Geordie – Don’t Be Fooled By The Name [1974]
por Luiz Carlos Freitas
Em 1980, o mundo conhecia Brian Johnson, o jovem cantor que havia sido escolhido para assumir os vocais do AC/DC após o falecimento trágico e repentino de Bon Scott no começo do ano. Num intervalo curtíssimo de tempo, ele se tranca num estúdio (capitaneado pelos irmãos Young) e debuta no grupo com o Back in Black, disco que viria a ser um dos trabalhos mais icônic0s e bem sucedidos de toda a história da música. O AC/DC reafirmava sua força aos que colocavam o destino da banda como incerto após a morte de Bon Scott e boa parte desse feito era devido ao seu novo frontman. Mas o que poucos sabem é que Brian já tinha sua própria banda e já gozava de notado prestígio quase uma década antes de sua entrada no AC/DC.
Formado em 1972 pelo guitarrista Vic Malcolm (líder da banda), contava com Brian Johnson nos vocais, Tom Hill no baixo e Brian Gibson na bateria. O nome do grupo era oriundo de “Geordie”, denominação popular aos indivíduos nascidos ao norte da Inglaterra e que se caracterizavam por um orgulho extremo de suas origens. Mais que o nome, isso definiu as composições da banda (todas de autoria de Vic), sempre abordando questões locais como as dificuldades de seu povo, a vida dura de trabalho nas grandes fábricas (a região era uma zona industrial) e a resistência frente ao paredão nacionalista que por vezes os excluía do resto do país.
Obteve uma boa recepção com seu primeiro álbum, Hope You Like It, mas foi em 1974, com seu segundo trabalho, Don’t Be Fooled by the Name, que decolaram de Newcastle ao mundo. Mais que um grande êxito comercial, Don’t Be Fooled by the Name estabelecia a identidade musical do Geordie. Desde o seu surgimento, oscilava entre vários estilos, se autodenominando Glam (eles se apresentavam com toda a indumentária característica, dos saltos plataforma e roupas coloridas e elaboradas a longos cabelos e maquiagem pesada), mas com uma sonoridade que pendia mais para o Hard Rock e psicodelismo, alternando num tom que lembrava de The Doors a Deep Purple.
Em Don’t Be Fooled by the Name o Geordie continua com a diversificação de estilos, mas agora não mais como uma experimentação apenas. De “Goin’ Down” e “So What”, músicas mais simples e de batida rápida, às elaborações de “Mercenary Man” e “Ten Feet Tall” (que se complementam na melodia e arranjos), “Got to Know” e “Look At Me”, até a belíssima balada “Little Boy”, o Geordieapresenta um excelente hard rock com pegadas de blues, conduzidos pela guitarra afiada de Vic Malcolm e o vocal característico e poderoso de Brian, talvez o principal responsável pela sinergia do conjunto.
Apesar de marcado por seu canto agressivo e voz rasgada no AC/DC, Brian nunca teve seu real potencial vocal aproveitado pela banda australiana como no Geordie. Um exemplo disso é a segunda faixa do disco, uma versão poderosa de “House of the Rising Sun” (antiga canção popular americana de autor desconhecido e regravada por um sem número de artistas), carregada em longas extensões e falsetes, diferente de tudo que já tenha sido ouvido dele junto ao grupo dos irmãos Young.
Contudo, mesmo apresentando um excelente conjunto de músicos e obtendo êxito comercial à época, o grupo não foi pra frente após aqui. Lançou mais alguns álbuns, mas todos de repercussão irrelevante, o que não os impediu de persistir e, capitaneados pelo sempre esperançoso Brian Johnson, continuaram se apresentando para pequenas plateias, lançando singles aqui e ali, travando uma verdadeira batalha contra todo o cenário musical que não os recebia mais. Ironicamente, em 1980, ao mesmo tempo que Brian Johnson se vê diante da oportunidade de sua vida, o Geordie contempla seu maior “inimigo”, perdendo seu vocalista e “capitão de batalha” e caindo definitivamente no esquecimento. Mas seu legado, mesmo que breve e obscuro à maioria, permanece.
1. Goin’ Down
2. House of the Rising Sun
3. So What
4. Mercenary Man
5. Ten Feet Tall
6. Got to Know
7. Little Boy
8. Look at Me