Ouve Isso Aqui: Hard Rock Brasileiro
Editado por André Kaminski
Tema escolhido por Davi Pascale
Com Anderson Godinho, Daniel Benedetti, Líbia Brígido, Mairon Machado e Marcello Zappellini
Assim que o André me disse que havia sido o escolhido, tive a ideia do tema. Sempre gostei muito de hard rock e, no Brasil, ainda que várias bandas gringas arrastem multidões (vide Guns n Roses, Kiss, Whitesnake, entre outros), nunca tivemos uma cena realmente forte no estilo. Quando digo que não tivemos uma cena forte, não me refiro à qualidade dos grupos que se arriscaram (senão, essa matéria não existiria), me refiro que nunca tiveram um investimento à altura por parte das gravadoras, ficando sempre naquele esquema de banda de nicho, sendo que muitos tinham qualidade para terem ido muito mais além. Hoje, trago 5 exemplos, mas existem outros nomes que poderiam estar aqui facilmente. (Davi)
Golpe de Estado – Nem Polícia, Nem Bandido [1989]
Davi: Um dos primeiros nomes que me veio à mente foi o do Golpe de Estado. O time era perfeito. Helcio Aguirra era um guitarrista de mão cheia. Catalau tinha umas letras bem sacadas, além de ter um carisma fora do comum. Paulo Zinner é um verdadeiro monstro. Para mim, um dos melhores bateristas de rock do Brasil, uma espécie de Ian Paice brasileiro. A fase clássica durou 5 discos. Esse é o terceiro e o meu preferido. O repertório desse disco é, simplesmente, perfeito. Faixas como “Velha Mistura”, “Paixão”, “Não é Hora”, “Filho de Deus” e “Nem Polícia, Nem Bandido” são considerados clássicos do grupo. Certamente, um dos grandes álbuns do rock brasileiro.
Anderson: Musicalmente acho o mais fraco da lista, mas talvez seja um dos mais carismáticos. É bom de ouvir, passa fácil o tempo. Traz muito do Rock Brasil dos anos 80 com sua simplicidade, rima fácil, riffs no geral nada complexos e um pouquinho de crítica aqui e ali. Bons momentos em ‘Velha Mistura’, os solos em ‘Paixão’ e ‘Ignoro’, e, ainda, na clássica faixa título mas não vai muito mais além.
André: Logo que começou a tocar o disco, fui conferir a ficha técnica para ver se o Cazuza não havia gravado este disco. Mas não, é o vocalista Catalau. Já havia ouvido alguma coisa mais nova com o segundo vocalista Kiko e o Golpe de Estado sempre esteve numa fila para minhas audições que nunca chegou. Mas estou ouvindo agora e elogio muito a parte instrumental – que não deve em nada para as americanas e europeias – em compensação as vozes soam um pouco estranhas devido a elas serem gravadas naquele estilo mais leve do nosso tradicional BR Rock, soando muito mais como um Barão Vermelho do que como um Skid Row ou um Magnum. Um ótimo disco, que demora um pouco a acostumar, mas que empolga e me agrada bastante. Descanse em paz Hélcio Aguirra.
Daniel: Este não é pra mim.
Líbia: Há muito tempo não ouvia esse álbum, e constatei que está na hora de apreciar essa obra com mais frequência. Nem Polícia, Nem Bandido [1989] é aquele disco que flui muito bem e cresce a cada faixa, as letras falam da sociedade e cotidiano. Além do Hard Rock de respeito, há uma pitada de Heavy Metal. Uma das mais favoritas é a “Não é Hora” que começa com um riff de arrepiar os ouvidos, depois a cozinha incrível somado a vocais carismáticos e teclados ao estilo Jon Lord. É uma banda única e incomparável de uma linda safra do Rock que seguiu a sua carreira fazendo o que acreditava. Foi julgada como “Não acessível ao público” pelas gravadoras, e hoje, mesmo sem a grande predominância delas, acredito que certo boicote aconteça de forma sorrateira, não só ao GOLPE DE ESTADO, mas a muitas outras ótimas bandas do rock brasileiro.
Mairon: Clássico disco de uma das bandas mais emblemáticas do hard nacional, comandados pelo excelente guitarrista Hélcio Aguirra, que com certeza é o destaque do disco com uma performance muito inspirada nos guitarristas dos anos 80. O cara manda ver em riffzões grudentos como o da faixa-título e também de “Filho de Deus”, e faz belos solos em todas as faixas, sendo que a minha preferida é “As Aparências Enganam”, mesmo não sendo uma versão para a linda canção de Tunai. Mas há algo no som da banda que me causa estranheza, que é o vocal de Catalau, que me lembra o Cazuza, e não parece casar com a parte instrumental. A faixa que ficou boa a união vocal/ instrumental com certeza é a baladaça “Ignoro”! É um bom disco e de grande importância para o cenário nacional.
