Sepultura – Beneath The Remains [1989]
Por Daniel Benedetti
O Sepultura foi formado em 1984, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil. A banda foi fundada pelos irmãos Max e Igor Cavalera, filhos de Vânia, uma modelo, e Graciliano, um diplomata italiano abastado cujo ataque cardíaco fatal deixou sua família em ruínas financeiras. A morte de Graciliano afetou profundamente seus filhos, inspirando-os a formar uma banda em um dia depois que Max ouviu o álbum Vol. 4, do Black Sabbath. Eles escolheram o nome da banda Sepultura quando Max traduziu a letra da música do Motörhead “Dancing on Your Grave”.
As primeiras influências dos irmãos incluíam Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, e artistas de metal e hard rock do início dos anos 80, como Van Halen, Iron Maiden, Motörhead, AC/DC, Judas Priest, Ozzy Osbourne e V8. Eles viajavam para uma loja de discos em São Paulo que mixava fitas dos últimos discos de bandas americanas. Seus hábitos de escuta mudaram drasticamente depois de serem apresentados ao Venom. Os irmãos Cavalera começaram a ouvir bandas de metal mais extremas da época, como Hellhammer, Celtic Frost, Kreator, Sodom, Slayer, Megadeth, Exodus e Exciter. Eles também tiveram influências no metal brasileiro de bandas como Stress, Sagrado Inferno e Dorsal Atlântica. Em 1984, os irmãos abandonaram a escola.
Após várias mudanças iniciais de membros, o Sepultura se estabeleceu em uma formação estável com Max na guitarra, Igor na bateria, o vocalista Wagner Lamounier e o baixista Paulo Jr. Lamounier saiu do conjunto em março de 1985 após desentendimentos com a banda, e passou a se tornar o líder da pioneira banda brasileira de black metal Sarcófago Após sua partida, Max assumiu as funções vocais. Jairo Guedes foi convidado a integrar a banda como guitarrista principal. Cerca de um ano de apresentações, o Sepultura assinou contrato com a Cogumelo Records, em 1985. Mais tarde, naquele ano, eles lançaram Bestial Devastation, um EP compartilhado com a banda brasileira Overdose.
Bestial Devastation foi gravado e autoproduzido em apenas dois dias. A banda gravou seu primeiro álbum completo, Morbid Visions, em agosto de 1986 e que continha seu primeiro hit, “Troops of Doom”, que ganhou alguma atenção da mídia. A banda então decidiu se mudar para uma cidade maior: São Paulo. No início de 1987, Jairo Guedz saiu da banda. Guedz foi substituído pelo guitarrista de São Paulo Andreas Kisser, e o grupo lançou seu segundo álbum de estúdio, Schizophrenia, no final daquele ano. O álbum refletiu uma mudança estilística em direção a um som mais thrash metal, mantendo os elementos de death metal de Morbid Visions.
Schizophrenia foi uma melhoria na produção e no desempenho e tornou-se uma sensação para a crítica menor em toda a Europa e América, bem como uma importação muito procurada. A banda enviou fitas para os Estados Unidos que fizeram playlists de rádio em um momento em que eles estavam lutando para agendar shows, porque os donos de clubes tinham medo de reservá-los devido ao seu estilo. Entretanto, a banda ganhou atenção da Roadrunner Records, que os contratou e lançou Schizophrenia internacionalmente antes de ver a banda se apresentar pessoalmente.
Beneath the Remains melhorou a produção e a composição em comparação com os álbuns anteriores da banda. Com o tempo seria aclamado como um clássico do gênero thrash metal. De acordo com o vocalista Max Cavalera, o Sepultura “realmente encontrou [seu] estilo” neste álbum. Max Cavalera viajou para Nova York, em fevereiro de 1988, e passou uma semana inteira negociando com a gravadora Roadrunner. Apesar de ser oferecido um contrato de sete discos para o Sepultura, a gravadora não tinha certeza do potencial de venda da banda. O orçamento do álbum foi pequeno para os padrões da gravadora (8 mil dólares), mas, no final, o custo foi quase o dobro do orçamento original. Scott Burns, o qual já havia feito engenharia de discos de bandas de death metal como Obituary, Death e Morbid Angel, foi o produtor escolhido. Burns concordou em trabalhar por uma taxa baixa (2 mil dólares) porque estava curioso sobre conhecer o Brasil.
O Sepultura passou a última quinzena de dezembro de 1988 gravando o disco no Nas Nuvens Studio, no Rio de Janeiro, das 20h às 5h. O estúdio foi escolhido especificamente por ser aquele onde alguns anos antes a banda brasileira de rock Titãs havia gravado seu clássico álbum Cabeça Dinossauro, que impressionou o Sepultura. Burns trouxe para o Brasil alguns equipamentos de bateria e amplificadores Mesa Boogie (um item raro para os padrões de produção da época) que ajudaram a melhorar a qualidade do som.
