Cinco Discos Para Conhecer: Nicky Hopkins
Por Mairon Machado
Poucos são os músicos que conseguiram, ao longo de sua carreira, ter registrado sua marca em álbuns de monstros como The Rolling Stones, The Who, Jeff Beck, John Lennon, George Harrison, Ringo Starr e Paul McCartney, só para citar alguns. Nascido no dia 24 de fevereiro de 1944, Nicholas Christian Hopkins, ou simplesmente Nicky Hopkins, foi um dos maiores nomes das teclas em todo o cenário da música. Ao longo de uma vasta carreira, o rapaz acompanhou gigantes do porte de Art Garfunkel, Joe Cocker, Carly Simon, Rod Stewart e Cat Stevens, além de vários outros nomes que tiveram canções emblemáticas contando com os dedos ágeis de Hopkins.
Falecido em 6 de setembro de 1994 (portanto há 28 anos), vítima de complicações por conta de uma cirurgia no intestino, advinda da Doença de Crohn, a qual ataca o aparelho digestivo, e com a qual Nicky lutou por muito tempo, o rapaz ainda continuava na ativa, gravando com Spinal Tap, Izzy Stradlin and Ju Ju Hounds, The Jayhawks, entre outros. Trago aqui Cinco Discos nos quais a contribuição de Nicky Hopkins é mais do que fundamental, sabendo que deixarei de fora inúmeras obras emblemáticas.
Nicky Hopkins – The Revolutionary Piano of Nicky Hopkins [1966]
Esse belíssimo álbum de estreia da carreia do pianista é recheado de versões para canções de relevância. Acompanhado da orquestra e coral de Mike Sammes, ele passeia desde Beatles e Stones, com reconstruções fantásticas para “Yesterday” e “Satisfaction”, até pérolas do jazz de Duke Ellington (“Don’t Get Around Much Anymore”) e Bob Russell (“You Came a Long Way from St. Louis”), chegando a trilha de James Bond (“Goldfinger”), que certamente agradaram aos compositores originais, seja pela exuberância dos dedos de Nicky ou pela sua capacidade de reinventar as mesmas. E são nas suas composições onde percebemos as principais marcas do seu estilo de tocar, como por exemplo as marteladas e arpejos que ele apresenta em “Mr. Big” e “The Unlonely Bull”, a alegria exuberante do rock de “The Ilejistry Pig” ou o dedilhado suave de “Jenni”, um dos grandes sucessos de sua carreira. Todas as faixas revelam um talento desabrochando, e não à toa, pouco tempo depois Hopkins veio a acompanhar os gigantes citados acima. A semente está nessa belíssima obra, que creio que nosso querido leitor Igor Maxwell, amante de Richard Clayderman, se deleitará. Bastante distinta dos demais álbuns que irei apresentar aqui, mas não menos importante e sensacional de se ouvir.
Nicky Hopkins (piano)
Acompanhamentos
The Mike Sammes Orchestra, Mike Sammes Singers, conduzidos por David Whitaker
1. Mr. Big
2. Yesterday
3. Goldfinger
4. Don’t Get Around Much Anymore
5. Jenni
6. Acapulco 22
7. You Came a Long Way from St. Louis
8. Love Letters
9. The Unlonely Bull
10. Satisfaction
11. Paris Bells
12. The Ilejistry Pig
The Rolling Stones – Beggar’s Banquet [1968]
Em um álbum voltado para o lado acústico, e que é totalmente oposto às experimentações de seu antecessor, o psicodélico Their Satanic Majesties Request, os Stones chamam Hopkins para acompanhá-los ao piano, e assim, temos a consagração de Hopkins para o mundo. Em uma participação sensacional, o cara é o dono do disco ao lado de Mick Jagger, comandando o ritmo da clássica “Sympathy for the Devil”, onde exibe-se com graciosidade em um vibrante solo, entre os “uh-uh” que consagraram a canção. Mas há mais Hopkins nas entranhas de Beggar’s Banquet, seja fazendo o blues alegre de “Dear Doctor” junto dos violões de Richards e Jones, ou distribuindo suas marteladas e arpejos no sucesso “Street Fighting Man”, na pancada “Stray Cat Blues” ou em “Jigsaw Puzzle”, na mesma linha do que havia feito em “Sympathy for the Devil”. A preguiçosa “No Expectations” traz Hopkins brincando com o órgão farfisa, enquanto na lindíssima “Salt of the Earth”, Hopkins encanta não só no piano, mas também brilhando com o mellotron. Um dos melhores discos da carreira dos Stones, e por que não, de todos os tempos, e com a mão exclusiva de Hopkins por detrás da genialidade da dupla Jagger/Richards.