Marcello: Este disco me trouxe boas memórias do meu tempo de estudante, e também serviu para relembrar o grande guitarrista Hélcio Aguirra (ex-integrante do Harppia, uma das bandas pioneiras do hard/heavy brasileiro, e cujo EP de estreia ouvi muito na adolescência), um mestre que nos deixou cedo demais. O terceiro disco do Golpe de Estado é o único dessa banda que ouvi, e, embora não o tivesse, sempre rolava nas casas de amigos. O disco como um todo é muito bom, com músicas bem escritas e letras divertidas. Nada de revolucionário, nada que mude a vida de ninguém, e sim um hard rock bem feito que, com letras em inglês, uma produção mais caprichada e a devida promoção, poderia ter emplacado no exterior. “Filho de Deus” e “Paixão” são as minhas músicas favoritas no disco, embora “Janis” traga o melhor solo de guitarra do LP e os riffs de “Nem Polícia, Nem Bandido” e “Não é Hora” sejam bem marcantes. Os vocais de Catalau são outro destaque, ligeiramente debochados e perfeitamente adequados ao clima do disco, que só cai um pouco de nível com a baladinha “Ignoro” – mas logo depois termina muito bem com “As Aparências Enganam”. O Golpe continuou por um bom tempo, mas nunca alcançou o sucesso que outras bandas revisitadas nesta seção obtiveram – uma injustiça, claro, mas o que se há de fazer?
Taffo – Rosa Branca [1991]
Davi: Para se fazer hard rock de qualidade é essencial que você tenha um grande cantor e um grande guitarrista. E o Taffo tinha isso de sobra. Andria Busic já se demonstrava um cantor fora da curva, quando lançaram esse álbum. Wander Taffo, sem palavras. Um dos melhores guitarristas que esse país já teve (sem exageros). A jogada aqui era fazer um hard rock oitentista, com acento comercial, e letras em português. Foi através daqui que tomei conhecimento do trabalho dos irmãos Busic. Comprei o LP, na época, depois de ouvir “Me Dê Suas Mãos” nas rádios. Faixas como “Olhos de Neon”, “Sonhos e Rock n Roll”, “Sweet Love” e “Vento Sul” também rodaram bastante nos meus toca discos. Essa é uma banda que mereceria ter gravado mais e mereceria ter um maior reconhecimento.
Anderson: Em vários momentos a referência que veio na minha mente foi… Roupa Nova! Banda essa que não gosto, tenho pavor! Algumas coisas aqui e ali são interessantes como a instrumental, mas curta, ‘Intro’ e ‘Alquimista’, no mais tem cara de abertura da sessão da tarde dos anos 1990. Forçando bem a barra é possível pegar um Van Halen perdido em algumas passagens, mas muito incipiente. O que aparece mais são coros um tanto quanto toscos (como em Chaplin e Olhos de Neon) ou mesmo aquele eco estranho misturado com um teclado que faz uma ambientação de casamento (ou de RPM cover). Outras coisas, talvez datadas demais, como as melodias de “Vento Sul” e “Sem Tempo pra Sofrer”. Definitivamente um som datado, não orna mais. Tem sua história, deixa ela lá.
André: Gosto muito desse disco, mas o que lamento muito é que a produção ficou, na minha opinião, horrenda para o som que se propuseram a tocar. Taffo (outro falecido, descanse em paz mestre), é o grande destaque do trabalho, mas como hard rock o disco peca muito devido a essa mixagem instrumental que deixou tudo muito asséptico. Acho que se fosse para ter essa qualidade de gravação, era melhor seguir a linha do BR rock normal, deixar o baixo lá em cima e a guitarra de Taffo ficar fazendo lickzinhos menores (mas aí não seria o Taffo também… seria outra banda). Uns teclados que dão um pouco daquele estilo AOR e com composições excelentes, este disco tinha potencial para ser muito maior do que é. Um trabalho que eu tinha tudo para desgostar, mas que acabo adorando muito mais pelas ideias de composições do que pela execução.
Daniel: É um bom disco. Hard bem tocado, melodias interessantes, mas o excesso de baladas me desconcentrou algumas vezes. Destaco “Vento Sul”, “Sweet Love” e “Me Dê a Sua Mão”. É um álbum que eu cogito retornar para uma segunda impressão.
