Ouve Isso Aqui: Álbuns que fazem 50 anos em 2022
Editado por André Kaminski
Tema escolhido por Daniel Benedetti
Com Anderson Godinho, Davi Pascale, Fernando Bueno, Líbia Brigido e Mairon Machado
Lá se vão cinquenta longos anos desde que esses álbuns foram lançados e, como sempre acontece com clássicos atemporais, estes mesmos continuam encantando gerações de ouvintes mundo afora. Nosso amigo Daniel fez uma bela lista de cinco discos lançados em 1972, o ano em que muitos consideram o melhor da história do rock (ou um dos melhores). Convenhamos, daria para tranquilamente fazer cinquenta clássicos lançados há cinquenta anos que ainda assim faltaria disco. Mas os que estão aqui são muito representativos de uma época em que o rock brilhava. Quais os que faltaram? Deixe suas sugestões nos comentários.
T.Rex – The Slider
Daniel: Acho muito interessante a sonoridade do T. Rex, especialmente levando-se em conta a época em que seus álbuns foram lançados. Evidentemente, trata-se de um Rock suave e bem acessível, mas contando com uma atmosfera que sempre me soou estranha e, este contraponto, é o fator que me causa mais interesse. Outro ponto bem relevante é o groove das canções, com um trabalho bem legal do baixista Steve Currie. The Slider é o meu disco favorito do grupo, pois conta com faixas como “Metal Guru”, “The Slider”, “Telegram Sam” e, claro, “Ballrooms of Mars”. Infelizmente, Marc Bolan morreu muito jovem para que pudéssemos desfrutar mais de sua criatividade.
Anderson: O momento em que o projeto de Marc Bolan desenrola e se torna gigante! Não creio estar sendo justo com os demais, mas a cabeça idealizadora e pensante do T. Rex merece o destaque sugerido na capa. O clássico do Glam me agrada bastante principalmente a partir de “Rock On” e segue firme até “Rabbit Fighter”. Não sou um grande apreciador da banda, mas respeito muito a história.
André: Nunca tinha ouvido este disco do T.Rex em específico e achei bem legal. O que eu mais ouvi deles foi Futuristic Dragon [1976] que nem é considerado um dos melhores deles mas que eu gosto bastante. Os riffs e melodias são bem simples mas gostosos de ouvir. Apenas achei que ele deu uma exagerada nas faixas, dava para tirar umas três ali que considero fillers. Todavia, um ótimo disco dos tempos áureos do glam rock.
Davi: Clássico do glam rock, simples assim. Aqui, Marc Bolan mantém o alto nível de seu trabalho anterior, o (ótimo) Electric Warrior. Mesclando a levada rock com as linhas vocais mais puxadas para o pop (no bom sentido da expressão), o rapaz criou uma sonoridade bem própria. Há espaço para algumas baladas, onde por alguns momentos nos remetem aos seus dias de Tyranossaurus Rex, mas os momentos mais rock são os meus favoritos. Para ser mais específico, minhas faixas favoritas ficam por conta de “Metal Guru”, “Rock On”, “Telegram Sam”, além da faixa-título. Bela lembrança.
Fernando: Disco com a difícil tarefa de fazer sequencia à um clássico do rock. Geralmente quando uma banda faz muito sucesso com um disco a sequencia tende a ser mais fraca pela pressa de se gravar um disco e capitalizar o sucesso. Mas The Slider é tão bom quanto Electric Warrior. “Metal Guru” seria uma referência ao novo estilo musical? Pelo menos musicalmente não. Interessante pensar que David Bowie tinha uma relação de admiração e competição com Marc Bolan, mas quando se ouve esses discos do T.Rex e os discos até então gravados pelo Bowie percebemos muita similaridade.
Líbia: Músicas seminais nunca envelhecem, sempre serão referências principais em seu nicho, se transportando por gerações. É o caso do T.Rex no The Sliders, você percebe a modernidade já nas primeiras audições. Uma pessoa desavisada e sem conhecimento da banda poderá achar que é um lançamento do século XXI. Há muitos detalhes com um capricho sem igual, se eu for indicar uma música para perceber toda a essência do álbum seria a faixa-título, porém não há fraqueza nas treze faixas dele.
