Entrevista Exclusiva: Felipe Machado (Viper)
Por Mairon Machado
O grupo Viper está voltando aos palcos amanhã, no Festival Visions of Rock, em Fortaleza. Para celebrar esse momento, e também divulgar o novo álbum de inéditas do grupo em quinze anos, Timeless, o guitarrista Felipe Machado concedeu uma entrevista exclusiva para a Consultoria do Rock. Nela, Felipe comenta sobre como será o show de amanhã, bem como traz novidades sobre seu disco solo, Primata, lançado no mês de março. Confira a entrevista abaixo tanto na versão transcrita quanto na sua íntegra, através de nosso Canal no Youtube, e aproveite para inscrever-se no canal e assistir aos nossos demais vídeos.
Consultoria do Rock (CR): Grande Felipe, obrigado por estar aqui na Consultoria.
Felipe Machado (FM): Obrigado pela entrevista com o pessoal da Consultoria. Vamos lá!
Quero começar parabenizando-o pelo seu mais novo trabalho, Primata, o qual está disponível nas plataformas de Streaming. Após lançar três singles ao longo de 2021 (“Medo do Novo”, “Na Praia” e “Quinze Anos”), Primata foi lançado no último 10 de março, trazendo 10 canções. Como foi o processo de criação (composição / gravação) do disco durante a pandemia?
FM: Esse disco começou antes da pandemia, as composições e a gravação, e realmente foi muito prejudicado com a pandemia por que acabei tendo que interromper um pouco. Foi difícil para eu me encontrar com o produtor Val Santos, por exemplo, e aí com certeza atrasou. Mas o processo de composição foi mais ou menos na maneira de como foi feito o primeiro. Eu tinha as canções, daí eu mandava para o Val, a gente pensava uma bateria, ele me devolvia, a gente fazia meio que uma ponte e é o processo que a gente costuma trabalhar. Eu gravo algumas coisas em casa, mando para ele, e me dá umas ideias, manda de volta. É um processo que fizemos no primeiro disco solo, o FMSolo, de 2015, e fizemos de novo isso. Na parte de composição o que teve diferente foi que eu regravei algumas músicas. Por exemplo, “Quinze Anos” e “O Alvo” foram músicas que ja tinham sido gravadas pelo Viper, e eu também acabei tendo mais parcerias. Eu tenho uma música com o Pit, com o próprio Yves, eu gravei uma música de uma banda baiana, “Eleonora”, da banda Casca Dura, e isso foi um pouco diferente do primeiro disco.
Você dessa vez retorna a cantar em português, já que seu primeiro álbum solo, FMX, foi registrado em inglês. Qual o motivo para esta escolha?
FM: Gravar um disco solo já é uma grande mudança, então, achei que gravar um disco solo em português é uma mudança muito grande. Eu quis gravar em português por que senti que um pouco de falta de as pessoas entenderem um pouco a letra das músicas. A gente já sentiu isso no Viper em 96, com o Tem Pra Todo Mundo. A gente já tinha essa ideia de que gravar em inglês é muito legal por conta da sonoridade e tal, mas acaba não se relacionando, não interagindo muito com o público nessa parte da letra. E daí, para esse disco eu quis colocar esse desafio, de gravar e cômpor essas músicas em português. Foi um desafio muito grande, por que é muito mais difícil compôr em português. Além da sonoridade ser mais difícil que o inglês, a mensagem, as letras, o que você quer dizer tem um peso muito mais forte quando você compõe em português. Então, as vezes, uma frase que tem um significado meio bobo em inglês, pela sonoridade ela acaba passando. Mas em português não. Então foi um desafio muito grande. Eu fiquei feliz com o resultado, e eu gostaria que as pessoas prestassem a atenção nessas letras.
Primata conta com a participação de convidados que vão desde colegas e ex-colegas do Viper, como Yves e Pit Passarelli, bem como Val Santos (produtor de Primata), além de artistas da nova geração, como Natacha Cersosismo (Toyshop) e Rob Gutierrez (Hollowmind). Como foi trabalhar com tão diferentes estilos, o que particularmente percebo como uma grande ampliação do leque de referências musicais que Primata entrega ao ouvinte.
FM: Na verdade essa coisa de ter vários estilos é engraçado para mim. Por exemplo, o Yves e o Pit, apesar do Yver tocar no Capital Inicial e o Pit ter composto para o Capital Inicial, a gente se conhece há muitos anos. Então não tem essa de estilo. Eu não pensei muito nos estilos das pessoas. O próprio Rob Gutierrez, apesar da banda dele ser de metal, ele já tocava comigo na minha banda do primeiro álbum solo. É um cara que me dou muito bem. A gente não pensa muito em termos de estilo, sabia. Engraçado essas referências musicais as quais você se refere. A própria Natacha do Toyshop. Eu acabo pensando mais em termos do que que a música exige, ou do que pode ficar legal numa música, e não muito no estilo da pessoa ou até no estilo da banda que a pessoa toca. Eu acho que hoje em dia é mais forte a amizade que eu tenho com a pessoa do que justamente o estilo que ela toca.
