Kamelot – The Black Halo [2005]
Por André Kaminski
Eis uma banda que talvez seja uma das únicas bem consideradas fora do power metal, ao menos por aqueles que não gostam do estilo. Com uma carreira com diversos álbuns de alto nível, o Kamelot surgiu no início dos anos 90 mas adquiriu respeito considerável a partir dos anos 2000. E precisamente no ano de 2005 a banda lança aquele que é considerado o seu melhor álbum pela grande maioria e possivelmente um dos melhores álbuns lançados na década de 2000 no cenário heavy metal: o excelentíssimo The Black Halo, que acabaria por se tornar a principal referência da banda a partir de então.
Vindo de uma crescente iniciada com a entrada de Roy Khan (vocais) e Casey Grillo (bateria) no álbum Siége Perilous (1998) ainda contando com o líder Thomas Youngblood (guitarras) e Glenn Barry (baixo), o Kamelot foi a partir dos anos lançando álbuns muito elogiados pela crítica e pelos fãs, principalmente o desempenho interpretativo e emocional que Khan passava através das músicas. The Fourth Legacy(1999), Karma (2001) e Epica (2003) são álbuns muito bons e que colocavam a banda como um dos destaques do estilo. Mas foi com The Black Halo que a banda atingiu seu ápice criativo até aquele momento. Usando de refrãos grudentos, bateria muito bem encaixada, belos riffs e solos de Youngblood e orquestrações que acrescentam ainda mais ao rico som das canções, o Kamelot atingia um patamar de banda destaque.
The Black Halo é um álbum bastante homogêneo e que finaliza no momento certo. Mais canções poderiam deixá-lo cansativo. Menos canções dariam um gosto de quero mais. E tirando apenas alguns pequenos defeitos que notei, o material flui de uma maneira muito boa de ouvir. Como professor, as vezes alguns garotos iniciando a ouvir sons pesados me perguntam sobre alguma boa banda ou recomendação que eles possam ouvir. A maior parte recomenda ir direto nas velhas bandas clássicas como Iron Maiden, Black Sabbath, Metallica, Judas Priest e similares. A primeira banda que eu sempre recomendo é o Kamelot e justamente o álbum The Black Halo para iniciar as audições de ótimos riffs e vocais melodiosos de Khan. E acho que continuarei com essa recomendação durante um bom tempo.
Apertando o play do meu aparelho de som, já me surpreendo com as brilhantes cavalgadas iniciais da música que é a minha preferida da banda. “March of Mephisto” é simplesmente perfeita! O ritmo da bateria pegada, guitarra riffando, Shagrath grunhindo, refrão grudento. Clássica! Tudo de bom que a banda pode oferecer está nesta faixa. Seu clipe então, é excelente, o que me parece ser algo raro em se tratando de heavy metal. Quando chega “When the Lights are Down”, o nível continua muito alto. Casey Grillo mantem um desempenho impressionante, os teclados do convidado Jens Johansson (Stratovarius) se destacam, a interpretação de Khan é brilhante como sempre. A faixa é rápida e conta com o tradicional coro de vozes muito usado pela banda em várias músicas: a estrutura coral-Khan-coral-Khan em versos teve sua melhor interpretação aqui. O Kamelot faz bastante uso de temas pessoais de caráter filosófico em suas letras, sempre em um tom de melancolia. E tirando a faixa mais fantasiosa, “March of Mephisto, e os interlúdios, as letras vão bastante por este caminho.
“The Haunting (Somewhere in Time)” apresenta os tradicionais duetos de vozes entre Khan e uma vocalista convidada, nesse caso a belíssima Simone Simons do Epica. Simone aparece mais nos refrãos da canção e Khan lidera a música em mais uma das suas interpretações teatrais. É comum aparecer nas letras sobre paixões e mulheres que morrem ou deixam o eu-lírico da canção de alguma forma. E esta música é mais uma que se destaca por essa temática. Ainda sem deixar o nível cair, entra “Soul Society” que é a minha segunda música favorita deste álbum. O teclado e as orquestrações iniciais dão a tônica dessa faixa. O coral aparece pouco, mas reforçam o vocal de Khan de maneira maravilhosa. Incrível como um simples “heaven” e uns vocais baixos de fundo melhoram absurdamente esta canção. O refrão é algo genial.
