Datas Especiais: 40 Anos de Texas Flood
Por Marcello Zapelini
No dia 13 de junho de 1983, o maior guitarrista de blues surgido nos últimos cinquenta anos lançou seu primeiro LP. Eu me refiro a Stevie Ray Vaughan e seu maravilhoso Texas Flood. Gravado entre 22 e 24 de novembro de 1982, o álbum traz Stevie e sua fiel Double Trouble, à época incluindo Chris “Whipper” Layton na bateria e Tommy Shannon (ex-integrante da banda de apoio de outro guitarrista texano absurdamente bom, Johnny Winter). O disco foi produzido por Steve e o Double Trouble e Richard Mullen, com o venerando John Hammond como produtor executivo; gravado ao vivo no estúdio, o álbum receberia disco de platina duplo ao longo dos anos e atingiu a respeitável 38ª posição na parada da Billboard.
O álbum começa com a divertida “Love Struck Baby”, um rock’n’roll com forte influência de Chuck Berry, composto pelo próprio Vaughan – bem como “Pride and Joy”, uma das músicas mais famosas do guitarrista, presente na maioria dos shows. A primeira das várias covers, a faixa-título, vem na sequência; um blues tradicional, clássico, foi a primeira música que ouvi dele, em versão ao vivo presente em “Atlantic Blues: Guitar”, uma coletânea de 1988 que fazia parte das comemorações dos 40 anos da Atlantic Records – sim, eu sei que Stevie gravava pela Epic, mas essa versão foi gravada em Montreux, 1982, o show que deu início a tudo para o texano, e incluída no disco da Atlantic dedicado ao festival. O solo de guitarra é simplesmente fenomenal, mesmo na versão de estúdio, mostrando toda a habilidade do moço. “Tell Me”, de Howlin’ Wolf, vem na sequência; com menos de três minutos, é uma das músicas mais fracas do disco, mas vale pelo solo. O lado A se encerra com mais uma versão, “Testify”, do Isley Brothers, sensacional instrumental que deixa os aficionados por guitarra nas nuvens.
O lado B começa com outra instrumental, “Rude Mood”, esta de autoria de Vaughan, e mais uma prova de que o cara era um guitarrista sensacional – se é que a essa altura alguém precisa de outra… Na sequência, “Mary Had a Little Lamb”, de Buddy Guy, ganha uma versão absolutamente matadora, com um solo simples no meio, que às vezes parece estar meio fora do ritmo; nas versões ao vivo, Vaughan soltava os bichos no final!! “Dirty Pool”, parceria entre Vaughan e Doyle Bramhall, é outro blues com sabor tradicional, com um belo desempenho do mestre no vocal. “I’m Cryin’”, quarta música do lado B, é outra música mais cadenciada, menos bluesy, e possivelmente a única que não pode ser chamada de memorável. Isso porque depois temos a maravilhosa, estupenda, fenomenal “Lenny”, longa instrumental que ele dedicou à esposa, e mostra que o incendiário Stevie podia ser suave, romântico e delicado. Quando soube que Stevie tinha morrido, toquei algumas vezes em sequência esta música para homenageá-lo.
“Rude Mood”, “Texas Flood”, “Pride and Joy”, “Love Struck Baby” e “Dirty Pool” fazem parte do álbum duplo Live at Montreux 1982 & 1985, gravadas no festival de Montreux em 17 de julho de 1982 perante uma plateia hostil – e um David Bowie absolutamente extasiado, que convidou o guitarrista para colaborar com ele em seu álbum “Let’s Dance”, abrindo as portas do estrelato para Stevie. As coletâneas e álbuns póstumos sempre trazem diversas faixas de “Texas Flood”, atestando a qualidade do disco original. Em 1999, o álbum foi relançado em CD com um pequeno trecho de uma entrevista e mais quatro bônus: o outtake “Tin Pan Alley (AKA The Roughest Place in Town)”, e versões ao vivo para “Rude Mood”, “Mary Had a Little Lamb” e “Wham!”, de Lonnie Mack. Os trinta anos do álbum original foram comemorados com um CD duplo, que reprisa “Tin Pan Alley” junto das demais músicas do lançamento original no CD 1, e apresenta nove músicas gravadas ao vivo na Filadélfia em outubro de 1983 no segundo disco – incluindo “Voodoo Chile (Slight Return)” e o medley “Little Wing/Third Stone from the Sun” para mostrar o quanto Stevie amava Jimi Hendrix.
Tive Texas Flood em vinil e agora em CD. É difícil definir qual dos álbuns de Stevie é o melhor, mas este sempre foi um dos meus favoritos, pois estabelece o padrão que seria seguido nos demais. Stevie Ray Vaughan nos deixou cedo demais; fico pensando quantas maravilhas teriam se seguido se ele não tivesse embarcado naquele helicóptero.
Sempre podemos voltar aos velhos discos originais, mas, por mais que a Epic tenha nos presenteado com gravações ao vivo e sobras de gravação, cada lançamento que se seguiu à morte dele deixou um gostinho amargo. Mas “Love Struck Baby” traz o sorriso de volta.
Track list
- Love Struck Baby
- Pride And Joy
- Texas Flood
- Tell Me
- Testify
- Rude Mood
- Mary Had A Little Lamb
- Dirty Pool
- I’m Cryin’
- Lenny
Resenha muito legal, esse disco é foda… Primeiro de uma trilogia sensacional de discos forjada pelo maior mestre do blues norte-americano nos anos 80, que infelizmente não está mais entre nós há quase 33 anos. R.I.P. Stevie Ray Vaughan!
Obrigado pelo comentário, Igor… Nem tenho palavras para descrever como esse disco me marcou no final dos anos 80!! Graças a ele fui atrás das outras obras do mestre Stevie. Realmente, a falta que ele faz é enorme, o blues-rock tem um buraco aberto desde aquele fatídico agosto de 1990.
E você realmente fez uma descoberta e tanto, meu amigo! Valeu!