Tarja – Henkays Ikuisuudesta [2006]
Por Davi Pascale
Em 8 de Novembro de 2006, a cantora finlandesa Tarja Turunen lançou um de seus álbuns mais controversos em um de seus períodos mais polêmicos. Agora, verdade seja dita, o álbum não tem nada de controverso como dizem. Acredito que toda essa polêmica tenha ocorrido por ter sido o primeiro trabalho a ser lançado pela artista depois de sua conturbada saída do Nightwish. Os fãs esperavam um álbum de heavy metal e ela entregou um álbum natalino focado em arranjos clássicos e flertando com o pop em alguns momentos. Quem conhece um pouco da artista, sabe que esses são universos comuns dentro de suas influencias, principalmente a música clássica. Portanto, não entendo o motivo de tanto auê.
O disco fez bastante sucesso em sua terra natal, onde rendeu um especial de televisão, infinitamente pirateado por aí. Aliás, essa apresentação me agrada bem mais do que o show Tarja Turunen & Harus: In Concert Live At Sibelius Hall que ela editou em 2011. Nessa época, a cantora fez uma pequena excursão (conhecida pelo nome de Breath From Heaven Tour) pela Finlândia e pela Rússia para promover o disco.
O CD é um trabalho basicamente de interprete. Apenas 1 canção é de sua autoria: a faixa de abertura “Kuin Henkays Ikuisuutta”. A escolha do repertório deixa evidente sua pretensão. Afinal, ela passeia de Franz Schubert à Abba. O disco é bom, sim, mas deve ser escutado com outros ouvidos. Não adianta você querer escutar tendo como base o trabalho do Nightwish. Afinal, não é um disco de heavy metal. Se fizer isso, não irá compreendê-lo. Todo o trabalho gira em torno de canções natalinas que são populares na Finlândia, terra natal de Tarja Turunen. Algumas dessas canções são conhecidas em todo o mundo, outras nem tanto.
Mesmo que o álbum, como um todo, seja bem distante ao trabalho de sua ex-banda, a faixa composta pela cantora poderia facilmente ter sido gravada pelo grupo. Se incluirmos uma guitarra com distorção nela, fica a cara das baladas do Nightwish.
Mas tudo começa a mudar de foco já na segunda faixa, “You Would Have Loved This”. A música é formada apenas por piano, uma pequena orquestra e uma linha de voz bem suave. Nada de bateria, violões, contrabaixo ou algo do tipo. É quando o projeto começa a tomar uma cara mais Sarah Brightman.
“Happy New Year” é uma musica composta pelo grupo Abba em 1980. A canção fez um enorme sucesso e acabou tornando-se uma canção típica do gênero. Vários artistas a regravaram durante esses anos. Aqui, Tarja a interpreta em espanhol, mantendo somente a frase happy new year em inglês. Mais um momento pop do disco com uma boa interpretação da artista. Um dos pontos altos do disco, na minha opinião.
O disco volta a ficar com um ar mais intimista em “En Etsi Valtaa, Loistoa”. Logo em seguida, Tarja traz uma boa versão de “Happy Xmas (War Is Over)” de John Lennon em uma versão bem próxima à original. “Vorpunen Jouluaama” e “Ave Maria” servem para demonstrar todo o domínio vocal que a cantora possui e que seu trabalho no Nightwish não permitia demonstrar. Calma, não estou criticando a banda. Sou um grande fã do trabalho dos caras e foi através deles que tomei conhecimento da existência de Tarja. Agora, é fato que a musica clássica possibilita que a soprano explore mais sua voz.
A segunda metade do disco começa com a bonita balada “The Eyes of a Child” e segue com mais duas músicas totalmente voltadas ao universo clássico, com vocais que, por vezes, se esbarram na ópera: “Mokit Nukku Lumiset” e “Jo Jouttu Ilta”. “Marian Poika” é uma canção com um arranjo mais simples e alegre. Lembra aquelas musicas que a gente escuta nos filmes de comedia de Natal. Poderia facilmente fazer parte da trilha sonora de filmes como “Esqueceram de Mim”, “Um Natal Muito, Muito Louco” ou “Milagre Na Rua 34”, por exemplo.
Depois de “Magnificat: Quia Respexit” vem o que talvez seja o único momento do disco que deixe seus fãs mais antigos felizes. A cantora entrega uma nova versão de “Walking In The Air”. Essa canção foi composta por Howard Blake para a trilha sonora de Snowman (desenho animado criado em cima de um livro do mesmo nome que é considerado um símbolo do Natal em diversos países) e já havia recebido uma regravação do Nightwish em seu segundo álbum, Oceanborn. O CD termina com uma bonita versão de “Jouluyo, Juhlayo” ou, como é conhecida mundialmente, “Silent Night”.
Em 2010, o álbum foi relançado no mercado com uma nova capa e 3 faixas diferentes: “Heinilla Harkien” no lugar de “Happy New Year”, “Maa On Niin Kaunis” no lugar de “Happy Xmas”, além da adição de “Arkihuolesi Kaikki Heita”, faixa composta exclusivamente para essa reedição.
Tarja fez um trabalho bonito e honesto com arranjos bem feitos e vocais cheios de emoção. Se você não é aquele headbanger ortodoxo que escuta heavy metal e mais nada, vale a pena a tentativa. Caso contrário, você pode tentar explorar os álbuns da cantora com uma pegada mais rock, caso de My Winter Storm, What Lies Beneath, Colours In The Dark, My Shadow Self e In the Raw. Ou então, aproveitar para relembrar os discos que ela gravou ao lado do Nightwish. Qualquer que seja sua decisão, a diversão é garantida.
Tracklist:
1. Kuin Henkays Ikuisuutta
2. You Would Have Loved This
3. Happy New Year
4. En Etsi Valtaa, Loistoa
5. Happy Xmas (War Is Over)
6. Vorpunen Jouluaama
7. Ave Maria
8. The Eyes of a Child
9. Mokit Nukku Lumiset
10. Jo Jouttu Ilta
11. Marian Poika
12. Magnificat: Quia Respexit
13. Walking In The Air
14. Jouluyo, Juhlayo