Líbia: Uma surpresa e tanto, mais uma do “antes tarde do que nunca”. De primeira já senti uma familiaridade com o som, então fui pesquisar a história, já vi diversos destaques do cenário envolvidos. Li sobre a trajetória do Wadder Taffo, que teve um bom reconhecimento na grande mídia nos anos 90. Quanto ao Rosa Branca [1991], de primeira já gostei da introdução seguida da “Olhos de Neon”, no geral é um álbum bem radiofônico, sinto que já ouvi por aí em algum lugar do passado. Eu curti os vocais cristalinos e agudos, mas talvez possa soar cansativo com o tempo. Por enquanto minha favorita tem sido “Sonhos e Rock ‘n’ Roll”, vou procurar conhecer mais. Dá pra ouvir no churrasco tranquilamente!
Mairon: Wander Taffo é sinônimo de qualidade na guitarra. O cara que começou em um dos melhores álbuns da música nacional (Secos & Molhados, 1978) fez carreira solo com grande destaque por conta de sua virtuosidade nas seis cordas, e unindo aos irmãos Busic, isso poderia dar ainda mais virtuose à Rosa Branca, como na vinheta “Intuição”. Mas não é o que temos. Acho que para o calibre dos músicos, o álbum é um tanto quanto leve, com músicas onde há pouca sofisticação, tipo “Me Dê Sua Mão”, “Sonhos e Rock ‘n’ Roll” ou “Vento Sul”. Ok, Taffo sola como poucos, mas as músicas estão aquém do que esse trio podia apresentar (e apresentou antes e depois da Taffo). A banda podia ter colocado mais peso, ou ao menos seguir uma linha mais próxima do que fizeram por exemplo em “Chaplin”, que apesar de ser uma faixa acessível, é uma faixa boa. No geral, ficam parecendo um Yahoo com um ótimo guitarrista. “Olhos de Neón” se tornou um grande sucesso, naquela linha do fim dos anos 80 onde os teclados fazem suas camadas para a guitarra “Van Haleana” brilhar! “Sweet Love” é uma canção em inglês onde, se não fossem os teclados, seria bem mais agradável. Aliás, esses sintetizadores dos anos 80 são dose de aguentar. Gosto dos violões da faixa-título, que me remetem ao citado disco do Secos & Molhados, e de “Um Pouco De Você”, o que dá um diferencial no som do disco, que é representativo da época musical no Brasil, mas abaixo do talento dos músicos envolvidos.
Marcello: Outra banda capitaneada por um excelente guitarrista que nos deixou cedo demais, Wander Taffo, um veterano que teve seu primeiro gosto do estrelato com o Rádio Táxi, uma das primeiras bandas do rock brasileiro dos anos 80 a alcançar o sucesso comercial na esteira do fenômeno Blitz. O Taffo também chegou a emplacar no mainstream, colocando músicas em novelas da Globo (cujos LPs das trilhas sonoras eram a porta de entrada dos fãs para muitas bandas da época) e tendo seus clips exibidos na MTV, um feito e tanto para uma banda da cena hard brasileira. A banda incluía os incansáveis irmãos Busic (que eu conhecia do Platina – outro grupo cujo disco ouvia com os amigos quando começava a me aventurar pelo hard e heavy nos anos 80, e que vão reaparecer em outro disco deste Ouve Isso Aqui). O som neste disco é mais leve do que o do Golpe de Estado, às vezes beirando o AOR, com o charme da excelente guitarra de Wander Taffo – “Sonhos e Rock’n’Roll” e “Sweet Love”, por exemplo, são músicas que, sem ela, não teriam grandes atrativos. Os teclados de Marcelo Souss têm grande destaque nos arranjos, e os vocais são muito bem cuidados. “Rosa Branca” é um disco bastante agradável de se ouvir; não é muito a minha praia, mas tem vários destaques: “Chaplin”, por exemplo, grudou nos meus ouvidos de tal modo que fiquei dias cantarolando, a faixa-título é muito boa e “Olhos de Neon” tem um ótimo trabalho vocal.
Rosa Tattooada – Rosa Tattooada [1992]
Davi: O Rosa Tattooada é muito lembrado por ter sido o numero de abertura do Guns n Roses, quando esses estiveram no Brasil lançando o álbum Use Your Illusion. E era exatamente esse disco que estavam lançando, na ocasião. Eles já haviam lançado um LP independente antes (que tenho na minha coleção, inclusive), mas foi esse álbum que me marcou. Perdi as contas de quantas vezes ouvi esse disco. Até comentei isso com o cantor Jacques Maciel, quando topei com ele na saída do show do Ace Frehley. Por ironia do destino, a música que virou carro chefe desse trabalho (a balada “O Inferno Vai Ter Que Esperar”) nunca fez minha cabeça. Faixas como “Perdedor”, “Na Estrada”, “Voando Baixo”, “Onde Moram os Anjos” e “Tardes de Outono”, por outro lado, sabia as letras de cor e salteado. Certamente, um trabalho que não poderia ficar de fora da minha lista.