Mairon: Um dos grandes clássicos do Glam Metal, lançado no mesmo ano do aclamadíssimo The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spider from Mars. A sonoridade dos álbuns são um tanto quanto distintas, com o conceito do álbum de Bowie superando em muito as composições não-homogêneas de Marc Bolan. Porém, é inegável a qualidade das baladaças “Mystic Lady” e “Spaceball Ricochet”, o bom uso de influências de blues em “Rabbit Fighter” e “The Slider”, bem como a grandeza festiva de faixas como “Baby Boomerang”, “Baby Strange”, “Main Man” e “Metal Guru”, para se cantar embriagado a plenos pulmões. E claro, não há como não alavancar muitos pontos para o disco com a pesadíssima “Chariot Choogle”, e aquela que talvez seja a melhor canção da carreira do T. Rex, a fantástica “Buick Mackane”, com seu riff que destrói sua casa em apenas 3 minutos. Temos ainda a mais Bowie das faixas Bolan, curiosamente chamada “Ballrooms of Mars”, a lembrança de “Get it On” no riff de “Telegram Sam”, o riff inconfundível de “Rock On”, e é isso o que acaba sendo o predominante ao longo de The Slider, um álbum com riffs que marcaram época. Uma boa escolha de disco para colocar em uma festa roqueira.
Rod Stewart – Never a Dull Moment
Daniel: Sempre fui fã dos trabalhos iniciais do Rod Stewart, seja com Jeff Beck, no Faces ou mesmo na carreira solo. Considero Never a Dull Moment um de seus melhores álbuns. A guitarra afiada de Ronnie Wood é um destaque ao lado da bela e afiada voz de Stewart. Adoro canções como “True Blue” e “Italian Girls”, além da versão matadora para “Twistin’ the Night Away”. Quando alguém me fala sobre Rod Stewart, é desta fase que eu me lembro.
Anderson: Na minha concepção o mais fraco dessa seleção (de respeito, aliás), porém com uma música que está facilmente entre as melhores dentre os cinco: “I’d Rather Go Blind”. Que som é esse! No mais eu curto bastante “Mama You Been On My Mind” e a animada “Italian Girls”. Obviamente que tem a ótima “Twisting the Night Away”, mas que não me cativa muito. Baita trabalho.
André: Nunca gostei do Rod Stewart em sua carreira solo. Aliás, nunca também fui fã de seus vocais (principalmente suas interpretações vocais). Porém, ao menos aqui, ele se utiliza de mais influências (mesmo que pequenas) daquele rock mais sessentista que ainda continha blues e um tantinho de folk. Não é ruim, é um disco ouvível para a minha pessoa. Por sinal, peguei ranço dele depois de ouvir um chatíssimo disco antigo que tem ele todo brilhante e de rosa na capa. Depois disso, só o ouvi no Faces. Mas foi bom ouvir esse aqui para saber que talvez eu possa aproveitar algo dele dos seus quatro primeiros discos.
Davi: Sempre gostei muito do Rod Stewart e essa fase inicial sempre foi a minha favorita. Never a Dull Moment é seu quarto álbum solo e mantém o que o cantor vinha fazendo até então. Ou seja, misturava-se canções de rock n roll com baladas folks. Misturava-se canções autorais com covers. A versão de “Twistin´ The Night Away” (Sam Cooke) ficou brilhante e traz um ótimo trabalho vocal de Stewart. Também gosto muito da versão que fez de “Mama, You Been On My Mind” (Bob Dylan). Muito bem resolvida e casou bem no disco. A bola fora fica por conta de “Angel”, que não chega nem perto da linda gravação de Jimi Hendrix. Gosto muito quanto cai de cabeça em um rock mais básico como “Italian Girls” ou até mesmo “True Blue”, canção que carrega a assinatura do The Faces, por sinal. A música mais lembrada pelos fãs de FM é, certamente, “You Wear It Well”, que nada mais é do que uma tentativa de recriar o clássico “Maggie May”. A música não é ruim, mas não tem o mesmo brilho do hit de Every Picture Tells a Story. Contudo, nada disso tira o brilho desse LP. Discaço e um dos meus favoritos dessa lista.
