O que deu errado? Angra – Secret Garden [2014]
Por André Kaminski
Sempre gostei do Angra em todas as suas fases e com todos os seus diferentes membros que já passaram pela sua formação. Com Edu Falaschi, Luiz Mariutti, Aquiles Priester, Marcelo Barbosa, Bruno Valverde, o nosso eterno Andre Matos… todos que já passaram ou mesmo estão na atual formação do Angra são músicos do mais alto gabarito e poderiam, tranquilamente, estarem tocando em qualquer banda de nível mundial.
Por esses motivos, não digo que “sinto saudades” de alguém. Todos estiveram em discos no mínimo marcantes. Mas mesmo uma banda como o Angra tem lá seus baixos, e considero este álbum um trabalho de potencial gigante desperdiçado.
A primeira coisa que me incomoda um pouco é que a banda optou aqui a ir mais para o Prog Metal do que o Power. Não que não tivesse feito isso antes; esse gosto pelo prog da banda está presente (mesmo que em menor nível) desde seus primeiros álbuns. Mas o problema mesmo é que quando toca “Newborn Me” já de início, eu tenho a impressão de ter colocado algum disco do Dream Theater no lugar. “Upper Levels” então, pensei que era algum cover de algum B-side de Train of Thought [2003]. Eu adoro o Dream Theater também, mas quando eu ponho um Angra, eu prefiro ouvir algo mais power, mais veloz, com refrãos marcantes junto àquelas melodias lindas e aquele toque de brasilidade que só esses caras sabem fazer. É um direcionamento diferente, ao qual eu particularmente não me senti muito animado ao ouvir no decorrer do álbum.
Faixas como “Black Hearted Soul” e “Perfect Symmetry” são músicas bem Angra para mim. O restante, nem tanto.
Outra coisa que me incomoda: muitos vocalistas diferentes. Além do Lione, que aqui passa muito mais a impressão de ser só mais um convidado, tem também os vocais do Bittencourt, da Doro e da Simone Simmons. Para um disco com vocalista novo após o quebra pau com o Falaschi, acho que poderiam dar o protagonismo ao Lione para que os próprios fãs vejam melhor as suas qualidades. Até mesmo o italiano se incomodou com isso em uma entrevista, dizendo que poderia cantar todas as faixas tranquilamente. Eu concordo com ele e sou empático ao que ele sentiu.
Mais um ponto problemático para mim: o peso dos riffs. É o disco mais pesado da banda, sem dúvida alguma. “Mas isso é bom”, diz o metaleiro comum. Eu também era assim até meus 30 anos. Hoje aos 37, vejo que peso é só um elemento dentro da música que pode ser bom ou ruim, como qualquer outro. O que mais importa é como o peso é colocado, como é utilizado, se ele ajuda às canções a soarem melhores. Por aqui, achei que a tonalidade mais baixa das guitarras descaracterizou o Angra.
Para não dizer que só falei mal, elogio a presença marcante do baixo de Felipe Andreoli. Linhas muito legais, dando um corpo volumoso às músicas e, finalmente, com mais espaço para aparecer na mixagem.
Na época, o disco foi muito elogiado pelos resenhistas brasileiros. Entretanto, após alguns anos, percebo que o disco não envelheceu legal. Quase nem ouço mais falarem dele entre os fãs. Mesmo nos setlists atuais do Angra, apenas “Newborn Me” tem espaço geralmente como faixa de abertura e uma ou outra aparece nos shows, mas é só. Comparando com o último inédito Omni [2018] que considero como um trabalho muito melhor, parece ser um disco mais esquecido assim como são Aurora Consurgens [2006] e Aqua [2010] (que eu preciso ainda ouvir o disco remixado para ver se de fato melhorou, o que eu aposto que sim).
Por incrível que pareça, se eu ouvir este disco completamente ignorando que é o Angra, eu acharia um bom trabalho. Mas o fato da banda ser tão marcante e icônica através de sua discografia que é muito difícil conseguir dissociá-los do seu passado.
Enfim, eu recomendo mesmo que ouça este trabalho e tire suas próprias conclusões. Depois de muitos anos, foi a isso que eu cheguei com este texto. Mas me conhecendo do jeito que eu sou, pode ser que eu mude de opinião daqui uns anos.
Tracklist
- Newborn Me
- Black Hearted Soul
- Final Light
- Storm of Emotions
- Violet Sky
- Secret Garden
- Upper Levels
- Crushing Room
- Perfect Symmetry
- Silent Call
Meu problema com o disco é justamente a questão das vozes. è tanta gente que não parece um disco de uma banda “inteira”. Parece mais um projeto ao estilo Avantasia e isso acabou não dando uma identidade ao disco. Sem problemas o Rafael querer cantar, não vejo problemas com convidados, mas a dose deveria ter sido melhor dosada.
Considero um álbum nota 6. Algo que me frustrou foi justamente essa sensação do Lione soar mais como uma participação especial do que a nova voz da banda. Agora… “Newborn Me” acho um puta som.
Tem um disco, a meu ver, que se encaixaria nesse novo quadro “O que Deu Errado?” seria o Redeemer of Souls (Judas Priest), lançado nessa mesma época do disco do Angra aqui resenhado. Vamos aguardar para ver, mas adianto que o que deu errado neste disco de 2014 do Priest para mim foi a sua produção porca e a presença de algumas faixas que não fazem jus ao conteúdo geral do disco (“Hell & Back”, “Crossfire” e “Secrets of the Dead”, por exemplo).