“Medo do Novo” abre o álbum com o maior estilo de hit, assim como várias faixas de Primata possuem um excelente refrão e ritmo para agitar as plateias. Como tem sido a reação dos fãs perante o disco, e você pretende divulgá-lo em turnê?
FM: Sim, eu montei uma banda e a gente vai começar a tocar ao vivo a partir de maio. Essa banda tem o Paulo Rocha (guitarra, teclados), a Fernanda Horvath (baixo) e o Alexandre Alja (bateria). Eu quero tocar ao vivo sim, acho que vai ficar bem legal. A reação do público até agora, apesar de não ter tocado ao vivo, mas pelas redes sociais e pelas mensagens, tem sido muito boa. As pessoas têm gostado muito do disco. Eu tava até um pouco receoso, por que é um estilo muito diferente do Viper, mas as pessoas têm gostado bastante. Eu estou bem feliz com o resultado.
Gostei de ouvir o álbum, me remeteu bastante aos anos 80, combinando muito bem as melodias com as letras. Gostaria que você falasse um pouco sobre as canções feitas com Pit (“Deuses e Monstros”) e Yves (“Cinco Minutos”), assim como a regravação para “Alvo”, que ganhou uma cara bastante moderna com os eletrônicos e o vocal feminino, que casou muito bem com a sua (confesso que achei inclusive melhor que o original).
FM: “Deuses e Monstros” é uma música que eu tinha feito com o Pit para um projeto paralelo do Viper, chamado Metanol, que acabou nem gravando nada. Gravou só uma demo e fizemos só alguns shows. Mas é uma música muito boa, que eu gostava bastante, e como o Pit não gravou ela no disco solo dele, eu acabei gravando no meu (risos). É uma música que eu gosto bastante. A letra é muito boa, do Pit. Eu depois acabei colocando umas frases minhas, mudando algumas coisas, é uma música que gosto bastante. Já “Cinco Minutos” foi uma vez que ele estava em casa, a gente tava tocando violão, só de bobeira, tomando uma cerveja, tocando violão, daí surgiu essa ideia de que a vida muda de uma hora para outra. Em cinco minutos você tem uma realidade, e depois tudo muda muito rápido na vida. E acabou virando um tema para música. O Yves teve essa participação na parte da música e no nome “Cinco Minutos”, mas depois acabei escrevendo uma música bastante pessoal, que é uma visão que tenho da minha casa. A partir do lugar onde sento para compôr na minha casa, acabei criando essa letra. E fiquei bastante feliz. É uma música que eu gosto bastante, bem emotiva, descreve bastante parte da minha vida. Eu cito até o nome dos meus livros (Olhos Cor de Chuva e Um Lugar Chamado Aqui), então, apesar de ser uma composição com o Yves, acabou virando uma letra muito pessoal minha. E “O Alvo” também. Essa é uma parceria que tenho com o compositor carioca Alvin L, que eu já tinha feito lá pra época do Tem Pra Todo Mundo. Como regravei as músicas “Quinze Anos” e “O Alvo”, acabei convidando a Bia Barbar, uma cantora muito talentosa, que toca violão, baixo, guitarra, muito talentosa como musicista, e acabei convidando ela para cantar. E acho que combinou muito bem a voz. É um arranjo bem diferente do Tem Pra Todo Mundo, que era mais rock, mas acho que ficou mais legal assim também. Concordo com você que ficou melhor que o original (risos).
Ainda falando sobre Viper, me emocionei ao ouvir a citação de “H. R.” no final de “Sentido do Fim”, e é arrepiante aquele encerramento. Certamente é uma faixa que lhe traz muita emoção e lembranças.
FM: É realmente, é uma música que eu fiz em homenagem ao Andre. Eu até já contei essa história. Eu compus essa música, por uma incrível coincidência, no dia que o Andre morreu, de manhã. Era uma música em homenagem ao livro Sentido do Fim, que é do escritor britânico Julian Barnes, que conta justamente de quatro amigos de infância que um dos quatro morre, e que depois veio a remeter justamente a própria história de eu, Pit, Yves e Andre. Então é uma música muito emocionante. Eu tive essa ideia, depois acabei mudando um pouco a letra, para incluir uma frase para o Andre, aquela frase “Sua voz ainda domina esse lugar” eu coloquei depois. Ficou uma homenagem bonita ao Andre. E daí o final a ideia foi justamente essa coisa da homenagem. Eu chamei o Yves, meu irmão, o Leandro Caçoilo, que já representaria uma nova geração – ele dá até um agudo no final que lembra muito a voz do Andre – e a gente cantou “H. R.”. Eu achei que como a música é em Am, eu tive essa ideia de colocar o refrão de “H. R.” no final, que também é no mesmo tom, Am. Então, eu acho que combinou bastante, e com certeza adicionou um lado emocional muito grande para a música.