Fernando: Uma galera tende a desmerecer o Rod Stewart pelo direcionamento de sua carreira nos anos 80, mas poucas dessas pessoas chega a ouvir os discos do início dos anos 70 tanto como um artista solo, quanto no Faces. Com um voz única Rod Stewart é um dos melhores cantores de sua geração. Never A Dull Moment, assim como o disco do T Rex citado acima, sucede um grande clássico e também não faz feio. Na verdade esses dois discos compõe o auge do material gravado pelo cantor escocês/inglês.
Líbia: Sabe aquela voz inconfundível e capaz de lotar estádios? Esse é o Rod Stewart. Foi isso que pensei quando coloquei o Never a Dull Moment no play. Conheci esse músico por indicação de uma amiga da minha irmã, e por anos ouvia vez ou outra de forma bem aleatória. É o primeiro álbum ouço inteiro, e Rod com sua voz tão única, interpreta com perfeição as suas composições, passando facilmente do folk ao rock. A “I’d Rather Go Blind” ficou perfeita na versão de Stewart. É um álbum bastante curto, mas bem pensado, e parece tocar todas as áreas do paladar do ouvinte.
Mairon: Depois de sair dos Faces, Rod Stewart se tornou um dos queridinhos da grande mídia musical, com seus discos de um rock pop de fácil acesso. Never a Dull Moment é mais um deles, e olha, não sei o que é, mas a carreira solo de Rod não consegue me conquistar. É um disco com boas músicas? Sim, é sim. A banda que acompanha Rod é praticamente os próprios ex-colegas de Faces ou Jeff Beck Group, tem tudo para dar certo. Mas ao ouvir os metais em “Lost Paraguayos”, o rock animado de “Twistin’ the Night Away” (Sam Cooke), a revisão country de “Mama, You Been on My Mind” (Bob Dylan), ou mesmo a bonita adaptação para “Angel” (Jimi Hendrix) parece que tudo o que estou a ouvir é algo requentado, já feito anteriormente, e de pior qualidade. Há momentos que são legaizinhos, como “Italian Girls”, a delicadeza da baladaça “I’d Rather Go Blind”, ou a boa apresentação inicial de “True Blue”. Mas quando em todo um disco o que mais me chama atenção é uma peça de 40 segundos no violão, chamada “Interludings”, é que algo está errado. Não é um disco ruim, mas não me convenceu de ir atrás da coleção (vasta) do britânico.
Uriah Heep – Demons and Wizards
Daniel: Demons and Wizards é um dos melhores e mais impressionantes álbuns dos anos 1970 que, apesar de ter seu valor mais reconhecido na última década, penso ser ainda pouco reverenciado. A mistura de Hard e Progressivo, com toques de Metal, guiada pela voz inconfundível de David Byron e as guitarras de Mick Box e regida pela genialidade de Ken Hensley forma uma peça fundamental desta banda impressionante. Que álbum, meus amigos!
Anderson: Um dos maiores clássicos do rock de todos os tempos. Simples assim. “The Wizard”, “Easy Livin’”, “Poet’s Justice”, “Circle of Hands”, “Rainbow Demon” enfim… Se ainda não ouviu pare tudo e faça a lição de casa.
André: Eu simplesmente adoro esse disco. Tenho na minha coleção (que infelizmente anda parada há algum tempo). Não tem faixa ruim aqui, mas minhas favoritas são a lindíssima “The Wizard”, a clássica “Easy Livin'” e aqueles teclados divinos de “Circle of Hands” então? Eu duvido que tenha algum ser que frequenta esse site que nunca tenha ouvido esse disco, mas se esse ser existe, não faz ideia do que está perdendo!
