Uriah Heep – Chaos & Colours [2023]

Uriah Heep – Chaos & Colours [2023]

Por Marcello Zapelini

Em 2018, fãs de rock setentista do mundo inteiro se surpreenderam com Living the Dream, melhor disco do Uriah Heep em décadas. Quase cinco anos se passaram e surge o 25º (ou 26º, se for contado o álbum de regravações  Celebration, de 2009) álbum de estúdio da banda, e a pergunta é inevitável: será que o Uriah Heep repetiu a façanha e lançou mais um disco à altura do seu passado no começo dos anos 70? A resposta é “quase”. O novo álbum
teve uma longa gestação, tendo sido composto e gravado em torno de 2020-21 (de acordo com Mick Box, a mixagem estava pronta em novembro de 2021), e engavetado por causa da pandemia de Covid-19, e possui onze faixas no CD e nove no LP (mais a demo de “Save me Tonight” na versão Deluxe). A produção é assinada, como no disco anterior, por Jay Ruston.

Phil Lanzon, Bernie Shaw, Russell Gilbrook, Mick Box e Dave Rimmer

A formação atual do Uriah Heep é composta pelo líder, cofundador e keeper of the flame Mick Box (guitarra/vocais), Phil Lanzon (teclados/vocais, na banda desde 1986), Bernie Shaw (vocais, também da turma de 1986, mas entrou um pouco depois), Russell Gilbrook (bateria, desde 2007) e Dave Rimmer (baixo/vocais, desde 2013), e é o terceiro disco de estúdio que esse time grava – um fato relativamente raro na história da banda, como os fãs já sabem. A banda está bem integrada e isso se reflete no disco atual, em que quase todos contribuíram para as composições; Russell Gilbrook assina nada menos que quatro músicas em parceria com seu amigo Simon J. Pinto.

De acordo com Mick Box, Chaos refere-se ao estado do mundo durante a pandemia de Covid-19, e Colour diz respeito à capacidade da música de trazer alguma alegria às pessoas; o primeiro single e vídeo do disco , “Save me Tonight”, refere-se justamente à sensação de desamparo e frustração causada pelos lockdowns. A música é rápida e traz um bom solo de Lanzon no órgão. Na sequência, “Silver Sunlight” and “Hail the Sunrise” diminuem um pouco o peso, mas mantém o disco em um padrão elevado. “Age of Changes” traz um bom riff de guitarra e prepara o caminho para a cadenciada “Hurricane”, outro destaque do álbum, com um refrão feito para ser cantado pelo público e mais uma vez com bom solo de Lanzon no órgão. Essa música rendeu o segundo vídeo.

Bela versão em vinil turquesa

“One Nation, One Sun” é apresentada na sequência; com 7’35” de duração, é a terceira mais longa do álbum e inicia com Shaw cantando sobre o piano de Lanzon; o Uriah Heep raramente erra nas suas baladas, e esta não é uma exceção. “Golden Light”, com sua introdução dramática, aumenta um pouco o peso, dando a Mick Box o espaço que ele precisa para brilhar, e prepara para a excelente “You’ll Never be Alone”, com quase oito minutos de duração. A letra da música é um tanto macabra, dando a Shaw a oportunidade de mostrar porque a maioria dos fãs do Heep o considera o segundo melhor cantor do Heep, perdendo apenas para o mitológico David Byron. A música é muito bem construída e tem boas variações de ritmo, com instrumental e vocais quase perfeitos. Desde a primeira audição, ela me impressionou tanto que “Fly Like an Eagle” passa quase desapercebida – uma pena, pois a música é pesada e traz um interessante solo de sintetizador, mas está no lugar errado no tracklist.

Isso porque a décima faixa se mostra a obra-prima do álbum. “Freedom to be Free” é a mais longa do álbum (8’11”). A música é um verdadeiro mini-épico e põe mais uma vez o órgão de Phil Lanzon em destaque, com um solo que remete ao grande Jon Lord, seguido por Mick estraçalhando seu tradicional pedal wah-wah, para então jogar os spotlights sobre Dave Rimmer, que mostra porque foi escolhido para ocupar o posto que foi dos incríveis Gary Thain, John Wetton e Trevor Bolder. Após ficar de queixo caído com “Freedom to be Free”, vem a única música dispensável do álbum. “Closer to your Dreams” é tão descaradamente calcada em “Easy Livin’” que deveria trazer créditos para Ken Hensley. Aliás, sendo este o primeiro álbum desde 2018, surpreendeu-me um pouco não haver nenhuma homenagem a Hensley e Lee Kerslake, ambos falecidos em 2020. Phil Lanzon dedicou o álbum a seu filho Matt, que escreveu “The Golden Palace”, do álbum Sonic Origami (1998) com ele e Box, e faleceu em janeiro de 2020, vítima de câncer (Don Airey o substituiu em alguns shows).

Mick Box

Em sua longa carreira, o Uriah Heep deu algumas escorregadas feias, mas desde Sea of Light vem honrando seu passado com álbuns que, ainda que não estejam no mesmo nível dos clássicos da primeira metade dos anos 70, não decepcionam, e conseguem trazer surpresas positivas. “Chaos & Colour” está vendendo bem na Europa, tendo alcançado o 4º lugar na Alemanha, e mesmo nos EUA aparece na 21ª posição entre os álbuns independentes. No Brasil o CD saiu simultaneamente ao resto do mundo (em caixinha de acrílico, diferente do digipack original), mas os fãs do vinil (o disco está disponível em seis cores diferentes!) precisam recorrer ao importado. Agora só resta torcer para algum empresário trazer o grande Heep de volta para se apresentar no Brasil – já que eles não tocam aqui desde 2014, não custa sonhar!

Encarte de uma das seis versões em vinil

Tracklist

  1. Save me Tonight (Rimmer/Soto)
  2. Silver Sunlight (Box/Lanzon)
  3. Hail the Sunrise (Gilbrook/Pinto)
  4. Age of Changes (Box/Lanzon)
  5. Hurricane (Gilbrook/Pinto)
  6. One Nation, One Sun (Box/Lanzon)
  7. Golden Light (Box/Lanzon)
  8. You’ll Never be Alone (Gilbrook/Pinto)
  9. Fly Like an Eagle (Gilbrook/Pinto)
  10. Freedom to be Free (Box/Lanzon)
  11.  Closer to your Dream (Box/Lanzon)

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