Riot – The Privilege of Power [1990]

Riot – The Privilege of Power [1990]

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por Ulisses Macedo

Após uma volta espetacular com Thundersteel, a nova formação do Riot parecia estar pronta para decolar, e dois anos depois lançou-se no estranho e experimental projeto chamado The Privilege of Power. Quando se coloca o disco pra rodar, logo notam-se duas coisas: pequenas introduções antes das músicas começarem (mas não em todas!) e instrumentos de sopro. Sim, você leu direito: isso é um álbum de Power Metal americano, e a sonoridade segue na mesma linha de Thundersteel, mas traz um diabo de um acompanhamento com trompetistas, trombonistas, saxofonistas e tudo mais – e ficou ótimo! O detalhe aqui é esse extra sonoro é cortesia do lendário grupo de R&B/Funk/Soul Tower of Power, incluindo aí os indispensáveis Greg Adams (trompete), Stephen Kupka (sax barítono) e Emilio Castillio (sax tenor), acompanhados do também trompetista Rendy Brecker, outro gigante do Jazz e R&B que já tocou com diversos artistas, entre eles Dire Straits, Bruce Springsteen, Charles Mingus, e por aí vai…

Tony Moore e Joe Lynn Turner
Tony Moore e Joe Lynn Turner

 

As introduções nas músicas, entretanto, formam a parte ruim do disco. Diferente daquelas de, por exemplo, The Dark Side of The Moon, que inserem falas e sons relacionados às letras e ao álbum em geral, aqui em Privilege elas parecem estar ali só por estar. Totalmente sem nexo – o álbum não é nem mesmo conceitual, embora pareça tentar ser. “On Your Knees” abre com som de passos, alguém mudando de canal na TV e etc. para só depois começar a pancadaria em grande estilo, com alguns momentos em que os tais instrumentos de sopro aparecem, como no ápice do solo de Reale. Vale citar também o refrão pegajoso, gritando “On your knees!” no maior estilo Accept. Logo dálugar a “Metal Soldiers” – com mais uma irritante introdução de quase dois minutos com barulhinhos que não levam a lugar algum -, um típico “hino” metálico. O destaque fica por conta de “Killer“, onde Moore faz um dueto com Joe Lynn Turner (na época em breve passagem pelo Deep Purple), com o pessoal dos instrumentos de sopro mandando ver a todo momento, acompanhando perfeitamente o gingado da faixa – um desavisado que escute alguns segundos pode achar que está diante da Banda do Faustão. Mas não: é o Riot de um jeito que eu nunca vi. E isso não é ruim. Joe inicialmente fora chamado para prestar somente vocais de apoio durante todo o disco, mas teve a feliz decisão de se aquecer cantando a letra da música na frente do engenheiro de som: nasceu aí a ideia do dueto.

Em relação ao registro anterior temos três baladas aqui, começando com “Runaway” (a melhor do trio), e então “Maryanne” e “Little Miss Death”, todas relativamente fracas, excessivamente comerciais e não alcançando o nível de maestria de “Bloodstreets”, do disco anterior, sendo que “Maryanne” lembra uma típica balada da década de 80, com um jeitão totalmente Boston de ser. Em compensação, faixas velocíssimas também estão presentes, como na excelente “Dance of Death“. Trombetas avisam a chegada de “Storming the Gates of Hell“; ambas trazem o melhor dessa época de ouro do quarteto: os riffs trovejantes de Reale, a bateria rápida e precisa de Jarzombek, o baixo de Stavern bem à frente na mixagem, e Tony Moore traz a cereja do bolo com seus agudos. Está tudo pegando fogo por aqui! “Black Leather and Glittering Steel” continuam pelo mesmo caminho, mas a responsável por fechar o play é o cover do influente guitarrista americano de Jazz Fusion Al Di Meola, “Racing With the Devil on a Spanish Highway (Revisited)“; o título foi ligeiramente alterado, e a composição ficou mais pesada, tanto pela ótima interpretação do incrível Mark Reale quanto pelas pesadas e precisas baquetadas do Sr. Jarzombek.

Stavern, Reale, Moore e Jarzombek
Stavern, Reale, Moore e Jarzombek

 

E assim termina um disco estranho, experimental e de certa forma inovador, com pretensões de ser muito mais, porém minado pela falta de uma melhor direção. Deslocados, os interlúdios e as introduções quebram a fluidez e carecem de algum bom motivo para estarem ali. Já os instrumentos de sopro adicionam uma camada de diversão e bizarrice em doses iguais, mas insuficientes para ultrapassar o patamar do CD anterior. Para piorar, toda aquela história do produtor picareta que foi contada na resenha de Thundersteel continuou por aqui: a banda nunca recebeu um tostão pelo disco, pois o cara pegou todo o pagamento antecipado das mãos do quarteto, alegando que a produção teria ficado muito cara. Conversa! Ele até manipulou os contratos de direitos de atuação (ASCAP) para que fosse o dono das gravações originais e da publicação. Enquanto isso, Reale e cia. se viravam com $15 dólares por dia e passavam as noites no ônibus. Desenganado, Moore finalmente desligou-se do grupo em ’92 (Stavern já tinha saído ao fim da turnê americana, sendo substituído, daí pra frente, por Pete Perez) e pôs fim àquela que, pra mim, é a melhor formação do Riot, e que só se reuniria novamente 20 anos depois.

Curiosamente, o álbum conseguiu um lugar no livro The 500 Greatest Rock & Metal Albums of All Time (na posição #354, para ser mais preciso) da publicação alemãRock Hard. Além disso, SPV o relançou em vinil duplo (junto a Thundersteel) no ano passado. Veredito final: se gostou de Thundersteel, vai gostar de The Privilege of Power, mas provavelmente levará mais tempo pra se acostumar. Quem sabe você até o prefira: Tony Moore deixou registrado, durante uma entrevista, de que este é seu disco favorito do Riot.

Tracklist:

1. On Your Knees
2. Metal Soldiers
3. Runaway
4. Killer
5. Dance of Death
6. Storming the Gates of Hell
7. Maryanne
8. Little Miss Death
9. Black Leather and Glittering Steel
10. Racing With the Devil On a Spanish Highway (Revisited)

Um comentário em “Riot – The Privilege of Power [1990]

  1. Cara adoro esse disco, mais a primeira vez que escutei, quase desisti de escutar o album todo por causa dessas malditas introduções. por sorte decide ouvir todo, e não me arrependo. Bem que poderiam relançar esse album sem essas malditas introduções ,indo direto para as musicas com certeza compraria essa versão.

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