Davi: Está aí uma banda que preciso me aprofundar mais. Sim, conheço e tenho alguns discos deles na minha coleção, mas ainda não caí de cabeça na obra como deveria. Demons and Wizards é um de seus trabalhos mais cultuados e não é por acaso. O disco é de uma qualidade ímpar. As execuções são brilhantes e o repertório é bem consistente. A primeira música que ouvi deles foi o hit “Easy Livin´”, que é uma das canções desse álbum, e isso já ajuda a colocar um sorriso no meu rosto. “The Wizard”, com sua belíssima introdução de voz a violão, “All My Life” com uma empolgante slide guitar e a contagiante “Traveller In Time” são os meus momentos favoritos e são faixas que me peguei ouvindo repetidas vezes.
Fernando: Clássico inquestionável. Se você não conhece esse disco pare tudo e trate de ouvi-lo agora, mesmo que antes você tenha colocado um dos dois discos citados acima. E quando você ficar doido pelo que Byron, Hensley, Box, Kerslake e Thain fizeram em Demons and Wizards, ouça de novo por que muito provavelmente você não absorveu tudo o que o disco tem para oferecer.
Líbia: Um dos melhores álbuns que você pode escutar na vida. Já nos primeiros segundos dessa maravilha, você até confunde a realidade com o sonho. É um álbum especial pra mim, de uma forma que acho difícil comentar sobre ele, sinto que fico sem palavras mas a poesia fica no ar. O som da guitarra acústica no “The Wizard” é soberbamente detalhado e tem uma sensação de “ao vivo”. O álbum inteiro parece que foi gravado ontem. As músicas entram em carne e osso imediatamente após dar o play. Elas sobreviverão a décadas inteiras sem danos, o que significa que você pode ouvir daqui a 50 anos, e ainda não ter ouvido o suficiente deles.
Mairon: É bem difícil para mim escolher qual dos lançamentos do Uriah Heep em 1972 eu curto mais. Este é o irmão mais velho (The Magician’s Birthday é o mais novo), e marca a estreia da formação clássica do Heep, com David Byron (vocais), Mick Box (guitarras), Ken Hensley (teclados, guitarras, vocais), Gary Thain (baixo) e Lee Kerslake (bateria), esses dois últimos estreantes na banda, e completando as harmonias vocais que se tornaram tradição na banda. O álbum já começa surpreendendo com os violões de “The Wizard”, seguida por duas pauladas (“Traveller In Time” e “Easy Livin'”) que logo se tornaram hinos da banda. A evolução do disco é fantástica, mesclando faixas pesadas (“All My Life”, “Poet’s Justice” e “Rainbow Demon”) com outras mais amenas (“Circle of Hands”, com a bela e verdadeira frase “today is only yesterday’s tomorrow” e a dupla “Paradise”/”The Spell”, fantásticas e lindas). Era o Uriah Heep vivendo o início de sua fase áurea, onde cada membro fazia sua participação com destaque, carregados pela genialidade de Ken Hensley. A história conceitual dos dois álbuns é um tanto quanto confusa, mas que são discos incríveis musicalmente, ah, isso ninguém nega.
Santana – Caravanserai
Daniel: Tenho para mim que este é um dos discos mais subestimados dos anos 1970. Talvez por não ser tão direto quanto Abraxas, por exemplo, Caravanserai não é tão citado ou comentado. Mais intimista e introspectivo, Carlos Santana se aprofunda no jazz fusion, com solos ainda mais arrepiantes e menos óbvios, com um quê de imprevisibilidade que faz de suas canções ainda mais instigantes. Ouça “All The Love Of The Universe” e sentirá o que foi afirmado.
Anderson: Um clássico. Santana, mandou essa pérola pros anais da música já quando a banda original não estava em paz completa. O álbum é intenso com longas passagens instrumentais e com um ar um tanto quando introspectivo e hipnotizante. Em minha opinião é um dos álbuns mais icônicos do Santana, mas considere seriamente organizar um momento seu para apreciar a obra, não irá se arrepender.
