Tommy Bolin – The Ultimate Bolin [1989]
Por Mairon Machado
Na segunda metadade dos anos 80, surgiram no mercado os boxes de vinis e CDs com raridades de diversos artistas. Bob Dylan, Eric Clapton, Bruce Springsteen, entre outros, tiveram seus boxes lançados. Há algum tempo inclusive tratei aqui do box 20 Years of Jethro Tull, que traz diversas preciosidades do grupo comandado por Ian Anderson. Hoje, venho resgatar o excelente The Ultimate Bolin, um box de três vinis (ou dois CDs, ou dois K7s) que faz uma justa lembrança para este que é considerado por mim um dos maiores guitarristas da história.
Sem perder muito tempo contando quem foi Tommy Bolin (para isto deixo este texto que fiz quando dos 35 anos de sua morte, ainda jovem, com apenas 25 anos, e esta lista de Cinco Discos Para Conhecer o músico), basta lembrar que ele substitui nada mais nada menos que Joe Walsh na James Gang e Ritchie Blackmore no Deep Purple, isso com apenas 22 e 24 anos respectivamente. Além disso, o cara fez parte das trupês dos bateras Alphonse Mouzon e Billy Cobham, simplesmente dois dos maiores nomes do instrumento na história do jazz. Um cara que passeava do jazz ao rock, do blues ao country, com uma naturalidade única, e The Ultimate Bolin faz um excelente apanhado da breve mas gloriosa (e repleta de excelentes composições) carreira do americano, que completaria 71 anos no último dia 01 de agosto.
Tratarei aqui da versão vinílica do box. O vinil 1 concentra-se na fase inicial da carreira de Bolin. O Lado A traz três canções juntos da Zephyr, bandaça da Califórnia que revelou o menino ao mundo, e DEVE ser conhecida por todos os que gostam de boa música. O destaque não é só para a participação de Bolin, mas também para as magistrais interpretações vocais de Candy Givens, principalmente na baladaça “Sail On” (do álbum Zephyr), que lembra bastante os modos da versão de “With A Little Helo From My Friends” de Joe Cocker, mas com uma virada Purpleana para matar a pau, principalmente por conta do órgão matador de John Faris, com Bolin se apresentando ao mundo em um solo jazzístico igualmente matador. Tem também “Cross The River” (de Zephyr), paulada hippie para ninguém botar defeito (e dê-lhe Candy gastando a voz) com outro grande solo de Bolin, saindo do hard para o jazz com muita naturalidade. Seu duelo com os vocais de Givens, enquanto uma flauta diabólica surge entre eles, é sensacional. É impressionante como ainda menino, com apenas 20, 21 anos, Bolin já solava como gente grande, e criava riffs / melodias memoráveis. Por fim, “See My People Come Together” (do álbum Going Back To Colorado) tem um tempero ácido muito bem vindo durante a audição, e mais uma vez, palmas para as vocalizações de Candy e para o solo de Bolin.
O Lado B apresenta mais uma canção da Zephyr, a sensacional “Showbizzy” (de Going Back To Colorado), com outra magistral interpretação de Candy, lembrando muito Janis Joplin, e então passamos para a James Gang, que como citado acima, é a banda onde Bolin teve a difícil tarefa de substituir o substituto de James Walsh. São três canções deste período fantástico: a linda “Alexis” (de Bang), com a voz delicada de Bolin derretendo calcinhas mundo à fora, os geniais efeitos na guitarra de “Standing In the Rain” (também de Bang) e “Spanish Lover (de Miami), outra que calcinhas (e até cuecas) irão derreter. É incrível como Bolin chegou chegando ao James Gang (ele logo de cara compôs 8 das 9 canções do álbum de estreia na banda, Bang), e essas três canções são muito representativas do poder de fogo que o cara exalava não só de sua guitarra, mas também de sua magnífica voz.
O disco 2 traz as participações especiais de Bolin em álbuns de outros artistas, e também entra junto com ele em Come Taste the Band (único disco que Bolin gravou no Purple, registrado em 1975). Porém, o Lado C abre com uma pancada dos tempos da James Gang “Do It” (de Miami), na qual o magistral solo de encerramento de Bolin certamente está entre um dos melhores de sua carreira. O que o guri faz na guitarra aqui, despejando peso, velocidade e rifferama, é para poucos. A Pancadaria come solta na locomotiva sonora de “Quadrant 4”, faixa mágica registrada no essencial Spectrum do batera Billy Cobham, com um show a parte de Cobham e do tecladista Jan Hammer (que time!) na introdução, e com Bolin apresentando todos os efeitos que vieram a consagrá-lo junto ao Deep Purple. O riffzão e a voz inconfundível de Buddy Caine nos apresentam o blueszaço “Train”, de quando Bolin deu sua contribuição no maravilhoso álbum de estreia dos canadenses do Moxy (Moxy, 1975), fazendo um duelo com Caine de arrepiar. Encerra esse lado a embalada “Time To Move On”, também do Moxy, para sacudir o esqueleto pela casa. Ouça o solo de Bolin aqui e entenda por que ele foi contratado para substituir Ritchie Blackmore.
