Shows Inesquecíveis: Elton John (Las Vegas, 01 de novembro de 2022)

Shows Inesquecíveis: Elton John (Las Vegas, 01 de novembro de 2022)

Por Fernando Bueno

Na primeira semana de novembro Las Vegas teve mais uma edição da SEMA Show, a maior feira automotiva do mundo. São cinco pavilhões com o tamanho da Expo Center Norte com tudo o que você imaginar de produtos, peças, ferramentas e muito mais relacionados ao setor automotivo. Foi para visitar essa feira que estive na cidade durante esses dias. Porém, como todo fã de música que viaja para fora duas coisas também entraram no meu radar: buscar algumas lojas de discos e procurar shows interessantes para se ver. Na parte das lojas não consegui visitar todas que encontrei pela internet e mesmo nas duas em que fui não tive muito tempo (e nem teria dinheiro por questões de câmbio) para fazer buscas mais aprofundadas. Consegui trazer alguns discos legais, mas só. Porém foi na parte dos shows que a viagem vai ficar na memória.

Elton John está em sua turnê de despedida desde 2018 com a Farewell Yellow Brick Road. Até hoje já foram mais de 260 shows em diversos países (menos na América Latina), somente nos Estados Unidos foram mais de 150 shows, e recentemente noticiou-se que essa já era uma das turnês mais lucrativas da história. Ou seja, oportunidade imperdível para quem teve ou tem oportunidade de estar em alguns desses shows. Porém desde antes da viagem sabia que isso não custaria pouco. Mesmo em um local enorme e com muitos assentos disponíveis os preços estavam salgados, principalmente para quem costuma fazer contas em reais e não em dólares. Os melhores lugares, em frente ao palco estavam custando até mil dólares e obviamente comprei um lugar lá na arquibancada. Isso explica o sucesso financeiro da turnê, não?

Para uma turnê de despedida era de se imaginar que o set list seria recheado de clássicos e ninguém que esteve em um desses shows vai poder reclamar. A não ser que seja um fã particularmente interessado nas fases oitentista e noventista do cantor. Foram vinte e três músicas no total e somente quatro delas não foram lançadas originalmente na fantástica fase setentista de Elton John. Se levarmos ao pé da letra, uma dessas quatro, “Cold Heart”, uma faixa que saiu em seu último disco chamado The Lockdown Sessions (2021) é uma espécie de medley mais dançante de “Sacrifice” e “Rocket Man”, numa parceria que John fez com a Dua Lipa – ou seja, mesmo essa faixa tem uma ligação com os anos 70. Aliás, eu não tinha ideia de que essa cantora era tão bem sucedida. Tudo bem que o estilo dela não faz parte do que eu ouço no dia a dia, mas me senti um morador de alguma caverna (seria alguma caverna prog?) quando me falaram sobre a moça.

Ingresso eletrônico. Ainda sinto falta de ter o ingresso em papel para guardar.

Sempre tive como preferido o álbum Goodbye Yellow Brick Road, mas todo fã tem o seu álbum número um. O álbum foi tema de um dos textos que publiquei, há exatos 10 anos atrás, aqui na Consultoria do Rock que mais gosto, leia aqui. Mas me surpreendeu o quanto esse disco foi valorizado nessa turnê de despedida. Cinco faixas estiveram presentes: “Bennie And the Jets”, que abriu o show de forma espetacular enquanto as pessoas ainda estavam encontrando seus lugares; “Candle in the Wind”, que contou com a imagem de Marilyn Monroe no telão durante toda a música; “Saturday Night’s Alright for Fighting”, uma música que nos faz imaginar o jovem Reggie brigando pelas ruas da Inglaterra; a minha faixa preferida da carreira do cantor “Funeral for a Friend / Love Lies Bleeding” – lembro da minha decepção quando a música não entrou no set list no Rock in Rio de 2015 – e, claro, “Goodbye Yellow Brick Road” que fechou o show de forma emocionante. O segundo álbum com mais faixas foi o auto intitulado Elton John de 1970 com “Border Song” que vem sendo dedicada à memória de Aretha Franklin, “Take Me to the Pilot” e o megaclássico “Your Song”, também tocado no bis final.

