Cinco Discos Para Conhecer: Discípulos de Jimi Hendrix
Por Ronaldo Rodrigues
Que Jimi Hendrix é um dos maiores e mais influentes guitarristas de todos os tempos, tem gente que já ficou careca mais de uma vez de saber. Além disso, ele obteve um estilo tão peculiar de tocar guitarra a ponto de criar uma escola própria com a agilidade de sua mão direita, os grooves e frases certeiras, além de uma habilidade unusual para o padrão dos guitarristas dos anos 60. Esses predicados lhe geraram herdeiros, que buscaram adaptar essa estilo com o advento das décadas seguintes. Seus mais ilustres pupilos também nos deixaram grandes obras, listadas a seguir, em cinco principais referências.
Larry Coryell – Live at Village Gate [1971]
Dessa lista, Larry Coryell é talvez o contemporâneo que foi mais próximo da própria entidade da guitarra elétrica. Larry já era um conceituado side-man na guitarra jazz e ficou simplesmente estatelado com o surgimento do estilo de Jimi Hendrix a partir de 1967. Por tal admiração, buscou uma aproximação pessoal com o cara e ficaram amigos, fazendo loucas jam sessions que se tornaram marcas indeléveis no estilo que Larry Coryell desenvolveria em seus trabalhos como artista solo. Esse disco ao vivo chega a ser sentimental, tamanha referência e proximidade (foi gravado a partir de três apresentações realizadas em janeiro de 1971, 4 meses após a morte de Jimi Hendrix). Sente-se na cadeira, relaxe e ouça alguns dos mais incendiários solos de guitarra de sua vida. Aqui Larry é a mãe, o pai e o avô. Você até esquece que existem outros guitarristas vagando pela Terra.
Larry Coryell (guitarras), Melvyn Bronson (baixo), Harry Wilkinson (bateria)
1. The Opening
2. After Later
3. Entardecendo En Saudade
4. Can You Follow?
5. Beyond These Chilling Winds
Robin Trower – Bridge of Sighs [1974]
Na época em que era guitarrista do Procol Harum, Robin Trower não deu muito bola pro som de Jimi Hendrix. Após a morte de Hendrix, em 1970, uma nova concepção sonora desmoronou na cabeça de Robin Trower. Ele a desenvolveu a tal ponto que parece até ser um passo além no som hendrixiano. Seu estilo de composição interpreta sem imitar, remete o ouvinte a uma referência que, apesar de óbvia, não suplanta a própria personalidade. Contribuem com isso as ferozes linhas de baixo de James Dewar (ex-Stone the Crows), sua bela voz e bateria de Reg Isidore, que em nada lembra o estilo de Mitch Mitchell ou Buddy Miles. Em Bridge of Sighs, Robin Trower consegue feitos parecidos com o de Hendrix – guitarra no centro de todo o som, mas sempre a serviço de ótimas canções e pontilhadas com solos musculosos de guitarra.
Robin Trower (guitarra), James Dewar (baixo, vocais), Reg Isidore (bateria)
1. Day of the Eagle
2. Bridge of Sighs
3. In This Place
4. The Fool and Me
5. Too Rolling Stoned
6. About to Begin
7. Lady Love
8. Little Bit of Sympathy
Frank Marino, prodígio da guitarra canadense, inicia o disco Maxoom com o bolso cheio de reverberações. Mas logo na sequência se derrete em devoção na balada “Buddy“. Sua trajetória é cheia de referências claríssimas a Jimi Hendrix e sua obra. Sua técnica tem envergadura mais do que suficiente para cobrir todo o espectro de estilos da guitarra de Jimi Hendrix – grooves, blues turbinados, baladas repletas de swing, experimentações sonorizadas, rock da pesada e exploração de timbres e efeitos. Tudo isso ele mostra ao longo deste disco e de muitos outros da longa discografia do Mahogany Rush. A produção sonora é que não é das melhores e também é um fator que se repete ao longo dos anos em seus trabalhos. Mas quando a agulha chega em sons como “All in your Mind” ou “Back on Home“, tudo fica pra trás. Cabeças e cabelos, invariavelmente, irão sacudir.
