Melhores de 2022: Por Ronaldo Rodrigues
Ouvi os lançamentos de 2022 de forma condensada no mês de dezembro, então ainda estou na curva de assimilação de vários destes trabalhos. Contudo, todos eles me impressionaram na primeira audição e não os deixei desde que os conheci. Muita coisa boa e interessante foi lançada nesse ano. A maior dificuldade foi colocar a lista em ordem, devido a qualidade bem equiparada entre os discos dessa lista. Então, desconsiderem por hora a sequência dos discos. Eis minha lista do que de melhor colhi nos terrenos da música mundial nesse 2022.
Wizrd – Seasons
Grupo norueguês estreante que pratica um som experimental-prog-jazzístico de grande qualidade. O interessante é que no meio dos compassos quebrados e ritmos pouco convencionais o Wizrd consegue encaixar bons vocais e melodias marcantes (tal como o Yes dos bons tempos prodigamente fazia). Faixas como “All is as it should be” provam essa tese. E não se engane o ouvinte, pois o instrumental é de alto quilate – há uma profusão de solos instrumentais impressionantes. Uma bela surpresa que tende a agradar em cheio de quem gosta de rock progressivo de alta octanagem.
Colour Haze – Sacred
O Colour Haze é uma potência stoner vinda da Alemanha que tem um som bem consolidado. Esse é mais um bom trabalho dos caras (o 14º álbum da carreira) no qual podemos encontrar riffs violentos entregues com pitadas muito generosas de peso de guitarra e baixo. O começo do álbum é bem progressivo, com mellotron e guitarra limpa, mas depois as válvulas esquentam pra valer. “Ideologigi” é da pesada – uma faixa arrastada e intensa! Sacred também tem seus momentos psicodélicos e viajantes e é um álbum repleto de acertos.
The Tangent – Songs from the Hard Shoulder
Um lançamento muito ousado deste experiente grupo prog inglês – são apenas quatro faixas, sendo que três delas superam os 17 (!) minutos. Nessas suítes acontece de tudo um pouco – momentos melódicos, momentos onde todos solam juntos, passagens instrumentais memoráveis, muitas variações e uso de grande variedade de timbres de teclados e guitarras. Os vocais também são bem encaixados e não ficam para trás, especialmente quando trabalham em coro. Difícil destacar trechos em específico, pois o disco é um todo muito empolgante. Há muitas passagens com fortes influências do jazz-rock/fusion, partes com ritmo muito marcante e que são incapazes de deixar o ouvinte entediado mesmo com músicas tão longas.
Leland Whitty – Anyhow
Tenho a impressão de que depois que o pessoal do Badbadnotgood descobriu Arthur Verocai nada mais foi como antes (para nossa alegria!). Aqui temos o trabalho solo do multiinstrumentista dos instrumentos de sopro Leland Whitty entregando um lindo álbum de jazz/fusion moderno, melódico ao extremo. Aqui no Brasil, o que ele faz poderia facilmente ser enquadrado como “instrumental brasileiro”, já que tem um swing sutil requintado com algo de música orquestral. O instrumental é primoroso, com muitos overdubs de instrumentos de sopro repletos de efeitos e arranjos de corda de cair o queixo de quem aprecia boa música.
Naxatras – IV
Os gregos do Naxatras já estão no quarto disco e estão embalados. Esse novo trabalho é de grande qualidade, com um rock instrumental de enorme qualidade. Não é o tipo de grupo que opta por um caminho simplório de um tema básico recheado de improvisações, já que se ouve bastante inteligência e dedicação nas composições para que elas cativem o ouvinte mesmo na ausência de vocais/letras. O grupo soa como se estivesse maximizando sua fórmula sonora – seu som está mais progressivo, mais viajante e até mais pesado (sem esbarrar no metal) do que nos discos anteriores. A presença de teclados e efeitos sonoros os aproxima do Hawkwind dos áureos tempos em certos momentos. Há também faixas com vocais como a bela “The Answer” ou a longa e progressiva “Horizon”.
Motorpsycho – Ancient Astrounats
Não tenho culpa se o Motorpsycho acerta (quase sempre em cheio) meu gosto musical. Eles tem bons riffs que casam bem com teclados, tem boas melodias vocais (ainda que seu vocalista não tenha uma voz tão especial) e a cozinha é um estouro de entrosamento. Além disso, eles lançam um (bom) disco por ano. Aí complica! Ancient Astrounats honra uma sequência de bons trabalhos de forte índole progressiva, com uma sonoridade cativante. Os timbres de guitarra são estoantes e a produção está no estado da arte. As duas longas faixas são o destaque, com longas viagens por diferentes paisagens sonoras.
