Styx – Crash of the Crown [2021]
Por Mairon Machado
O último mês de junho viu nascer o décimo sétimo disco da carreira do Styx. Trata-se de Crash of the Crown, o qual já está na minha lista de melhores lançamentos de 2021 em disparado. O grupo atualmente conta com a dupla consagrada de guitarras e vocais, formada por James “JY” Young e Tommy Shaw, Lawrence Gowan (teclados e vocais), Todd Sucherman (bateria) e Ricky Phillips (baixo), acompanhados de Will Evankovich (violões, guitarras, mandolin, sintetizadores, vocais de apoio), mas está na ativa desde o início dos anos 70. E o que impressiona em Crash of the Crown é como o grupo envelheceu muito bem. Não parece que estão na estrada há 50 anos (sim, o tempo passa), mantendo um nível tão alto tanto em criatividade quanto na qualidade musical, renovando-se sem perder a essência que o tornou um dos maiores nomes do hard rock americano em toda a história da música.
O álbum abre com os teclados futurísticos de “The Fight Of Our Lives”, que parecem saídos de alguma faixa perdida do Vangelis, e aos poucos, os demais instrumentos vão surgindo, explodindo nos vocais repletos de harmonia que consagraram o grupo. A curta faixa cantada por Shaw traz aquelas referências de Queen que apareceram em outras obras da banda, e empolga de cara, estabelecendo uma espécie de prelúdio para a sequência do disco. “A Monster” possui um ritmo dançante que parece saído dos grandes salões de uma Europa Medieval. Pesada, a canção vai entrando em nossa cabeça como uma broca repleta de chicletes, grudando bastante, e com diversas variações, mostra as diversas qualidades do Styx, com destaque especial claro para as lindas harmonias vocais, os trechos de mandolin e também a alternância entre os sintetizadores, ora hammond, ora mellotron, ora moog. Muito bom e progressivo.
Os violões de “Reveries” mantém esse climão medieval, quebrado no explosivo refrão, perfeito para arenas entoarem em uníssono. Aqui destaca-se também os solos de JY e Shaw. Seguimos pela linda “Hold Back The Darkness”, uma obra fantástica comandada pelos teclados de Gowan e o violão de Shaw. Ambos alternam-se nos vocais, e a canção desenvolve-se com um cheirão de Pink Floyd que certamente irá fazer muita gente coçar a cabeça. Linda faixa, lindo refrão, bastante diferente do que poderíamos pensar em termos de Styx. O clima prog é quebrado pelo piano de “Save Us From Ourselves”, com referências ao famoso depoimento de Winston Churchill, e muito próxima pelo Styx clássico do final dos anos 70, principalmente pelos vocais de Shaw e os solos de guitarra.
A faixa-título é aquele momento que todo fã do Styx adora adorar, quando JY assume os vocais. Sabemos que dificilmente JY canta uma música ruim, e “Crash of the Crown” é muito boa realmente. Não parece que essa canção possui apenas 4 minutos, tamanha a quantidade de mudanças. Ela começa com sua levada agitada e os vocais graves do músico, e então uma virada no mínimo curiosa durante o refrão, com a entrada dos vocais de Gowan e Shaw. Quem está mandando muito bem também é Gowan, que faz diversas estripulias nos teclados. Mais uma mudança surpreendente, trazendo de novo as referências ao Queen, encerrando outra bela faixa. “Our Wonderful Lives” e seus violões nos colocam direto em algum local entre The Grand Illusion e Pieces of Eight, ainda mais com a entrada dos vocais e do moog. Essa canção tipicamente Styx conta com a presença mais que ilustre do baixista Chuck Panozzo, que fez parte da banda em diversas formações, e também de Steve Patrick no belo solo de trompete.
A faixa mais longa de Crash of the Crown, “Common Ground”, surge com o moog seguido por violões na melhor linha Styx progressivo, e dê-lhe harmonias vocais. Mas vejam, a mais longa dura apenas 4 minutos, onde Sucherman dá seu espetáculo em particular. Os toques acústicos se mantém em “Sound the Alarm”, mais uma linda balada cantada por Shaw, e com o órgão de igreja muito presente, junto de diversas camadas de teclados. O ritmo frenético de “Long Live the King” choca pela mudança abrupta no que estávamos ouvindo anteriormente, mas continua com Crash of the Crown em alto nível. Refrão forte, boa presença dos teclados e mais uma canção bem diferente no que esperamos de Styx. Passamos pela vinheta “Lost at the Sea”, cantada por Gowan acompanhado pelos teclados e uma base formada por baixo (novamente Panozzo), guitarra e bateria, e somos levados a tabla de Michael Bahan em “Coming Out The Other Side”, uma canção mais amena, que nos prepara para a reta final do disco, celebrando um refrão para se cantar abraçado aos amigos, lembrando um pouco o Yes dos anos 90, ainda mais com o solo de slide (feche os olhos e imagine que é Steve Howe ali).
Voltamos aos teclados e aos vocais em harmonia do início do álbum em “To Those”, funcionando como o epílogo de Crash of the Crown, e se aqui o álbum encerra-se, seria redondinho, em um clima mais que perfeito. Mas há ainda uma breve vinheta, “Another Farewell”, que leva para o dedilhado brilhante de “Stream”, outra que nos remete a Pink Floyd, mas agora ao de Animals, com um belo solo de slide, e que conclui o álbum de forma surpreendente, ainda mais para cima, e que sugere uma espécie de continuidade ao que foi desenvolvido no disco. Fantástico!
O ponto negativo de Crash of the Crown é de que justamente quando estamos curtindo a canção, ela acaba. Mas por outro lado, ouvir o álbum na totalidade parece que na verdade ouvimos uma única suíte de 43 minutos. Temos então um disco que traz um conceito interessante para o pós-pandemia, mesclando os dias de luta, isolamento e repressão com a celebração da vida, através da esperança de que teremos dias melhores em breve, mas principalmente, que o Styx ainda tem muita lenha para queimar.
1 The Fight Of Our Lives
2 A Monster
3 Reveries
4 Hold Back The Darkness
5 Save Us From Ourselves
6 Crash Of The Crown
7 Our Wonderful Lives
8 Common Ground
9 Sound The Alarm
10 Long Live The King
11 Lost At Sea
12 Coming Out The Other Side
13 To Those
14 Another Farewell
15 Stream