Anderson: Dentre os escolhidos para essa publicação, esse foi o material que gostei mais. Um Hard despojado muito bem executado principalmente nas melodias. Algumas letras, como é praxe no Hard Rock em geral, soam um tanto bobas e o clima de fim de feira pro Hard Rock oitentista do começo dos anos 1990 ajuda a dar esse tom quando colocamos em contexto. Entretanto é um baita disco! ‘Brilho da Noite’, ‘Cabelos Negros’, ‘Voltando pra Casa’ apresentam um disco rápido e empolgante! Das baladas ‘Tarde de Outono’ apresenta uma música muito bonita, seguida por ‘Noites e Dias’ que proporciona um dos solos mais legais do disco. Um clássico do Sul pro Brasil.
André: Com uma banda como essa, o Rosa poderia facilmente atingir o mercado mundial caso cantassem em inglês. Nunca deveram em nada às gringas. Esse é o meu disco preferido dos cinco. O peso de “Voando Baixo” poderia tranquilamente rivalizar com as bandas oitentistas. A malícia de “Onde Morrem os Anjos” poderia estar em qualquer clássico do Kiss. Falo sério, banda total e completamente underrated e que deveria ter muito mais valor do que tem hoje.
Daniel: Nunca havia ouvido. Gostei, tem a pegada oitentista que tanto me agrada. Não conheço nada sobre a banda, mas o Guns deve ser uma referência óbvia. Este vou retornar em nova oportunidade para ouvir uma segunda vez. Destaco “Perdedor”, “Voltando pra Casa” e a ‘motleycruana’ “Na Estrada”.
Líbia: Conhecendo essa beleza agora, e sinto que agora deixo de cometer um crime em não ouvir. Já que eu tive esse sentimento de culpa, posso dizer com toda certeza que se trata de mais um grande nome do Hard Rock, não só brasileiro como no mundo. Eu conhecia o nome, inclusive por coincidência ou energia, ganhei de presente uma camiseta do “Tardes de Outono” a poucos dias, mas agora, de fato, que estou conhecendo a banda. Agora falando do Rosa Tattooada [1992], ouço uma banda com os dois pés no rock ‘n’ roll. “Voltando pra casa” tem aquela rifferama gostosa de ouvir, vocais venenosos e toda aquela atmosfera da cena hard da época. Fiquei feliz em saber que a banda ainda está na ativa, sinal que verei novidades e quem sabe assistir alguma apresentação. Baita banda gaúcha, com uma excelente trajetória e ótimas referências.
Mairon: Essa eu ouvi bastante. O álbum de estreia é um clássico do hard rock gaúcho, que levou o Rosa ao Brasil graças ao sucesso da baladaça “O Inferno Vai Ter Que Esperar”, faixa que era obrigatória em qualquer encontro com um violão e um bom vinho de quinta categoria no inverno gaúcho. Daí em 1992 veio esta edição, que reaproveitou algumas faixas do primeiro. Das canções novas, estão o peso de “Perdedor” e “Voando Baixo”, essa que surgiu com força nas rádios do centro do país (lembro deles tocando ela no programa do Serginho Groissman no SBT), a bela “Virando Noites e Dias”, com um bom solo de encerramento, e a pegada “Onde Morrem os Anjos”, outra que fez relativo sucesso, e que mantém o padrão do que o grupo havia apresentado anteriormente. Das faixas reaproveitadas, temos a citada “O Inferno Vai Ter Que Esperar”, certamente a canção mais conhecida dos caras, o outro grande sucesso do Rosa, “Tardes de Outono”, também obrigatória nos encontros de amigos, e os rockaços falando sobre viagens (“Na Estrada” e “Voltando pra Casa”), paixões (“Cabelos Negros”) e festas (“Friday Night”), como manda o bom e velho estilo do hard. Uma lástima que a banda acabou passando por diversos atritos ao longo da carreira (pude presenciar uma das brigas durante a abertura para o show do Guns em 2010). O Jaques é gente boa pacas, atendia numa loja de discos em Porto Alegre, depois que a banda terminou, sempre com uma simpatia ímpar, e uma humildade que contrastava com o sucesso que a banda obteve por aqui. Legal ouvir de novo!