Este foi seu primeiro álbum a apresentar uma capa de Michael Whelan. Houve um pouco de controvérsia em torno da arte da capa usada para este álbum. O Sepultura havia, inicialmente, planejado usar outra arte de Michael Whelan, Bloodcurdling Tales of Horror and the Macabre. Igor Cavalera chegou mesmo a tatuar parte do quadro no braço. No entanto, a Roadrunner Records convenceu o Sepultura a usar Nightmare in Red, pois achavam que era mais adequada para Beneath the Remains. Monte Conner, da Roadrunner, mais tarde enviou a arte original para a banda Obituary, que a usou em seu álbum, Cause of Death, que foi lançado um ano depois de Beneath the Remains. Durante anos após o incidente, Igor Cavalera ficou chateado com Monte Conner por esta situação.
Beneath the Remains pode ser compreendido como uma evolução natural se comparado com seus antecessores. O som é baseado em um Thrash Metal intenso, muito pesado e vigoroso e o disco não apresenta refresco. Faixas simplesmente matadoras como “Inner Self”, “Stronger Than Hate” e “Mass Hypnosis” dão a tônica de um disco que já pode ser considerado um clássico do estilo Thrash Metal. Beneath the Remains foi um sucesso imediato e ficou conhecido nos círculos do thrash metal como um álbum respeitado como Reign in Blood, do Slayer. O disco foi aclamado pela revista Terrorizer como um dos 20 melhores álbuns de thrash metal de todos os tempos, bem como ganhando um lugar em seus 40 melhores álbuns de death metal de todos os tempos.
Uma longa turnê européia e americana aumentou a reputação da banda, apesar do fato de que eles ainda eram falantes de inglês muito limitados. As primeiras datas ao vivo do Sepultura fora do Brasil foram como banda de abertura para o Sodom em sua turnê Agent Orange na Europa; depois disso foi o primeiro show do Sepultura nos EUA, que foi realizado em 31 de outubro de 1989 no Ritz em Nova York, abrindo para a banda de heavy metal dinamarquesa King Diamond.
A banda filmou seu primeiro vídeo para a música “Inner Self”, que recebeu considerável airplay no Headbangers Ball, da MTV dos Estados Unidos, dando ao Sepultura sua primeira exposição na América do Norte. A turnê de divulgação de Beneath the Remains continuou durante grande parte de 1990, incluindo três shows no Brasil com o Napalm Death, datas européias com Mordred e uma turnê nos Estados Unidos com as bandas Obituary e Sadus. Em janeiro de 1991, o Sepultura tocou para mais de 100 mil pessoas no festival Rock in Rio II. A banda se mudou do Brasil para Phoenix, Arizona, nos EUA, em 1990, obtendo nova gestão e gravou o álbum Arise no Morrisound Studios em Tampa, na Flórida.
Track list
1. Beneath the Remains
2. Inner Self
3. Stronger Than Hate
4. Mass Hypnosis
5. Sarcastic Existence
6. Slaves of Pain
7. Lobotomy
8. Hungry
9. Primitive Future
Clássico!
Por muito tempo foi o meu preferido, mas mudei de ideia e ainda acho que o Arise é melhor. A trinca com o Chaos AD é matadora. Inner Self é maravilhosa!!!
Eu concordo. O Arise está um pouquinho à frente, com o Chaos AD formando a trinca matadora do grupo. Abraço!
Por incrível que pareça, não consigo ser um grande fã do Sepultura. Reconheço as ideias interessantes dos dois primeiros, que agora estão sendo regravadas com primor pelo Troops of Doom. O Arise tem músicas legais, mas já não chama tanto assim minha atenção, e considero o disco no geral como um disco médio apenas. Reconheço também que há grandes músicas no Chaos A.D e no Roots, mas os dois discos, no geral, considero cansativos; Talvez se juntasse o melhor dos dois e fizesse um disco só, seria um discão do Sepultura.
Agora, falando do álbum citado na resenha, talvez seja realmente meu favorito da banda. Não considero um álbum sensacional(assim como não considero nenhum da banda), mas com certeza é um bom álbum, talvez até possa chama-lo de ótimo, se quiser ser um pouco generoso. As músicas são fortes e interessantes, o álbum não soa cansativo e não há nenhuma música dispensável. É também o álbum que marca a transição do Sepultura do death para o thrash metal, se adequando mais a sonoridade praticada na época.
Há um tempo atrás, eu dividia meu posto de preferido do Sepultura entre este disco e o Schizophrenia, talvez dando até preferência ao Schizo… Hoje, ainda são meus dois preferidos da banda; E o Schizo, apesar de ter aquela pegada mais crua e com um resquicio ainda de influência de death metal( o que tende a me agradar), hoje considero o Beneath the Remains um disco melhor por ser mais conciso. Meus destaques vão para a faixa- título que abre muito bem o álbum e também para “Mass Hypnosis”.