Velhas Virgens – 30 Anos: Ao Vivo No Love Story [2016]
Por Davi Pascale
“O nosso presente de 30 anos é trazer todo mundo para o puteiro”. Assim, inicia o DVD do Velhas Virgens. Se existe uma banda que traduz, com perfeição, o espírito rock n roll, no Brasil, essa banda é a Velhas Virgens. Na estrada desde a década de 80 e com dezenas de produtos lançados, os músicos nunca abriram mão de seus ideais. Sempre fizeram um rock n roll com influência de blues e letras versando sobre bebedeira e putaria, de maneira tão explícita que faz com que Mr Catra soe João Gilberto.
No decorrer dos anos, a formação mudou, mas o espírito se manteve. O simpático Lips cedeu espaço ao competente Simon Brown. As guitarras, que já passaram pelas mãos dos talentosos Caio Andrade e Roy Carlini, hoje pertencem ao Filipe Cirilo. Paulão largou o baixo, deixando a peteca nas mãos de Tuca Paiva, já há vários anos. Nos vocais femininos, antes da linda Juliana Kosso, já passaram pelo grupo Cláudia Lino, Roberta e Lili. Mesmo com todas essas mudanças, Paulão e Alexandre Cavalo não desanimaram e seguiram tocando o barco. E, acertaram em cheio, pois essa é, certamente, sua formação mais forte.
Um dos grandes diferenciais é justamente Ju Kosso. Enquanto as outras vocalistas entravam no palco para poucas músicas, a patotinha se mantém em ação durante toda a apresentação auxiliando Paulão e tomando a frente, não apenas das já esperadas “Mulher Do Diabo” e “Abre Essas Pernas”, mas também trazendo para si canções como “Essa Tal De Tequila” e “Não Vale Nada”. A bola fora fica na execução de “O Que É Que a Gente Quer”. Sim, ela canta a música muito bem, mas acho esse número bem a cara do Paulão. De todo modo, é inegável que ela é a melhor voz feminina e a mais carismática dentre as cantoras que passaram pelo grupo. E olha que sempre gostei muito da Cláudia Lino.
A banda parece estar de bem com a vida e se demonstra bem à vontade no palco. Paulão continua com suas tiradas geniais entre as canções. “A gente, diariamente acessando à internet, às vezes se assusta. Aquele negão pirocudo… Toda hora aparece aquela merda. Mas o maior susto, foi quando eu vi uma mulher com uma camiseta escrita assim: ‘Dia Internacional da Luta Contra o Sexo Anal’. A pessoa não quer dar o cú, tudo bem. Agora… Fazer uma campanha internacional para ninguém dar o cú?! Não é possível uma coisa dessas”. A plateia, obviamente, cai na risada.
As interações com os músicos também são bem sacadas e não menos sarcásticas. O cantor tira um barato de seu fiel escudeiro Alexandre Cavalo, antes de entregar o microfone para Juliana cantar a balada “Não Vale Nada”. “Admita, Cavalo, você fez essa música para uma puta, uma meretriz”. Juliana Kosso também não escapa das brincadeiras. No meio do clássico “Abre Essas Pernas”, logo após a parte do leilão, Paulão provoca: “Não vou pagar mil reais, não. É de ouro essa porra? 50 reais é o teto da putaria. Pegar ou largar”.
E quem acha que Juliana, por ser garota, fica envergonhada engana-se. A ex-Coyote entrou de cabeça na banda e não deixa por menos. “Por 80 reais, faço uma chupeta”. Antes do clássico “E o Que É Que a Gente Quer (B.U.C.E.T.A.)”, manda mais uma das suas: “Toda mulher faz o que quer com o homem, sabe por que? Porque a mulher tem o poder da bucetaaa”. Se o Velhas Virgens sempre teve uma irreverência forte, nessa apresentação gravada no Love Story (um famoso puteiro de São Paulo), os músicos estavam mais afiados do que nunca.
A banda, tecnicamente falando, está em seu auge. Paulão e Juliana possuem uma voz forte, além de serem carismáticos (Em tempos, a dancinha de “Muito Bem Comida” é genial). Outro que se destaca é o guitarrista Filipe que rouba a cena nos solos de “Ninguém Beija Como As Lésbicas” e “Só Pra Te Comer”. Aliás, vale mencionar a boa sacada de fazer um interlude com o riff de “Whole Lotta Rosie” (AC/DC).
O repertório é forte e traz bastante música de seus 3 primeiros álbuns (os clássicos “Foi Bom Pra Você?”, “Vocês Não Sabem Como É Bom Aqui Dentro” e “Sr. Sucesso”), além de boas canções de trabalhos mais recentes. Claro que no set de uma banda com 30 anos de estrada (esse show foi para celebrar o acontecimento) acabam ficando alguns números marcantes de fora, mas não tem problema. Afinal, a banda já lançou bastante DVD. E ainda tem lenha para queimar por muitos anos ainda. Inclusive, assisti um showzaço deles não tem muito tempo aqui em Santo André.
O DVD conta com 2 participações especiais: Digão, o líder dos Raimundos, sobe ao palco para uma divertida interpretação de “Toda Puta Mora Longe”. Enquanto o lendário Benito Di Paula aparece tocando com os músicos, em estúdio”, uma bonita versão de “Última Partida de Bilhar”. Sim, as músicas falando de bebedeira continuam tendo espaço. Dentre essas, vale destacar o clássico “Uns Drinks” e a divertida “Balada Para Charlie Harper”.