Birth – Born
Reunindo membros e ex-membros de importantes bandas do rock prog/psicodélico dos EUA como Radio Moscow e Astra, o Birth causou um rebuliço com seus primeiros singles em 2019. Em 2022 seu aguardado primeiro chegou e não decepcionou. É um prog clássico, com músicas muito dinâmicas em temas e sonoridades, tendo aquela receita quase infalível de órgão Hammond regada com mellotron guitarras choradas e muitas viradas de bateria. Instrumental caprichado e um ar nublado nas melodias vocais que remetem muito aos grupos prog/psicodélicos lançados pela Vertigo no início dos anos 70. Poderia apenas ter se aproveitado um pouco mais dos recursos tecnológicos das gravações atuais, que conseguem conciliar bons timbres com boa qualidade de gravação.
Hallas – Isle of Wisdow
Grupo sueco que gosta muito de sintetizadores antigos e guitarras dobradas. Em Isle of Wisdow, a energia típica do grupo (que já tem três discos) se mantém deixando evidente uma de suas maiores virtudes – a criação de linhas vocais marcantes. O começo com “Birth/Into the Darkness” é empolgante; há algo do heavy metal clássico embarcado na fórmula prog do grupo, mas que não está relacionada ao peso das guitarras. No geral, é um ótimo disco de rock melódico, bastante calcado no estilo setentista, com sonoridade certeira para os fãs dessa escola sonora.
Dawn Brothers & DeWolff – What Kind of Woman
Quando me falam de neo-soul é esse tipo de álbum que espero ouvir. Nesse caso, somos transportados de imediato para alguma gravação da Motown do fim dos anos 60. Seria melhor até rotular como retro-soul. O curioso é que toda essa captura de black music nos vem pelas mãos de holandeses da gema. Delícia de ouvir – vocais quentes, naipes de metais azeitados, grooves malandros e instrumentação caprichada. Álbum irretocável dentro desse estilo.
Big Big Train – Welcome to the Planet
Talvez a capa menos interessante da nossa lista. Trata-se de uma grande (em qualidade e número de integrantes) banda inglesa e um dos principais nomes do prog atual que tem lançado bons álbuns em sequência. Esse novo disco mantém a fórmula que vem garantindo a repercussão do grupo dentro do estilo, praticando um rock progressivo bastante voltado para os vocais sem desconsiderar uma caprichada sessão instrumental como companhia. As faixas tem muito apelo e se equilibram bem entre melodias marcantes e múltiplas variações de andamento e ritmo que tanto agradam os fãs do estilo.
Essa é aquela lista que eu sabia que apareceria em algum momento – aquela em que não conheço nenhum dos discos… Mas confesso que fiquei curioso em ouvir os discos, em especial do Wizrd, The Tangent, Dawn Brothers & DeWolff e Hallas.
Eu tenho como premissa só ir atrás de discos de bandas mais recentes nessas pesquisas e nisso acabo trazendo nomes que poucos ainda conhecem. Espero que goste, Marcello! sabendo do seu bom gosto, acho que de fato irá. Abs!
Dessa lista aí ouvi só o hallas.
O primeiro disco deles ainda é o melhor dentre os que lançaram, mas esse novo é bem legal. Abs!
Outros bons discos que ouvi, que valem uma audição:
Karfagen – Land of Green and Gold
Collage – Over and Out
Earthless – Night Parade…
Porcupine Tree – Closure/Continuum
King Gizzard and Lizzard Wizard – Ice, Death, Planets, Lungs, Mushroom, and Lava
Inhalo – Sever
Phantom Spell – Immortal’s Requiem
Stuck in Motion – Still Stuck
Lobate Scarp – You Have it All
Rosalie Cunningham – Two Piece Puzzle
E um convite para os leitores também conhecerem meus humildes lançamentos como músico nesse ano de 2002:
Blue Rumble – Blue Rumble
Ronaldo Rodrigues – Vol. II
Abs,
Da lista geral ouvi apenas o Naxatras e o Big Big Train. O Naxatras é forte candidata a melhor banda surgida no mundo nos últimos anos, os caras são sensacionais, e não ficaram so num disco impecável (e la se vao 8 anos). O big big train confesso que não gostei tanto quanto o seu antecessor, mas é outra bandaça. Valeu Ronaldo
cara sempre aguardo a tua lista pois sempre conheço algo novo do prog, e sigo concordando, motorpsycho inimigos do disco ruim, viciados em acertar!
Show de bola essa lista!!!
Conheço o Big Big Train e o Hallas, mas vou atrás de mais coisas. Muito bom. De bandas mais recentes nessa linha prog eu indicaria o This Winter Machine e o The Black Noodle Project…
Voltando aqui para falar que o Ronaldo é culpado por eu ter ouvido o disco do Naxatras, por quase 10 dias seguidos. PQP…que disco!!! Dá para sacar várias influências dos caras, mas não tem como não relacionar os caras com o Pink Floyd.