Marcello: A banda gaúcha é outra que teve seu momento de sucesso justamente graças a este álbum, mas me passou quase desapercebida na época – mais por culpa minha do que por falta de méritos do grupo. O disco tem um sabor de hard norte-americano, feito com muita competência e ótimo instrumental, com destaque para as guitarras de Jaques Maciel e Paulo Cássio; entretanto, os vocais do Jaques, para mim, são o ponto fraco do disco – não me agrada o timbre da voz nem seus maneirismos calcados no Axl Rose. Quanto às músicas, “Perdedor” abre muito bem o álbum, e “Virando Noites e Dias”, por outro lado, não começa tão bem assim, mas termina muito legal, com uma interessante coda instrumental. E o disco prossegue em alto nível, mesmo com as minhas reservas em relação ao vocal. “O Inferno Vai Ter que Esperar” é a famosa música que eu já conhecia e não sabia/não lembrava de quem era, e é um dos destaques do disco, seguida por “Tardes de Outono”, mais ou menos no mesmo estilo. “Friday Night” levanta o astral mais uma vez, e me lembrou um pouco “Saturday Night (Is Alright for Fighting)”, de Elton John – não, a música não é nenhuma cópia, mas o ritmo e a letra me trouxeram esse clássico à cabeça. Enfim, um disco que, se não fosse pelo problema do vocal, teria tocado bastante lá em casa se tivesse comprado naquela época – e certamente teria ido assistir aos shows da banda que rolaram na região de Floripa.
Dr. Sin – Dr. Sin [1993]
Davi: Descobri o Dr. Sin antes mesmo do primeiro álbum ser lançado. Já era fã dos irmãos Busic por conta do trabalho deles com o Taffo e acabei descobrindo o grupo depois que assisti uma gravação do show que realizaram no Hollywood Rock 93. Lembro que fiquei impressionado com a performance. A banda era ligeiramente mais pesada do que o Taffo, mas as influências de Van Halen, Whitesnake e afins continuavam presente. O disco contava com uma (ótima) versão de “Have You Ever Seen The Rain” (Creedence Clearwater Revival), que passou a ser executada por muitas bandas de classic rock. Um momento que ficou na minha memória foi quando fiz aulas de bateria com o Ivan, anos mais tarde, e acabei puxando a intro desse s0m para brincar com ele. O Ivan sentou na bateria ao lado e acabamos tocando a música inteira juntos no dia hehehe (valeu, Ivan!!). Voltando ao disco, minhas faixas preferidas ficam por conta de “Howlin In The Shadows”, “Valley of Dreams”, “The Fire Burns Cold”, “Dr. Sin” e o clássico “Emotional Catastrophe”.
Anderson: Novamente os irmãos Busic, mas aqui em sua melhor versão. De fato o Dr. Sin é um clássico nacional. Esse álbum, o primeiro da banda, realmente possui um aspecto mais Hard que Heavy, o que mudaria depois mesmo que mantendo a essência Hard Rock. Eu fico com a primeira metade o álbum. De começo a ótima Emotional Catastrophe seguida pela boa Dirty Woman mostram um Ardanuy inspirado junto aos irmãos. Destaco ainda a Rock and Roll The Fire Burns Cold que destoa por ser mais direta e a melhor do disco Stone cold Dead. A decepção do material é Dr. Sin a música que leva o nome da banda precisava ser mais intensa. Não é o meu preferido deles, mas um bom disco.
André: Vou soar muito do contra se dizer que prefiro a discografia do Dr. Sin pós 2000 e que acho este auto-intitulado apenas mediano? Sempre achei Andria Busic um vocalista esforçado, mas um pouco limitado (no Taffo anterior também), mas ele melhoraria e controlaria melhor sua voz muito mais na década seguinte. Mesmo que Edu Ardanuy sempre tenha sido considerado como “o cara” do Dr. Sin, não acho que suas melhores composições e performances estejam aqui. Se o Davi tivesse indicado o Original Sin [2009], eu estaria aqui rasgando elogios.
Daniel: Este é o único que eu já conhecia e gosto demais dele. A pegada das guitarras do Eduardo Ardanuy combina perfeitamente com o meu gosto, oscilando entre peso e melodias com perfeição. Grandes vocais, banda entrosada, “jogo” ganho.