Após um curto interlúdio, entra a primeira balada do disco. Tal como um lamento religioso, “Abandoned” cai um pouco o nível das quatro primeiras canções e quebra um pouco o ritmo acelerado da parte inicial do disco. Porém, é uma boa balada e com boas orquestrações. Seguido de um violão acústico acompanhado de um órgão feito nos teclados, “This Pain” é mais uma música do Kamelot que fala sobre mais uma perda feminina. Ela possui uma guitarra diferente que me remete aos álbuns Epica e Karma.
“Moonlight” talvez seja a faixa mais mediana com um bom riff inicial da guitarra mas que não empolga muito em seu decorrer. Seria melhor se fosse mais curta. Outro estranho interlúdio em italiano que a meu ver é desnecessário e o nível volta a aumentar com a faixa título “The Black Halo”. Sempre continuando em seus temas filosóficos, a música conta com mais um ótimo desempenho do baterista Casey Grillo, que a meu ver é o principal destaque desse álbum junto a Roy Khan. E ele me prova mais uma vez que é um excelente baterista pelo ritmo e andamento desta canção.
Com o melhor solo de guitarra de Youngblood neste álbum e com letras que evocam um sentimentalismo forte por parte de mais uma grande interpretação de Roy Khan, “Nothing Ever Dies” se torna uma canção excelente. Mais uma contando com a estrutura coral-Khan-coral-Khan no refrão que me parece impossível não cantar junto. Continuando para a faixa mais longa do álbum, “Memento Mori” conta com uma ótima introdução de piano e nova participação de Shagrath. As letras têm um tom diferente nesta canção, exalando uma atmosfera mais esperançosa do que as faixas sempre de tom melancólico das músicas anteriores. Há de se destacar que o baixo de Glenn Barry em quase todo álbum fica praticamente escondido, mais servindo para dar peso as guitarras de Youngblood. Mas nesta música, podem-se ouvir melhor algumas partes de baixo em meio aos outros instrumentos.
Após o interlúdio final, vem a música “Serenades” para fechar bem o disco, boa faixa que no conjunto da obra não se destaca, mas que é agradável de ouvir.
Falando um pouco dos defeitos que o álbum possui, uma das coisas que eu notei foi a produção e mixagem do famoso Sascha Paeth. Eu normalmente gosto bastante da sua produção sempre cristalina e com guitarras perfeitas para quem ouve CDs (não sei se soaria tão bem nos vinis). Mas um dos defeitos dos álbuns produzidos por Paeth é que o baixo quase sempre fica em último plano. Glenn Barry não possui uma única linha de baixo em destaque em todo o álbum. Ele está lá dando peso as guitarras, mas sempre soa apenas para preencher fundo musical. Nem mesmo serve para segurar a música quando Youngblood sola, pois sempre há o próprio Paeth fazendo as guitarras base nos solos. Sei bem que o baixo quase nunca é lá muito bem utilizado em bandas de power metal, mas aqui este ficou quase sem espaço algum. Sei de longe quando um álbum é produzido e mixado por Sascha Paeth e não posso dizer que ocorre em absolutamente todos os álbuns, mas acontece em uma grande maioria das suas produções. Outro defeito são os interlúdios. A banda poderia muito bem ficar sem eles que pouco acrescentam ao disco. Ainda bem que ao menos não atrapalhou, mas não faria falta.
No mais, o Kamelot com este álbum iria pavimentar um caminho que influenciaria nos posteriores Ghost Opera (2007), Poetry for the Poisoned (2010) e o Silverthorn (2012) já com Tommy Karevik nos vocais. Considero um álbum excelente e um clássico dos anos 2000.
Track List
1. March of Mephisto
2. When the Lights are Down
3. The Haunting (Somewhere in Time)
4. Soul Society
5. Interlude I: Dei Gratia
6. Abandoned
7. This Pain
8. Moonlight
9. Interlude II: Un Assassinio Multo Silenzioso
10. The Black Halo
11. Nothing Ever Dies
12. Memento Mori
13. Interlude III: Midnight – Twelve Tolls for a New Day
14. Serenade