Show do Velhas Virgens é sempre diversão garantida. Boa música, boas tiradas, energia de sobra. Agora é preciso assistir de mente aberta. Se você tem problema com palavrão ou é adepto do politicamente correto, o trabalho deles não é para você. Caso contrário, aprecie sem moderação. Uma das melhores bandas do cenário brasileiro. Fácil, fácil.
A banda desse DVD não existe mais!!O VELHAS VIRGENS sucumbiu ao politicamente correto e à possibilidade de “cancelamento” e praticamente está “se desculpando” pelo seu passado de escrotidão, putaria, misoginia e machismo. Se o HIP HOP e o FUNK não estão nem aí em parecer politicamente correto e estão por cima da carne seca em todas as paradas, por que o rock tem de estar? Para mim está aí uma das explicações do motivo do rock, infelizmente, ter perdido totalmente o contato com a juventude…Se a objetificação das mulheres, não que isso seja correto, está em todos os estilos musicais, aliás muitas vezes praticada pelas próprias mulheres, ANITTA E BEYONCÉ fazem isso sem pudores, e ninguém reclama, por que o rock não pode objetificá-las sob medo de críticas de quem quer que seja? Uma música como NÃO É NÃO, tendo em vista a história da banda, é uma ofensa aos fãs do VELHAS VIRGENS. Agora a banda diz que “estava inserida em um contexto”, que “a vida era assim na época” e outras bobagens, como se isso justificasse suas atitudes escrotas do passado. Que p**** é essa!!??Em minha opinião, o VELHAS VIRGENS em uma versão light, comportada e “atualizada para os tempos contemporâneos” é um troço sem sentido!
Cleibsom, a idéia é que o ser humano evolua!!
Parece que isso não está acontecendo com vc!
Oi, Cleibsom, tudo bom? Eu assisti um show da turnê “O Bar Me Chama” tem uns 2 meses, mais ou menos, aqui em Santo Andre. O Bar Me Chama é justamente o disco que tem “Não é Não”. Gostei bastante do show. Apresentação longa, banda afiadíssima. De diferente, eu notei que eles diminuíram as músicas de putaria e o visual da Ju estava mais comportado (calça jeans, chapéu e etc). Estava mais para uma Janis Joplin do que o visual de garota safadinha que estamos acostumados. De todo modo, não dá para dizer que eles estão comportados ou politicamente corretos. O Paulão continua com as tiradas dele. Ainda rolam músicas como Só Pra Te Comer, Esse Seu Buraquinho, Abre Essas Pernas… No Abre Essas Pernas, ele continua fazendo a brincadeira com a Juliana, inclusive. Eu acompanho a banda de perto desde o lançamento do “Foi Bom Pra Você” e frequento os shows deles desde o “Com a Cabeça No Lugar”. Quando saiu esse último disco, recebi um e-mail (não somente eu, mas todos que compram pelo site da banda), avisando sobre o novo trabalho e o texto falava sobre “uma mudança de leve para conseguirmos continuar”. Tb assisti uma entrevista da Ju Kosso, onde ela comentava da banda escrever músicas de todos os enfoques relacionados ao tema (sexo), para deixar claro que não era uma banda machista, mas uma banda de zoeira. Ela não falou com essas palavras, mas deu a entender isso. Tendo tudo isso em mãos, acredito que eles se viram obrigados a mudar para manterem público no show. (Afinal, eles vivem de show). Acredito que esse é o momento de apoiarmos a banda e não de cair de pau em cima dos caras. Prefiro a banda assim do que separada. Agora é esperar o próximo álbum e ver o que vem por aí. Eles lançaram uma música chamada “Namorade”. Não gostei muito da música, mas é apenas uma música. Vamos ver quando sair o disco. Abraço
Davi, as minhas divagações, apesar de se referirem especificamente ao VELHAS VIRGENS nesse caso, estão além da banda! Se você reparar, muitos dos artistas jovens que dialogam com a juventude contemporânea, eu diria que quase todos, como DRAKE, TRAVIS SCOTT, MIGOS, BAD BUNNY, MATUÊ, RECAYD MOB, etc, etc, etc, têm a putaria como lema e a objetificação da mulher como regra. Os caras só falam de beber até cair, esbanjar dinheiro à rodo e “traçar” o máximo de mulheres possíveis (acho deprimente esta postura, mas não é isso que estamos discutindo aqui). Repare que é justamente disso que o VELHAS VIRGENS está pedindo desculpas! Por que os fãs desses artistas não estão nem aí para isso e não cobram esse “compromisso” deles, sejam do sexo feminino ou masculino? Por que o fã de rock, e não apenas de Paulão & cia, quando não é um reacionário sanguinário, é um idiota chiita mais preocupado com as causas identitárias e com a derrubada da floresta Amazônica do que com a música em si? Será porque o fã de rock chegou a meia idade, assim como o estilo? Você não se pergunta o motivo do rock ter se tornado um estilo de tiozões caretas que acham tudo que está aí uma merda, algo aliás que os “velhos” sempre fazem? Parece haver um muro entre os jovens de hoje e o rock´n´roll enquanto estilo musical e isso é algo que me entristece demais…Será que o destino do rock é se tornar algo como a música clássica, o blues ou o jazz, ou seja, música destinada ao consumo de pessoas “maduras”? Sinceramente, espero que não! PS.: Caso o AC/DC se “arrependa” do seu passado e Angus Young apareça pedindo “desculpas” pelas antigas atitudes machistas e misóginas da banda, espero estar morto para não ver esse triste espetáculo!!!