De resto uma fileira de clássicos tirados de vários discos impecáveis, Ao meu ver faltou apenas alguma música do primeiro disco, Empty Sky (1969) e ao meu ver seria “Skyline Pigeon”, mas me parece que essa música foi mais sucesso no Brasil do que no restante do mundo por conta de um relançamento tardio.

Não posso deixar de comentar sobre a banda de apoio de Elton nessa turnê. Mat Bissonete é um baixista que já acompanhou diversos músicos de respeito, de Ringo Star até Joe Satriani e David Lee Roth. Kim Bullard, tecladista que já gravou com Crosby, Stills & Nash e fez parte do Poco durante alguns anos está com John desde 2009. Vários nomes de longa data e que acompanharam Elton John fazer história com seus clássicos discos dos anos 70 como o baterista Nigel Olsson que gravou até mesmo o primeiro lançamento do cantor. Ray Cooper, percussionista que recebeu uma excelente reação do público quando foi apresentado está junto desde Madman Across the Water (1971). Mas o músico mais celebrado foi mesmo o guitarrista e cantor Davey Johnstone, que também entrou na banda em 1971 e participou de praticamente todos os álbuns desde então. Na Wikipédia existe até mesmo uma estatística acompanhando o número de shows que Davey fez ao lado de John (a saber 2 mil shows completos em junho de 2009 e a incrível marca de 3 mil shows em outubro de 2019). A presença de um guitarrista loiro ao lado do cantor principal me fez lembrar outra parceria setentista, também bastante frutífera, Mick Ronson e David Bowie.

Interropemos esse texto para um relato sobre brasileiro fazendo brasileirices fora do Brasil

Comentei no início do texto que tinha conseguido comprar somente um assento lá longe na arquibancada. Porém toda vez que eu olhava a pista via que os lugares estavam todos tomados exceto por algumas cadeiras vazias que pertenciam à alguns fãs que estavam em pé grudados na grade. Em algum momento do show eu pensei que talvez daria para tentar chegar perto do palco e se misturar aos fãs que estavam ali no gargarejo. Quem já foi à shows fora do Brasil, principalmente Estados Unidos e Europa, sabe que as pessoas lá respeitam muito mais o espaço dos outros. Muitas vezes estamos em lugares bem próximo ao palco e não recebemos nenhum empurrão ou ninguém fica passando toda hora do seu lado. Muito diferente ao empurra-empurra, aperto e outros perrengues que passamos em shows grandes aqui no Brasil. Convenci as pessoas que estavam comigo a tentarmos chegar o mais próximo possível. Assim, na parada para o bis saímos de nossos lugares e começamos a descer as escadas em direção à pista. Claro que usamos as escadas que ficam atrás das arquibancadas e não as da própria arquibancada para não chamar atenção. Em um determinado momento paramos num bar, compramos uma cerveja, para não chamar atenção de ninguém. O objetivo era parecer que a gente sabia onde estava e, principalmente, pertencia àquele local. Porém, em um cálculo errado decidimos descer mais um lance de escadas porque ainda não estávamos no nível da pista. E esse foi nosso erro. Quando estávamos descendo percebi que aquelas escadas estavam levando para a saída e não para a pista. Como estávamos em uma escada rolante, descendo, tentei voltar por ela mesmo, quando estava próximo de conseguir chegar ao topo a segurança me viu fazendo aquilo, apertou o botão de emergência que parou a escada, mas também me fez perder o equilíbrio e eu caí. Sobre os degraus. Depois de milésimos de segundo eu já estava em pé, subi a escadas e tomei um baita esporro da equipe de segurança. Pedi desculpas, balbuciei algo como “me confundi e peguei a escada errada para descer para pista”. Meus companheiros já estavam lá embaixo e foram orientados a subir por um outro local. Claro que eu fiquei com medo de ser retirado do estádio, o que seria uma humilhação, mas no fim das contas a própria segurança me indicou o caminho correto e enfim descemos para pista. Como disse muita gente estava andando pelos corredores da pista e era impossível para os seguranças saberem quem tinham ou não assentos ali. Porém como o bis já estava rolando – lembram de “Cold Heart”, aquela música com a Dua Lipa? – aumentou a quantidade de fãs mais exaltados, por conta do final próximo do show, que estavam se dirigindo para a frente do palco. O que fez a segurança tentar tirar todo mundo de lá e mandando todos se dirigirem para seus lugares. Uma pequena confusão se formou e falei para um casal que nosso assentos era “um pouco ali atrás” e que estávamos tentando chegar mais perto possível para uma boa foto ou até mesmo conseguir uma palheta. Eles me disseram para ficar ali ao lado deles que as pessoas dali já tinham ido embora. Assim vi as duas últimas músicas do show, “Your Song” e “Goodbye Yellow Brick Road” o mais próximo possível que deu.

