desenvolveu uma técnica própria de gravação de bateria, batizada de “Glyn Johns Method” e utilizada até hoje por muitos músicos e engenheiros de som. O método, de fato, capta um som muito orgânico e poderoso da bateria e a qualidade da técnica é atestada por muitas das importantes gravações nas quais foi aplicada. Johns manteve-se na ativa até os anos mais recentes e lançou uma autobiografia em 2014. É uma tarefa árdua pinçar apenas 5 discos que mostrem seu enorme talento e perícia como engenheiro de som.
Led Zeppelin – Led Zeppelin [1969]
Não só pelo aspecto musical esse disco foi um marco, mas também pela qualidade do som, ainda que muitos não tenham essa percepção. Já havia guitarra distorcida em 1969 e riffs pesados pululavam aqui e ali em gravações de muitas bandas, nas quais muitos tentam descobrir “o marco zero do rock pesado”. Mas o fato é que Led Zeppelin conseguiu separar o que era a distorção ruidosa ou primitiva do rock psicodélico, daquilo que era realmente peso de som, fazendo uma blenda absolutamente densa de guitarra distorcida, baixo e bateria. Nisso, Johns teve papel fundamental somado ao espírito visionário e a experiência de Jimmy Page como músico de estúdio. O disco foi gravado em dezembro de 1968 e não existe nada, absolutamente nada, gravado nos meses anteriores que soe como aquilo em seu todo, nem mesmo o trabalho considerado precursor deste álbum – Truth, do Jeff Beck Group. Não só o conteúdo musical de Led Zeppelin, o álbum, é formidável; a forma como foi executado, gravado e produzido, antecipou a década de 70 e virou a página da era Beatles.
The Who – Who’s Next [1971]
Sempre que se fala da importância do ano de 1971 para o rock (há um documentário recente sobre isso circulando por aí), Who’s Next é citado como uma de suas pedras fundamentais. Não é por menos – o The Who estava mais sólido e inspirado do que nunca e muitos apontam que esse é seu melhor trabalho, seja pela criatividade dos arranjos (que incluíram muitos teclados), seja pela intensidade de Keith Moon na bateria, ou pela irretocável performance vocal de Roger Daltrey. O som, a cargo de Johns, é cristalino nos agudos e pesado nos graves, captando toda a potência da banda. É um encontro muito feliz entre ótimas canções e produção de altíssimo nível. A bateria de Keith Moon, se ouvida com atenção, só falta falar.
Rolling Stones – Exile on Main Street [1972]
Pense bem – se o cara esteve envolvido com tantos discos icônicos, ele no mínimo devia ser alguém muito especial. Difícil pensar em alguém que trabalhou em tantos discos clássicos e tantas bandas importantes em sequência, quase que simultaneamente. Exile on Main Street é uma das obras-primas dos Rolling Stones; gravado em um período turbulento e de muitos abusos de drogass, musicalmente é um álbum riquíssimo, variado e, ouso dizer – nunca superado pela banda. Glyn Johns sabia trabalhar muito bem com canções que inseriam muitos instrumentos, como é o caso do repertório desse disco, no qual há várias camadas de guitarra, violões, instrumentos de sopro (gaita, saxofone, etc.), vocais (principal e de apoio), percussão, etc. A sonoridade desse disco capta a liberdade da banda, seu rock rebelde e frequentemente despretensioso. Interessante notar que a produção de Johns não se parece aqui com a de outros trabalhos seu – há uma interessante customização de seu estilo de acordo com o gosto do freguês.
Eric Clapton – Slowhand [1977]
No fim dos anos 70, as técnicas de gravação e a sonoridade dos instrumentos mudaram bastante. O rock foi se ramificando; o que não era tão pesado e não estivesse na trilha do heavy metal, foi ficando um bocado mais plastificado e sem pegada. Já a música pop embarcou na pasteurização promovida pelo funk/disco da segunda metade dos anos 70. Mas Johns não era desses tipos e continuava produzindo trabalhos no qual uma cozinha bem azeitada e em grande destaque, era fundamental. Para começo de conversa, esse disco abre com “Cocaine”, música que ao longo dos anos se tornou a mais conhecida da carreira solo de Clapton (ainda que seja um cover, de JJ Cale). Novamente, se ouvida em detalhes, a bateria/percussão dessa música só falta falar; também é admirável como se intercalam as diversas camadas de guitarra que Clapton gravou. Outro importante hit desse álbum é a baladaça “Wonderful Tonight”, com um arranjo de arrepiar. É um disco cuja produção destoa da média do rock do fim dos anos 70 por sua produção esmerada. Glyn Johns nos faz tirar o chapéu novamente.
The Clash – Combat Rock [1982]
Glyn Johns soube adaptar bem seu know-how para o rock dos anos 80 e seus préstimos valiam para diferentes estilos. O rock/pop do Clash vem quente em Combat Rock, com uma sonoridade que, simultaneamente consolida a postura contestadora da banda e mantém as coisas divertidas e irreverentes. O vocal de Joe Strummer é colocado sem muito destaque na mixagem geral do disco, mas é interessante notar como isso soa bem no panorama da gravação, já que os instrumentos todos tem muito espaço – é possível acompanhar tranquilamente a trajetória de cada instrumento isoladamente, caso o ouvinte queira. Coisa de quem entende (e muito) do riscado. O disco é muito variado, com passagens pelo funk e pelo reggae, além do amplo uso de teclados, e, imagino, que os punk-rockers mais radicais devem torcer o nariz para grande parte do repertório desse disco, que contém os grandes hits “Should I Stay or Should I Go” e “Rock the Casbah”.
O que ele fez para o primeiro Led realmente foi revolucionário. Baita engenheiro de som, e baitas lembranças.
Me surpreendeu o The Clash na lista. Achei que o Ronaldo não curtia a banda
Valeu meu caro! não sou muito chegado de fato, apesar de ser a banda dessa praia que eu consiga ouvir melhor (os Ramones tb são divertidos em vários momentos). Botei mais por questão de representatividade e pra dar um panorama mais amplo aos leitores.