Solitude Aeturnus – Through the Darkest Hour [1994]

Por André Kaminski

Sempre que muitos pensam em doom metal, o pessoal já pega para aquele lado mais exagerado do estilo. Ou seja, já imagina que terá apenas ritmos lentos, riffs pesados e letras melancólicas/suicidas. Não reclamo muito dessas impressões porque as bandas do estilo surgidas nos últimos 17 anos tem feito muito isso. E, aparentemente, ofusca algumas consideradas “clássicas” do estilo tais como Candlemass, Cathedral e esta Solitude Aeturnus, bandas que sim, usam muito bem desses elementos mas sem necessariamente se prender a apenas essa “lentidão”, tendo muitas músicas mais velozes e/ou com variação rítmica.

O Solitude Aeturnus é uma banda americana formada em 1987 lá no enorme estado do Texas. Tendo como principais líderes o guitarrista John Perez e o vocalista Robert Lowe, a banda passou por muitas mudanças de formação ao longo dos anos, mas tendo essa dupla como a espinha dorsal do Solitude. A banda obteve grande destaque na década de 90 em que cinco dos seus seis discos de estúdio foram lançados. E este Through the Darkest Hour está entre os maiores destaques da banda e também é considerado um dos melhores discos do doom já lançados.

E dou toda razão para isso. Que discaço temos aqui. Riffs fortes, uma cozinha de baixo e bateria criativa e Robert Lowe tem um vocal excelente, ao estilo vocalista do heavy tradicional, mas cantando em uma banda ao estilo doom. Fecha a formação o guitarrista Edgar Rivera (que faz a dupla com Perez), o baixista Lyle e o baterista Wolf.

“Falling” abre o disco de uma forma já bem forte, uma cadência médio tempo quase rápida em que as guitarras dominam. O fuzz nos solos também se evidenciam muito. E seguindo com “Haunting the Obscure” o fuzz brilha ainda mais dando aquela atmosfera tétrica que contrasta com o vocal agudo de Lowe. O que gosto da banda em relação as letras que, apesar de usarem aqueles temas mais abstratos de pensamento humano, a banda não os torna cansativos e inclusive se dedica a fazer umas rimas bem legais que ajudam o ouvinte a pegar melhor seus significados.

Após a boa “The 8th Day: Mourning”, o astral em relação ao trabalho sobe de novo com “The 9th Day: Awakening” que me lembra bastante os riffs que Mustaine usava no Megadeth no início dos anos 90. “Pain” segue uma linha de riffs que inspiraria futuramente muitas bandas do stoner metal/rock. Aliás, é uma faixa bem fora do comum porque em metade dela, o riff principal e o solo simplesmente param do nada e uma guitarra mais dedilhada sem muita distorção surge ali junto a vocais que lembrariam o de uma balada. Quem não tem muito costume com as viagens progs que fazem uso frequente dessa quebra repentina vai estranhar bastante. Mas para mim, não houve qualquer problema e até gostei bastante dessa surpresa. Ao final, a mesma surpresa.

Seguindo com “Pawns of Anger”, um riff pesado dá a tônica em uma canção com uma pegada de uma rica variedade rítmica, cortesia do excelente trabalho do baixista Lyle e do baterista Wolf. Para finalizar, ainda menciono “Perfect Insanity” bem diferente das demais e que mistura umas linhas do heavy tradicional ao doom e vocais que lembram muito o Alice in Chains. Aliás, esta música poderia perfeitamente estar presente em qualquer disco da Alice Acorrentada sem quaisquer problemas.

A banda seguiu muito cultuada nos anos 90 e 2000, tendo Alone [2006] o seu último disco de estúdio. Pelo que pesquisei, a última tour deles foi em 2010 e desde então, John Perez tem trabalhado muito mais como tour manager nos anos subsequentes para outras bandas como Orange Goblin e Venom Inc. A banda, aparentemente, segue inativa nos últimos 11 anos.

Voltando ao tema principal, é um ótimo disco se você curte aquele doom em uma linha mais Candlemass daquele início da década de 90. É um álbum que recomendo para qualquer um que goste desse estilo de metal noventista cujas atuais bandas stoner absorveram muito das influências.

Tracklist