Líbia: Mais um que não ouvia a bastante tempo, e trata-se de uma das primeiras grandes bandas nacionais que assisti em minha adolescência lá na minha longínqua cidade nortista, e assisti sem conhecer, e o show foi realmente histórico para quem já conhecia, eles já eram uma lenda do rock nacional. Essa doce lembrança foi despertada enquanto ouvia uma das melhores estreias de uma banda. Na época desse lançamento, em 1993, muitas rupturas já tinham acontecido com grandes bandas e outras estavam prestes a acontecer. Sempre tento imaginar o contexto que a banda vivia na época, e de primeira audição qualquer um pode notar grande inspiração ao ouvir “Emotional Catastrophe”, essa primeira faixa já nos apresenta a qualidade do Dr. Sin. Músicas como a “Stone cold dead” ainda soam atuais. Minha favorita é a intensa “The fire burns cold”, os vocais são verdadeiramente excelentes, e contém solos de guitarra de muita personalidade que dá um passeio no folk. Um clássico.
Mairon: Aqui sim os irmãos Busic acertam a mão. Ao lado de Edu Ardanuy, outro monstro da guitarra virtuose do Brasil, os caras fazem um som muito inspirado no hard americano de nomes como Extreme e Skid Row, e o disco soa redondinho. Os três estão tocando muito, é muito bom ouvir as bases do Ivan, os solos e riffs do Ardanuy, e claro, a pegada de Andria. Era o que eu esperava no Taffo. Todas as canções são ótimas. Curto o peso de “Scream and Shout” e dou destaque especial para “Emotional Catastrophe” e “LonelyWorld”, que se colocassem e dissessem que era Skid Row eu acreditaria tranquilamente, ou a baladaça a la “More Than Words”, apenas com voz e violão, batizada “Through My Window”. E em termos de balada, “You Stole My Heart” também é muito legal, Outras ótimas são a pesada “Stone Cold Dead” e a bela revisão de “Have You Ever Seen The Rain”. Falando em covers, lembro do trio tocando no Hollywood Rock de 93, interpretando versões pauladas para “Whole Lotta Rosin'” (AC/DC) e “Rock and Roll” (Led), e altos solos, uma pegada fantástica, sonzeira boa!! Não sei se rolou na época uma Doctor Pheabesada, acho que não, mas que os caras mereceram estar no palco ao lado de Alice in Chains, Nirvana, Red Hot e L7, ah mereceram. Eram a melhor banda de hard/heavy do país, junto do Viper, e ainda hoje, essa estreia tem muitos novos fãs para conquistas. Discaço!!
Marcello: A mais bem-sucedida das bandas deste Ouve Isso Aqui, o Dr. Sin contou, desde o início, com o apoio de uma grande gravadora, o que se reflete na boa produção (de Stephan Galfas, que eu conhecia do disco “Destiny”, do Saxon) e na excelente sonoridade de seu álbum de estreia. Tive meu primeiro contato com o grupo assistindo o Hollywood Rock de 1993 – aquele que ficaria famoso pelo show absurdamente detonado do Nirvana. Contando com excelentes músicos – os já mencionados irmãos Busic e o guitarrista Eduardo Ardanuy – o Dr. Sin apresenta no seu disco de estreia um hard rock clássico, puxado pela faixa de abertura, “Emotional Catastrophe”, cujo clip rolou bastante na MTV (na época em que M ainda significava Música e não outra substância…) mas que, curiosamente, não está entre as músicas mais fortes do trabalho. O baixo de Andria Busic tem bastante destaque ao longo do disco, o que pode incomodar quem não curte o som mais grave, mas como não é o meu caso, é um dos detalhes que mais chamam a atenção. O disco tem um padrão uniformemente elevado de qualidade, com músicas bem construídas, com bons refrões e muita musicalidade transbordando, tropeçando apenas na desnecessária versão para “Have You Ever Seen the Rain”, do Creedence. As melhores, para mim, são “Stone Cold Dead”, que dá vontade de cantar junto, “The Doctor Sin” (melhor solo de guitarra do disco!!), “Valley of Dreams”, com sua breve introdução a capella, e “Through My Window”.
Cavalo Vapor – Greatest Little Hits [1997]
Davi: O Cavalo Vapor foi formado em 1982, mas foi somente em 1997 que eles gravaram seu primeiro (e único) álbum. O único conhecimento que tinha do grupo, até então, era a faixa “Sem Escalas”, que já tinha visto o clip na MTV. O clipe, inclusive, tinha um lineup diferente. Lembro que o vocalista era o (excelente) Fernando Nova, que tinha feito parte da última formação do Taffo. No álbum, os vocais ficaram por conta do Nando Fernandes. Descobri o trabalho dele através desse álbum. Lembro que fiquei impressionado com a performance do rapaz e acabei virando fã. A faixa “Sem Escalas” está aqui e é a responsável por abrir o CD. Outros momentos de destaque ficam por conta de “Epicentro”, “O Rato e o Elefante Branco”, “Entre o Sim e o Não” e “Ainda Pode Ser”. Uma curiosidade legal, para quem está chegando agora, é que as gaitas de “Antes Só” foram gravadas por ninguém mais, ninguém menos do que Ian Gillan (sim, o próprio).