André: Carlão sempre soube o que faz. Seus discos que misturam rock com aquele sacolejo latino sempre me agradaram. E este é o melhor que de sua longa discografia aqui como banda. Tendo as feras Neal Schon e Gregg Rolie (que logo depois formariam o Journey) é fácil verificar que o mexicano sempre esteve muito bem acompanhado de bons músicos durante toda a carreira. Minha canção de destaque aqui é a que fecha o álbum “Stone Flower” (que eu não reconheci que era uma canção do Tom Jobim) e seu grande conjunto de percussão (algo normal em se tratando de um álbum do Santana).
Davi: O Santana é um artista que sempre gostei muito. Adoro o estilo de tocar do Carlos Santana. É um músico que além de ter um incrível domínio de seu instrumento, tem um estilo muito próprio. Tanto de composição, quanto de timbragem. Basta uma palhetada para sabermos que estamos ouvindo sua guitarra. A sua discografia considero, no geral, muito boa, porém sempre teve um ou outro álbum que nunca consegui morrer de amores e esse é um deles. Claro, o nível de execução é inquestionável, mas as composições nunca me chamaram muito a atenção. A maior parte desse álbum é instrumental e traz os músicos buscando arranjos mais complexos, com uma forte influência de jazz rock. Nada contra, mas ainda prefiro a sonoridade de seus 3 primeiros álbuns, com uma maior influência de música latina. De todo modo, foi legal reescutá-lo.
Fernando: Santana nunca me agradou muito. Ouvi diversas vezes suas músicas, mesmo que nunca, confesso, tenha me apegado à um disco ou à uma fase de sua carreira para conhecer melhor. Ouvi novamente esse disco, algumas passagens me chamaram atenção, mas por muitas vezes fiquei disperso. A primeira faixa, “Eternal Caravan”, já não ajuda, pois é quase que uma paisagem musical que não me remete à lugar algum. Aí a faixa seguinte “Waves Within” segue quase a mesma fórmula. Acho que Carlos Santana não é para mim. O mais interessante é saber que os músicos que o acompanhavam sairiam logo depois e formariam uma banda histórica, o Journey.
Líbia: Não consigo pensar em muitas outras bandas que despertam tanta emoção interior como Santana nos primeiros 4 álbuns. No Caravanserai a banda está no auge da sua criatividade. Ele é feito para apreciar como um todo, as faixas servem de pilares uma para as outras, ao longo do caminho vai mostrando o incrível virtuosismo que esta banda era capaz de fazer. Você não quer que ele acabe, e quando menos espera, finaliza com a “Every Step of the Way”. Aproveite essa viagem sem pressa.
Mairon: Esse eu lembro até hoje o desbunde que foi a primeira audição. Era fã de Santana da fase Abraxas, III e Amigos, e não sabia nada de uma fase Devadip. Não lembro como Caravanserai chegou às minhas mãos (Micael, foi naquelas promoções de 5 por 10?), mas lembro que ao colocar o disco para rodar, aquele monte de grilos, saxofone, não fazia sentido nenhum com o que já havia ouvido de Santana. O magistral lado A seguiu praticamente todo instrumental, com apenas duas faixas com vocais, e nas demais 4 canções, muito experimentalismo, com a tradicional percussão da Santana destruindo, e um Devadip Carlos Santana em plena forma, com solos animalescos. Destaque mais que especial para a leveza de “Song of the Wind”, o ritmo flamenco de “All the Love of the Universe” e a pancadaria em “Waves Within”. O lado B segue com mais experimentalismo, através dos teclados de Gregg Rollie (outro que está mandando muito bem aqui) e percussões de “Future Primitive”, nas maluquices na introdução da sensacional “Every Step of the Way”, e o destaque central para o estonteante ritmo de “La Fuente Del Ritmo”, de tirar o fôlego. Temos ainda uma magistral revisão para “Stone Flower”, de Tom Jobim, com cuíca e tudo. Um dos melhores discos da carreira do Santana, e uma grata audição para esse Ouve Isso Aqui.
