DVD: Rolling Stones – Sweet Summer Sun: Hyde Park Live [2013]
Por Davi Pascale
Há quase 10 anos, os Rolling Stones retornavam ao Hyde Park para duas apresentações, durante a turnê que celebrava os 50 anos de banda. Ao contrário de sua primeira apresentação no local, os músicos esbanjavam alegria e profissionalismo. Esse registro pode ser conferido em LP, CD, DVD e Blu-ray.
Em 1969, os Rolling Stones fizeram uma apresentação gratuita no Hyde Park, atraindo mais de 500.000 pessoas ao local. Entre elas, estava o beatle Paul McCartney. A apresentação que celebrava a volta dos Stones ao palco depois de um hiato de dois anos, e a estreia do músico Mick Taylor, acabou sendo marcada por um acontecimento trágico. Brian Jones, primeiro guitarrista do conjunto, demitido há algumas semanas, era mais um dos que se juntava à maldição do 27. O garoto morreu afogado na piscina de sua própria residência. Os laudos apontaram ingestão de álcool e drogas, mas há quem sustente que ele teria sido assassinado pelo empreiteiro Frank Thorogood, que estava fazendo reformas no local. A tragédia ocorreu no dia 3 de Julho, 2 dias antes da apresentação.
Chocados com a notícia da morte de Brian, os músicos decidiram dedicar o show ao colega. Antes de começarem a tocar, Mick Jagger leu um poema em homenagem ao garoto e soltou várias borboletas no palco, fato que ajudou com que a performance ficasse conhecida como ‘O Show das Borboletas’ aqui no Brasil. Juntou o choque dos músicos, entrada do novo integrante, o fato de estarem bastante tempo longe dos palcos e a falta de tecnologia da época, o resultado não poderia ser diferente. Os Rolling Stones fizeram uma de suas piores apresentações. Guitarras fora de afinação e músicos, por vezes, dessincronizados, marcaram o evento. A plateia, entretanto, parecia não se importar. Talvez estivessem felizes por assistir um grande nome do rock de graça. Talvez estivessem felizes por seu retorno. Talvez estivessem compreensivos com a morte de Brian Jones. Talvez um pouco de cada, por que não?
O fato é que em 2013 foi exatamente o oposto. Durante 2 horas, os músicos recordaram clássicos de sua carreira, a maioria vindo dos anos 60 e 70, e curtiram cada minuto em cima do palco. Fizeram 2 shows. O primeiro no dia 6 de Julho. E o segundo no dia 13. Ambos, com ingressos vendidos e esgotados. Depois de meio século juntos (tudo bem, teve algumas idas e vindas), seria estranho se o conjunto não estivesse sincronizado. Se por um lado não existe mais aquela espontaneidade toda, de outra o entrosamento é muito maior. A plateia, é claro, mais uma vez foi ao delírio.
Mick Jagger nunca foi um cara de cantar notas altíssimas. Portanto, mesmo aos 70 anos de idade, conseguia interpretar todo o repertorio do show, sem deixar a peteca cair. Aliás, o pique dele é impressionante. Continuava fazendo os mesmos movimentos, as mesmas dancinhas, as mesmas corridas de palco de quando os assisti em 1995. Charlie Watts, sempre com sua batida reta e precisa, ajudava a manter a magia. É inegável que seu estilo de tocar era uma das marcas dos Stones. Keith Richards e Ron Wood continuavam encantando todos com seu jeito desleixado e único.
O clima de festa não foi a única diferença. Mick Jagger está certo quando diz, no início do filme, que não teria como o evento ser igual ao de 69 porque os tempos eram outros. A primeira grande mudança que notamos é justamente na plateia. Se na primeira vez, seus espectadores eram formados praticamente por hippies, dessa é formado por um ambiente quase familiar. Há ainda aqueles mais velhos que tentam manter a ideologia hipponga. Mas também há, entre as 65.000 pessoas, inúmeros jovens com seus cabelos perfeitamente penteados, sua roupa devidamente moldada. Há grupos de amigos. Mãe e filha. Criança, adolescente, adulto. Tudo misturado. No filme Stones In The Park tinha uma cena onde o narrador falava que estava feliz porque, até aquele momento, não havia ocorrido incidentes, o que ajudava a demonstrar que shows de rock também era um lugar onde as pessoas iam para curtir a música. É nítido de que era uma resposta à imprensa, igrejas e classes conservadoras que consideravam a banda e o gênero uma má influência aos jovens. Isso agora é passado. Ao menos para os Stones, já que de tempos em tempos, o pessoal decide pegar um artista para Cristo.
E não para por aí. Se no trágico concerto, os Stones tocavam em um palco quase amontoados com o Mick gritando em vários momentos para que pudesse ser ouvido e público invadindo, agora trazem um espetáculo de primeira grandeza. A produção conta com palco secundário, rampas, enormes telões, equipamentos de primeira geração, vários músicos de apoio. Sim, Stones também é um megashow.
A parte de segurança também evoluiu. Na primeira vez, a banda havia contratado os motociclistas Hell´s Angels para cuidarem da segurança. Os rapazes simplesmente carregavam cada pessoa que tentava invadir o palco em seus ombros, literalmente. Aqui, havia uma equipe profissional no local. Mas há um momento de revival no espetáculo. Em “Midnight Rambler” e no hino “(I Can´t Get No) Satisfaction”, o mesmo Mick Taylor que fazia sua estreia em 69, junta-se aos rapazes no palco para relembrar os velhos momentos. Sem dúvidas, um marco não apenas na história da banda, como na história do rock. Imperdível!
Tracklist:
1. Start Me Up
2. It´s Only Rock n’ Roll
3. Street Fightin’ Man
4. Ruby Tuesday
5. Doom and Gloom
6. Honky Tonk Women
7. You Got The Silver
8. Happy
9. Miss You
10. Midnight Rambler
11. Gimme Shelter
12. Jumpin’ Jack Flash
13. Sympathy For The Devil
14. Brown Sugar
15. You Can’t Always Get What You Want
16. (I Can’t Get No) Satisfaction
17. Emotional Rescue (Extra)
18. Paint It Black (Extra)
19. Before They Make Me Run (Extra)
Nos últimos vinte anos tem havido grande volume de DVDs e CDs ao vivo dos Stones, e a grande dúvida para o não-colecionador é se vale a pena comprar este aqui. Eu, pessoalmente, acho que sim, e as razões são: a participação de Mick Taylor (pena que Bill Wyman não aceitou), especialmente em Midnight Rambler, as versões ao vivo de Doom and Gloom e Emotional Rescue, que não são muito comuns, e a performance como um todo da banda, que está muito bem – ainda que não ouse muito, permaneça o tempo todo na sua “zona de conforto”. Lógico, se você não é muito ligado na banda, este DVD não vai mudar sua opinião; se você é fã, provavelmente já comprou para completar a coleção; se é apenas simpatizante da banda, é um dos melhores lançamentos em DVD deles nesses dez anos e não vai decepcioná-lo!
Fala, Marcello. Sim, os Rolling Stones vêm lançando diversos álbuns ao vivo (daqui a pouquinho, eles ultrapassam o Deep Purple hehehe), mas eu sou da tese que um trabalho ao vivo dos Rolling Stones (e também do Purple) sempre vale a pena.