O Lado D abre com a participação de Bolin no álbum Mind Transplant, do batera Alphounse Mouzon (1975). Aqui, ele faz a gente viajar na jazzística “Golden Rainbows”, fazendo um belo dueto junto do baixista Henry Davis, e arrepiando em um solo veloz e carregado de efeitos, enquanto “Nitroglycerin” é uma faixa explosiva, com uma performance absurda de Mouzon. O Deep Purple de Come Taste the Band surge com os embalos de “Gettin’ Tighter” e a dupla “This Time Around / Owed To ‘G'”, registrada na contra-capa apenas pelo segundo nome (e também indica que é David Coverdale nos vocais), mas que o vinil nos propicia a oportunidade de sermos encantados pela voz de Glenn Hughes em “This Time Around”, e quando Bolin começa a solar, a casa cai. Nem preciso comentar muito, já que esta certamente é a canção mais emblemática da carreira de Bolin.
O último disco encerra a passagem de Bolin pelo Purple, através de duas canções retiradas do álbum ao vivo Last Concert In Japan (1977), as quais são a sensacional versão de “You Keep On Moving”, com o tecladista Jon Lord brilhando, e uma versão matadora para “Wild Dogs”, onde novamente podemos comprovar o talento vocal de Bolin. Isso no Lado E, que ainda abre espaço para a carreira solo de Bolin, com “Dreamer” (de Teaser, 1975), balada belíssima levada pelo piano e o sintetizador de David Foster, com mais uma bela interpretação vocal de Bolin.
Já o Lado F é todo dedicado a carreira solo de Bolin, primeiro com a latinidade quase reggae de “People, People” (de Teaser), o boogiezão de “Teaser” (de Teaser), com Bolin brilhando ao slide, aquecendo corações na suave “Sweet Burgundy” (de Private Eyes, 1976) e experimentando com a New Wave em “Shake The Devil” (de Private Eyes). São faixas onde a guitarra de Bolin não é o principal, mas sim seu vocal, o qual aprecio muito. Encerra a caixinha uma faixa inédita, “Brother, Brother”, totalmente acústica, com Bolin cantando acompanhado apenas de seu violão, de forma emocionante.
Acompanha a caixa um livreto de páginas, trazendo a história do guitarrista, bem como depoimentos de Glenn Hughes, Nikki Sixx, Jan Hammer, Carmine Appice, Narada Michael Walden, Bill Graham, Tom Dowd, David Coverdale, assim como Barb Bolin (mãe do garoto), amigos e parentes que enaltecem não só o talent de Bolin, mas também sua incrível capacidade de conquistar as pessoas (algumas imagens nessa postagem).
Daquelas aquisições que apesar de não trazer muitas novidades para Crackudos de Bolin, serve para mostrar aos que o conhecem apenas por Come Taste The Band quem era realmente o cara que Glenn Hughes e David Coverdale se encantaram, tanto antes quando depois do Purple, mas principalmente, para deixar na prateleira, à disposição de seus ouvidos, uma excelente coletânea de excelentes canções.
Track list
1. Sail On
2. Cross The River
3. See My People Come Together
4. Showbizzy
5. Alexis
6. Standing In The Rain
7. Spanish Lover
8. Do It
9. Quadrant 4
10. Train
11. Time To Move On
12. Golden Rainbows
13. Nitroglycerin
14. Gettin’ Tighter
15. Owed To ‘G’
16. You Keep On Moving
17. Wild Dogs
18. Dreamer
19. People, People
20. Teaser
21. Sweet Burgundy
22. Shake The Devil
23. Brother, Brother (Previously Unreleased)
Essa box só tem um defeito, é curta demais! Tommy Bolin merece uma nova box set, os arquivos revelaram muita coisa boa que pode ser compilada. É uma tragédia que ele tenha gravado só um LP com o Deep Purple, e a morte dele tão jovem, uma catástrofe irreparável para a música. Para mim, o melhor que ele gravou é o disco de Billy Cobham – ali ele realmente estava em casa.
Então Marcello, realmente tem muita coisa que surgiu posteriormente. Gosto muito dos Whips and Roses e dos Bottom Shelf. Ainda não ouvi o Come Taste the Man e o Naked, mas os repertórios pelo que li são bem interessantes. Tem um box chamado The Ultimate Redux que saiu em 2008 q tb tem muita novidade. Eu acho difícil escolher o melhor trabalho dele, mas concordo que o Spectrum é um deles. Qual sua opinião sobre o Last Concert in Japan?
Gosto bastante dos dois volumes do Whips and Roses, bem como do Ultimate Redux – todos lançamentos que mostram que o Bolin era bom demais! Sobre o Last Concert in Japan, eu gosto bastante, mas acho que a produção sacaneou muito, tem músicas em que a guitarra ficou lá embaixo na mixagem (a introdução de Burn me vem à cabeça). O relançamento, This Time Around Live in Tokyo, corrigiu a injustiça, com a guitarra bem mais presente; mas para mim o On the Wings of a Russian Foxbat é o melhor ao vivo do Purple com o Bolin. Será que um dia lançarão o resto dos tapes de Springfield, da mesma época? Esse foi um dos poucos shows em que tocaram Comin’ Home…
“On the Wings of a Russian Foxbat ” esse disco é ótimo
A turnê do Come taste the band é muito boa e muito triste ao mesmo tempo. Tem bootlegs que realmente o Bolin está incapacitado de tocar. O próprio vídeo que saiu mostra ele bem fragilizado. Triste mesmo. Mas tem shows bem bons, e o on the wings é um belo exemplo. Podiam lançar né …