Frank Marino (guitarras, teclados, vocais), Phil Bech (piano), Johnny McDiarmid (órgão), Paul Harwood (baixo), Jimmy Ayoub (bateria, percussão)
1. Maxoom
2. Buddy
3. Magic Man
4. Funky Woman
5. Madness
6. All in Your Mind
7. Blues
8. Boardwalk Lady
9. Back on Home
10. The New Beginning
Electric Sun – Earthquake [1979]
O alemão Uli Jon Roth, ex-guitarrista do Scorpions, montou um novo combo no fim dos anos 70 para botar pra fora toda a paixão pela guitarra Hendrixiana. No som dos Scorpions essa influência era velada no aspecto sonoro, ainda que os trejeitos, a forma de empunhar a guitarra e a indumentária extravagante do guitarrista, inspirados em Jimi Hendrix, fossem constantes. Com o Electric Sun, tudo é escancarado e com uma dose fortíssima de virtuosismo. Bases potentes e swingadas lembram uma espécie de Mahogany Rush explodido. Musicalmente, um elemento bem distinto são as guitarras harmonizadas, um detalhe salpicado por Uli Jon Roth, e alguns lampejos progressivos (lindíssimos por sinal). De resto, muitos feedbacks, alavancadas e solos de guitarra em total destaque.
Uli Roth (guitarras), Clive Edwards (bateria), Ule Ritgen (baixo)
1. Electric Sun
2. Lilac
3. Burning Wheels Turning
4. Japanese Dream
5. Sundown
6. Winterdays
7. Still So Many Lives Away
8. Earthquake
Stevie Ray Vaughan and Double Trouble – Couldn’t Stand the Weather [1984]
O famoso guitarrista norte-americano é a referência-mor em blues-rock pós anos 60-70. Na agilidade de sua mão direita está a herança do herói negro de Seattle. Obviamente, o timbre de sua Fender Stratocaster revela mais do que algumas poucas suspeitas. A pura malícia do blues também encontra referências do som Hendrixiano, especialmente nas músicas mais lentas, mas ainda mantendo uma identidade própria. Steve Ray abre o jogo logo de cara, ainda que sua banda de apoio seja demasiadamente plana, para vôos maiores. Talvez este voo ele só tenha atingido no plano superior para o qual foi. Não precisava nem constar a excelente releitura de “Voodoo Child“, porque sim, SRV, nós já havíamos entendido muito bem o recado.
Stevie Ray Vaughan (guitarra, vocais), Tommy Shannon (baixo), Chris “Whipper” Layton (bateria), Jimmie Vaughan (Guitarra), Stan Harrison (saxofone), Fran Christina (bateria)
1.Scuttle Buttin’
2. Couldn’t Stand The Weather
3. The Things (That) I Used to Do
4. Voodoo Child (Slight Return)
5. Cold Shot
6. Tin Pan Alley
7. Honey Bee
8. Stang’s Swang
Excelente lista, com guitarristas absolutamente geniais, mesmo que tentem emular Hendrix. Não conhecia o disco de Larry Coryell e fui atrás dele, muito bom! Entre Frank Marino, Robin Trower e Uli Jon Roth eu simplesmente não consigo escolher quem é melhor. E se em algum momento da sua vida o Stevie Ray Vaughan se fez herdeiro de Hendrix, foi nesse álbum maravilhoso e meio esquecido, “Couldn’t Stand the Weather”.
Só monstros aqui. Para mim os melhores emuladores de Hendrix são Robin Trower e Uli Roth. O Stevie Ray Vaughan emulava até a página dois, já que tinha um jeito muito peculiar de fazer os vibratos. Larry Coryell quando foi para a música clássica apanhou, mas esse período rocker dele (os discos com o Philip Catherine são incríveis) tem uma conotação jazzística incrível. Mahogany Rush é outro cara que tocava demais. Baita lista Ronaldo!!
Excelente lista, parabéns! Electric Sun eu não conheço, mas vou atrás, nunca tive uma dica ruim aqui. Quanto ao Robin Trower, meu favorito dos mencionados, quero registrar: COMO CANTAVA FÁCIL ESSE TAL DE JAMES DEWAR… Morreu novo, nunca foi muito reconhecido, uma pena. Ao lado de Paul Rodgers, David Coverdale e Robert Plant, forma o meu quarteto de vocalistas preferidos.
Abraços a todos.
Assino embaixo. James Dewar era um vocalista simplesmente excepcional, com um domínio completo da voz e um feeling absurdo. Cantava com a alma! O dueto dele com Maggie Bell no primeiro álbum do Stone The Crows é fantástico! Pena que nunca teve o devido reconhecimento…