In Flames – Foregone [2023]
Por Anderson Godinho
Foi um longo e frio inverno, ao menos nove anos e três trabalhos questionáveis lançados (Siren Charms, Battles e I, The Mask), sendo benevolente com a banda. E ainda, uma constante montanha russa de emoções com idas e vindas desde o último grande álbum de metal do In Flames, o grandioso Clayman. Eis que surgem os primeiros singles de Foregone! Pesado, melodia bem obscura, algo de gutural perdido aqui e ali. Todos os que assim como eu são fãs da banda, ou, daquela banda de Whoracle, Colony, Clayman e que aceitou bem Reroute to Remain, Come Clarity ou A Sense of Purpose voltaram os olhos para o In Flames com um enorme: será?! Será que voltaram ao metal??
Não é para tanto, mas esse é um álbum muito poderoso. Dentre os elementos que a banda trouxe de volta temos, antes de qualquer outro, o peso. Isso é mostrado por meio de drives mais pesados e bem rasgados, algum gutural, aqueles ecos e ambientações que caracterizaram o início da banda, ou, aquelas melodias executadas com violões. É possível ver o resgate cuidadoso que fizeram de sua própria história e legado na construção das músicas, principalmente nas guitarras, aliás a dupla Björn Gelotte e o novo integrante Chris Broderick fazem um trabalho espetacular. Não se trata de mais do mesmo, é quase uma homenagem a tudo que a banda fez ao longo do tempo com um foco maior nas fases mais pesadas.
Um capítulo a parte nessa história toda é o vocalista Anders Fridén. Desde sua efetivação na banda pouco antes da gravação de The Jaster Race (1996), assumiu cada vez mais o protagonismo frente ao então líder da banda Jesper Strömblad (atual The Halo Effect). Assim ajudou a construir praticamente tudo que o In Flames possui de espólio. O problema é que a parte ruim também tem seu DNA, assim, muitos de nós culpamos o rapaz pelos últimos álbuns da banda. Agora, da mesma forma que batemos temos que aplaudir, pois, em Foregone o cara está voando. Na sua busca por cantar mais confortável fez até aulas de canto durante esse último ciclo entre I, The Mask e Foregone.
Dentre os músicos ainda temos Bryce Paul no baixo e Tanner Wayne na bateria. Os dois não ficam para trás apesar álbum exaltar as guitarras, os dois participam ativamente. Com base no trabalho desse álbum arrisco dizer que Wayne tem potencial para se tornar o melhor baterista que a banda já teve, o cara é muito versátil e criativo.
Feita a apresentação, vamos à Foregone, o 14° álbum de estúdio dos suecos do In Flames. Produzido por Howard Benson (P.O.D., Santana, Skillet, outros) e lançado pela Nuclear Blast em 10 de fevereiro de 2023, o álbum possui 46 minutos e 12 músicas. De modo amplo a parte mais pesada está na primeira metade. Desde meados de junho de 2022 a banda vinha lançando alguns singles e videoclipes como “State of Slow Decay”, “The Great Deceiver” e “Foregone pt.1” e “pt.2” e “Meet yout Maker”. Também a arte do álbum fora lançada nesse meio tempo, criada por Blake Armstrong é uma das mais bonitas. Em Foregone, Fridén e Gelotte, os principais compositores, divagam sobre o tempo por meio de letras introspectivas e reflexivas.
O álbum inicia com a instrumental “The Beginning of All Things” que apresenta uma melodia muito bonita. É quase hipnótico e remete direto aos primeiros álbuns do In Flames. Quem conhece bem a banda vai se empolgar. Mas calma lá! Não vamos nos emocionar demais. Como dito, as referências estão por toda parte, mas não quer dizer que Foregone é o Lunar Strain 2 ou o Neo Colony, aqueles vocais guturais violentíssimos não voltarão mais, amigos. Entretanto, temos muita coisa boa a começar pela segunda música, a já conhecida “State of Slow Decay” que é bem pesada, apresenta uma bateria criativa, é rápida e com um refrão falado bem interessante. Essa música me remeteu ao Whoracle apesar do vocal não corresponder a tal. Música muito boa.
Nessa mesma linha coloco as faixas título que fazem a melhor dobradinha dos últimos 20 anos de In Flames sem sombra de dúvidas, sem falar que a ideia de músicas contínuas está na origem da banda é uma nítida homenagem. Na parte um (1) o ritmo frenético, os dedilhados no violão, os trabalhos da cozinha muito bons e aquele ódio nos vocais! A melhor do álbum. A parte dois é um pouco mais sombria com destaque para o refrão, inicia com uma melodia nas guitarras dividindo espaço com riffs e viradas na bateria de dar gosto. Novamente poderiam estar nos álbuns mais pesados da banda.
Nessa levada old times ainda temos a ótima “The Great Deciever”. Rápida, bem direta e reta destaque enorme para a força do baixo e bateria juntos. Música que apresenta alguma coisa eletrônica, algum teclado mas nada comprometedor, pelo contrário. Novamente temos um gutural aqui e ali. E por fim, a boa e pesada “In the Dark”. Mudando a tônica, e lembrando a sonoridade encontrada em Reroute to Remain, Come Clarity, A Sense of Purpose ou Sounds of a Playground Fading temos as pesadas “Meet your Maker” e “Bleeding Out” que são muito boas, acima da média considerando os álbuns citados. Temos ainda “A dialogue In B Flat Minor” com uma melodia linda.
Por fim, as que remetem a coisas mais recentes, como “Cynosure”, que apresenta um instrumental bem interessante com baixo destacado, mas com um refrão fraco. “Pure Light of Mind” soa como uma espécie de balada com elementos eletrônicos e bastante cadenciada, interessante e nada mais. Por fim “End of Transmission”, que mostra a versatilidade de Fridén, mas que não empolga.
Foregone irá se tornar um material especial para todos os fãs que passaram esse tempo todo ansiosos por um retorno do In Flames ao metal, que a cada novo material corriam ouvir e muitas e muitas vezes saíram decepcionados, irritados e nos últimos tempos totalmente desacreditados. Foregone é um ótimo álbum! É um álbum do In Flames e não dessa coisa que se passou por eles na última década. O In Flames, ao menos por hora, está de volta! Desfrutem!
Track list
- The Beginning Of All Things
- State Of Slow Decay
- Meet Your Maker
- Bleeding Out
- Foregone Pt. 1
- Foregone Pt. 2
- Pure Light Of Mind
- The Great Deceiver
- In The Dark
- A Dialogue In B Flat Minor
- Cynosure
- End The Transmission