Mick Jagger (vocais, harmônica, maracas), Keith Richards (guitarra, violão, slide guitar, baixo, vocais), Brian Jones (slide guitar, violões, harmônica, mellotron, sitar, tambura, vocais de apoio), Bill Wyman (baixo, double bass, vocais de apoio, shekere, maracas), Charlie Watts (bateria, claves, tambourine, tabla)
Participações especiais
Nicky Hopkins – piano, mellotron, órgão
Rocky Dzidzornu – congas em 1, 8 e 9
Ric Grech – fiddle em 9
Dave Mason – shehnai em 6
Jimmy Miller – vocais de apoio em 1
Watts Street Gospel Choir – vocais de apoio em 10
Anita Pallenberg – vocais de apoio em 1
Marianne Faithfull – vocais de apoio em 1
1. Sympathy For The Devil
2. No Expectations
3. Dear Doctor
4. Parachute Woman
5. Jigsaw Puzzle
6. Street Fighting Man
7. Prodigal Son
8. Stray Cat Blues
9. Factory Girl
10. Salt of the Earth
Jeff Beck Group – Beck-Ola [1969]
Ao entrar na banda de Jeff Beck, Hopkins foi fundamental para apimentar a sonoridade da banda. Ele colabora na estreia da Jeff Beck Group, a aclamada Truth, nas faixas “Morning Dew”, “You Shook Me”, “Beck’s Bolero” e “Blues Deluxe”, mas aqui ele é elevado ao posto de membro oficial do grupo de Jeff Beck, e não decepciona. Compondo quatro das 7 faixas de Beck-Ola, sendo que das três restantes, duas são covers, o pianista mostra seu estilo ditando o ritmo da pancada “All Shook Up”, do blues de “The Hangman’s Knee” ou da sensacional e pesadíssima versão de “Jailhouse Rock”, além de fazer belos duelos com a guitarra de Beck em “Plynth (Water Down the Drain)” e “Spanish Boots”. Na longa jam instrumental “Rice Pudding”, o espancamento geral dá espaço para que o piano de Hopkins também brilhe com marteladas e arpejos contagiantes. Porém, entre tantas pauladas, é na baladaça “Girl From Mill Valley” que Hopkins dá seu espetáculo a parte, seja no Hammond, seja dedilhando o piano, em uma das composições mais marcantes de sua carreira, acompanhado apenas pelo gentil andamento do baixo de Ron Wood e a bateria de Tony Newman. Um disco subestimado por conta de seu irmão mais velho, mas de mesma qualidade e relevância para a música mundial, graças também a genial contribuição de Hopkins, e que como diz na contra-capa do álbum, sente, ouça e decida se você pode encontrar um pequeno lugar em sua cabeça para ele.
Jeff Beck (guitarras), Rod Stewart (vocais), Nicky Hopkins (piano, órgão), Ronnie Wood (baixo), Tony Newman (bateria)
1. All Shook Up
2. Spanish Boots
3. Girl from Mill Valley
4. Jailhouse Rock
5. Plynth (Water Down the Drain)
6. The Hangman’s Knee
7. Rice Pudding
Quicksilver Messenger Service – Shady Grove [1969]
Na sua passagem pelos Estados Unidos, o inglês deixou contribuições fundamentais em discos de Jefferson Airplane, Steve Miller Band e The Jerry Garcia Band, mas foi na Quicksilver Messenger Service onde ele se estabeleceu como um nome a ser respeitado, ainda mais com a companhia dos gênios John Cipollina e David Freiberg. Hopkins já mostra seu lado virtuoso de cara, na excelente faixa-título, e também no country de “Words Can’t Say”. Ao mesmo tempo, mostra toda sua versatilidade, aclimando-se muito bem com o som da Califórnia com belas contribuições em “Joseph’s Coat”, “Holy Moly”, “Too Far”, no surpreendente boogie de “3 or 4 Feet From Home” ou na legítima representante psicodélica de “Flashing Lonesome”. A delicadeza de seu solo em “Flute Song” faz até as paredes de sua sala se arrepiarem, e é aqui que Hopkins deixa para a eternidade talvez sua mais famosa criação, a Maravilha “Edward (The Mad Shirt Grinder)”, uma das canções mais belas que já ouvi, e cuja técnica para solar de Hopkins, e os duelos com a guitarra de Cipollina, são sensacionais. Nove minutos de tirar o fôlego, e onde o pianista mostra por que foi chamado por gigantes da música não só para tocar o piano, mas também com o hammond. Uma pérola a ser descoberta por apreciadores do flower-power, e principalmente, para quem acha que na Califórnia dos anos 60 apenas The Doors e Big Brother & The Holding Company era quem existiam.