Outra faixa que curti bastante foi a revisão para “Quinze Anos”, também de Tem Pra Todo Mundo. Conte mais sobre a escolha dessas regravações, e por que de “Quinze Anos” sair em versões acústica e elétrica?
FM: A “Quinze Anos”, assim como “O Alvo”, é uma música que eu também queria regravar, por que é uma música que também ficou mais rock no Tem Pra Todo Mundo, mas que eu acho que ela sempre combinou mais com uma pegada, uma levada mais do Oasis, mais como uma balada. E eu regravei justamente por isso. Eu queria que ela tivesse essa levada um pouco mais cadenciada assim, que remete mais ao estilo do British Pop, daquelas bandas britânicas dos anos 90. A ideia de ter ela na versão com bateria e só acústica é por que essa música, sempre que estou na praia, ou sempre que estou com amigos tocando violão, ela fica muito bem assim tocando só violão e voz. Por isso que acabei deixando uma versão só acústica. Foi isso (risos).
Sobre o Viper, o grupo está voltando a ativa com o show no festival Visions of Rock em Fortaleza, a ser realizado amanhã, 09 de abril. A banda fez dois shows entre dezembro do ano passado e o início deste ano. Como foi esse retorno aos palcos?
FM: Realmente foi uma emoção muito grande retornar aos palcos depois da pandemia. A gente acabou fazendo uma apresentação num programa de rádio da Kiss Club, no final de 2020, mas depois em 2021 a pandemia voltou com força e a gente se afastou. Então, poder fazer shows novamente foi muito legal. E o público também está sentindo isso. Eu acho que a banda está com bastante vontade de tocar, mas o público também. Talvez até com mais vontade que a banda. Pô, todo mundo querendo ver show de novo. Essa volta está sendo muito importante para uma recuperação até psicológica de todos nós desses dois anos de pandemia. Claro que a pandemia ainda não acabou, mas ela deu uma bela melhorada nos índices, então temos uma impressão que ela melhorou para todo mundo. Então essa volta, nessa fase um pouco melhor da pandemia, está sendo muito importante para retomar o lado psicológico que ficou muito abalado nesses últimos dois anos. Estamos com uma expectativa muito grande de tocar em Fortaleza no festival Visions of Rock, com outras bandas como The Mist, o Vulcano, bandas lendárias. Acho que vai ser muito bom pra todo mundo, e a gente fica muito feliz. Fortaleza é uma cidade que a gente já tocou muitas vezes, temos amigos, lembranças e memórias muito boas da cidade, inclusive como turistas, das praias e tal (risos), mas também do público. Nós passamos lá com a turnê do To Live Again, com Andre Matos, foi um show muito emocionante na praia. Vai ser um reencontro muito legal com os fãs e os amigos de Fortaleza.
Esse festival será ao lado de Vulcano e The Mist, o que já mostra a grandiosidade do evento. Qual será o foco do set list do Viper para este show?
FM: Com certeza vai ser um Greatest Hits (risos). A gente vai tocar músicas de todas as fases da banda, os grandes sucessos, e também vamos ter duas novidades. Vamos tocar duas músicas novas, que vão estar no disco Timeless, que vai sair ainda no primeiro semestre, que são “Angel Heart” e “Under the Sun”. São duas músicas novas que vamos incorporar no repertório e vamos apresentar em Fortaleza.
Outro show já agendado, e que promete emocionar muito os fãs, é o de Limeira, em 03 de junho, ao lado do Shaman. Como surgiu a oportunidade de unir esses dois gigantes em um mesmo palco? Outras cidades poderão apreciar esse momento exclusivo?
FM: Olha, não sabemos ainda se outras cidades vão ter esse show, mas com certeza vai ser muito legal. O Shaman é uma banda irmã da gente, o Hugo Mariutti tocou no Viper muitos anos. Até depois que o Andre morreu ele continou tocando mais um pouco. Foi muito importante que a gente retomou essa parceria. Nós chegamos a se apresentar, depois que o Andre morreu, num show chamado Celebration, que a gente celebrava a carreira do Andre. Chegamos a tocar com o Luis Mariutti e com o próprio Confessori também. Vai ser muito legal, um show bem histórico. Não sabemos ainda se vamos nos reunir para tocar alguma coisa, alguma surpresa deve ter, ainda não sabemos, mas com certeza, tocar junto com eles vai ser muito legal.