Stephen Stills & Manassas – Manassas
Daniel: Eu li uma vez que Stephen Stills considera Manassas uma de suas melhores obras e eu não consigo discordar dele. Manassas traz um time de músicos de primeiro nível o acompanhando em uma mistura riquíssima de Blues, Country, Folk e, claro, Rock. O lançamento original em vinil é álbum duplo, com cada um dos quatro lados, teoricamente, dedicado a um dos supracitados estilos, mas, o que faz desta obra inesquecível, é justamente a sobreposição das abordagens musicais, sempre realizadas com refinamento ímpar. Apesar da duração extensa, o álbum passa de modo muito fluido. Discaço!
Anderson: Não conhecia e logo na segunda música achei muito bom! Muito blues, folk, country e um rock aqui e ali modulando uma constante alternância entre momentos mais calmos e agitados. Originalmente um disco duplo cujos quatro lados possuem denominação e teoricamente nos provem diferentes perspectivas sonoras. Baita álbum que ainda não terminei de digerir.
André: Tá aí uma grande surpresa dessa lista. Serviu para me mostrar como eu devo ir atrás com mais frequência dos discos-solos de integrantes de bandas famosas. Geralmente não são tão falados, mas volta e meia me surpreendo com ótimas músicas. Mesmo sendo bastante longo, a variedade de blues, country e folk e as composições de tão boa qualidade, com uma ou outra exceção, fazem este disco passar rápido que nem senti. Adorei a percussão e a guitarra ardida de “Anyway”. E “So Begins the Task” virou meio que obrigatória nos shows dele e digna de uma beleza típica do CSN. Obrigado pela sugestão aí Daniel, esse disco merece mesmo ser muito mais divulgado internet afora.
Davi: Depois do Rod Stewart, esse é o meu favorito da lista. O repertório é bem variado e conta com levadas de rock, blues, folk, bluegrass, country e até música latina (influencia perceptível na levada de percussão de algumas faixas). O LP era duplo e cada lado era focado em uma sonoridade diferente. O lado A e lado D eram os lados mais roqueiros, enquanto o lado B e o lado C eram os mais calmos. É até difícil citar um momento de destaque, já que o LP é bem consistente, mas para não ficar em cima do muro vou citar as faixas “Song of Love”, “Anyway”, “Colorado”, “Johnny´s Garden” e “Right Now” como destaques. Discaço!
Fernando: Ok…todo mundo conhece Stephen Stills, lá do Crosby, Stills & Nash, ou mesmo na versão com Neil Young. O Buffalo Springfield eu também conheço, mas nunca fui atrás do que ele fez depois disso. Para uma primeira audição, achei bastante interessante, mas esse é daqueles discos que precisam de várias audições para sacar melhor todo o conteúdo de seus quatro lados dos LPs.
Líbia: Como nunca tinha ouvido falar desse monumento? Ótima indicação do Daniel. Pra não ficar tão vergonhoso, já conhecia o Stephen Stills do Buffalo Springfield e da superbanda Crosby, Stills, Nash & Young, essa segunda estou escutando os trabalhos com calma a pouco mais de 1 ano. Mais essa beleza chamada Manassas também conquistou meus ouvidos com sua variedade de country, folk e blues rock, com uma sobreposição dos estilos durante todo o álbum. Parece ser aquele tipo de álbum que envelhece bem, e em qualquer época ele vai te curar. Imagino que quem é músico enxergar muitos detalhes entusiasmantes e inspiradores!