Na pista deu para notar o quanto o público do Elton John é diverso. Pessoas de todas as idades, com todos os tipos de roupas possíveis e todos os gêneros que seja possível classificar hoje em dia. Chamou muito a atenção uma parte isolada bem no meio da pista que tinha umas cadeiras personalizadas do show com data e o rosto de Elton John. Ao final do espetáculo essas cadeiras eram de propriedade de quem comprou os ingressos para o local. Um souvenir inesquecível. Claro que tentei com que o segurança me deixasse levar uma delas, mas ele disse que dificilmente alguém deixaria de fazê-lo e não sobraria nenhuma. Imagina trazer uma cadeira na viagem de volta no avião.

O show aconteceu no Allegiance Stadium, de propriedade do time de futebol americano Las Vegas Raiders, um lugar lindo com seus telões gigantes em led na fachada, totalmente coberto e enorme. Estamos acostumados com turnês de despedida que acabam nunca se concretizando. Porém, nesse caso, acredito que seja realmente que a carreira de Elton John esteja terminando, pelo menos em relação aos palcos ou turnês. Nada impede que o cantor/pianista faça novos álbuns e toque eventualmente, mas não acho que serão muitas oportunidades. Ele fala durante o show que quer ficar junto da família e quem leu sua biografia entende que talvez ele esteja cansado de tudo o que passou durante esses mais de 50 anos de carreira. É uma pena que um artista desse porte pare de nos dar oportunidade de ver suas apresentações, mas é algo natural. Ficamos com seus discos.

Set List

01 – Bennie and the Jets
02 – Philadelphia Freedom
03 – I Guess That’s Why They Call It the Blues
04 – Border Song
05 – Tiny Dancer
06 – Have Mercy on the Criminal
07 – Rocket Man
08 – Take Me to the Pilot
09 – Someone Saved My Life Tonight
10 – Levon
11 – Candle in the Wind
12 – Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding
13 – Burn Down the Mission
14 – Sad Songs (Say So Much)
15 – Sorry Seems to Be the Hardest Word
16 – Don’t Let the Sun Go Down on Me
17 – The Bitch Is Back
18 – I’m Still Standing
19 – Crocodile Rock
20 – Saturday Night’s Alright for Fighting

Encore:
21 – Cold Heart (PNAU remix)
22 – Your Song
23 – Goodbye Yellow Brick Road

3 comentários sobre “Shows Inesquecíveis: Elton John (Las Vegas, 01 de novembro de 2022)

  1. Belíssimo relato, Fernando! Não sou lá um grande fã de Elton John, mas obviamente reconheço sua importância e talento musical exalados há décadas para qualquer um com um mínimo de bom gosto musical reconhecer. Mesmo não sendo um artista do qual sou grande fã, é sempre uma pena quando lendas desse porte precisam se aposentar, seja pelo motivo que for. Pelo menos, Elton parece estar se aposentando ainda “em condições” de fazer algum show ou outro no futuro, ao contrário de outros músicos, como Peter Frampton, por exemplo, que são forçados a parar por causa das limitações naturais impostas pela idade, ainda que o “fogo” pelos palcos ainda continue queimando em suas almas… Que o “tio” John não abandone de vez os estúdios, e que sua música continue embalando gerações ainda por vir!

  2. Gosto muito do trabalho do Elton John em estúdio, mas os discos ao vivo que ele lançou (à exceção do 11-17-1970) nunca me chamaram a atenção. Teria gostado de ver um show pessoalmente, mas nunca tive a chance – e agora mesmo que não terei. Ótimo repertório, aliás!!

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