Há um novo integrante, o guitarrista Kiko Shred. O estilo dele é diferente de Yves ou Hugo Mariutti, sendo ele bastante mais próximo a linha Malmsteen de tocar. Como foi o processo de entrada de Kiko na banda, e como ele tem adaptado seu estilo para os solos dos clássicos da banda.
FM: Realmente, o Kiko é uma pegada bem diferente do Yves, que é uma pegada mais rock ‘n’ roll, e do Hugo, que é uma pegada mais melódica. O Kiko tem esse estilo bem influenciado pelo Yngwie Malmsteen, que também é um guitarrista que a gente gostava muito no começo da banda, ali nos anos 80, na época do Soldiers of Sunrise. Era uma influência muito grande. O processo de escolha do Kiko foi bem diferente de tudo o que a gente já fez. A gente conheceu ele num show, pessoalmente, e um amigo nos recomendou, nos disse que ele gostava muito da banda e queria fazer um teste. E daí eu acabei vendo ele nas redes sociais e falei “meu, esse cara não precisa fazer teste, esse cara já sabe tocar bem pra caramba, detona na guitarra” (risos). Então a gente convidou ele para fazer um ensaio, ele já tinha tirado as músicas, e oi uma integração muito legal. Fora que o Kiko, além de ser um excelente guitarrista, ele é um cara muito gente boa, muito querido, e se deu muito bem com todo mundo. Está sendo uma experiência muito legal. Ele já fez alguns shows, e se adaptou muito bem. Alguns solos ele mantém mais ou menos como no estúdio, em outros ele coloca o estilo dele, e acho que é normal isso. A gente é uma banda que aceita muito a influência dos músicos, e não é diferente com o Kiko.
Por fim, o novo álbum da banda está prestes a ser lançado. Qual o estágio que se encontra o mesmo e o que você pode adiantar para os fãs do grupo.
FM: O novo álbum já está pronto, inteiramente gravado. O Kiko até conseguiu fazer um solo e enviar para o produtor (Maurício Cersosimo, irmão do baterista Guilherme Martin). O Maurício mora em Nova Iorque e trabalha em um estúdio lá. O disco está na fase de mixagem. Agora no comecinho de abril já vamos lançar o primeiro single, que é “Under the Sun”, e depois vamos lançar mais alguns singles, e depois o disco inteiro completo. Então ele está numa fase totalmente final de mixagem, e em breve vai chegar nas plataformas digitais.
O álbum chegará no formato físico e via streaming?
FM: Formato físico e via streaming com certeza. Ele vai sair em CD também, a gente sabe que os fãs gostam muito dessa parte de ter o CD, de colecionar o CD, então queremos lançar ele em CD.
Em 2025 a banda completará 40 anos. Você pode nos antecipar se já há algo especial programado para ser lançado ou realizado, bem como o que os fãs podem esperar para essa data tão importante para a cena Heavy Metal do Brasil, e por que não, do mundo?
FM: Olha, ainda está um pouco longe, mas com certeza faremos alguma coisa. O Viper é uma banda que toda hora é motivo para comemoração, toda hora é motivo pra festa. Esse ano nós estamos comemorando os 35 anos de Soldiers of Sunrise, nosso primeiro disco. Com certeza vai ter alguma novidade em 2025. Eu nem tinha lembrado que eram os 40 anos, obrigado pela lembrança, e com certeza vamos fazer alguma coisa importante. Eu não sei direito o que ainda, mas com certeza alguma coisa vai ter.
Felipe, muito obrigado por sua atenção. Um forte abraço e o espaço agora é seu. Fique à vontade para deixar uma mensagem para nossos leitores e, principalmente, para seus fãs.
FM: Eu que agradeço. Obrigado pela entrevista, espero que você tenha gostado do Primata, que é meu segundo álbum solo, e que traz uma sonoridade diferente do Viper. Estou gostando bastante desse trabalho e espero que as pessoas curtam também, principalmente na parte das letras, que tiveram um cuidado bastante especial. E obrigado também pelas perguntas sobre o Viper. Uma banda com tantos anos, tantos amigos. Não vemos a hora de voltar a tocar para realmente denotar os palcos, e estamos bastante ansiosos para tocar em Fortaleza, no Visions of Rock. Abração.
Deveria ter deixado só em texto, que está ok. Esse vídeo escancarando que foi via áudio de WhatsApp é constrangedor, e a “edição” em nada melhora!
Se a Consultoria quiser mais inscritos pra monetizar, precisa investir (seja em estrutura ou em profissionais). Nessa estirpe não dá, os vídeos podem ser amadores mas com dignidade. Crítica construtiva…