Mairon: Confesso que fui surpreendido com esse álbum. Achei que ia encontrar algo na linha folk da Crosby Stills & Nash, mas … O disco é dividido em 4 lados distintos. O lado A (The Raven) é encantador. A percussão e linhas de guitarra das duas primeiras canções me remeteram direto ao Southern da Allman Brothers, e na sequência, o blues de “Jet Set (Sigh)” fez com que qualquer pré-conceito que eu tinha contra Manassas caísse por terra (que gaitinha mágica). O southern segue em “Anyway”, e que lindeza é essa “Both of Us (Bound to Lose)” hein? O lado B (The Wilderness) já é mais o que eu esperava, com muitas influências country, e não me foi uma audição tão agradável quanto The Raven. O lado C (Consider) me levou à Califórnia do fim dos anos 60. Gostei de “It doesn’t Matter”, uma mera amostra do que a Quicksilver Messenger Service foi em sua segunda fase, as inspirações Grateful Deadianas de “The Love Gangster”, os violões e harmonias vocais de “Bound to Fall” a la Jefferson Airplane, a viajante “Move Around”, muito da maluquete, e “Johnny’s Garden” é muito Moby Grape, assim como “How Far”. Excelente lado. Finalmente, o lado D (Rock & Roll Is Here to Stay) é o mais versátil com elementos country (“What To Do”), a jam roquer de “The Treasure” (Take One)”, os elementos acústicos de “Blues Man”, e em essencial, “Right Now”, faixa impressionante com sua velocidade e belas passagens de piano e guitarra. No geral, foi uma grata surpresa, valeu a indicação Daniel?
Muito legais os comentários, pessoal. O texto ficou muito bom e que bom que gostaram das indicações. Saudações!
Anozinho complicado. O André resumiu bem. Dá para colocar uma lista de 50 discos que ainda irá faltar. Até 1977, praticamente tudo o que foi lançado é impecável. 78 a coisa começa a dar uma degringolada. Período mágico para a história da música
1972 para mim é o melhor ano da história do rock. Gostei muito de ver o Manassas e o Caravanserai na lista, porque são discos menos conhecidos, e provavelmente não teria colocado o disco do Rod Stewart, que, embora seja um dos melhores dele, nunca me disse muita coisa. E gostei mais ainda de ver que não se recorreu ao óbvio (Machine Head, Close to the Edge, Foxtrot, Ziggy Stardust, Exile on Main Street, Thick as a Brick). Dizer que falta algum disco é chover no molhado, mas acho que o Argus do Wishbone Ash, o primeiro do Blue Öyster Cult, o Something/Anything? do Todd Rundgren, Harvest do Neil Young, Europe ’72 do Grateful Dead, Slade Alive!, Henry The Human Fly do Richard Thompson, Waterloo Lilly do Caravan, os primeiros discos do Roxy Music e do Foghat, todos fariam bonito nessa lista. Estou escrevendo no dia 18 – se alguém quiser mais um motivo para ouvir Demons and Wizards do Uriah Heep, no dia 19 ele completa 50 anos de seu lançamento original.
Obrigado, Marcello. Tentei não citar os mais consagrados e, claro, faltaram muitos além dos que você citou. Mas são apenas 5 na seção, então, foi dos que lembrei. Abraço!
Baitas discos. 72, 73, 74, 75, 71, 70, 69, só ano foda
Senti falta de “Honky Château” e “Don’t Shoot Me, I’m Only the Piano Player” do Elton John, dois discaços que ele lançou em 1972 (o primeiro em maio e o segundo acho que foi em novembro).
Também são ótimas lembranças, Igor.
Com certeza, meu amigo… Dois grandes álbuns da minha fase preferida do astro!
Nem tudo está perdido: “Don’t Shoot Me…” pode aparecer numa lista para o ano que vem! Fui checar no site oficial do Reginald, e a data de lançamento é 24 de janeiro de 1973.
Mas se dependesse do próprio Elton John, esse disco teria vindo mais cedo, um mês antes do Natal de 1972 (dizem que ele ficou doente nesse tempo e não conseguiu lança-lo com antecedência). Já O DISCO de 1973 lançado pelo astro inglês é aquela lindeza chamada Goodbye Yellow Brick Road, esse sim, super indicado para uma lista de 50 anos no ano que vem!
Sabia que o disco já estava pronto, mas não porque não tinha sido lançado em 72. Obrigado pelo esclarecimento!
Goodyear… é até covardia!
É, tens toda razão, meu amigo!