Anderson: Contando com Nando Fernandes e Luiz Sacoman não tinha como errar. Dois monstros nacionais apresentando um Hard Rock com muita influência dos anos 1970, muito de Deep Purple e Whitesnake por ali. É, como todos os discos dessa lista, um clássico nacional apesar de ser de 1997. Dentre as músicas em si ‘Sem Escalas’ é a entrada perfeita e talvez a melhor do álbum, mas outras ótimas são apresentadas: ‘Antes só’ cola no blues e é sucesso! Divertida, pesada, e ainda conta com o famoso solo de gaita do Ian Gillan. Ainda, a balada ‘Nômade’ com referências claras ao Skid Row (talvez involuntárias, mas muito evidentes). Por fim, destaco ainda a boa ‘Entre o Sim e o Não’, que fecha o álbum de modo pesado e deixando um futuro promissor em aberto, coisa que não aconteceu. Altamente recomendável o material.
André: Não conhecia esta banda. Novamente um bom instrumental, boas composições, atrapalhadas novamente por uma produção abafada e sem força. Oh céus, como o Brasil tinha problemas para mixar direito um disco de hard rock… Nando Fernandes já tem uma voz mais parecida com a dos vocalistas gringos, o que ganha alguns pontos na interpretação do disco. Destaco aqui “Ainda Pode Ser”, com um teclado aorzento daqueles que arrebata o meu coração. Outra obra e outra banda com potencial, mas que acabou prejudicada pela gravação ruim.
Daniel: Dos que eu não conhecia, este foi o que mais gostei. Pareceu-me mais diversificado, ora flertando com o AOR (como em “Sem Escalas”), em outras soando mais pesado, flertando com o Metal (“Epicentro”) e ainda há “Antes Só”, com um riff que me lembra bandas como o Alice in Chains. Muito bom.
Líbia: Nando Fernandes até hoje é um dos melhores e maiores vocalistas brasileiros, hoje está com um dos melhores lançamentos dos últimos tempos com a Sinistra que lançou um álbum e tanto em 2022. Essa qualidade sonora o acompanha desde há muito tempo, Cavalo Vapor já mostrava um grande diferencial em sua época, como podemos ouvir nesse lançamento. “Sem escalas” é um dos maiores sucessos, e sim, o tempo passa muito rápido, principalmente quando ouvimos uma sonoridade com tanta qualidade em todos os sentidos. Um dos pontos altos na minha opinião é a faixa “Epicentro”, os vocais de apoio dão um show ao lado do vocal principal! Álbum fundamental do hard rock brasileiro.
Mairon: Dos aqui apresentados, esse eu não conhecia, e fiquei curioso por saber que existia banda de hard heavy no Brasil em 1997, ano em que a cena rock no país estava bem diferente. O nome do disco certamente é o guitarrista Luiz Sacoman. O cara sola bastante, como manda o figurino do estilo, mas acho que falta potência ao som do Cavalo Vapor (perdão pelo trocadilho). Há músicas legais, como “O Rato E O Elefante Branco”, “Nômade” e “Ainda Pode Ser” mas o vocal acaba sendo irritante ao longo da audição. Daí fui ver e é o chatérrimo do Nando Fernandes quem tá ali (o cara do Hangar e do Souspell…). Fiquei imaginando se Ian Gillan pudesse cantar uma única canção do disco, já que ele manda ver (surpreendentemente) na harmônica que introduz o blues “Antes Só”, que nem preciso dizer é a melhor de Greatest Little Hits. Faixas como “Sem Escalas” ou “Fera Sem Faro” soam deslocadas em época, e não me agradaram. Os teclados aqui ao menos já soam melhores do que o disco do Taffo por exemplo, e assim acabei achando o segundo mais fraco dessa lista, à frente apenas da decepcionante obra do Taffo.