John Cipollina (guitarra e vocais), Nicky Hopkins (piano, órgão, celeste, harpsichord, cello), David Freiberg (baixo, vocais, guitara, viola), Greg Elmore (bateria, percussão)
1. Shady Grove
2. Flute Song
3. 3 or 4 Feet from Home
4. Too Far
5. Holy Moly
6. Joseph’s Coat
7. Flashing Lonesome
8. Words Can’t Say
9. Edward, the Mad Shirt Grinder
The Who – By Numbers [1975]
Nicky era para ter sido o quinto membro do The Who, antes mesmo de começar carreira solo. O problema é que a guerra de egos na banda não era algo que casava com o estilo mais introvertido do pianista. Mesmo assim, o rapaz colaborou em diversas faixas do grupo, tais como “I Don’t Mind”, “The Ox”, “The Song Is Over” ou “Getting in Tune”, até que em 1975, ele “fez parte” oficialmente do The Who nesse álbum divisor de águas na carreira da banda. Depois de anos de estrada e vários conflitos entre Pete Towshend e Roger Daltrey, Nicky serviu como um elo de ligação entre os dois, e colaborou decisivamente para Pete Townshend poder criar canções acessíveis sem ser parte de uma ópera-rock. Assim, nasceram pancadas do porte de “In A Hand of a Face”, “Slip Kid” e “Squeeze Box”, ou belíssimas canções mais leves, ao piano e violão, como “Imagine a Man” e “They Are All In Love”. As marteladas e arpejos se sobressaem em faixas como “However Much I Booze”, e nas sensacionais “Dreaming From The Waist” e “How Many Friends”, onde Hopkins encaixou-se perfeitamente dentro das geniais e geniosas ideias de Townshend, e também com a cabeça de Entwistle, na excelente “Success Story”. Um disco digno do The Who, e bastante subestimado perto da trilogia Tommy, Quadrophenia e Who’s Next, mas do mesmo nível dos mesmos.
Roger Daltrey (vocais), Pete Townshend (guitarra, teclados, banjo, acordeão, ukulele, vocais), John Entwistle (baixo, trompete, vocais, trompas), Keith Moon (bateria)
Músico adicional
Nicky Hopkins (piano)
1. Slip Kid
2. However Much I Booze
3. Squeeze Box
4. Dreaming from the Waist
5. Imagine a Man
6. Success Story
7. They Are All in Love
8. Blue Red and Grey
9. How Many Friends
10. In a Hand or a Face
Mestre do piano… Valeu a lembrança! Nicky Hopkins era um pianista muito mais versátil do que Ian Stewart, o que acrescentou muito ao som dos Stones. É uma pena que deixou de colaborar com a banda já nos anos 70, mas deixou uma bela herança gravada. Gosto muito dele em “The Ox”, em que o piano coloca ordem no caos do The Who.
Minha favorita é “Edward” …, mas quase tudo que ele colocou a mão ele ajeitou e bem. Suas colaborações com Jerry Garcia e Jefferson Airplane são fantásticas. Queria ter incluído o Volunteers, mas seriam muitos discos de 1969 na lista, e não ter o By Numbers seria no mínimo pornografia com Frota e Bengala juntos
Volunteers não seria a mesma sem Nicky Hopkins!! Gosto bastante do trabalho dele no disco de jams dos Stones, Jamming With Edward, uma brincadeira da Rolling Stones Records que deve ser curtida simplesmente pelo que é. Garcia Live vol. 5, com um show em Berkeley no dia 31/12/75, é um dos melhores discos da série de arquivo do Jerry – e ainda traz o ótimo Greg Errico, do Sly & The Family Stone, Bob Weir e Mickey Hart como convidados. Eles não sabiam, mas estavam comemorando o meu aniversário, hehehehehe
Esse disco de JAMS é muito bom mesmo. Bela lembrança
Ótima seleção! o primeiro solo dele ainda não conheço…hora de resolver isso. Abs!!!
Qual seu favorito Ronaldo?
Senti falta da sua própria banda (Sweet Thursday) que lançou um ótimo disco no início dos 70.
Esse é um belo disco mesmo, mas como já tinha colocado o álbum solo, preferi também deixar de fora. É muito disco bom 🙂