Lockdown – Unholy Ceremony Heretic [2021]
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Por Micael Machado
O Black e o Death Metal nunca foram dos meus estilos musicais favoritos. Porém, quando um projeto nestes moldes envolve a participação de João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, um dos meus grupos nacionais preferidos, parece óbvio que a curiosidade para conferir o som do grupo acabe surgindo para mim. E não foi sem alguma surpresa que a audição do EP Unholy Ceremony Heretic, do Lockdown, acabou me trazendo vários momentos prazerosos de “bate-cabeça” e “air guitar” devido à sua qualidade.
Anunciado ainda em 2020, o projeto tirou seu nome do “confinamento” involuntário ao qual à população mundial foi submetida devido à epidemia do novo coronavírus. A impossibilidade de fazerem shows e excursionarem com suas próprias bandas e projetos foi a oportunidade que Gordo e Antonio Araújo (guitarrista das bandas Korzus e Matanza Ritual) tiveram de colocar em prática um antigo desejo de fazer um projeto musical juntos. Com a adição do baixista Rafael Yamada (do Claustrofobia e ex-Project 46) – em posto que, a princípio, seria ocupado por Alex Camargo, do Krisiun, que não conseguiu continuar a fazer parte do grupo, por motivos que não consegui averiguar – e do baterista Bruno Santin (do Endrah), foi então possível registar “nos poços do inferno, durante a quarentena do COVID 19”, como “explica” o encarte, este trabalho de estreia do quarteto, onde todas as composições (exceto uma) são de Araújo (também produtor da bolacha) e a mixagem e masterização ficaram a cargo de Rodrigo Oliveira (baterista do Korzus) no Dharma Studios, de São Paulo, além de contar com uma excelente arte gráfica criada pelo renomado artista Alcides Burn (Burn Artworks). O EP teve lançamento em CD e vinil com lado único (“single sided”) pela união dos selos Neves Records, Melomano Discos e All Music Matters, que estão fazendo um belo trabalho no meio musical nacional, oportunizando diversos produtos no mercado (especialmente em vinil, muitos com versões especiais limitadas) nos últimos tempos.
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Com sete faixas espalhadas em pouco mais de quinze minutos, o EP não é só “porradaria” e “velocidade acelerada” como muitos outros lançamentos do estilo, os quais, a meu ver, muitas vezes se tornam maçantes e complicados de ouvir por falta de variações. Pois “variações” musicais são algo que aparecem bastante ao longo da audição de Unholy Ceremony Heretic. Ainda que “Archangel” (faixa de abertura – após a “calma” intro “Umbral” – e primeiro single divulgado pelo projeto) comece a toda velocidade, existem alguns momentos mais “lentos” e até as famosas “paradinhas matadoras” ao longo de sua execução. Quase o mesmo ocorre na agressiva “Hymn of Hate” e na própria faixa título (cujo começo acústico pode até enganar aos mais incautos), a qual conta com um curto mas eficiente solo do guitarrista Chris Cannella (à época da gravação, ainda membro do Deicide). Outro convidado especial do EP é o tecladista João Nogueira, do The Claypool Lennon Delirium, que compôs e gravou a curta vinheta “Mordor”, climática e cheia de efeitos “especiais” de suas teclas.
“Black Demons Reign”, a mais longa do play (embora nem chegue a três minutos e meio) acaba sendo, para mim, o maior destaque do EP, com um andamento mais cadenciado que o das demais faixas, mas, nem por isso, menos efetivo (para o meu gosto, bem ao contrário), enquanto “Desprezo”, a única com letras em português (e outra música que não precisa abusar da velocidade para “passar o seu recado”) tem um riff interessantíssimo de guitarra, lembrando algumas coisas do começo do Soulfly, e um dos melhores (dentre os poucos) solos de guitarra do disco, além de ser a escolhida para ter o primeiro clipe oficial do projeto. Talvez pelo idioma utilizado, é nesta faixa que Gordo chega mais perto de seu trabalho no Ratos, pois, nas demais, o cantor usa e abusa de sua capacidade vocal, soando mais agressivo do que de costume, além de variar bastante o estilo de sua voz, indo do urro gutural a um estilo mais agudo e rasgado com frequência e facilidade, com uma interpretação que acaba sendo um dos maiores destaques do disco, embora o trabalho da “cozinha” (ainda que o baixo soe meio “apagado” por vezes) e os riffs de Antonio Araújo também sejam merecedores de nota no quesito qualidade.
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Como “apresentação” da banda, Unholy Ceremony Heretic é um excelente “cartão de visitas” do projeto, o qual, espera-se, tenha continuidade daqui para frente, e consiga, em breve, chegar ao seu “debut” completo. Fica a expectativa para o que o quarteto conseguirá criar no futuro, ainda mais agora que há a possibilidade de, finalmente, se reunirem presencialmente e aprimorar ainda mais a convivência e dinâmica entre si, o que só tende a melhorar a performance e as composições da turma. Aguardemos!
Track List:
1. Umbral
2. Archangel
3. Unholy Ceremony Heretic
4. Mordor
5. Hymn of Hate
6. Desprezo
7. Black Demons Reign
Ctz que morre na casca… mas valeu a intenção.