Marcello: Essa banda eu só conhecia de nome, nunca tinha ouvido nenhuma música deles antes. Assim, coloquei o disco na playlist na base de “vamos ver o que vai sair daí”; felizmente, veio coisa boa! O Cavalo Vapor veio do bairro paulistano da Pompeia, que dera ao mundo o Made In Brazil, e trazia em sua formação os irmãos Luiz e Oscar Sacoman (respectivamente, guitarra e baixo), além de Delfin Rolan nos teclados (o trabalho dele no órgão me fez lembrar do grande Phil Lanzon!), Sandro Big Head na bateria e o ótimo vocalista Nando Fernandes – embora os créditos no Discogs o coloquem apenas em duas músicas (não encontrei muitas informações sobre o disco, para ser honesto!). Uma nota interessante: Ian Gillan (ele mesmo) toca harmônica na introdução de “Antes Só” – que não precisava dele para chamar minha atenção, um blues pesado com excelente instrumental e algumas pirotecnias vocais. Li que o Silver Voice não recebeu créditos por razões contratuais. É um dos destaques deste disco muito bom, pesado na medida, mais uma vez com destaque para a guitarra, e desta vez, com vocais de primeira qualidade. Os destaques são muitos, especialmente “O Rato e o Elefante Branco”, “Epicentro”, “Ainda Pode Ser”, “Não Tente Fazer Isso em Casa” e “Nômade”, músicas muito bem compostas e interpretadas. Enfim, um excelente disco de hard brasileiro, com letras bem mais interessantes do que os dos discos do Taffo e do Rosa Tattooada. Junto com o disco do Golpe de Estado, este “Greatest Little Hits” – ótimo título, aliás! – foi meu favorito dentre os que foram apontados para esta seção.
Foi muito legal ouvir coisas que não escutava fazia trocentos e dois anos, e conhecer algumas que só tinha ouvido falar. Curioso é que tem várias músicas sendo citadas como destaques por praticamente todos os participantes!
hahaha Verdade! O que me faz pensar… Será que, se a indústria fonográfica tivesse investido mais nesses caras, elas não teriam se tornado hits? Vai saber…
A ideia é interessante, mas por que os discos analisados são dos anos 1980 para frente? A maioria dos grandes disco do Hard Rock brasileiro foram lançados nos anos 1970. Enquanto escrevo isso ouço a tosqueira ingênua e tocante do BIXO DE SEDA e da CASA DAS MÁQUINAS.
Então, eu optei por álbuns que marcaram a minha juventude e que eu gostaria de ver aqui no site. Sim, critério bem pessoal mesmo. Cresci ouvindo esses caras, alguns outros grupos como Chave do Sol, Anjos da Noite, uma galera do metal tipo Viper, Angra, Sepultura, Korzus e também muuuito BRock. Barão, Titãs, Lobão, RPM, Paralamas, etc. A galera dos anos 70, eu curto bastante, mas eu passei a me ligar neles um pouco depois. Quando era moleque, o que eu ouvia de anos 70, brasileiro, era Rita Lee, Raul Seixas, Secos e Molhados e Terço basicamente. Mas nada impede de, em um futuro próximo, criarmos alguma matéria focada nos anos 70. Realmente, tem muita coisa muito boa nesse período. Também estão nos meus planos escrever algumas coisa sobre a Jovem Guarda e até sobre a fase pré- Jovem Guarda. Vamos ver…
Cara, eu também cresci nos anos 80 e minha adolescência teve como trilha sonoro todos os artistas que você citou. Mas agora que sou um cinquentão e olho para trás tenho de admitir que musicalmente o BRock era muito fraco, com as exceções de praxe, por mais que a nostalgia entre em cena. O que eu curto no rock brasileiro dos anos 70 é a despretensão e a ingenuidade. Na geração dos anos 80 todo mundo se achava gênio, não só os músicos, os críticos também, e isso é um saco. O rock brasileiro só adquiriu uma cara própria a partir dos anos 90…
Fraco, acho que depende do ângulo. Se for por lado de técnica, sem dúvidas. Eram poucos os caras que eram grandes músicos nessa cena mais radiofonica dos anos 80, mas eu acho que os caras compunham bem. Tudo bem, a galera exagera dizendo que os caras eram poetas, genios, mas a obra deles, costumo achar boa ainda hoje. Sim, há deslizes nas discografias de quase todos os grupos, mas acho que essa galera fez bastante coisa bacana, cara. Claro que tinha umas tranqueiras no meio, depois que virou moda surgiram uns grupos meio duvidosos, mas os caras que se tornaram grandes, de fato, eu ainda acho os discos muito bons. O rock dos anos 90 eu, particularmente, acho mais fraco do que o dos anos 80. Claro, tivemos algumas coisas muuito boas, há as exceções, mas eu ainda prefiro os anos 80, hein… Mas como eu disse, a galera das outras épocas vão acabar pintando por aqui. Brasil tem muita coisa boa. Não tem como colocar tudo em um post só.
Hard rock brasileiro tem muita coisa boa, uma pena que no geral, o estilo é ofuscado pelo heavy metal e pelo BR Rock.
Sim, e foi por isso quis trazer isso pra cá. É uma galera bem talentosa, mas pouco falada. Pelo menos, eu acho…